CENA 1: Flavinho se irrita com Valéria.
-Foi pra isso que ocê veio me ajudar na mudança? Pra me empurrar pros braços do Gustavo? Caramba, Valéria!
-Não, seu animal! É pra te abrir os olhos, viado! Será que ocê não vê que isso tudo aqui, esse apartamento, essa mudança... tudo isso é porque ocê tá sim fugindo do meu irmão?
-Eu tenho meus motivos. Ocê sabe muito bem disso!
-Não, eu não sei. Pelo menos não lembro... ou finjo não lembrar, na esperança que ocê não seja essa pessoa ignorante...
-Ignorante, eu? Posso saber por que?
-Eu sei porque ocê fica fugindo do Gustavo.
-É direito meu. Afinal de contas, eu jamais me sentiria seguro com alguém como ele...
-O jeito que ocê fala pe absurdo, Flavinho. Faz parecer que ocê é um daqueles religiosos fundamentalistas conservadores, cheios de preconceitos!
-Eu não posso ter preconceitos. Eu sou gay.
-Então me diz o que te impede de ficar com meu irmão, me fala!
-Eu não posso confiar que um bissexual vá ser fiel. Cedo ou tarde ele vai me meter chifre com uma mulher...
-Viado... isso não faz sentido. Se ele estiver com você, por que te trairia?
-Eu não confio, Valéria. Respeita isso!
-Respeitaria se ocê respeitasse meu irmão! Esse seu medo é ignorância pura! Porque você gosta de um sexo só e acha que todo mundo tem que ser assim, gostar de uma coisa só!
-Valéria, por favor...
-O que foi, não gosta de ouvir a verdade?
-Essa é a sua percepção. Me deixa aqui com a minha.
-Ocê que sabe. Mas depois não vem chorar no meu ombro que ficou sozinho, viu?
-Eita...
-Ocê é maior que tudo isso. Pode e deve vencer esses preconceitos bobos...
-Se ocê diz...
-Para de se escudar no fato de ser gay pra evitar de enxergar o óbvio, Flavinho... é pro seu bem!
Flavinho fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã seguinte, Valéria é surpreendida ao ser acordada por William com café servido na cama.
-William! Que mimo! Não precisava de nada disso...
-Eu vi quando ocê chegou exausta de ajudar o Flavinho. Bom dia!
-Bom dia, querido. Não precisava mesmo. Mas ocê acertou em cheio, tem tudo o que eu gosto aqui...
-E ocê acha que eu esqueci?
-Ai, William... desse jeito ocê me deixa até sem graça...
-Desculpa.
-Não, que isso... foi lindo esse gesto. Mas não quero ficar mal acostumada, sabe?
-Se depender de mim, pode ficar. Não me custa fazer isso todos os dias.
-William... desse jeito ocê me deixa até feliz, mas... não confunde as coisas, por favor.
-Confundir o que? Só quero te agradar.
-Sim... problema é que eu mesma não sei se tou entendendo isso dessa forma...
William percebe que Valéria está balançada.
-Valéria... é impressão minha ou algo mudou?
Valéria não responde. William se aproxima dela e a beija, Valéria recua lentamente logo depois.
-Melhor parar aqui.
-Eu pensei que...
-Eu também acho que a gente pode voltar a dar certo, William. Mas a gente vai precisar de tempo e calma.
William deixa Valéria sozinha, porém parte cheio de esperança. CORTA A CENA.
CENA 3: Hugo recebe uma ligação de número desconhecido e, curioso, resolve atender.
-Alô?
-Não reconhece mais a minha voz, gato?
-O que é que cê quer, Giovanna?
-Sei lá... a gente podia se ver, não podia?
-Não, não podia.
-Não te entendo, Hugo. Aquela noite foi maravilhosa. A gente voltou aos velhos tempos por aquelas horas que passou junto...
-Você é mesmo uma doida, uma cara de pau. Eu amo a Valéria!
-Mas tá sem ela, não tá? O romancezinho de vocês subiu o telhado...
-Por sua causa, sua culpa.
-Chega dessa enrolação, criatura. Eu liguei porque quero saber se você topa sair comigo...
-Pode esquecer. Aquela recaída foi nosso último adeus. Não me procure mais.
Hugo desliga na cara de Giovanna, que fica furiosa. CORTA A CENA.
CENA 4: Glória observa atitude estranha de Giovanna e cutuca Ricardo.
-Ricardo, cê tá reparando na Giovanna?
-Caguei pra ela. Mas o que é que ela anda aprontando?
-Repara bem, faz uns quinze minutos que ela fica andando de um lado pra outro aqui na agência, feito barata tonta...
-Deve ser falta de Rivotril, se bobear...
Glória gargalha.
-Você é ótimo, Ricardo! Mas eu tou achando que ela tá contrariada, bota reparo...
-Tanto faz, Glória, sinceramente. Não sou mais nada dela...
-Que mudança, hein? Parece que o jogo virou mesmo!
-Eu separei dela. Só me importo se ela estiver prejudicando o Hugo ou qualquer pessoa. Pra todo o restante, caguei.
-Finalmente, meu amigo. Eu pensei que você nunca abriria os olhos sobre ela. E pior: que acabasse se afastando de mim...
-Jamais, Glória.
-Mas que ela tá aprontando alguma e não deu certo, isso é fato.
-Contanto que isso não prejudique ninguém, não me interessa.
-Posso falar? Gosto assim. Essa daí merece ser deixada de lado, mesmo...
-Então, dona Glória, trate a senhora de largar do pé dela.
-Não, bobo... só fico alerta... pra evitar que essa daí coloque as garras de fora, entendeu?
CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella nota Flavinho desanimado e o chama num canto.
-Flavinho... o que tá acontecendo com você? O dia mal começou e você se arrastando pelos cantos da clínica?
-Ah, Dani... muita coisa. Não sei se ocê entenderia.
-Não vou entender se você não explicar.
-Já nem importa mais. Tá feito.
-Você tá satisfeito trabalhando aqui? Se eu puder fazer alguma coisa, eu aviso a Cris...
-Deixa de bobeira. Eu amo essa clínica.
-Então me fala o que tá pegando. Antes de mais nada eu sou sua amiga e nem sua chefe de verdade eu sou...
-Tou confuso, Dani... não sei se fiz a coisa certa alugando o apê...
-Eu não te disse? Esperasse o Gustavo voltar. Conversasse com ele, o que fosse. Não posso te ajudar nisso, querido. Foi você que escolheu dar esse passo sem pensar nas consequências. Mas elas existem e você precisa aprender a arcar com elas...
-E já tou sentindo o peso disso. Não sei se devia ter deixado o apê do Gustavo sem nem avisar ele...
-É, meu amigo... a você, resta apenas lidar com tudo isso...
CORTA A CENA.
CENA 6: William tenta convencer seu pai a mudar planos.
-Pai, quer fazer de me escutar, por favor?
-Pra que? P'rocê me dizer esses absurdos? Se não fosse por mim, ocê nem tava começando a se acertar com a Valéria agora!
-Mas não é justo nem certo ocê controlar a família dos seus amigos com dinheiro!
-O que é que ocê sabe da vida e de gestão da nossa fortuna, William?
-Que se dane tudo isso. É assim que ocê trata quem ocê chama de amigo? Achacando desse jeito? Impondo condições, chantageando?
-Que revolta tardia é essa, fedelho?
-Sempre me revoltei com isso.
-Não é o que parece. Tá querendo ganhar pontos com a Valéria, não é isso?
-Pense o que quiser. Do meu caráter sei eu. E pode ter certeza de que caráter vale mais que a nossa fortuna.
-Caráter não compra nada, William. Um dia, ocê vai me dar razão, filho...
-Ocê me enoja...
CORTA A CENA.
CENA 7: Maria Susana e Elisabete se orientam com Idina sobre termos do contrato nupcial.
-Queridas, vão por mim... vai ser bem mais simples ir pela separação total de bens. Assim, caso haja separação ou algum sinistro, tudo permanece exatamente da mesma forma, materialmente falando. - fala Idina.
-A Idina tem razão, amor... - fala Maria Susana.
-Não sei... mas se a gente enriquecer bastante, por exemplo... como fica? A possibilidade de eu morrer antes é bem real. - questiona Elisabete.
-Não se faz problema. A separação total de bens é o melhor caminho justamente porque não existe implicações atreladas ao cônjuge. Os bens de cada uma, ou seja, o que estiver no nome de cada uma, assim permanece, podendo ainda mudar alguma coisa por meio de procuração... - prossegue Idina.
As duas escutam atentamente. CORTA A CENA.
CENA 8: Carla fala com Érico e Margarida por chamada de vídeo. Margarida repara que Carla está bem disposta.
-Que carinha bem boa que cê tá, filha! - fala Margarida.
-Tá mesmo, hein? Parece que a pele tá mais lisa, inclusive! - observa Érico.
-Ai, gente... exagero de vocês. Só tou passando bons dias aqui em Dublin... e também conheci um carinha interessante. Ele é inglês e parece que tá me curtindo... - fala Carla.
-Eu sabia! - fala Érico.
-Deixa seu irmão falar besteira. Fico feliz, minha filha... ele te trata bem? - pergunta Margarida.
-Ah, a gente tá mal se conhecendo, ainda... mas ele parece gostar um bocado de mim... e eu tou curtindo ele. - esclarece Carla.
-Ai, mana... queria ter essa sua sorte, sabe? Ando tão chateado com o Guilherme, sabe? Ele nunca quer nada sério comigo... - desabafa Érico.
-Deixa de ser besta, viado... cês acham que eu quero algo sério com Matthew? Óbvio que não! Depois eu volto pro Brasil e fico como? Com as mãos abanando? Nananinanão! Portanto, maninho, trate você de seguir meu exemplo, então relaxa e goza!
Os três seguem na conversa. CORTA A CENA.
CENA 9: Flavinho termina de organizar seus pertences e seus livros no quarto do seu novo apartamento e olha para o quarto, pensando alto consigo mesmo.
-É doido como esse apê lembra tanto a minha casa de BH. Mais doido ainda é como esse quarto me faz lembrar de tudo lá... de tudo o que eu vivi ao lado do Leo... de tudo o que a gente sonhou...
Flavinho quase chora, mas contém o choro.
-Não, chega! Deu de lamentar. A vida seguiu e eu tou bem vivo! Se bem que... ai, dar bola pro Gustavo que eu não ia, né? O cara é meu melhor amigo e ainda por cima é bissexual, não tem condição!
Flavinho alisa a cama arrumada e segue falando consigo mesmo.
-Mas como é que faz pra avisar isso pro meu coração? Como é que faz pra fazer o Gustavo deixar de ser tão incrível, fofo, atencioso, a melhor pessoa que já conheci nessa vida? Por que, meu Deus? As coisas não podiam ser mais fáceis de vez em quando? Não posso, simplesmente não posso embarcar nessa canoa furada... não depois de passar por tudo o que eu já passei nessa vida. Mas não é que o danado não sai da minha cabeça?
Flavinho sofre. CORTA A CENA.
CENA 10: Ao dormir, Cristina se vê transportada para um ambiente sinistro, em seu sonho. As imagens ficam mais claras e, no sonho, Cristina se vê andando por um corredor quando percebe um vulto logo à sua frente. Curiosa, segue esse vulto, até que se vê na sua antiga casa e reconhece o ambiente.
-Essa é o lugar que eu nasci! Quem é essa pessoa?
Cristina permanece indo atrás do vulto, até que escuta um choro de criança.
-Arlete! Eu preciso ver se tá tudo bem com a minha filha!
Cristina sente uma mão a lhe segurar, se desespera, mas acaba conseguindo se soltar. Ao chegar no quarto onde Arlete deveria estar, vê o berço vazio. Dentro do berço, vê um bilhete.
“Por que não vai procurar seu maridinho perfeito?”
Cristina corre pela casa e não encontra Fábio nem mais ninguém.
-Socorro! - grita Cristina, despertando e alarmando Fábio, que dorme ao seu lado. FIM DO CAPÍTULO 117.
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