terça-feira, 21 de março de 2017

CAPÍTULO 110

CENA 1: Hugo tenta disfarçar sua presença, mas acaba esbarrando no bebedouro e Valéria acaba se desvencilhando dos braços de William, indo atrás de Hugo.
-Volta aqui, Hugo.
-Voltar pra que, Valéria? Não estavam quentes e confortáveis os braços do William?
-Pelo amor de Deus, para de dar ataque de pelanca em plena madrugada, cara! Puta que pariu! Cê vai fazer trinta e dois anos, mesmo? Francamente, Hugo!
-Ué, ficou indignada?
-Fiquei sim! Ocê acha mesmo que o William não percebeu o clima pesando? Poxa vida, Hugo! É o nosso filho que tá internado pra tratar da otite, caramba! Será que dá pra entender que tá todo mundo precisando de apoio aqui?
-Grande apoio, eu vi. Quem é seu noivo, mesmo?
-É você, mas isso não te dá liberdade de ficar desse jeito porque eu abracei o pai do meu filho, cacete! Mas que coisa!
-Você nunca me tratou desse jeito antes, Valéria.
-Para com isso! Queria que eu tratasse como? Que eu pedisse desculpas pela sua paranóia?
-Tá vendo? Cê tá diferente comigo. Tá ficando fria.
-Se ocê continuar sendo chato, pegajoso, insistente e paranoico desse jeito, aí sim vou ter razões pra ficar diferente e fria.
-Eu nunca pensei que você fosse me dizer isso.
-Hugo... se olha no espelho. Veja as atitudes que ocê anda tomando, cara! Você tem quase trinta e dois anos na cara, caramba! E o que você fez? Ignorou a situação de hoje, completamente. Nosso filho sendo medicado e tratado de uma doença e ocê achando que o momento é tranquilo e propício pra dar chiliquinho de ciúme? Ninguém é mais adolescente aqui e, mesmo que fosse adolescente, nada justifica ocê me tomar desse jeito, fazer essas cobranças, analisar as coisas dessa forma, com tamanha distorção!
-Quer saber? Eu vou embora...
-Tá doido? Já passou da meia noite e meia!
-E daí? Eu preciso espairecer. Pensar nisso tudo que cê me disse.
-Hugo, para de ser infantil...
-Pare você de me chamar de infantil, cacete! Me deixa!
-Olha aqui, ocê não grite comigo que eu não admito essas coisas pra cima de mim, não!
-Desculpa.
-Que não se repita!
-Valéria... eu preciso andar. Respirar. Entender o que tá acontecendo aqui. O que tá acontecendo em mim... não tente me impedir...
-Tá... pelo menos se cuida...
Hugo parte e anda pela rua, pensativo em relação a tudo. Seu pensamento ganha voz.
“Aquele gavião do William tá querendo tirar a Valéria de mim e ela burra não percebe que ele tá na maldade! Eu não aguento mais isso, meu Deus! Já perdi meu irmão, já perdi minha dignidade, não sei como vai ser a minha vida se eu não tiver o meu amor e o meu filho do coração por perto... ah, se a Giovanna não tivesse atravessado o meu caminho... tudo seria diferente. Ela acabou com a minha juventude. Acabou com os meus sonhos... como eu fui capaz de abrir mão de tanta coisa? Como eu fui burro, meu Deus! Parece que eu vou pagar pelo resto da vida pelos meus erros. E nem posso reclamar, porque no final das contas, isso é a justiça sendo feita pelas merdas que eu fiz por esses anos todos! Só sinto pena de perder no meio do caminho quem eu amo. Pra que eu fui viver desse jeito, meu Deus? Pra que? Que espécie de rato sou eu?”
Hugo vaga pelas ruas chorando. CORTA A CENA.

CENA 2: Giovanna segue Ricardo e o impede de pegar suas coisas.
-Não, Ricardo. Deixa tudo aí onde tá. Você não vai precisar dormir na sala. Quem vai domir fora, fora dessa casa inclusive, sou eu...
-Como é que é, Giovanna? Que jogo é esse?
-Não é jogo... eu só tou indignada, perplexa e furiosa com as coisas que você pensou de mim...
-Muitas reações intensas, hein? Quem sabe eu tenha um pouco de razão...
-O que tá acontecendo com a gente, cara? Eu pensei que você me amasse!
-Eu te amo. Mas você? Eu não sei. Duvido que ame.
-Se duvida, não vai ser fácil de acreditar nas minhas palavras.
-Sabe o que é? Amor não se demonstra com palavras...
-Ah, não! Vai começar com teoria furada e romantismo de quinta pra cima de mim? Olha aqui, Ricardo, não tente inverter as coisas. Você me ofendeu, questionou a minha integridade e o meu caráter. Mas você fica aqui... na sua cama. No seu quarto. Quem vai dar o fora daqui, pelo menos por agora, sou eu!
-A casa é sua.
-Mas também é sua. Você fica, pra depois não dizer que eu sou ruim. Eu tou indo nessa.
-Onde você vai?
-Não sei.
-Vai sair sem rumo?
-Quando são vocês homens a fazer isso, tudo bem, agora eu que sou mulher não posso? Ah, me poupe!
-Eu não falei nada.
-Mas pensou, tá estampado isso na sua cara!
-Giovanna... você tá fora de si.
-Sempre o mesmo papo machista. O homem é sempre o certo. A mulher é sempre a louca. Vai se foder, cara.
-Tá vendo? Quem tem que dormir na sala sou eu. Fica aqui. Isso tudo aqui é seu.
-Fica você.
-Essa coisa toda tá esquisita demais.
-Esquisito é você me tomar do jeito que me tomou simplesmente porque eu demonstrei preocupação pela saúde de um bebê. Esquisito é você me falar sempre que deseja filhos, que ama crianças, mas não aceitar minha demonstração legítima de preocupação com uma criança!
-Giovanna, não desvia o foco da coisa, pelo amor de Deus! Eu e você sabemos que o motivo é maior que isso.
-Então qual é, Ricardo? Porque se for pra ficar dando voltas dizendo que eu fui exagerada e o caramba, me dá licença que eu vou pegar a minha bolsa e já tou de saída!
-Onde você vai?
-Não te interessa!
-Sou seu marido.
-Mas não é meu dono. Eu volto. Talvez volte só depois do amanhecer... talvez a gente se veja só no trabalho, mas eu volto. E nem pense em ir atrás de mim que você sabe que eu descubro!
CORTA A CENA.

CENA 3: Hugo acaba indo a um pub e enquanto bebe cerveja, é surpreendido pela presença de Giovanna, que o aborda.
-Ei, Hugo! Não esperava te ver aqui!
-Muito menos eu... cadê Ricardo?
-Não veio. A gente se desentendeu...
-Caramba... pensei que o casamento de vocês andasse bem.
-Mas nosso casamento é maravilhoso. Esse desentendimento que tive com ele foi uma exceção.
-Pois eu briguei com a Valéria. Ou quase isso...
-Poxa... que chato, isso... justo na noite que o bebê dela ficou doentinho...
-Aliás... estranha essa sua preocupação com ele... você nunca gostou de criança...
-Acho que tenho mudado de ideia a respeito disso, viu? Mas me conta, esse seu bode todo é por causa da discussão com a Valéria?
-Sim, mas é meio esquisito falar de tudo isso com você.
-Esquisito por que? A gente é amigo antes de mais nada...
-Giovanna... durante mais de dez anos a gente foi bem mais que isso.
-E o sentimento de amizade deixa de existir por causa disso? Eu me preocupo com você.
-Vou sobreviver. Vou ficar bem. Que tal a gente só beber e aproveitar essa noite?
-Tudo bem, eu ando mesmo necessitada de espairecer. Mas eu andei pensando em outra coisa que a gente podia fazer...
Hugo percebe olhar malicioso de Giovanna.
-Impressão minha ou cê tá querendo reviver os tempos antigos?
-Não, não sou museu pra reviver passado, bobo... mas a gente tá aqui... nós dois passando por momentos complicados, precisando desopilar...
-Bem, olhando por esse lado...
-Nesse momento só existe o aqui. Só existe o agora. E eu te quero. Sei que você me deseja também.
-Não vou mentir... desejo sim.
-Então a gente sabe o que fazer. Tem um motel cinco estrelas a três quadras daqui...
-Mas, Giovanna... eu amo a Valéria... e você tá casada...
-E daí? Eu não tou pedindo pelo seu amor. Nem tou pensando em me separar do meu marido. Com a gente, aqui, é tudo na base da pele. Do sexo e da amizade. Combinado?
Hugo beija Giovanna com paixão. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas depois, Hugo desperta na cama de motel e vê Giovanna adormecida em sono profundo.
-Meu Deus do céu... o que foi que eu fiz? - murmura Hugo, ainda atordoado, consigo mesmo.
Hugo tenta acordar Giovanna, que segue em sono profundo.
-Melhor deixar ela dormindo... meu Deus! Já são quase cinco da manhã! Como é que eu fui capaz de me deixar levar por essa criatura de novo? Eu sou mesmo um rato, um pilantra, um merda de um covarde, um machista de bosta que se deixa levar porque é fraco... a Valéria tem razão! Eu sempre me coloco como vítima, mas nunca fui vítima de coisa nenhuma!
Hugo começa a chorar, arrependido de sua fraqueza.
-Eu sou um merda! Eu não tenho caráter! Eu mereço a Giovanna, no fim das contas!
Hugo percebe que Giovanna segue em sono profundo.
-Pelo menos ela tá ferrada no sono. Eu não quero olhar na cara dela agora... não quero falar com ela. Na verdade, eu devia estar longe daqui. Longe dela... longe de tudo o que ela representa...
Hugo começa a se vestir e se certifica de que Giovanna segue dormindo.
-Pelo menos essa daí continua dormindo feito uma pedra.
Hugo termina de se arrumar, se olha no espelho e dá um tapa em seu próprio rosto.
-Rato. Eu sou um rato!
Hugo deixa o quarto de motel enquanto Giovanna dorme. CORTA A CENA.

CENA 5: Ao amanhecer, Giovanna desperta na cama de motel e ao se virar para o lado, não vê Hugo.
-Ué... será que ele foi tomar banho?
Giovanna anda pelo quarto e não encontra Hugo.
-Não é possível! Esse infeliz foi embora...
Giovanna acaba encontrando um bilhete escrito por Hugo, num móvel.
“Desculpe, Giovanna. Nós dois estávamos fora do normal e acabamos nos entregando a esse momento. Sinto muito por ter sido fraco e ter deixado tudo isso acontecer. Espero que você se entenda com seu marido e que seu casamento siga tranquilo. Isso que aconteceu hoje entre nós foi uma fraqueza minha e sua. Mas entenda essa nossa última transa como uma despedida. Não pode acontecer mais... não vai mais acontecer. Eu amo a Valéria e você tá casada com o Ricardo. Precisamos respeitar isso.
Beijos,
Hugo.”
Giovanna se descontrola e quebra coisas dentro do quarto. CORTA A CENA.

CENA 6: Durante café da manhã, Cristina aproveita que Arlete está dormindo e conversa com Fábio.
-Sabe, amor... andei pensando sobre nosso casamento.
-Gente, vai chover canivete?
-Para de graça, Fábio! Eu tava pensando que a gente já podia pensar numa data pro casamento.
-Cê tá falando sério, Cris?
-Sim. Eu tava pensando em outubro.
-É o mês do meu aniversário...
-A ideia é que a gente case exatamente no dia do seu aniversário...
-Você é a melhor! Vai ser o melhor presente da minha vida!
-Isso é o mínimo que eu devo a você, meu amor... por toda a sua paciência comigo, por me esperar quando eu só te rejeitava e ficava arranjando desculpa pra justificar o meu próprio medo de amar... o meu próprio medo de te amar...
-Eu já deixei tudo isso passar. A gente tem esse momento maravilhoso pra gente. A gente tem a nossa filha, que é uma guerreira desde que nasceu... a gente tem toda a felicidade que a gente precisa!
-Quer dizer então que você aceita se casar comigo no dia do seu aniversário?
-Claro que sim! Mil vezes sim!
-Sabe, amor... no fundo acho tudo isso engraçado...
-Por que?
-Porque eu acabo agindo, tomando as atitudes quase sempre. Faço o papel que era pra ser do homem, de acordo com o que a sociedade determinou.
-A sociedade machista, cê quer dizer... você é incrível, Cris... te amo por você ser assim...
-Às vezes eu fico tão feliz por a gente estar assim, em paz, que chego a achar que é mais felicidade que eu mereço...
-Deixa disso... a gente merece isso e muito mais, sim!
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 7: Margarida, Érico e Guilherme acompanham Carla até o aeroporto e ao chegarem lá, Margarida começa a chorar.
-Ei, mãe! Não começa com isso que senão sou eu chorando em dois tempos... - fala Carla.
-Ah, filha... eu sei que cê tá realizando um grande sonho na sua vida... mas a dor da despedida é forte... - fala Margarida.
-Até eu que pensei que ia ficar de boa, tou sentindo o coração pequenininho... seja feliz, mana... - fala Érico.
-Eita que até eu vou ficar com um nó na garganta se vocês continuarem com isso! - descontrai Guilherme.
-Vocês são maravilhosos. Te amo, mãe... Érico, você é muito maior do que consegue enxergar e ainda vai perceber isso. Guilherme, seu filho de chocadeira desgramado do meu coração: vê se para de resistir e criar barreiras que tá na cara que cê ama meu irmão e não tou falando isso pra fazer a alcoviteira não, viu? - fala Carla.
Todos abraçam Carla.
-Gente... eu tenho menos de dois minutos pra fazer checkin... preciso ir. Agora só volto a falar com vocês lá da Irlanda! - fala Carla.
-Vai com Deus, filha... - fala Margarida.
-Vê se encontra um boy estrangeiro, tá? - descontrai Érico.
-E rico, de preferência! - prossegue Guilherme, na brincadeira.
Carla parte e, instantes depois, Margarida, Érico e Guilherme observam o avião que Carla embarcou partir.
CORTA A CENA.

CENA 8: Mônica surpreende Sérgio batendo em sua casa.
-Ué, Mônica... não era hora de você estar na agência?
-Deveria, mas hoje eu vim te dar um sacode.
-Oi?
-Isso mesmo! Faz dias que tá visível que você mal sai do seu apartamento, se arrasta pelos cantos, nem parece que acabou de ganhar uma netinha linda, eu hein!
-Mônica... é difícil. Você não entenderia.
-Entenderia sim, sei até do que se trata, pro seu governo.
-Duvido...
-Cê tá sentindo falta do seu passado. Pensando na Bernadete e no quanto ainda ama ela. Constatando que no final das contas nunca deixou de amar essa mulher. Ah, para de se sentir vítima, de se arrastar pelos cantos, cacete!
-Não é simples... ela ainda tá casada com o Leopoldo.
-E o casamento deles vai de mal a pior!
-Mas ele é meu amigo.
-E vai continuar sendo, se for mesmo seu amigo de verdade. Lute pelo seu amor. Jogue limpo, vai em frente, caramba! Se mexe!
-Mas como eu vou fazer isso?
-Seu coração sabe a resposta. Mas sua mente insiste em buscar barreiras pra tudo isso.
-Gente, às vezes você é cirúrgica...
-Eu sei das coisas. Agora preciso ir. E você, trate de se mexer que a vida não vai te esperar pra sempre!
CORTA A CENA.

CENA 9: Bernadete vê Hugo ainda bêbado circulando pela casa.
-Que porre, hein? Onde você andou, filho?
-Discuti ontem à noite com a Valéria.
-Ih... não gostei disso. Que mais?
-Fiz besteira.
-Que tipo de besteira, Hugo di Fiori? Se for o que eu tou pensando, nem sei como reagir...
-Se você tá pensando na Giovanna, sim... eu fui pra cama com ela.
-Essa mulher é uma vadia mesmo! Casada e vai te seduzir, vai te procurar!
-Ela não fez sexo sozinha. Eu fui tão canalha quanto.
-Filho, pelo amor de Deus, para de se colocar como único errado da história. Você fez merda? Fez, mas essa mulher é doente. Ela só atrapalhou a sua vida. Você não devia ter caído na teia dela mais uma vez...
-Eu nem sei como encarar a Valéria agora...
-Peça desculpas a ela.
-Que? Mas eu teria de contar a ela dessa escapada que eu dei...
-É o que se espera de um homem. Assuma seus atos com a cabeça erguida e arque com as consequências.
CORTA A CENA.

CENA 10: Daniella liga para Cristina.
-Fala, Dani...
-Mana... quando é que cê volta dessa licença maternidade? Eu não aguento mais isso daqui!
-Mana, aguenta só mais um pouco... a Arlete mal nasceu, preciso de mais tempo pra cuidar da minha bebê...
-Cê fala como se ela não tivesse pai, avós, tia...
-Mas a filha é minha...
-Tudo bem, Cristina. Só que eu não tenho todo o tempo do mundo. Enquanto isso, minha carreira de atriz vai dobrando a esquina e eu aqui, sem nem ensaiar no teatro mais porque não me sobra tempo pra mais nada...
-Eu entendo, mana... preciso desligar que a sua sobrinha quer mamar... beijo. As coisas vão se resolver logo, te amo.
CORTA A CENA.

CENA 11: Hugo chega à Natural High procurando por Valéria, mas não a encontra na seção da revista. Procura pela agência, mas acaba não encontrando Valéria. Hugo decide ir à sala de Giovanna procurar por Valéria e encontra Giovanna sozinha.
-Eita, Giovanna... não era pro Ricardo estar aqui?
-Ele tá fazendo coisas fora daqui. E você, seu tratante, podia pelo menos ter esperado eu me acordar!
-Não, não podia... foi um erro a nossa noite juntos.
-Agora você diz que foi erro, né? Não era um erro quando você ficava balançando a cama daquele motel a ponto de bater na parede!
Nesse momento, Ricardo entra, perplexo.
-O que foi que eu acabei de ouvir? - questiona Ricardo, lívido.
FIM DO CAPÍTULO 110.

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