CENA 1: William fica perplexo diante das palavras de seu pai, que insiste em resposta imediata.
-Vamos, meu filho! Vai ou não vai topar essa parada?
-Mas... pai, é muita responsabilidade. É uma fortuna incalculável! São milhares de coisas pra fazer durante um único dia!
-Exagero! Com o tempo ocê se acostuma, é tudo uma questão de adaptabilidade...
-Me adaptar ao que, pai? Não é o padrão de vida que eu tive até hoje.
-Lembre-se, meu filho, que se há um padrão de vida que ocê segue hoje, foi pela força do meu trabalho...
-Que seja, pai. Só que tem coisas mais importantes na vida do que viver em função de acumular dinheiro e riquezas.
-Essa é a sua resposta?
-É, pai. Eu não posso aceitar. Eu tou numa outra vibe, num outro momento. São bem diferentes as minhas proridades.
-Tem certeza que são tão diferentes assim, filho?
-Ih, seu Mauro... não gosto quando ocê vem com esse tom...
-Meu filho, escute a voz da experiência. Eu sei o que tou fazendo. Repassar tudo p'rocê é a melhor alternativa.
-Não vejo em que ponto isso pode ser melhor pra mim. Só se for p'rocê...
-E pro seu relacionamento com a Valéria, também...
-Como assim?
-Filho, assumir o poder pode garantir que ela vá voltar de vez pros seus braços.
-Não, pai... a Valéria não é esse tipo de mulher que ocê tá pensando que ela é... a prova disso tá no passado da gente.
-Besteira, William.
-Por que isso agora, pai?
-Não seja ingênuo, meu filho. Todo mundo tem seu preço.
-Você que continua maldoso demais. Pelo visto esse susto não te ensinou nada...
-Pelo menos pensa na minha proposta, filho.
-Eu preciso de tempo pra avaliar tudo.
-Te dou esse tempo. Mas espero que ocê aceite...
-Veremos, pai... não posso garantir nada. Preciso de um tempo pra pensar em tudo isso...
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Valéria percebe que William está com expressão fechada durante café da manhã.
-Preocupação com o seu pai, William?
-Também. Mas tem mais coisa.
-Que coisa?
-Desculpa, Valéria... não é nada que ocê possa resolver.
-Desculpa peço eu, não é a minha intenção me meter na sua vida.
-Fica tranquila, querida... é que realmente não tem nada que possa ser feito agora.
-Eita, William... do jeito que ocê tá falando eu fico até assustada. Parece que tem um trem grave acontecendo...
-Fica tranquila. Não é nada com você nem com nosso filho.
-E se for com você?
-Valéria... eu não sei se posso desabafar.
-Claro que pode! A gente tem uma amizade nascendo aqui, não tem? Pelo menos da minha parte...
-Sim, Valéria, mas de qualquer jeito, são problemas exclusivamente meus. Envolvem escolhas difíceis que eu vou ter que fazer.
-Não tem outro jeito? Digo... um caminho alternativo pra quem sabe não ter que escolher nada nesse momento, se ocê não quiser?
-Infelizmente não... o tempo tá contra mim...
William se levanta da mesa e Valéria fica intrigada. CORTA A CENA.
CENA 3: Ao chegar ao trabalho, Flavinho vai direto à sala conversar com Daniella.
-Oi, Dani, tá podendo falar?
-Tou sim, nem se preocupa.
-Fiquei com medo de atrapalhar, ainda mais que ocê saiu pra resolver a questão da Patrícia...
-Relaxa que isso aqui nem é meu trabalho de verdade, seu bobinho, tou só tapando mesmo o buraco da Cris...
-Melhor assim. Sabe o que é? Tou precisando conversar com alguém...
-Sei. Tou sempre disposta a te ouvir... e tem algo que me diz que mais uma vez o tema dessa conversa vai ser o Gustavo.
-Vish, tá tão na cara assim?
-Flavinho, admite logo que não cai pedaço... cê tá amando ele, não tá? Não é uma simples paixão...
-Eu não queria sentir essas coisas...
-Querido, sentir amor não depende somente da nossa vontade racional. A mente até decide algumas coisas nesse sentido, mas é muito pouco...
-Como é que ocê fala nisso tudo nessa naturalidade se também ama ele?
-Você não entendeu ainda? É justamente por amar ele que eu percebo que o caminho de vocês é juntos. E torço por isso. Meu amor é livre, sem essa coisa de sentir ciúme, entende?
-Queria ser assim, evoluído...
-Não sou evoluída, bobo... só decidi não perder tempo e energia achando que as pessoas me pertencem...
CORTA A CENA.
CENA 4: No dia seguinte, Patrícia conversa com Daniella, já acomodada em sua casa.
-Sabe, Dani... eu sei que ocê pode achar besteira da minha parte, mas queria falar um negócio...
-Fala, Pati... não vou achar besteira, pode ficar tranquila.
-Eu andei pensando em tudo. Nos progressos que tenho feito no tratamento.
-Que bom, querida. Quanto mais racionalizados forem todos esses processos, mais serenidade vem dessa introspecção...
-Então... eu andei pensando que devo desculpas ao Flavinho. Pelo que fiz ele passar.
-Relaxa, boba. Ele nem lembra disso tudo, não guarda ressentimento...
-Ele podia ter morrido... e pelas minhas mãos. Eu preciso pedir perdão a ele, pessoalmente.
-Tem certeza que isso vai te fazer bem? Não alimente culpas...
-Eu quero transformar isso tudo numa coisa boa aqui dentro. Agradecer por ele ter livrado a minha cara, por exemplo, sem a mínima obrigação disso...
-Bem, olhando por esse lado... acho válido.
CORTA A CENA.
CENA 5: William visita o pai novamente. Mauro segue pressionando o filho.
-E então, William? Já tomou a decisão final?
-Pai, eu não pedi um tempo? Nem alta ocê recebeu ainda!
-Filho, esse tipo de decisão precisa ser tomada logo...
-E se eu decidir por algo que vá me arrepender depois?
-É mais fácil se arrepender de não fazer nada do que de arriscar, não é?
-Pai... respeita o meu tempo, por favor. Eu preciso avaliar se tudo isso realmente vale a pena.
-Vai por mim, meu filho... vale sim.
-Se vale, eu vou perceber. Com meus próprios olhos. Sem pressão. Pode ser?
CORTA A CENA.
CENA 6: Patrícia estranha ver Daniella concentrada no computador.
-Ei, ocê não vai sair da frente do PC nem no domingo?
-Pati... lembra do que cê me falou mais cedo?
-Sobre o que?
-Sobre o Flavinho. Eu tenho como te ajudar.
-Sério? Quer dizer que ocê acha uma boa eu ir falar com ele?
-Acho sim. Acho uma ótima ideia, por sinal. Ainda mais sabendo que ele é supertranquilo.
-E como ocê vai poder me ajudar? Eu soube que ele não mora mais no apê do Gustavo...
-Justamente por isso, bobinha...
-Não entendi.
-Esqueceu que eu tenho acesso aos dados de todos os funcionários da clínica?
-Ah, verdade...
-Então eu posso conseguir os dados dele, atualizados, com o novo endereço. Dessa forma a gente confirma onde ele tá no momento.
-Ai, amiga! Eu não sei o que ia ser da minha vida sem você! Ocê sempre pensa em tudo!
-Deixa pra me agradecer depois. Me fala uma coisa antes.
-O que?
-Quer que seja hoje, ainda?
-Ai, sim! Quanto antes melhor, já deixo mais uma conta zerada...
-Então tá tudo certo. A gente vai ainda hoje lá. Já peguei o endereço certinho aqui pra gente ir...
CORTA A CENA.
CENA 7: Gustavo se entristece e se choca com a situação de abandono que vários pacientes vivem no hospital público. Tentando melhorar um pouco a situação do ambiente, Gustavo se dirige a um senhor.
-Boa tarde, seu Eduardo.
-Como ocê sabe meu nome, moço?
-Tou trabalhando aqui. Vi que seu caso é de baixa gravidade, mas que seus familiares não vieram mais te procurar.
-Família, seu moço? Aquilo ali não é família não...
-Como é que pode uma coisa dessas, seu Eduardo?
-Ah, meu filho... essas coisas acontecem quando ocê faz todas as vontades dos seus filhos, pensando que tá dando amor, mas acaba criando um bando de ingrato, que só pensa em tirar vantagem das coisa tudo...
-Quantos filhos o senhor teve?
-Seis, acredita? Eram sete. O do meio, que era o meu único companheiro de verdade nessa vida, morreu. Não sei porque Deus quis levar o meu único filho bom pra perto dele... mas tento lidar com isso...
-Faz quanto tempo?
-Dois anos.
-E desde quando o senhor ficou adoentado?
-Mais de um ano. Me largaram aqui. Eu acabo inventando dor onde nem tem, pra ter um pouco de amor e atenção de quem eu nem sei quem é. Da família que eu criei, não espero mais nada.
-Mas o senhor tem a nós. E toda a equipe sempre diz que o senhor é muito simpático e querido. Nunca esqueça disso!
Gustavo abraça o senhor e sai andando, desolado. CORTA A CENA.
CENA 8: Valéria insiste com William em saber o que está acontecendo.
-William... já é a segunda vez que eu percebo que ocê volta estressado da visita pro seu pai...
-Coisas minhas...
-Quer falar sobre isso?
-Não sei se posso.
-Confia em mim, William...
-Não é uma questão de confiança.
-É alguma coisa que seu pai anda te falando?
-Sim. Mas não quero dizer nada sobre isso agora.
-É um direito seu, William... mas saiba que pode confiar em mim em qualquer momento e pra qualquer coisa, viu?
-Eu sei disso. Eu não confio é em mim mesmo...
-Não entendi...
-Deixa isso pra lá, Valéria... ocê nem merece se incomodar com essas questões quem nem suas são...
-Tudo bem. Mas precisando desabafar, lembra que antes de mais nada eu sou sua amiga, viu?
-Pode deixar...
CORTA A CENA.
CENA 9: Flavinho estranha ouvir a campainha tocar.
-Uai... será a Valéria? Devia ter avisado que vinha antes...
Flavinho abre a porta e se depara com Daniella.
-Dani? Que surpresa! Como ocê descobriu meu apartamento?
-Quem sabe porque tenho acesso aos dados dos funcionários da clínica?
-Ah, é verdade. Entra, por favor.
-Eu não vim sozinha. Trouxe alguém que precisa te ver e falar com você...
-Quem?
Patrícia surge e Flavinho se surpreende.
-Patrícia? Eu não imaginava que...
-Que eu tivesse a ousadia de te procurar? Flavinho, por favor... me entenda: estou me tratando. E preciso demais do seu perdão. É pra isso que vim aqui, inclusive: pra saber se ocê me perdoa.
Flavinho paralisa. FIM DO CAPÍTULO 120.
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