sábado, 18 de março de 2017

CAPÍTULO 108

CENA 1: Flavinho fica descrente diante de afirmação de Gustavo.
-Peraí... do que é que ocê tá falando?
-Exatamente do que ocê ouviu... a gente precisa falar sobre nós dois.
-Em que sentido, Gustavo? A gente é amigo, uai...
-Olha pra mim, cara... olha bem nos meus olhos e diz que as coisas não mudaram ultimamente...
-Eu não sei. Gustavo... eu não sei.
-Indiferente eu sei que ocê não é. Dá pra ver.
-Não vou mentir... eu ando mesmo sentindo uns trens diferentes quando te vejo... mas não sei se é certo.
-Tem alguma coisa que nos impeça? Flavinho... eu realmente tou me apaixonando por você.
-Não importa. Seria um passo em direção ao abismo.
-Posso saber por que?
-Porque eu me sentiria sempre ameaçado, vulnerável. Como eu ia confiar meus sentimentos amorosos a um bissexual e sempre conviver com o medo de ser trocado por uma mulher?
-Eu não acredito que você pensa isso de mim! Que espécie de canalha ocê pensa que eu sou?
-Canalha eu não sei, mas é bissexual e por isso não é digno de confiança num relacionamento monogâmico.
Gustavo fica indignado.
-Eu nunca pensei que ia ouvir esses absurdos de um cara como você. Decepção total, sabia? Pensei que o fato de ser gay te ajudaria a vencer preconceitos. Fui trouxa de acreditar nisso. No fundo ocê continua um bronco, um ignorante. E faz questão de afirmar esses absurdos como se fossem verdades!
-Mas são verdades!
-Você sabe como um bissexual se sente?
-Não sei. Mas acho que ocê precisa decidir o que quer.
-Eu não tou indeciso, cacete! Será difícil entender? Será impossível olhar além dessa sua visão monossexista das coisas?
-Isso, vai, me insulta! Aproveita que é tá me dando moradia pra me humilhar!
-Não quis te humilhar...
-Mas me fez sentir péssimo, sabia?
-Desculpa, Flavinho...
-Talvez eu tenha que ir embora daqui. Vai ser melhor.
-E ocê vai pra onde? Pra debaixo da ponte? Encarar a Bernadete de frente sendo que ela tá cheia de mágoa ainda?
Gustavo abraça Flavinho, que chora.
-Independente de qualquer coisa, brigando ou não... eu não vou te abandonar, seu coiso!
CORTA A CENA.

CENA 2: Flavinho, já preparado para dormir, liga para Valéria.
-Oi, miga... te acordei?
-Magina, Flavinho... acabei de dar mamá pro Leozinho.
-Sabe o que é, Valéria? Tou precisando falar sobre um trem que aconteceu com o seu irmão...
-Fala, uai...
-Ele disse na minha cara que tá se apaixonando por mim.
-Agora me conta uma novidade, Flavinho... tava na cara que isso ia acabar acontecendo, mais cedo ou mais tarde.
-Mas não pode...
-Uai, por que não pode?
-Porque eu não quero... e porque não é certo!
-Não é certo por que?
-Porque ele é bissexual. Não é um cara de confiança pra um relacionamento monogâmico... a qualquer hora pode me trair com uma mulher.
-Flavinho, isso que ocê tá falando é preconceito puro!
-Eu não posso ser preconceituoso porque eu sou gay, Valéria...
-Como se isso te desse passe livre pra ser escroto, ainda mais com o meu irmão que é, além de tudo, seu melhor amigo. Quer saber? Acho melhor a gente se falar outra hora, porque a vontade que eu tenho é de te dizer umas poucas e boas!
Valéria desliga, brava. Flavinho suspira, em dúvida. CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, durante lanche, Ricardo se queixa de Giovanna com Glória.
-Sabe, Glória... eu não sei mais o que fazer ou pensar sobre a Giovanna...
-Ué, por que?
-Ela é tão imprevisível, sabe?
-Todo mundo é, de certa forma...
-Mas ela passa da medida... uma hora ela tá cheia de amor pra dar... no momento seguinte me despreza como se eu fosse um pretendente chato que fica correndo atrás, não o marido dela...
-Olha, se fosse em outro momento essa conversa, eu até diria o que eu penso... mas cês tão casados, sabe? Querendo ou não, levam uma vida em comum juntos... não sou capaz de opinar sobre isso. Você sabe da realidade que vive com ela...
-Bem que você me avisou do comportamento dela... eu me pergunto se no fundo você tinha razão.
-Ricardo, meu amigo... não insiste, por favor. O que você tiver de enxergar, será com os próprios olhos, senão saio eu de fofoqueira mais uma vez... a história de vocês não me diz respeito e é justamente por isso que eu não vou me meter nela.
Glória se retira e deixa Ricardo pensativo. CORTA A CENA.

CENA 4: Instantes depois, Giovanna percebe Ricardo com expressão fechada ao voltar do lanche.
-Tá tudo certo, querido?
-Nada não, Giovanna... andei pensando umas besteiras aqui. Mas daí veio você toda se preocupando comigo e eu até esqueci das besteiras que pensei...
-Sei... eu acho é que cê anda assumindo funções demais por aqui, isso sim. Sabe o que eu pensei que podia ser uma alternativa pra gente desopilar um pouco?
-O que?
-Jantar na casa do Mauro. Te falei que ele fez o convite, falei?
-Falou... eu não tava empolgado, mas pode ser uma boa ideia.
-Vai ser sim, querido, acredita em mim. Depois, aquele netinho dele é uma graça de criança. Tem que ver que encanto!
-Nossa, bom te ver falando assim!
Ricardo se empolga e acredita que Giovanna esteja pensando em ter filhos. CORTA A CENA.

CENA 5: Daniella chama Gustavo à sala para conversar a sós com ele.
-Gustavo, eu entendo que você esteja chateado pela situação de ontem com o Flavinho, mas as crianças que estão internadas aqui não tem nada com isso, ouviu?
-Mas eu nunca descontaria nelas, que ideia!
-Precisa? Cê tá com uma cara de cão sem dono que, olha... vou te contar!
-É que eu não sabia que eu gostava do Flavinho tanto assim... e que me machucaria tanto ouvir os absurdos que ele disse...
-Deixa que com ele eu me resolvo.
-Que? Como?
-Confia em mim, Gustavo. Eu sei como entrar na cabeça de um bronco feito ele. Vou ter uma conversa séria com ele a respeito de tudo e ele vai ter de me ouvir. E você nem ouse discordar porque nessa altura das coisas, cê não tá em condições de bancar o orgulhoso, viu?
CORTA A CENA.

CENA 6: Cristina e Fábio levam Arlete para passear na orla de Copacabana pela primeira vez.
-Nem parece que a nossa filha nasceu prematura... olha como ela tá grande!
-Ah, Fábio... ela é muito amada e tem sido muito bem cuidada também... mas sabe o que me passou pela cabeça, agora?
-O que, querida?
-Esse dia lindo, esse sol... essa tranquilidade, a nossa filha passeando pela primeira vez ao ar livre com a gente...
-Sei... onde você tá querendo chegar?
-De repente eu preciso mesmo dar meu braço a torcer e admitir que a gente podia se dar bem se fosse um casal oficial diante da lei...
-Cê tá falando de casamento, Cristina? É o que eu mais quero!
-Sim, Fábio... você é o cara certo pra eu me casar... mas a gente vai precisar planejar tudo isso direitinho, né...
-Quanto a isso, nem se preocupa...
Os dois seguem conversando enquanto guiam o carrinho de Arlete. CORTA A CENA.

CENA 7: Daniella chega em casa e encontra Nicole suspirando, lendo um antigo diário. Ao perceber a presença da filha, Nicole fecha o diário.
-Eita, mãe... tem uma bomba atômica aí?
-Nada não, filha... são coisas de mais de trinta anos atrás...
-Sei... e precisa me esconder?
-São lembranças difíceis de reviver sem sentir muita saudade. Você não entenderia, Daniella...
-Logo eu, toda trabalhada na arte e no drama? Claro que entenderia, mãe!
-Tenho minhas dúvidas.
-Pois eu aposto que tem grande amor do passado nisso. E que não é o pai.
-Tem... eu sinto tanta falta dele, sabe?
-Por que não luta por ele?
-Porque ele tá casado...
-Bem, nesse caso é complicado mesmo. Quer um chá verde? Tou indo preparar um pra mim...
-Quero sim...
Daniella se afasta e Bernadete não revela se tratar de Leopoldo. CORTA A CENA.

CENA 8: Bernadete decide conversar sinceramente com Leopoldo.
-Leopoldo... acho que a gente precisa ter uma conversa que a gente andou adiando nos últimos dez ou quinze anos...
-Fala, amor...
-Acho que chegou o momento da gente separar. Eu quero me divorciar de você.
-Não! Minha religião sempre me ensinou a nunca abrir mão do casamento, porque ele é sagrado!
-É mesmo, Leopoldo? Você sempre tão religioso, tão carola, tão católico fervoroso... falando de amor de Deus... foi capaz de dar o amor que nosso filho precisava? Você não vê que me tornou uma pessoa que eu não era? Aos poucos eu tou me dando conta disso, sabe? Eu não era preconceituosa. E tenho vergonha dos preconceitos que adquiri convivendo com você.
-Mas eu pensei que você tivesse me perdoado.
-Perdoei, Leopoldo... mas não quero mais o mesmo vínculo de antes. Quero mudar esses termos.
-Eu não sei o que pensar...
-Não precisa ser agora... mas pense que vai ser melhor inclusive pra você. Precisamos ser livres... e no fundo, você sabe disso.
CORTA A CENA.

CENA 9: Durante jantar na casa de Mauro, na companhia de Ricardo, William e Valéria, Giovanna pede licença.
-Queridos, eu preciso ir ao toalete. Já volto, sim? - fala Giovanna.
Mauro assente com a cabeça. Giovanna sobe em direção ao banheiro e percebe que a babá de Leonardo está distraída lendo um livro em seu quarto.
-Não podia ser momento mais oportuno! - murmura Giovanna consigo mesma.
Giovanna entra no quarto de Leonardo e vê que o bebê está dormindo virado para o lado.
-Melhor, impossível! Isso, Leozinho... dorme tranquilo que titia Giovanna vai te dar um presentinho, tá?
Giovanna olha para os lados, se certifica que não há ninguém, abre um frasco e pinga água no ouvido de Leonardo. Fecha o frasco e, novamente se certificando que não há ninguém, abre uma fresta da janela para que seu plano seja bem sucedido. Ao deixar o quarto, vai rapidamente ao banheiro, retoca a maquiagem e dá descarga, fingindo ter usado o banheiro para outras finalidades.
CORTA A CENA.

CENA 10: Horas mais tarde, Valéria se preocupa com choro de Leonardo antes de dormir e o pega no colo para tranquilizá-lo. Ao encostá-lo para perto de si, o choro de Leonardo aumenta e ela fica alarmada, chamando William.
-William, vem cá! O Leozinho não tá passando bem!
William chega e se assusta com o choro de Leonardo.
-Esse choro não é normal, Valéria. Não parece ser fome.
-Eu já olhei a fraldinha dele e tá sequinha também! Eu tou preocupada, William... nosso filho tá sofrendo e eu não sei mais o que fazer pra tirar essa dor dele. Nem sei de onde vem essa dor!
-Tá decidido, a gente vai levar ele pro hospital, Valéria!
-Ai meu Deus... tá certo, vamos...
FIM DO CAPÍTULO 108.

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