CENA 1: Giovanna acaba passando mal novamente e se convence de que só pode estar grávida.
-Meu Deus... só pode ser isso. Eu engravidei!
Giovanna se apavora.
-Não pode ser... eu já tou à beira de entrar na menopausa, isso pode ser um risco tremendo à minha saúde, ainda mais que... gente, não pode ser! Eu nunca engravidei!
Giovanna aos poucos se tranquiliza.
-Gente... calma. De repente isso aqui pode ser um alarme falso. Alguma coisa que comi e não bateu bem...
Giovanna volta para a sala e tenta beber o chá.
-Credo, esse chá não vai descer por nada nesse mundo!
Giovanna bebe um copo dágua.
-Bem... se isso aqui for gravidez mesmo... só pode ser do Hugo que eu engravidei. Daquele banana do Ricardo que não ia ser!
Giovanna começa a sorrir.
-De repente essa é a solução perfeita!
Giovanna começa a gargalhar.
-Ai, ai... não é que aquela recaída “acidental” saiu melhor que a encomenda? Eu nunca quis colocar um ranhentinho nesse mundo, mas se for preciso colocar um remelento no mundo pra conseguir fisgar o Hugo de volta, então que venha esse demoniozinho que eu deixo pra babá ou empregada cuidar!
Giovanna gargalha até quase perder o ar.
-Melhor coisa da vida que podia me acontecer. Sou até capaz de amar esse alien que tá crescendo aqui dentro? E a Valéria se achando a tal, a amada, a superior... vai ficar sem seu amorzinho, otária! Mineirinha estúpida. Tá se achando grande coisa porque tá ocupando cargo importante na revista? Pois que fique com seu status e seu sucesso. Quem vai ficar com o Hugo sou eu! Nem que pra isso eu tenha que abrir mão da minha liberdade e aceite viver essa vidinha monótona e chata de mulher monogâmica de verdade. Já provei que sou capaz, não provei? Pois vocês que me aguardem, porque se essa gravidez for pra valer, meus queridos... o show tá só começando! E nenhum de vocês vai poder se ver livre de mim nunca mais! Ai, ai... tudo isso me saiu tão melhor que a encomenda! E o tonto do Ricardo ainda achando que eu ia resistir em aceitar as condições dele pro divórcio. Ai, quer saber? Caguei baldes pra tudo isso. Quer levar metade do que é meu? Que leve. Faça bom proveito, é outro mineiro tonto que se finge de carioca... eu continuo aqui, linda, oxigenada e rica!
Giovanna vai andando com leveza até seu quarto e troca de roupa. Ao colocar o pijama, resolve se olhar no espelho.
-Imagina só... daqui uns meses... essa barriguinha chapada e maravilhosa que eu tenho, expandindo, provando pra todo mundo que eu carrego um filho do Hugo aqui dentro. É, meu querido... querendo ou não, você é meu, pra sempre!
Giovanna alisa a barriga e tenta forçar expansão dela, ficando apreensiva.
-Ai... será que vou embarangar? Será que esse remelento que tá crescendo aqui dentro vai detonar meu corpo? E se me der estria? Ai, Deus... logo eu, que sempre fui gostosa pra caramba, a deusa leonina dos sonhos de qualquer tonto sem rumo... bem... se for pra embarangar, mas garantir que o Hugo vai continuar sendo meu até o fim das nossas vidas... que seja esse o preço, então. A mineirinha vai ter que engolir. E se não aceitar, vamos fazer o que? Tem que entubar!
Giovanna gargalha. CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte, Giovanna comparece ao local que assinará o divórcio e Ricardo se surpreende ao vê-la.
-Bom dia, Giovanna. Isso aqui não é evento de gala, pra que essa roupa?
-Ah, meu querido... a honra de me separar definitivamente de você é um evento da mais pura gala pra mim, pode acreditar.
-Pelo visto, você continua a mesma de sempre. Eu que não percebia...
-Não posso fazer nada se você é crédulo demais. O mundo é dos espertos, guarda bem isso. Você ainda vai lembrar dessa máxima.
-Cuidado, Giovanna. Vaidade e soberba costumam cegar. De repente cê tá na beira do abismo e ainda não percebeu...
-Credo. Ricardo! Pra quem posa de bonzinho e certinho, cê tá me saindo um cara bem maldoso, hein?
-Tive uma boa professora. Entra de uma vez e assina logo os papeis, senão vai ser pior pra você...
-Com todo o prazer, Ricardo. Nada nessa vida vai me aliviar mais do que me livrar desse embuste completo que foi ser casada com um imbecil feito você...
Giovanna e Ricardo assinam a papelada do divórcio. Na saída, Giovanna aborda Ricardo.
-O que foi agora, Giovanna?
-Só pra te dizer uma coisa: você pensa que tá saindo por cima, não pensa?
-Eu não penso, minha querida: eu estou. Dignidade é uma coisa que nunca me abandonou.
-Que se dane a sua dignidade de boteco, que se dane seu discurso de bom moço e apatia diante da vida. Esse jogo vai virar, você vai ver...
-Do que cê tá falando?
-Aguarde, meu querido... aguarde! Você não perde por esperar. Aliás, vocês todos... todo mundo que me conhece vai cair da cadeira em breve... minha vida vai dar um giro de cento e oitenta graus, pode apostar... tchauzinho!
-O que cê tá tramando?
-Em primeiro lugar: não é da sua conta. Em segundo lugar: quem disse que eu preciso tramar alguma coisa?
Giovanna parte e Ricardo fica intrigado. CORTA A CENA.
CENA 3: Humberto tenta animar Guilherme.
-Filho, faz uns dois dias que cê tá com essa cara amarrada. Foi algo que eu tenha dito?
-Não, pai... cê tem sido ótimo, pode ficar super tranquilo. Na real eu tou meio chateado de não conseguir corresponder ao sentimento do... bem, deixa pra lá.
-Do Érico?
-Sim...
-Pode falar, filho. Não vou te julgar, se você precisa desabafar...
-Ah, pai... é que ele queria um namoro comigo. Uma coisa mais séria. Ele me ama nesse nível.
-E você?
-Eu queria. Ele é sensacional, incrível... mas não sinto muito além de amizade e atração, Ele faz o que pode pra não me cobrar nada, mas eu me sinto mal por saber que ele me ama de um jeito que eu tento, mas não consigo amar de volta.
-Você gosta dele?
-Sim...
-Então por que não tentar?
-Porque eu tenho medo de machucar os sentimentos dele. E acho que já tou machucando.
-Mas filho, você não disse desde o começo que ia ser assim?
-Sim, pai... eu disse. Mas sinto que ele espera de mim um namorado. E eu não me sinto preparado pra atravessar essa fronteira. Prefiro continuar sendo amigo colorido...
-Então deixa as coisas como estão, ué! Depois, quem pode sair machucado disso, mais que ele, é você, se forçar uma barra...
-Nossa, pai... eu jurei que cê ia me dizer pra largar dele ou assumir namoro de vez. Mas nunca isso...
-Ah, Guilherme... eu aprendi muito esses meses todos. E isso inclui respeitar a liberdade das pessoas, principalmente do meu filho...
Guilherme abraça Humberto, admirado. Armênia, sem ser vista e fazendo silêncio, observa satisfeita aos dois. CORTA A CENA.
CENA 4: Flavinho desperta e olha para o relógio.
-Não acredito! Será que o Gustavo perdeu a hora de pegar o ônibus pra BH na rodoviária?
Flavinho vai até o quarto de Gustavo e encontra o quarto vazio.
-Eu não acredito que ele fez isso! Ele disse que me acordava antes de ir embora pra BH!
Flavinho quase se revolta, mas ao chegar à mesa da cozinha, encontra um bilhete sob o pires. Flavinho começa a ler.
“Flavinho, me desculpa... eu sei que tinha prometido te acordar pra me despedir antes de ir pra Minas, mas você tava dormindo tão bonitinho, tão pesado, que fiquei com pena de te acordar. Então, pra você não ficar chateado comigo, deixei a mesa preparada com tudo o que você gosta e deixei o café passado. Você só precisa esquentar e tá tudo resolvido, assim você não se atrasa pro trabalho. Mas vê se toma um pouco mais de juízo que nessas duas semanas eu não vou estar por perto pra te acordar quando você empaca no sono pesado. Deixei umas dicas de como relaxar pra dormir tranquilo na hora certa debaixo do teclado do meu computador. Se sentir dificuldade de dormir, ali tem o passo a passo.
Eu volto, mas você se comporte, sim?
Beijo,
Gustavo.”
Flavinho sorri.
-E eu aqui, quase bravo com ele... só o Gustavo mesmo, pra pensar em tudo...
CORTA A CENA.
CENA 5: Cláudia, babá de Leonardo e empregada de Mauro, procura Valéria quando Valéria está sentada no quintal da mansão de Mauro, embalando o carrinho de Leonardo.
-Dona Valéria, a senhora acha que eu tive alguma culpa pela otite do Leozinho?
-Nunca, Cláudia. Você é ótima! De onde foi que ocê tirou uma ideia dessas?
-Nada não...
-O William te insultou? Pode me falar se foi isso, que com ele eu me entendo...
-Não, dona Valéria...
-Já te falei, querida... pode tirar o dona da frente. Pra você eu sou só Valéria. A gente é tudo igual nessa vida, querida... relaxa.
-Tudo bem, Valéria...
-Só quero entender o motivo dessa sua cara de preocupação.
-Eu não tou preocupada, do... Valéria.
-Está sim, Cláudia. Eu posso ver nos seus olhos que ocê tá com medo de alguma coisa.
-Não estou, não...
-Tem certeza que nem o William nem o seu Mauro te falaram alguma besteira?
-Sim, Valéria...
-Tem alguma coisa que ocê tá querendo me falar, não tem?
Cláudia suspira.
-Tem uma coisa estranha que aconteceu naquela noite, Valéria...
-Que coisa?
-Cê sabe que eu às vezes leio meus romances, certo?
-Claro que sei!
-Mas eu só faço isso depois de colocar o seu filho pra domir e me certificar de que o ambiente tá fechado.
-Sei...
-Só que naquela noite, eu vi a dona Giovanna passar pelo corredor...
-Sim, ela foi no banheiro, o que é que tem isso, Cláudia?
-Depois que vocês saíram com o Leozinho, pra levar ele pro hospital, eu vi uma coisa esquisita no quarto.
-Que coisa esquisita, Cláudia?
-Eu tinha deixado a janela fechada, como sempre faço depois que cai a noite.
-Sim, recomendação minha, inclusive.
-Só que tinha uma fresta de uns quatro ou cinco dedos de abertura na janela, quando fui ver. Uma corrente de vento que apontava diretamente pro berço do Leozinho. E não fui eu que esqueci daquela fresta aberta.
Nesse momento, Giovanna surge de repente, para surpresa de Valéria e pavor de Cláudia.
-Você aqui, Giovanna? Não avisou que vinha... - comenta Valéria.
-Vim ver como está o Leozinho... - fala Giovanna.
-É muita cara de pau da sua parte, depois de ir pra cama com o Hugo, mas... se você quer saber, ele tá ótimo, graças a Deus e ao meu irmão, que cuidou muito bem dele! - esclarece Valéria.
-Que bom... e você, Cláudia... tava falando o que sobre a otite do Leozinho, mesmo?
Giovanna olha para Cláudia de forma intimidadora.
-Bem, eu vou verificar uma coisa lá na cozinha... - fala Cláudia, saindo dali.
CORTA A CENA.
CENA 6: Bernadete desabafa com Nicole, que a visita.
-Ai, Marilu... eu nem sei por onde começar, mas sinto que se eu não te contar sobre isso, eu estaria sendo falsa com você...
-Você, falsa, Dete? Pelo amor de Deus, taí uma coisa que você nunca ia ser comigo... a gente se conhece desde sempre!
-Então... só que o que eu tenho pra te contar envolve o Sérgio.
-Sei. E o que isso tem demais?
-Tirando o fato de que por mais de trinta anos ele foi seu marido?
-Deixa de bobeira, Dete! Em primeiro lugar, nós já nos divorciamos. Em segundo lugar, vocês foram namorados na adolescência e eu lembro muito bem disso!
-Bem, isso é verdade, mas é que...
-É que o que? Amiga, para com isso! Você não tá separando do Leopoldo? Então! Chega de fugir das coisas, chega de ter tanto escrúpulo desnecessário que só atrasa sua vida!
-Mas Marilu... como é que você pode pensar assim? Aliás, como é que você pode saber exatamente o que tá acontecendo?
-Eu sei que vocês nunca esqueceram um do outro, boba... só isso.
-Você me deixa besta de vez em quando...
-Não precisa ficar assim, boba... só sou prática. Eu e o Sérgio não temos mais nada, além de sermos grandes amigos e pais da Cristina e da Daniella.
-Sabe, Marilu... ele me propôs que a gente tentasse outra vez.
-E por que você não aceita?
-Estando ainda casada com o Leopoldo?
-E daí? Vocês não vão separar de qualquer jeito?
-Sim, nós vamos... mas acho que me entregar agora seria um grande erro.
-Erro pra quem? Erro por que?
-Amiga, você não entende... apesar dos tropeços e dos erros, durante esses anos todos o Leopoldo fez tudo por mim...
-Mas causou dor por causa disso, não esqueça.
-Ai, amiga... eu não sei o que fazer.
-Deixe de racionalizar tanto os sentimentos. Pra mim é claro que você ainda ama o Sérgio. É justo que vocês saibam se entregar ao amor enquanto ainda há tempo disso...
-Ai, Marilu... eu não sei. Eu realmente não sei.
-Pensa com carinho no que realmente importa na sua vida, boba. A resposta que você precisa tá aí dentro...
-Eu tenho agido tão errado, amiga... tão errado!
-Ainda dá tempo, boba...
Bernadete fica pensativa. CORTA A CENA.
CENA 7: Érico e Guilherme passeiam juntos e param em uma lanchonete. Durante o lanche, Érico começa a falar.
-Sabe, Guilherme... eu sei que você não gosta de um certo assunto, mas...
-Não importa, querido. Se você quer falar, fale.
-Ando chateado com o pouco que a gente anda se vendo desde que você voltou pra sua casa...
-Érico... cê sabia que ia ser assim, não sabia?
-Racionalmente, sim... mas meu coração fica pequenininho com essa distância...
-Eu fico triste de saber disso. Ainda mais por saber que não tenho nada que possa fazer...
-Porque não quer...
-Não é uma simples questão de querer. Eu queria te amar como você merece.
-Mas desiste muito fácil de tentar.
-É sério, isso? Depois de todo esse tempo, ainda esse tipo de cobrança?
-Tou cansado, Guilherme. Eu sou sempre aquele que precisa entender, compreender... mas e o que eu sinto, como fica?
-Do mesmo jeito de sempre. Eu nunca te enganei. Sempre fui totalmente aberto. E quer saber de uma coisa? Se você continuar com essas cobranças sem sentido, a gente pode parar de ficar, viu?
-Não! Isso eu não quero!
-Então seja responsável por si mesmo, mas não jogue em cima de mim o que é seu. Por favor...
-Desculpa...
-Tá tudo bem...
CORTA A CENA.
CENA 8: José, acompanhado de Idina, fica impressionado com as entrevistas que colheu com apenados, na saída do presídio.
-Amor... eu ainda tou perplexo com tudo...
-Não te disse, Zé? A maioria dos condenados aqui recebeu anos de pena por crimes pequenos...
-É completamente absurdo tudo isso. Banditismo é o que, afinal?
-Agora você compreende, querido... é pura questão de classe. E de cor. Se é preto e favelado, pode ser condenado por roubar uma galinha!
-Ou por portar desinfetante numa manifestação popular...
-Exatamente, amor. É triste ver que tudo isso segue e que até hoje não houve nenhuma mobilização coletiva expressiva no sentido de combater todo esse racismo estrutural, que permanece enxergando o preto como escravo...
-Triste demais tudo isso, Idina... a abolição, no final das contas, de nada serviu.
-A abolição só aconteceu porque era inevitável. As pressões sobre princesa Isabel eram fortes demais. A situação era insustentável... além de tudo, era mais pra inglês ver... quando acabou a escravatura no Brasil, os negros foram largados à própria sorte. Sem direitos básicos, como educação, saúde, moradia... foi literalmente um “se virem”.
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 9: Daniella relembra momentos ao lado de Gustavo, desde que o conheceu e começa a rir sozinha, na sala da clínica.
-Ah, Gustavo... quem diria que um esbarrão e uma boa dose de estranhamento ia dar em tudo que deu!
Daniella relembra momentos quentes ao lado de Gustavo.
-E esse negócio de pele, de corpo, de alma e de coração! Deus do céu, chega até a assustar! Logo eu que nunca quis saber de nada sério com ninguém... acabei namorando! Vê se pode! Euzinha, toda trabalhada na independência, namorando! Ai, ai... só você mesmo, Gustavo, pra conseguir isso...
Daniella suspira.
-É, rapaz... eu acho que no fundo eu sempre vou te amar. Você é um grande amor na minha vida... sinto falta do que a gente tinha... mas preciso ser firme. Não posso viver equilibrada entre meus sonhos e a possível desistência deles. É melhor pra todos nós, que tudo fique assim, do jeitinho que está...
Daniella tenta focar no trabalho. CORTA A CENA.
CENA 10: Giovanna surpreende Cláudia na cozinha, que se assusta.
-Ai, que susto!
-Achou que eu já tinha ido embora, Cláudia?
-Não, eu pensei que...
-Você não é paga pelo Mauro pra pensar, é? Quem você pensa que vai perder o emprego se essa história maluca que você inventou sobre eu ter alguma coisa a ver com o seu esquecimento sair daqui?
-Foi a senhora! Senão não me ameaçaria!
-Você não sabe de nada, Cláudia. Vai ser pro seu bem: fique calada.
-A senhora não presta.
-Fica na sua. Eu jamais faria mal a qualquer criança. Como mãe eu não faria isso.
Valéria chega e escuta afirmação de Giovanna.
-Como mãe? Giovanna, você tá grávida? - pergunta Valéria, atônita.
FIM DO CAPÍTULO 115.
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