CENA 1: William se desespera quando Mauro cai no chão. Valéria o acode.
-Faz alguma coisa além de ficar chorando e andando pra lá e pra cá, William? - ordena Valéria.
-Eu ainda consigo respirar, mas tá difícil... - fala Mauro.
-A gente precisa levar ele pro hospital agora mesmo! - fala William.
-Nesse estado ocê não consegue dirigir nunca nessa vida! Avisa a Cláudia pra ela ficar de olho no nosso filho que eu dirijo seu carro e a gente vai com seu pai agora mesmo pra emergência! - sentencia Valéria.
Valéria leva Mauro ao carro e William acompanha o pai na traseira do carro. Valéria assume o volante e eles partem para o hospital.
Minutos depois, Valéria ampara William na sala de espera da emergência,
-Calma, William... vai ficar tudo bem.
-Queria ter essa sua certeza.
-Vai dar tudo certo, ocê vai ver...
-Tou com medo, Valéria.
-É normal... mas a gente foi rápido... quer dizer, eu ajudei a gente a agir rápido, porque se dependesse só do seu desespero...
-Nem fala. Ainda tou tremendo todo. Não sei como ia ser...
-Calma, William. Seu pai vai sair dessa. Confia nisso, tá?
Instantes se passam e um médico se aproxima deles. William se levanta e Valéria faz perguntas ao médico.
-Doutor Luciano, como está o Mauro? - pergunta Valéria.
-Teve um princípio de infarto, mas a rapidez do atendimento foi fundamental para que ele não chegasse a infartar. Mesmo que ele tivesse infartado, ainda assim não seria um grande problema. Fiquem tranquilos. - afirma o médico.
-Muito obrigado, doutor Luciano. Quer dizer que meu pai pode voltar pra casa? - questiona William.
-Também não é assim. Ele precisa ficar em observação, além de receber uma medicação apropriada pro caso dele. Ele teve um princípio de infarto e nós precisamos diminuir a inflamação que levou ele a esse quadro. Além disso, depois disso, ele vai precisar redobrar os cuidados com a alimentação, quando receber alta. Não só com a alimentação, mas com a rotina num geral, pra evitar que o coração pregue outra peça. - esclarece o médico.
-Bem que eu avisei que ele andava comendo mal e demais. Além de se estressar demais pra idade dele com tanta coisa pra fazer... - fala William.
-Ele vai ficar mais uns dois dias internado, por precaução. Vai poder receber visitas em qualquer horário, sem restrição. Eu só preciso que você, como filho dele, confirme a baixa dele. - fala o médico.
-É aqui que eu assino? Então tá ótimo... - fala William.
William abraça Valéria enquanto o médico se afasta.
-Obrigado por tudo. Sem você, meu pai podia ter morrido...
-Deixa disso, William... seu Mauro ia se salvar de qualquer jeito...
-Mas sua rapidez não deixou ele infartar de verdade...
-Tá, pode ter sido... mas para de me abraçar que eu tou ficando sem graça!
-Tudo bem. Mas obrigado... por tudo.
Valéria sorri para William. CORTA A CENA.
CENA 2: William visita o pai, no quarto de recuperação. Valéria aguarda do lado de fora.
-Que sustão da zorra que ocê deu na gente, pai...
-E a Valéria, filho? Cadê?
-Lá fora.
-Queria agradecer ela por tudo. Sem a rapidez dela, eu poderia ter infartado.
-Deixa pra agradecer depois, quando o senhor já estiver de volta, em casa...
-Tive medo, William... nunca pensei que teria tanto medo nessa vida, meu filho...
-Eu também tive. Agora é p'rocê aprender a se cuidar, viu?
-Lá vem esse papo chato. O médico já me encheu o saco com essa coisa toda. Mudar hábitos, alimentação...
-E ele tá certo.
-Mas é chato tudo isso. Depois de velho eu não posso nem mais sentir prazer na vida?
-Que exagero, pai...
-Fácil um jovem como ocê falar que é exagero.
-Pai... colabora. Daqui em diante as coisas vão precisar mudar bastante p'rocê ficar bom e não dar risco de acontecer tudo isso aqui outra vez...
-Isso significa o que?
-Diminuir o ritmo, pai...
-Como, se eu tenho ainda tanta coisa pra tocar?
-Deixa pra eu resolver o que puder. Chega de trabalhar desse jeito. Tá sendo ruim desse jeito...
-Não tenho outra saída senão aceitar... tenho?
-Sinceramente? Não tem. É pegar ou largar...
-Fazer o que... pelo menos ocê é meu filho.
-Confia em mim. Tudo vai estar em boas mãos e sob controle...
-Assim espero, meu filho. Batalhei muito pra gente chegar onde chegou hoje...
-Esquece disso um pouco, pai. Foca na sua saúde que é melhor...
CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia seguinte, William chega em casa e se surpreende ao ver Valéria acordada.
-Valéria... eu não falei p'rocê vir pra casa descansar?
-Ah William... como é que eu ia conseguir? Voltei pra casa mais pra ficar com o nosso filho do que qualquer outra coisa.
-Sim, mas uma mente sem descanso vai ficar como no trabalho?
-Agradeço a preocupação, mas eu vou ficar bem. Seu pai, como tá?
-Bem... ele vai sobreviver.
-Eu fiquei com medo que ele acabasse infartando de verdade.
-Se for pra acontecer, só depois. Não foi dessa vez.
-Ainda bem, né? Quantos dias ele ainda fica internado?
-Uns dois ou três. Doutor Luciano quer ver como ele reage ao medicamento.
-É bem mais prudente que seja assim, diga-se de passagem. Se minha mãe tivesse tido essa chance, sabe?
-Ei... pra que falar nisso?
-Às vezes bate uma saudade...
-Mas ocê não era pequeninha ainda quando ela se foi?
-Sim, mas a minha avó sempre me contava que ela só morreu porque não foi atendida a tempo.
-Entendi... se fosse num hospital privado...
-Exatamente. Eu sei na pele como a saúde pública ainda precisa melhor... mas deixa esse papo pra lá que eu ainda tenho que me arrumar pro trabalho...
CORTA A CENA.
CENA 4: Leopoldo desliga o telefone e vai até Bernadete.
-Querida, cê não sabe quem acabou de me ligar.
-Quem?
-A Valéria.
-Eita! Por que ela não quis falar comigo?
-Nada disso, Bernadete... ela ligou pra contar que o Mauro teve um princípio de infarto ontem à noite.
-Gente, que coisa! Eu não sou de acreditar e justiça divina, mas bem que ele andou precisando desse susto depois de causar tanto mal pra gente.
-Por minha culpa, né?
-Que seja... eu queria ficar mais feliz. Isso podia significar a volta da Valéria pra cá... mas nem sei se ia ter mais clima dela voltar pra cá depois da traição do nosso filho...
-Nem fale, Bernadete... nem fale. Ela não tem motivo pra querer voltar pra cá...
-É triste isso. Eu vi o amor deles acontecer, botei fé nisso tudo. Mas os erros do Hugo foram grandes e talvez isso signifique um fim da linha definitivo pros dois... mesmo que a Giovanna tenha participado disso.
-Sim, mas ela não teria conseguido nada se nosso filho tivesse resistido...
Bernadete e Leopoldo suspiram, lamentando o rumo que as coisas tomaram na vida de cada um. CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella visita Patrícia e se surpreende ao encontrar Patrícia serena.
-Querida! Que coisa boa te ver assim, tão em paz!
-Oi, Dani... dá pra ver que eu tou plena assim, desse jeito?
-Acredite, isso transborda em você. Não pensei que viveria pra ver esse dia. Fico orgulhosa do seu esforço.
-É, mas vê se não elogia muito p'reu não ficar convencida e relaxar.
-Isso nunca, Pati! Eu posso não ser psicóloga, mas entendo um bocado do que acontece na mente de um limítrofe.
-Sim. Eu tenho consciência que vou precisar de tratamento pra sempre. E me manter vigilante.
-Pela primeira vez nesse tempo todo, eu vejo você em paz com a sua condição, com quem você é...
-E é assim que eu me sinto. Buscando tudo isso dentro de mim mesma.
-Se sente pronta pra voltar pra vida lá fora?
-Tenho até medo de dizer um trem desses, mas... tou me sentindo pronta, sim.
-Segura disso?
-Sim.
-Então eu vou me responsabilizar pela sua alta.
-Sério?
-Claro, boba! A gente é amiga pro que der e vier. Tou morando sozinha, na minha casa de sempre. Você vai morar comigo e não se fala mais nisso!
-Ocê é incrível, Dani!
Patrícia abraça Daniella.
-Tá, pode me soltar. Ainda tenho que falar com a Silvana, lembra?
CORTA A CENA.
CENA 6: Bernadete anda pela casa e lembra dos momentos que compartilhou ao lado de Flavinho.
-Eita, Flavinho... por onde será que você anda?
Bernadete sente saudades de Flavinho.
-Não importa... ele me traiu. Me escondeu a verdade. Acabou com tudo. Tirou meu filho de mim!
Triste, Bernadete caminha até o quarto que era de Leonardo. Ali, pega mais uma vez o diário de Leonardo, disposta a ler mais memórias do filho. Abre em mais um desabafo dele.
“Rio de Janeiro, 3 de maio de 2012.
A situação aqui em casa anda cada vez mais insustentável. Meu pai descobriu e confirmou de vez as suspeitas dele sobre eu ser gay. Eu pensei que ele me entenderia melhor, que me acolheria. Mas me enganei redondamente. Ele anda me pressionando, dizendo que eu tenho que dar um rumo pra minha vida, me afastar dessa casa, a minha casa, o meu lar... e ir pra longe. Eu até quero sair daqui, mas sabendo que minha mãe ainda me ama e se orgulha de mim, mesmo quando ela já souber sobre quem eu realmente sou. Eu sonho com esse dia. Sonho com o dia que eu vou ter a minha vida, minha dignidade, minha independência e, se eu tiver sorte no caminho, o meu amor. O meu namorado, meu noivo, meu marido... e poder apresentar ele à minha mãe. Até mesmo ao meu pai. Ainda tenho esperança que um dia ele entenda que eu sempre fui assim e que não existe outra maneira possível pra mim, pois eu nasci assim. Sonho com o dia que todos nós vamos estar reunidos, aqui dentro dessa casa, numa grande mesa de jantar, comemorando a vida, o amor e a felicidade de poder amar sem reservas...”
Bernadete fecha o diário, aos prantos.
-Oh, meu filho... se eu soubesse antes de tudo isso, de todo o sofrimento... talvez você estivesse aqui hoje com a gente... me perdoa, Leonardo. Me perdoa por não ter visto as suas necessidades... eu fui cega. Falhei como mãe... devia ter percebido que você pedia socorro e precisava de mim...
CORTA A CENA.
CENA 7: Hugo e Valéria conversam no horário de almoço dela, dentro da agência.
-Que correria anda a sua vida, hein?
-Nem me fala. Hugo! Ando trazendo comida lá de casa e comendo por aqui mesmo na hora do almoço, que é pra não atrasar nada...
-Eu fico feliz da gente estar se falando de novo...
-Apesar das mágoas, nós somos amigos, não somos? A gente se apoiou num momento fundamental. Isso nunca vai se apagar, Hugo...
-Fico tranquilo... mas cê sabe que eu queria mais. Ainda mais depois do infarto do seu Mauro...
-Eu cheguei a pensar em voltar pra casa. Mas já se passou algum tempo. Eu não sei bem o que tá acontecendo agora, Hugo...
-Faz parecer que cê tá balançada pelo William...
-Eu não sei dizer, sinceramente. Ainda me machuca saber da sua fraqueza, da sua traição. Mas eu sei que ainda te amo. Não consigo mesmo é definir o que o William me desperta.
-Podia ser indiferença...
-Mas não é... e é isso que me desafia...
-Desafia?
-Sim, afinal de contas, não tem sido fácil lidar com as lembranças do passado...
Giovanna escuta conversa deles, escondida. CORTA A CENA.
CENA 8: Cristina estranha falta de apetite de sua mãe.
-Ei, dona Nicole... o que tá acontecendo?
-Ah, filha... ando meio desgostosa com o rumo que dei pra minha vida, sabe?
-Notei pela sua falta de apetite. Quer falar sobre isso?
-Não sei se você me entenderia. São coisas que vem de um tempo bem distante, antes mesmo de você nascer...
-Por isso mesmo, mãe! Se são coisas que te atormentam de certa forma por todo esse tempo, por mais de trinta anos, é justo que você possa se abrir em relação a isso... que coloque pra fora.
-Não, Cristina... as coisas não são simples assim. Envolvem um grande amor do meu passado.
-E o que é que isso tem demais? Você e o pai são livres e desimpedidos depois da separação. Inclusive o pai já teve uma namorada depois do divórcio. O que cê tá esperando pra se jogar, mãe?
-Não é simples como parece. E acredite: é por motivo parecido que seu pai não foi longe com a Mônica...
-Não entendi...
-Outra hora te explico melhor, filha... agora definitivamente não é a hora...
-Você que sabe, mãe... querendo desabafar, tou aqui...
CORTA A CENA.
CENA 9: Flavinho se distrai pensando em Gustavo enquanto Júlia lhe passa informações e instruções.
-Ei, Flávio!
-Ah, desculpe, Júlia... acho que me distraí.
-Cê acha? Flávio, a sua cara tava numa expressão de quem tava quase entrando em nirvana!
-Nada... só fiquei preocupado com o Gustavo, sabe? Ele lá em BH, nem sabe que eu saí do apê dele e aluguei um...
-Vish, não vai dar mesmo pra te passar nada na ausência da Daniella. Cê tá apaixonado, sabia? Se não sabia, “teje” sabendo agora...
-Ocê acha, Júlia?
-Ah, por favor, Flávio! Vira e mexe cê fala no Gustavo, tudo vira pretexto...
Flavinho fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 10: William visita o pai no hospital.
-Oi, pai! Eu disse que voltava.
-Foi rápido, hein?
-Deu pra descansar? Como tá se sentindo?
-Melhor, meu filho... ainda bem!
-Que bom... e os médicos estão otimistas?
-Pelo menos na minha frente sim, mas ocê sabe como eles gostam de enganar idoso... enfim, filho. Eu tomei uma decisão e foi bom que ocê tenha vindo aqui me ver, porque assim eu te falo agora.
-Que decisão?
-Eu quero me demitir de tudo. E quero que você assuma definitivamente o meu lugar. De uma vez por todas.
William se assusta. FIM DO CAPÍTULO 119.
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