CENA 1: Bernadete encara a todos e levanta com sua mão o rosto de Leopoldo.
-Olha pra mim, Leopoldo. Seja homem. Encare de frente as consequências das mentiras que você inventou e ajudou a manter. E engole esse choro que é ridículo um homem na sua idade chorar feito uma criança. - fala Bernadete.
Leopoldo encara Bernadete, com vergonha.
-Eu sinto muito por tudo. Eu sei que errei... mas só errei tentando acertar. Achei que tava fazendo a coisa certa... - fala Leopoldo.
-Que seja. Depois a gente conversa melhor sobre isso. Como eu falei, minha conversa é com vocês também, Valéria e Hugo. - fala Bernadete.
-Ói Bernadete... eu te juro por Deus, por tudo o que existe de mais sagrado nessa vida, que eu só não falei antes tudo porque não sabia como sair dessa situação... - fala Valéria.
-Sei. Prossiga. - fala Bernadete, secamente.
-Quando eu te conheci, na cama daquele hospital depois daquele acidente horroroso que matou o Leo, você nem me deixou falar direito e concluiu que o meu filho era do Leonardo... que a gente tinha um relacionamento. Eu sei que foi culpa nossa, minha e dele, de nunca ter desmentido as conclusões erradas que ocê fazia sobre o nosso suposto namoro quando você conversava com o Leo pelas chamadas de vídeo. Daí logo depois eu vi ocê passar mal. Seu coração podia te matar a qualquer momento, lembra? Daí chegou o seu Leopoldo e me fez a proposta. Eu quis recusar... eu juro que quis. Mas a sua saúde tava frágil demais... eu nem tinha pra onde ir. Voltar pra BH não era uma opção... eu não queria encarar de frente a possibilidade de me deparar a qualquer momento com o William, depois de todo o trauma. Foi assim que tudo aconteceu... eu fui me afeiçoando a você... e você se afeiçoando a mim e ao meu bebê... - fala Valéria, se emocionando.
-Bem... nisso você tem razão. Esse menino é meu neto do coração... - fala Bernadete.
-Ninguém fez nada por mal. Mesmo o pai, mãe... os erros dele, por piores que tenham sido, foram tentando fazer o que ele achava que era certo. E foi sim por amor. Eu sei que é difícil de entender isso... - fala Hugo.
-Eu entendo. E não tenho mágoa de vocês, queridos. Vocês foram vítimas... você, Valéria, se viu acuada e sem opção. Precisava de um lugar pra viver e pra garantir um futuro ao seu filho. Eu imagino seu medo e sua dor, minha querida... grávida e correndo o risco de ficar sem um teto, podendo passar fome e muito mais coisa... - fala Bernadete.
-Eu agradeço de coração por isso, Bernadete. Mas não me sinto completamente aliviada de saber que ocê me entende e me perdoa... - fala Valéria.
-Sim, mãe... e o que a Valéria tá querendo dizer é que não é certo, muito menos justo, você perdoar a gente e não perdoar o Flavinho. - fala Hugo.
-São coisas completamente diferentes, meus queridos. Flávio corrompeu Leonardo. - afirma Bernadete.
-Não... amar não é corrupção... - fala Hugo.
-Como que não? Por culpa do Flávio o Leonardo não pensou em mim, não teve a mínima consideração ao escolher essa vida degradante de se deitar com homem como se fosse mulher... - fala Bernadete.
-Bernadete... o Leonardo não escolheu. Ninguém escolhe! É natural... nasceu com ele. E eu sou testemunha do grande amor que seu filho viveu ao lado do Flavinho... eu nunca vi amor igual, mais puro, mais dedicado, do que o amor que unia esses dois, Bernadete... se isso não era amor, então eu realmente não sei mais o que é amor... - fala Valéria.
-Já chega. Eu não quero mais falar sobre isso. O que eu queria deixar claro aqui, Valéria, é que eu perdoo você sim, minha querida. Você sim foi uma vítima dos infortúnios da vida. E o Leozinho sempre vai ser meu neto. Mesmo que não seja de sangue... no meu coração, ele é meu neto. - fala Bernadete.
-Sabe, mãe... eu não entendo... como você consegue ser tão grande em certas atitudes e tão pequena em outras? - questiona Hugo.
-Filho, por favor... esse não é um assunto pra ser tratado agora. Eu estou ainda muito ferida pela traição do Flavinho... - fala Bernadete.
-Então é isso, Bernadete... cê tá ferida, machucada... mas não é indiferente a ele... - alivia-se Leopoldo.
-Isso não significa que eu queira esse viadinho debaixo do meu teto. O que eu tinha pra falar com vocês tá falado. E você, Leopoldo... vai dormir no quarto de hóspedes hoje. Quem não quer olhar na sua cara sou eu. Quando for jantar, faça o favor de não me dirigir a palavra. - finaliza Bernadete.
CORTA A CENA.
CENA 2: Gustavo chega em frente à mansão dos di Fiori e Flavinho se emociona.
-Eu nem sei o que te dizer, Gustavo... você saiu do trabalho pra vir aqui me ajudar...
-E ocê acha que a Dani não ia entender depois que eu contei tudo? Vai colocando suas malas e suas coisas no táxi... e avisa pro motorista que eu vou demorar um pouco.
-Ai, meu Deus... o que ocê vai fazer, Gustavo?
-Falar umas verdades pra Bernadete por ter feito essa merda que ela fez contigo. E nem tente me impedir porque quando o escorpiano aqui se ataca, ocê sabe que ninguém segura...
Gustavo entra intempestivamente e encontra Bernadete na sala.
-É com você mesma que eu queria falar, Bernadete... aliás, ingrata te cabe melhor nesse momento. - desafia Gustavo.
-Quem você pensa que é pra chegar desse jeito na minha sala e me tomar desse jeito? Não é porque cê é irmão da Valéria que pode me peitar assim. A casa é minha.
-Eu sei que é sua. Faça bom proveito da sua mansão. Um dia, ela ainda vira um mausoléu se você continuar chutando pra fora da sua vida as pessoas que te amam.
-Tá falando do desviado?
-O desviado tem nome e se chama Flávio Augusto de Leon. Você era e ainda é uma mãe pra ele, sabia disso? E o que ocê faz? Expulsa ele de casa. Pensa que isso vai te ajudar a superar a morte do seu filho?
-Cala a boca! Não fala no meu Leonardo!
-Falo sim, que é pra ver se ocê lembra que o seu filho morreu sem ser totalmente livre. Morreu sufocado, sem saber como você reagiria se soubesse quem ele realmente sempre foi. Não basta isso?
Bernadete começa a chorar.
-Você não sabe de nada. Não é mulher... não é mãe. Não sabe o que é perder um filho tão amado.
-Mas sei o que é amor. Sei o que é amar. Sei amar. Muito mais que você, disso cê pode ter certeza. Você é uma ingrata. O Flavinho cuidou de você. Não te deixou desistir da vida. E agora você vira as costas pra ele. Você nunca mereceu o amor de alguém bom como o Flavinho. Porque pra ter alguém como o Flavinho na vida, é preciso muito, mas muito merecimento. Merecimento que você deixou de ter a partir do momento que chutou ele dessa casa porque não suporta a verdade.
-Meu filho não era isso! O Flavinho que corrompeu ele!
-Já chega. O pior cego é o que se recusa a enxergar as coisas. Tenha paz, se puder.
CORTA A CENA.
CENA 3: Hugo conversa com Valéria sobre partida de Flavinho.
-Que sorte que o Flavinho deu, hein? O seu irmão é realmente um grande ser humano...
-Disso eu nunca tive dúvidas. O Gustavo sempre foi muito unido com o Flavinho desde BH. A coisa só se confirmou aqui pelo Rio... mas sabe o que mais me dói nisso tudo?
-O que?
-A seletividade da sua mãe. O preconceito dela... eu jamais pensei que ela fosse ser capaz disso...
-Nem eu. Eu sinto que ela não pensava assim... mas acabou sendo condicionada pelo pai...
-Sabe que eu tou sentindo mais pena dele nesse momento do que dela? Acho que pra ele deve ser bem mais pesado carregar tanto peso, tanta dor, pela responsabilidade indireta pelo fim do Leo...
-Eu também. Eu briguei muito, bati de frente com o pai durante esses anos todos... mas ele é previsível...
-Já a sua mãe...
-Exatamente. Tou decepcionado com ela.
-E eu chocada... perplexa por ver uma pessoa aparentemente tão leve, sendo assim, tão cheia de preconceitos... é difícil acreditar que é a mesma Bernadete que eu conheci meses atrás...
-É difícil crer que essa é minha mãe, Valéria. Ela não era assim... eu sei, eu sinto... talvez ela esteja só querendo se defender.
-Se defender do que?
-Da própria dor.
-Mas amor... o Leo não pode voltar.
-Fala isso pra ela, né...
-Ocê acha que ela não se perdoa por não ter estado mais perto e apoiado e por isso tá negando essa dor?
-Exatamente, Valéria... não é o Flavinho que ela não perdoa. Eu acho que é a si mesma que ela não consegue perdoar.
-Faz sentido... eu no lugar dela, me sentiria péssima de perceber que nunca vi quem meu filho sempre foi. E que não vi porque não quis. Acho que é por isso que ela não mandou o seu pai embora...
-Claro! Ela sabe que nenhuma mentira vai pra frente se não houver quem queira acreditar nelas...
CORTA A CENA.
CENA 4: Gustavo desfaz as malas de Flavinho e organiza roupeiro.
-Gustavo... não precisava disso. Era só me dizer onde eu coloco as minhas coisas...
-De jeito nenhum, Flavinho... seu dia já foi cheio de coisa. Se eu puder ajudar, eu vou sim.
-Obrigado.
-Não precisa agradecer. Você sabe que eu sei o que é ficar sem ter onde morar. O mínimo que posso fazer é garantir que você jamais passe pelo que eu tive que passar.
-Obrigado exatamente por isso.
-Assim você me deixa até sem graça...
-Não fique. Você é incrível, Gustavo. Eu que fico sem graça... te peço até desculpa por estar te dando tanto trabalho...
-Não é trabalho nenhum pra mim, Flavinho. Deixa disso...
-Mas ocê tá perdendo um dia de trabalho, por minha causa.
-Nós trabalhamos juntos. Tá todo mundo ciente do ocorrido. Relaxa. Eu não disse que eu sempre ia estar ao seu lado, não importava qual fosse a situação? É a mais pura verdade. Eu nunca vou te deixar na mão nessa vida, Flavinho. Você é a pessoa mais pura que eu já conheci. E nem sabe disso.
-Não fala assim senão eu choro... e eu já tou todo inchado de tanto que chorei hoje...
-Chora, meu amigo... mas chora de alegria, de alívio... se liberta. Hoje foi um dia de muita dor, mas nunca esqueça que você sempre vai ter a mim, não importa o que aconteça, tá me ouvindo?
-Você é muito mais que um amigo, muito mais que um irmão... é praticamente meu anjo da guarda...
-Pode parar com isso que de divino eu não tenho nada. Amanhã eu quero ocê bem disposto que nossa rotina de trabalho tá esperando e não vai ficar parada...
-Obrigado, Gustavo... obrigado exatamente por isso. Por ser quem você é...
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.
CENA 5: No dia seguinte, durante café da manhã, Leopoldo permanece calado quando Bernadete chega à mesa.
-Bom dia, Leopoldo...
Leopoldo se surpreende.
-Bom dia, Bernadete... eu achei que você não queria falar comigo.
-Não queria. Ontem. Hoje é outro dia. Já passou.
-Você me surpreende, Bernadete.
-Veja só... você também me surpreendeu um bocado ontem. Estamos quite, não estamos?
-Nossa...
-Não quis soar grossa.
-Mas soou... enfim, já que você acordou mais disposta, eu queria saber qual é sua palavra sobre o Flavinho.
-Quem é esse Flavinho?
-Não se faça de desentendida, Bernadete. Você e eu sabemos muito bem quem é o Flavinho.
-Eu não conheço nenhum. Não sei do que você quer falar.
-Sabe sim. Mas não quer falar.
-Seja como for, eu tou morta de fome...
Leopoldo se arrepende de ter sustentado farsa por tanto tempo. CORTA A CENA.
CENA 6: Patrícia chega cedo à clínica e vai à sala de Daniella para conversar.
-Oi, Pati... entra!
-Espero não ter chegado naquelas horas que ocê tá ocupada com mil coisas...
-Hoje tá surpreendentemente tranquilo por aqui...
-Falando em tranquilidade... eu não vi o Gustavo aqui hoje... nem o Flavinho, pra ser sincera...
-Menina! Cê nem sabe do que aconteceu... eles vem mais tarde, mas gente... é babado forte o que rolou!
-Vish Dani, desembucha que eu tou quase em cólicas aqui...
-A Bernadete expulsou o Flavinho de casa. Descobriu que ele era noivo do Leonardo... descobriu tudo, a farsa foi desfeita. Essa coisa horrorosa toda aconteceu ontem...
-Gente, que absurdo! Mas o que o Gustavo tem a ver com isso?
-Ué, você sabe que eles são grandes amigos, não sabe?
-Claro que sei. Sempre foram, desde BH.
-Pois então, Pati... o Flavinho ia ficar sem ter onde morar. O Gustavo levou ele pro apartamento, entendeu? O Flavinho não tem condições financeiras nem emocionais de voltar nesse momento pra BH.
-Posso imaginar... só espero que ele arranje um canto só dele logo.
-Ué... não sabia que você era próxima do Flavinho...
-E não sou... mas torço pra que ele consiga achar um lugar pra ele logo...
-Patrícia... cê tá com ciúme do Flavinho com o Gustavo?
-Ai, Dani! Mas que ideia mais absurda...
-A julgar pela sua reação...
-Dani... se for continuar com essa conversa, eu vou embora...
-Tá... eu mudo de assunto.
Patrícia disfarça ciúme. CORTA A CENA.
CENA 7: Hugo tenta dissuadir Valéria da decisão que ela tomou.
-Ainda dá tempo, Valéria.
-Tempo de que, Hugo? Até quando a gente vai ficar passivo diante das merdas que essa louca da Giovanna faz?
-Mas ainda assim, não seria melhor pensar num jeito de confrontar sem escândalo?
-Ah, claro... esperar o sangue esfriar, a poeira baixar? O que mais? Esperar ela aprontar mais uma? Essa daí não vai esperar o tempo de assentar nada. Se a gente baixar a guarda, ela ataca de novo. E ocê sabe que eu tou falando a verdade.
-É duro... mas você tem razão.
-Então não tente me impedir de falar poucas e boas pra essa mulher. Ela acha que sou fraca? Pois vou mostrar a ela quem é Valéria Varela de Andrade. E pode apostar que ela nunca mais vai subestimar o meu nome.
-Cuidado, amor... ela pode ser perigosa.
-E eu sou mãe. Ela passou dos limites, Hugo. Não posso ficar calada.
CORTA A CENA.
CENA 8: Humberto conversa com Guilherme.
-Sabe, filho... acho que você não percebeu ainda que não é só uma amizade colorida que cê tem com o Érico... isso daí é amor.
-Nossa, pai... eu nunca esperei te ouvir falando nessas coisas comigo, ainda mais nessa naturalidade toda.
-Eu tenho feito o que posso pra me melhorar, filho...
-Ainda custo a crer que tudo isso é real.
-Mas é... sabe Guilherme... eu e sua mãe sentimos muita falta de você lá em casa.
-Eu também sinto falta. Pode ter certeza disso.
-Então por que não volta? Não viu que eu tenho me esforçado e ando mudando?
-Desculpa, pai... mas acho que é muito cedo, ainda...
-Mesmo depois de todos esses meses?
-Sim, mesmo depois desse tempo... sabe por que? Eu já me decepcionei por ter confiado precipitadamente em você antes. Não quero correr esse risco de novo, pai...
-Não vou dizer que não entendo... porque sei que errei.
-Eu queria ter confiança já... mas ainda não consigo, pai.
-É um direito seu. Sua mãe certamente concorda com o que cê tá dizendo...
-Independente... uma hora, se tudo permanecer assim, a confiança volta. Naturalmente...
CORTA A CENA.
CENA 9: Nicole confronta Cristina sobre sua teimosia.
-Olha filha, eu pensei que eu fosse teimosa, mas você consegue se superar.
-O que foi agora, mãe?
-Tá na cara que você tá sofrendo de saudade do Fábio.
-E de quem é o problema?
-Não é só seu. Eu sou sua mãe e não aguento te ver assim, ainda mais com a gravidez nessa reta final chegando.
-Minha filha vai ter um pai, não é o que importa?
-Deveria. Mas e você, como fica?
-Não é hora pra pensar na Cristina mulher. Eu tenho que focar na Cristina mãe.
-Ué... eu não te reconheço mais, Cris... não era você, minha filha, que me dizia que eu nunca deveria esquecer que antes de ser uma mãe, eu sou uma mulher?
-São coisas completamente diferentes.
-Não, não são! Isso daí é fuga. Você tem medo de amar e culpa o Fábio por sentir esse medo.
Cristina engole a seco afirmação de sua mãe e não consegue responder nada. CORTA A CENA.
CENA 10: Giovanna escuta a porta de sua sala se abrir e pensa se tratar de Ricardo.
-Eita, amor... mal saiu e tá de volta? Tem chá verde ali na térmica, se você quiser...
Valéria tranca a porta e Giovanna percebe se tratar dela.
-Valéria? O que é que você veio fazer aqui? E trancando a porta? Quem é que deu essa chave pra você?
-A chave é do Hugo. Ele me emprestou.
-Bem, seja como for... tá bem, querida? E o bebêzinho, tá forte? É a coisa mais linda do mundo, não é?
-Não se faça de desentendida. Você sabe porque eu vim aqui.
-Sei? Sinceramente, não. Achei que você tinha vindo pra falar sobre o bebê.
Valéria explode com Giovanna e lhe estapeia.
-Cachorra! Agora você vai ter o que merece!
Giovanna olha perplexa para Valéria, que treme de raiva. FIM DO CAPÍTULO 95.
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