CENA 1: Sem entender nada, Cristina acaba sendo movida pela curiosidade.
-Como é que um pertence da morta veio parar aqui? Não faz sentido... essa agenda é de dois mil e catorze...
Cristina acaba folheando a agenda e constata que Arlete escrevia uma espécie de diário.
-Gente... é quase um diário. Só não é porque ela não escrevia todos os dias.
Cristina se põe a ler memórias de Arlete.
“Hoje fez uma semana que voltei ao Brasil. Só hoje eu avisei ao Fábio que voltei. Tentei me convencer por esses dias que conseguia ficar sem ele... e descobri que não consigo. Eu sei e entendo a dureza das coisas que ele passa. Eu queria muito que a Elisabete me perdoasse depois de tanto tempo... nunca deixei de ter amizade por ela. Nem eu nem o Fábio planejamos nada disso... talvez por isso, pelo sentimento de culpa que alimentei, mesmo sabendo que não existia culpa nenhuma, eu tenha decidido passar tanto tempo longe de tudo. Foi um tempo bom na minha vida... mas serviu pra me mostrar que meu estava incompleta fora do Brasil... e foi preciso voltar ao país pra entender exatamente essa sensação de incompletude. Não sei exatamente em que momento passou a ser assim... só sei que hoje eu tenho certeza que minha vida e meu mundo só se completam com o Fábio. Por esse amor eu enfrento qualquer coisa... inclusive a fúria da Bete... uma pena que ela não compreenda que nem eu nem o Fábio procuramos por isso. Talvez ela precise de mais tempo que se possa imaginar para conviver bem com tudo isso e com a ideia de que é inevitável o caminho do divórcio entre eles...”
Cristina fica chocada.
-Eu tou entendendo direito isso daqui? A minha doadora e o Fábio? Juntos? O que é que tá acontecendo aqui?
Cristina começa a folhear novamente a agenda e por um instante recua no que está fazendo.
-Pera... mas isso não é certo. Eu nunca fui de me meter na vida de ninguém... se bem que... minha intuição tá apontando pra algo que pode significar que tudo isso aqui é uma grande farsa... quer saber? Parada e quieta, numa altura dessas, eu não posso mais ficar!
Cristina chega à última memória registrada por Arlete antes de morrer.
“Voltamos de Paris hoje. Foram dias lindos. Talvez os melhores da minha vida... se eu morresse hoje, morreria feliz. Agora ele dorme tranquilamente ao meu lado. Quando eu vejo o Fábio assim, dormindo na nossa cama, no apartamento que nós compramos e mobiliamos, eu percebo que toda essa luta valeu a pena. Hoje eu sei que tudo isso foi certo. A Elisabete vai sobreviver... só precisa descobrir a imensa força que existe ali dentro. Hoje eu só penso no que ainda vai ser. Na vida que planejamos por tanto tempo e agora tá começando a se tornar real. Tenho medo de não conseguir engravidar... mas se isso não acontecer, tenho certeza de que podemos adotar uma criança. Mas, sinceramente? Hoje eu só quero pensar no que já deu certo... e no que eu tenho certeza de que vai dar certo. Conto os dias pra ele se mudar de vez pra cá... e marcarmos nosso casamento. Nunca na vida pensei que podia ser tão feliz...”
Cristina fecha a agenda, perplexa e enjoada.
-Ele não me procurou por acaso... ele sabia quem eu era. Ele queria a Arlete de volta...
Cristina vai ao banheiro e acaba vomitando, de nervosismo e nojo da situação.
-Canalha! Mentiroso! E eu ainda me apaixonei como nunca me apaixonei por ninguém! Por um rato... que não teve a capacidade de me falar a verdade desde o primeiro dia... ele ia casar com a mulher que doou as córneas e retinas pra mim...
Cristina arruma suas coisas, chorando.
-Cachorro! Canalha! Pulha! Covarde! Esse apartamento, tudo aqui... eu sabia que tinha alguma coisa estranha! Só não podia imaginar que era isso tudo...
Cristina seca as próprias lágrimas e se dirige mais uma vez ao banheiro.
-Não merece nem minhas lágrimas, esse bosta.
Cristina se maquia e se arruma para ir embora. Ao pegar suas coisas, pensa em deixar uma carta.
-Melhor não avisar de nada. O que eu tenho a resolver com esse sujeito é cara a cara, olho no olho...
Cristina deixa o apartamento. CORTA A CENA.
CENA 2: Glória vai à sala de Hugo na Natural High lhe repassar informações.
-Então, Hugo... posso te incomodar logo cedo?
-Você nunca incomoda, Glória. O que manda?
-Alguns portfólios, pra variar.
-Mereço. Pessoal acha que é fácil se lançar no mundo da moda...
-Nem me fala, Hugo... é cada bomba que aparece de gente se achando talentosa...
-E a maioria não sabe nem desenhar boneco de pauzinho direito...
Os dois riem. Glória percebe que Hugo está mais leve.
-Desculpa me meter, Hugo... mas posso fazer uma observação pessoal?
-Sempre, querida. Somos amigos...
-Você tá infinitamente melhor sem a Giovanna por perto aqui na agência... desculpa dizer, mas aquilo ali é um tremendo atraso de vida...
-Quer saber? Cê tá coberta de razão, Glória. Eu tou em outro momento. Bem mais leve...
-O duro é saber que um dia a Giovanna volta...
-Férias não duram pra sempre, né...
-Mas bem que ela podia se demitir daqui, dar o fora, né?
-Não desejo mal a ela...
-Você é meio trouxa às vezes, Hugo... desculpa falar assim, mas ela já te fez muito mal. É humano sentir raiva.
-Eu sinto raiva. Só não sinto ódio. Estou melhor sem ela, mas não desejo mal. E tem outra coisa: a Natural High foi construída por ela também. Ela tem participação nisso tudo aqui...
-Hugo... uma coisa é reconhecer os méritos dela. Isso, até eu reconheço... mas a Giovanna se tornou outra pessoa nesses últimos anos... ou melhor: foi deixando a máscara cair. Só o tonto do Ricardo e a otimista da Mônica que nunca perceberam isso...
-Você sempre sacou a Giovanna, né?
-Sempre. Não pense que sou fofoqueira, mas eu sempre saquei o rolo entre vocês...
-E não me julgou? Como?
-Eu conheço as pessoas pela retina. Você só é meio perdido. A Giovanna te usou por causa disso... pra fazer o que ela queria.
-O que cê quer dizer com isso?
-Pra você abrir o olho... ela acha que pode controlar tudo e todos, principalmente você. Cuidado, Hugo...
-De qualquer forma, tá tudo acabado.
-Você tá apaixonado por outra, não? Se eu fosse você, seria mais discreto em relação a isso...
-Por que?
-Você sabe porque, Hugo...
CORTA A CENA.
CENA 3: Elisabete espera por Fábio no corredor do trabalho dele. Fábio chega.
-Pronto, Bete... já tou liberado pro meu almoço. Vamos?
-Vamos...
-Onde cê tá pensando em ir?
-Achei que você que ia decidir...
-Sempre almoço no mesmo lugar, mas como hoje não é um dia comum, você podia recomendar um lugar...
-Tá certo... não é todo dia que a ex mulher vai almoçar com o ex marido, não é mesmo?
-Deixa de bobeira... somos ou não somos amigos?
-Claro que sim. É por isso que vim. Você disse que precisava conversar sobre as últimas decisões...
-E precisava, mesmo...
-Pode começar a falar, então.
-Eu e a Cristina nos encontramos. Tou sentindo que é questão de dias até a gente assumir de vez o relacionamento.
-Sei... então, pelo que tou começando a entender, você tá pensando em oficializar sua mudança de volta pro seu apartamento, presumo...
-Exatamente. Você se incomoda de eu ir mais tarde recolher as minhas coisas que ainda deixei com você?
-De jeito nenhum, fica tranquilo. Mas bem que a gente podia comer já, né? Tou verde de fome...
Ao esperarem para atravessar a rua, Fábio e Elisabete são flagrados por Cristina, que aborda os dois intempestivamente.
-Olha que bonito! Que papelão, Fábio! Não basta esconder de mim que teve um caso com a morta, ainda fica dando voltinha com a ex? - confronta Cristina.
Fábio paralisa. Elisabete tenta esclarecer situação.
-Você deve ser a Cristina. Eu sou a Elisabete...
-Eu sei quem você é.
-Cristina... não é nada disso... eu e o Fábio somos amigos antes de mais nada... e resolvemos almoçar juntos hoje. - esclarece Elisabete.
-Cris... você falou da Arlete... - observa Fábio.
-Claro que falei. Você esqueceu de esconder melhor a agenda que ela fazia de diário. Cachorro, mentiroso, pulha, rato! Você me procurou porque queria algo da morta por perto. Você me enoja, Fábio. Adeus!
Cristina parte intempestivamente, deixando Fábio perplexo. CORTA A CENA.
CENA 4: Durante almoço, Gustavo percebe que Flavinho está quieto demais.
-Não gosto quando ocê fica caladão desse jeito, Flavinho...
-Ah, Gustavo... às vezes só não quero falar...
-Eu te conheço desde que a gente era menino... tem alguma coisa te preocupando. Pode falar, Flavinho... não vou julgar.
-A Bernadete, Gustavo... eu não consigo deixar de ficar com medo que ela se entregue...
-Uai, por que? Ela não tá totalmente recuperada depois da cirurgia?
-Sim... clinicamente sim. Mas ela anda muito triste...
-Não é de todo estranho isso, né... não é fácil perder um filho... desculpa, Flavinho... eu sei que ele era...
-Eu tenho mais força que ela. Ela é mãe. E sinto que ela anda desgostosa demais com a vida... como se faltasse um motivo concreto pra ela ficar aqui...
-De repente tudo isso é só preocupação sua.
-Espero que seja só isso, mesmo...
-Isso é sinal que você ama a Bernadete... como uma mãe.
-E é isso que ela é pra mim. Uma mãe. Não posso perder outra mãe. Já foi duro perder uma mãe viva.
-Eu sei, querido... mas sabe o que ocê pode fazer por ela?
-O que?
-Simples: mostre apoio... empatia. Se mantenha presente sempre que possível. Isso é o que opera os verdadeiros milagres...
-Só você pra me fazer sentir melhor, Gustavo...
Gustavo abraça carinhosamente Flavinho. CORTA A CENA.
CENA 5: Durante almoço na pensão, Patrícia é surpreendida pela chegada de Daniella.
-Daniella, você aqui? Eu pensei que...
-Você pode conversar a sós comigo?
-Claro que sim, amiga! Vamos pra minha suíte...
Patrícia e Daniella chegam à suíte. Patrícia começa a falar.
-Confesso que não esperava que ocê viesse me ver outra vez... não depois de tudo.
-Não pense que tá sendo fácil. Ainda tou com um misto de nojo e raiva de você.
-Pelo menos você não nega. Eu mereço isso... e sei que mereço.
-Sem enrolação, Patrícia... eu preciso entender melhor algumas coisas e conto com você pra isso.
-Pode perguntar. Hoje eu sou um livro aberto, escancarado p'rocê...
-É isso, sabe? No fim das contas eu sinto ternura e amizade por você, Pati... queria entender por que você não desistiu de prejudicar o Gustavo a qualquer custo... queria entender porque você acabou atropelando nossa amizade no meio desse processo...
-Bem... eu podia inventar desculpas, mas o fato é que eu comecei a pirar bem antes do Gustavo terminar comigo...
-Não vai me dizer que foi por causa da bissexualidade dele...
-Não queria ser pequena desse jeito, mas foi. Eu nunca convivi bem com a ideia de que ele podia ficar com um homem. Me trocar por mulher tudo bem, mas... a ideia de que um homem podia ser o novo amor dele, me atordoava... então eu comecei me autossabotando... o que foi levando o nosso namoro pro ralo...
-Foi então que você não aceitou... não assumiu a responsabilidade. Tinha que culpar ele...
-Eu quero melhorar, Dani... mas não sei como.
-Que tal começar a repetir pra si mesma que não precisa de macho nenhum pra ser feliz? Você não merecia, mas dá cá um abraço...
CORTA A CENA.
CENA 6: Ao chegar do trabalho, Hugo decide conversar com Bernadete.
-Mãe... como a senhora tá hoje?
-Tou me sentindo bem melhor. Quase ótima.
-É que preciso te contar uma coisa... uma verdade que venho escondendo há quase treze anos...
-Vish... não me assusta, menino. Meu coração tá forte, mas eu ainda convalesço...
-É sobre eu e a Giovanna...
-Não gostei desse tom... fala logo, menino.
-Eu e ela fomos amantes por doze anos.
-Que? É sério isso?
-Infelizmente sim, mãe... desde que ela me conheceu.
-Então ela te usou pra construir a agência...
-Exatamente.
-Que pilantra, essa mulher!
-Ela não presta, mãe. E eu só percebi isso anos depois...
-Espero que vocês não tenham mais nada. Agora tudo faz sentido... o ataque que ela deu quando a Cristina desistiu do casamento... ela pensou que podia controlar tudo na sua vida, não foi?
-É mais complicado do que parece, mãe... se eu fosse te contar tudo detalhadamente, a gente passaria um dia inteiro falando...
-Do jeito que você fala, a coisa parece maior e mais grave do que eu percebi agora...
-A Giovanna é dissimulada, mãe. Não confie em nada do que ela diz...
-Pode deixar, filho... no que depender de mim, nessa casa ela nem entra mais.
-Não, mãe... não é assim. Ela ainda é minha sócia. A Natural High ainda depende completamente dela...
-É foda, isso... ter de ser política com uma pilantra dessas...
-Faz parte, mãe...
-Pelo menos eu sei agora exatamente com que tipo de pistoleira estou lidando... e pensar que ela quis me intrigar sobre a Valéria...
-Que?
-Melhor que cê nem saiba, filho... não foi nada grave, mas notei que a Giovanna queria a Valéria longe daqui...
Hugo engole a seco as palavras da mãe. CORTA A CENA.
CENA 7: Cristina está fechando a clínica quando é surpreendida por Fábio na saída.
-Cara... com ordem de quem cê veio aqui?
-Desde quando preciso de ordem pra te ver?
-Deixa eu ver... desde quando eu descobri que você é um sujeito mórbido que provavelmente me procurou porque eu carrego uma parte da sua ex morta...
-Você não entendeu nada, Cristina...
-E nem sei se quero entender. Você escondeu isso tudo de mim. Se escondeu, é porque tinha medo ou vergonha.
-Você não sabe dos meus motivos.
-Isso mesmo que você disse: os motivos são seus. E eu não sei deles. Nem tenho nada com eles... eu sei do que eu vi. Eu sei do que eu entendi. E quero que você vá embora agora...
-Você precisa ouvir a minha versão dos fatos...
-Pra que? Pra você justificar essa nojeira? Não. Vai embora. Sai da minha vida...
Fábio parte, inconsolável. CORTA A CENA.
CENA 8: Bernadete adormece e sonha com Leonardo. No sonho, Leonardo surge sorridente e com a voz tranquila.
-Que bom te ver aqui, mãe...
-Eu que tou achando ótimo... senti sua falta, meu querido...
-Saudade é uma dor que machuca sempre, né? Também senti sua falta...
-Queria te ver mais vezes, Leo... queria ficar aqui, com você.
-Mas eu não quero, mãe...
-Por que?
-Porque tudo na vida tem uma hora.
-Bem que a minha hora podia ser agora.
-Pra que? Mãe... sua missão é longa, ainda.
-Não queria quer fosse... não sei o que me resta a fazer depois que você se foi...
-Eu me fui do mundo que você vê e toca. Mas eu não fui embora da sua vida. E quem ainda precisa de você, como fica? E o seu outro filho?
-Não, Leo... o Hugo já tem mais de trinta anos... ele não precisa de mim.
-Quem disse que tou falando do Hugo, mãe?
-E de quem mais seria?
-Do seu outro filho, mãe... agora preciso ir. Tem gente te chamando... cuida do seu outro filho...
Bernadete acaba sendo despertada por Flavinho.
-Bernadete... acorda. Tá muito cedo ainda pra dormir... vem comer essa massa que eu trouxe. Você não pode ficar sem se alimentar agora que tá se recuperando...
Bernadete se comove com atitude de Flavinho.
-É lindo como você cuida de mim, Flavinho... é como se fosse um filho cuidando de uma mãe...
CORTA A CENA.
CENA 9: Daniella opina a Cristina sobre Fábio.
-Olha, mana... sinceramente, se eu fosse o Fábio, também esconderia que a morta foi minha mulher, sabe? Não é bem uma mentira...
-Mas é mórbido...
-Se eu fosse você, me defendia menos de quem te ama. Não vê a merda que eu fiz? Acreditei de menos no Gustavo... e agora ele, com toda a razão, não me quer de volta.
-Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
-Claro que tem, Cris... não há amor que resista à falta de confiança. Sempre vai chegar a hora do esgotamento...
-Tou nem aí se o Fábio cansar...
-Se escuta falando, mana? Você sabe que isso não é verdade.
-Não importa mais. Ele me enganou...
-Ah, claro... e você, dona suprema da verdade, nunca mentiu... ah Cristina. Pelo amor de Deus, sabe? Vê se cresce! Você vai acabar perdendo o Fábio se continuar agindo desse jeito sempre intransigente...
CORTA A CENA.
CENA 10: Fábio chama Maurício e Elisabete para um comunicado.
-Gente... eu sei que vocês podem me julgar, mas tomei algumas decisões sérias hoje... - fala Fábio.
-Olha, querido... se foi por causa daquela situação com a Cristina, eu tenho fé que vocês vão se acertar... - fala Elisabete.
-Eu pedi demissão. E vou passar um tempo longe. Fora daqui... fora do país. - esclarece Fábio.
-Como é que é, pai? E a gente? - espanta-se Maurício.
-Não acho justo com a gente, mas principalmente com você, Fábio! Você não é mais um adolescente pra tomar esse tipo de atitude inconsequente e achar que todas as portas vão sempre estar abertas no dia seguinte. Quer largar tudo? Que largue, só não venha reclamar da merda que se meter depois! - explode Elisabete.
Fábio se espanta com reação da ex esposa. FIM DO CAPÍTULO 57.
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