CENA 1: Sérgio fica ansioso por uma resposta de Bernadete.
-Dete... eu acabo de falar pra você que eu sempre te quis só pra mim, que eu nunca deixei de te amar... não vai me dizer nada?
-Não é segredo que meu casamento com Leopoldo tá acabado. É só questão de oficializar... mas tudo isso me deixou sem nem saber o que te dizer.
-Só me diz que é possível, querida...
-Sérgio... eu queria saber responder. Mas eu não sei responder.
-Tenta...
-Não consigo. Eu não sei se é possível. Nós mudamos demais.
-Mas isso não é bom?
-Nem sempre. Eu fiz coisas que me envergonho de ter feito. Não sou mais aquela menina doce do começo dos anos oitenta...
-E daí? Eu também não sou mais aquele cara que pensava que podia escalar o Monte Everest sem proteção e sozinho. Mas ainda estamos aqui.
-Sim, estamos. Mas calejados pela vida. Feridos tantas vezes... nossas cicatrizes estão todas aqui... metafóricas e reais. Ostentada como troféus inglórios que a gente mostra pra dizer que resistiu até aqui, apesar de tudo...
-Melancólico, esse pensamento.
-Melancólica é a vida, Sérgio.
-Isso significa o que?
-Que eu sou outra pessoa. Completamente diferente da Bernadete que eu era há mais de trinta anos.
-Eu só queria saber se é possível a gente tentar outra vez algum dia...
-Não sei se sou capaz de te responder uma coisa dessas agora. Qualquer resposta agora seria imprudente, tanto um sim quanto um não. Mas te aviso de antemão que minhas cicatrizes carregam cruzes. Essas cruzes pesam, Sérgio... você não faz ideia do quanto...
-Eu posso esperar.
-Se eu fosse você, eu não esperaria por mim.
-Você tá entristecida, sem esperança... mas isso pode mudar. Eu sei que pode.
-Só o tempo vai ser capaz de nos revelar isso. De me revelar se ainda sou forte ou se me entreguei de vez à fraqueza e à hipocrisia.
-Por que cê tá falando isso?
-Não vê o caso do menino Flávio? Em outra época eu não só entenderia como ficaria ao lado dele.
-E por que não fica, se sabe disso?
-O que a vida fez de mim me maculou. E isso não foi bom. Me tornei mais conservadora do que gostaria de ter me tornado.
-Isso pode mudar, se você tentar.
-Eu queria. Mas não sei mais qual é o caminho que preciso trilhar pra tudo isso...
-Mesmo assim, Bernadete... eu te amo. E eu te espero.
-Só não crie expectativas pra não se decepcionar depois...
-Não vou. Quem ama, não cria expectativas.
-Você é maravilhoso, Sérgio. Eu sou só um arremedo da mulher que eu já fui. A Bernadete que você tanto amou eu acho que já morreu.
-Não, eu tenho certeza que não... mas vou conceder a você o seu próprio tempo. E sei que você vai se encontrar. Preciso desligar agora. Te amo... um beijo.
-Um beijo, querido...
Bernadete fica balançada. CORTA A CENA.
CENA 2: Bruno desabafa com Geórgia, Raphaela e Alexandre sobre falta de perspectivas.
-Gente, cês sabem que eu sou grato por tudo o que vocês andam fazendo por mim nesses últimos meses, não sabem? - fala Bruno.
-Claro que a gente sabe, não sabe? - fala Raphaela.
-Sem dúvida. Eu sou muito orgulhosa do homem que você se tornou, amor... - fala Geórgia.
-Até eu percebi que lá no fundo existe um bom amigo. Tu é bom, Bruno... tava te faltando oportunidade de ser bom, só isso... - fala Alexandre.
-Pois então, gente... eu andei reavaliando tudo. Pensando em todas as coisas... eu já ando passando da idade ideal... e fico pensando: até que ponto vale a pena eu batalhar por essa carreira? - desabafa Bruno.
-Peraí, amor... cê não pode estar falando sério. Não depois de tudo... - espanta-se Geórgia.
-Gente, eu tou cansado. E nem é só por causa da idade, mas pela consciência pesada que eu fico por todas as besteiras que eu aprontei no passado... - desabafa Bruno.
-Ei, cara! Que isso, agora? Tu mesmo acabou de dizer que essas coisas são no passado. E é no passado que elas devem ficar. Vai sacrificar tua carreira a toa? - estimula Alexandre.
-Não é tão a toa. E você deveria dar graças a Deus, afinal de contas eu já te prejudiquei, cara... - fala Bruno.
-Deixa de besteira. Não sou, nunca fui rancoroso. O que foi feito já passou. Agora tu é um cara bom, tá pra ver! - segue Alexandre, estimulando.
-Isso, Bruno! Escuta o Alexandre porque ele tá coberto de razão! Não desiste por causa de besteira! - fala Raphaela.
-Amor... a gente tá aqui pra ficar ao seu lado, pra te apoiar em qualquer decisão. Mas pensa com carinho... essa carreira foi o que você sonhou desde que chegou aqui no Brasil, não foi? - prossegue Geórgia.
-Sim... foi... ah, vocês estão certos, quer saber? Não posso entregar os pontos agora! Posso não ser o cara mais jovem na profissão, mas ainda é cedo pra eu ser velho demais! - anima-se Bruno.
CORTA A CENA.
CENA 3: Daniella para Gustavo num dos corredores da clínica.
-Ei, Gustavo, muito ocupado?
-Não muito. Quer me falar alguma coisa?
-Na verdade te fazer um convite.
-Faça!
-Queria saber se a gente pode esticar mais tarde prum happy hour. Bateu saudade daquele pé sujo que a gente costumava ir pra falar nada com coisa nenhuma. Inclusive o Flavinho tá mais que convidado, mas não achei esse viado, deve estar verificando o estoque de medicamentos...
Flavinho, nesse momento, passa pelos dois. Gustavo o chama.
-Ei, Flavinho! A gente tava falando n'ocê agorinha! - fala Gustavo.
-Eita, espero que tenha sido bem... - fala Flavinho.
-Claro que foi, bobinho. Eu queria saber se você vem com a gente mais tarde pro pé sujo fazer uma daquelas happy hours... - fala Daniella.
-Não, gente... obrigado. Agradeço o convite, mas ando quebrado ultimamente... eu preciso ver se tá tudo certo com as crianças do trezentos e treze... - fala Flavinho, se retirando.
-Impressão minha ou ele ficou incomodado com alguma coisa? - questiona Daniella.
-Deve ter sido impressão... - fala Gustavo.
Daniella fica intrigada. CORTA A CENA.
CENA 4: Flavinho liga para Valéria.
-Oi, amigo!
-Tá podendo falar, Valéria?
-Sim!
-Queria saber se eu posso passar a noite aí com você, se o seu Mauro se incomodaria...
-Ele me dá carta branca pra eu receber quem eu quiser. Só não sei se vai ser uma boa ideia...
-Não pretendo ficar pra dormir. Só quero passar umas horas com você...
-Esquisito, isso...
-Posso ir?
-Pode...
-Então eu te explico quando eu estiver aí. Beijo, obrigado!
CORTA A CENA.
CENA 5: Cristina conversa com Fábio.
-Amor, eu andei pensando numa coisa e queria saber se você acha boa a minha ideia.
-Fala, Cris...
-O que cê acha da minha mãe vir morar com a gente? Digo... o apartamento é grande...
-Adorei a ideia! A dona Nicole sempre foi um doce comigo, quase uma mãe!
-Meio maluco você ver ela desse jeito e ter menos de dez anos de diferença com ela... aliás, bem menos!
-Coisas da vida... se quiser chamar ela pra vir hoje mesmo, pode chamar!
-Sério?
-Sim!
-Vou dar mais um tempo... até porque ela pode não aceitar de primeira, né?
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 6: Bernadete encontra em suas coisas um antigo álbum de fotos e nesse álbum, encontra fotos da época em que ela e Sérgio ainda eram namorados.
-Gente, como é que pode? - murmura Bernadete, consigo mesma.
Bernadete segue folheando as páginas do álbum e encontra uma foto solta. Atrás dela, há uma dedicatória escrita por Sérgio. Bernadete lê em voz alta.
“Dete, meu amor:
Eu sei que a gente passou por brigas, desentendimentos, mas quero que você lembre que eu sempre vou te amar. E que quero sempre estar ao seu lado, mesmo que amanhã ou depois esse nosso amor acabe afastando os nossos caminhos. Você é meu primeiro e único amor e eu espero que nunca se esqueça disso.
Do seu Sérgio.”
-Meu Deus... fazia mais de trinta anos que eu não lia isso... parece que ele sabia que a gente ia se separar...
Bernadete chora, desconsolada.
-Como é que eu pude deixar isso tudo acontecer? Como é que eu fui capaz de me perder de mim mesma desse jeito? Como é que eu fui aceitar a primeira troca que apareceu diante de mim? Por que eu fiz isso da minha vida?
Bernadete seca as lágrimas.
-Chega de lamentar. Fui eu mesma que deixei tudo isso acontecer. Sou eu mesma que preciso encontrar o caminho de saída disso tudo!
CORTA A CENA.
CENA 7: Já na casa de Mauro e na companhia de Valéria, no quarto dela, Flavinho desabafa sobre o que anda sentindo.
-Miga, eu tou completamente assustado, acho até que ando fora de mim, nunca pensei que ia sentir tanto ciúme na vida, ainda mais do seu irmão!
-A resposta é simples, Flavinho... ocê que não quer ver, melhor dizendo: se recusa a enxergar o óbvio...
-Ah, não... nem começa com esse trem de falar que eu...
-Começo sim! Ou por acaso ocê acha que eu esqueci de que foi você o primeiro que viu o que tava rolando entre o Hugo e eu?
-É, mas o amor de vocês não deu certo...
-Por outros motivos, seu bobo! Sabe o que eu acho? No fundo ocê ainda se sente preso ao Leonardo. Como se devesse eterna devoção a ele e por isso arranja desculpa pra não ficar com o Gustavo.
-Caramba... é esse o conceito que ocê anda fazendo de mim?
-Sim. E tá tudo bem em ter fraquezas, sabia, seu cabeça dura? É por isso que a gente é humano!
-Só mesmo ocê pra me falar essas coisas e ainda me fazer ver o lado bom...
-É pra isso que eu sou sua amiga, bobo... e esse trem de sentir ciúme do Gustavo só prova que ocê ama meu irmão mais do que gostaria ou queria...
-Vamos mudar de assunto, por favor?
-Tudo bem...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 8: Instantes depois, William conversa com Flavinho.
-Que bom que ocê ficou pra dormir aqui essa noite, Flavinho... tava mesmo precisando conversar.
-Vish, mas a gente nunca se falou muito lá em BH...
-Sabe o que é, cara? Eu não sei mais o que eu faço pra fazer a Valéria perceber que a gente ainda pode dar certo.
-Não faça nada, uai.
-Como eu posso suportar essa situação?
-Quer que eu seja sincero?
-Por favor!
-Da mesma forma que suportou insultar ela, chamar a Valéria de tudo quanto foi coisa e abandonar ela grávida.
-Mas ela tinha dito que era alarme falso, caramba!
-E ocê acreditou rápido demais, não é? Claro! Acreditou porque isso te era conveniente. E nem vem com esse papo de que na época ocê queria esse filho que ocê pode tentar convencer qualquer um disso, menos a mim!
-Nossa... pesado tudo isso.
-Pesado, mas verdadeiro. Vai negar?
-Não... mas eu senti minhas esperanças renovadas depois do beijo.
-Não conte com isso. Ela não te ama.
William engole a seco. CORTA A CENA.
CENA 9: Mauro demonstra contrariedade e William estranha.
-Que cara é essa de quem comeu comida estragada?
-Ah, filho... tudo bem que eu dei carta branca pra Valéria receber quem ela quisesse nessa casa, mas...
-Mas o que?
-Tinha que ser esse viadinho?
-O viadinho tem nome, é melhor amigo da Valéria e pro seu governo também é meu amigo desde BH!
-Continua sendo um viadinho.
-E que ano ocê tá vivendo, pai? A gente já tá em 2017, sabia?
-Grande coisa. Certas coisas nunca mudam, como os valores da família.
-Valores? Quem é o senhor pra falar de valores?
-Ué, eu nunca neguei ser conservador.
-Não devia ser. Me criou sozinho depois que minha mãe morreu. Não fomos uma família tradicional, caso ocê tenha esquecido desse pequeno detalhe.
-Mas é diferente.
-Não é diferente. É o senhor que faz questão de viver num mundo paralelo. Boa noite.
CORTA A CENA.
CENA 10: Ao amanhecer do dia seguinte, Valéria é surpreendida enquanto amamenta Leonardo por Flavinho organizando suas coisas.
-Gente, achei que ocê tava dormindo ainda...
-Nem que eu quisesse, tenho que sair cedíssimo daqui.
-Mas gente, não são nem seis da manhã ainda!
-Justamente por isso.
-Vai fica pro café, pelo menos? A Cláudia faz um bolo de abacaxi divino!
-Não vai dar tempo. Deixei todas as minhas coisas, minhas roupas, lá no Gustavo. Decidi vir pra cá de última hora, lembra?
-Ah, é verdade... é uma pena, amigo...
-Ocê acha que eu não notei a cara torta do pai do William?
-Eu sinto muito...
-Você não tem culpa... relaxa...
Flavinho segue se organizando. CORTA A CENA.
CENA 11: Flavinho chega em casa e Gustavo se surpreende.
-Uai, achei que ocê ia direto pra clínica...
-Como, Gustavo? Se deixei minhas coisas toda aqui? Eu precisava de um banho, né? E sem a minha toalha a coisa fica difícil...
-Sorte que ocê chegou bem cedo, né? Assim evita de atrasar.
-Ah, mas vou correndo pro banho!
-Não!
-Uai, por que não, Gustavo? Ocê tá cansado de saber que eu sempre faço tudo com antecedência...
-Mas é que...
-Ah, para de frescura!
Flavinho entra impulsivamente no banheiro e se depara com Daniella nua, que dá um grito.
-Ai que susto, Flavinho! - fala Daniella.
Flavinho paralisa. FIM DO CAPÍTULO 113.
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