CENA 1: Cristina segue gritando, sem perceber que estava em um pesadelo, até que Fábio a afaga.
-Calma, amor... foi só um sonho ruim. Seja lá o que for, já passou. Eu tou aqui, fica tranquila.
Cristina chora abraçada a Fábio, que se preocupa.
-Ei... pra que isso, amor?
-Foi horrível, Fábio. Fazia muito tempo que eu não tinha um pesadelo, ainda mais do jeito que foi esse...
-Nossa, Cris... amor, cê tá tremendo ainda!
-Esse quarto tá me sufocando.
-Eu vou com você até a cozinha e faço um chá pra você.
-Desculpa o transtorno, amor... eu não queria te incomodar com nada disso...
-Deixa disso, sua boba. A gente vai casar, esqueceu? Eu cuido de você quando você precisar e você cuida de mim quando eu precisar. Agora tenta ficar tranquila, respira bem fundo e vem comigo, sim?
Cristina se levanta e acompanha Fábio, que lhe prepara um chá e a serve. Cristina toma o chá e começa a desabafar.
-Ai, amor... foi uma sensação horrorosa.
-Quer mesmo falar sobre esse pesadelo?
-Preciso, Fábio... preciso colocar pra fora pra poder me traquilizar logo de uma vez, sabe?
-Se é assim... então fala.
-Foi horrível. Eu tava na minha antiga casa. Só que ela tava escura, um ambiente meio sinistro. Eu via um vulto.
-Que vulto era esse?
-Não faço ideia, Fábio... só sei que parecia ser de um homem bem alto.
-E o que esse vulto fazia?
-Andava aleatoriamente pela casa. Eu perdia ele de vista. Aquilo me intrigava e me assustava...
-E o que mais acontecia?
-Eu escutava o choro da nossa filha.
-Gente, que loucura. Mas em que quarto ela estava?
-Era pra estar no quarto que era meu quando eu morava lá. Eu escutei o choro que vinha de lá. O vulto ia naquela mesma direção.
-E daí?
-Eu ia atrás da nossa filha. O vulto sumia, mas em vez de me aliviar, aquilo me desesperava. Quando eu chegava no quarto, o berço tava vazio e nele um bilhete escrito a mão dizendo que você tava longe também, ou coisa parecida... já me esqueci. Eu procurava por você pela casa, tudo era vazio, escuro, um deserto absoluto. Foi por isso que me assustei tanto.
-Que horrível, amor...
-Entende agora o pavor que eu senti? Demorei pra voltar a mim.
-Tenta esquecer disso agora, Cristina... por mais terrível que tudo isso tenha sido, foi só um pesadelo, um sonho ruim...
-Ainda bem... mas sinto medo.
-Medo do que, amor?
-Não sei dizer, Fábio... é maior que eu. Tanta coisa passa pela minha cabeça e ao mesmo tempo nada faz sentido, sabe?
-Não é hora pra matutar sobre isso, querida... quer que eu coloque aqueles vídeos de meditação pra gente assistir na sala até você ficar serena?
-Vou querer, sim...
-Então vem comigo.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Nicole visita Bernadete e as duas conversam sobre seus filhos.
-Poxa, Dete... que chata essa situação com o Hugo. Achava tão bonitinho ele e a Valéria juntos, pensei que ia dar casamento...
-Nem fala, Marilu... mas quer saber de uma coisa? Ele fez por merecer.
-Gente, como assim? O que aconteceu de grave?
-Ele teve uma recaída com a pilantra da Giovanna, acredita numa coisa dessas?
-Caramba, Dete... ele podia ter pensado melhor antes de fazer essa besteira, hein? Ainda mais depois de tudo o que essa maluca já aprontou pra cima dele.
-E não é?
-Pois... fiquei passada!
-Agora cê entende porque eu não tenho como passar a mão na cabeça do Hugo, né...
-Nem deve, amiga... nem deve!
-Mas me fala o que tá deixando você com essa ruga de preocupação na testa, querida...
-Ai, Dete... a Cristina. Ando preocupada com ela.
-Mas preocupada com o que, boba? Ela não vai casar com o amor da vida dela e os dois não estão mais que felizes com a filhinha?
-Sim, tá tudo indo maravilhosamente bem.
-Então pra que essa preocupação, Marilu?
-Amiga, ela desabafou comigo algo sobre um pesadelo que ela teve essa noite... uma coisa que ela não conseguiu falar nem pro Fábio.
-Eita, misericórdia... o que foi que ela desabafou?
-Que ela tá com medo que o passado dela assombre ela outra vez.
-Mas que passado? Marilu, se de alguma forma cê tá pensando que o Hugo ainda possa querer alguma coisa com ela, eu sinceramente duvido e muito! Apesar da burrada que ele cometeu, o grande amor da vida dele é mesmo a Valéria.
-Não, não tem absolutamente nada a ver com ele, Dete... pode ficar bem relaxada sobre isso.
-Seria sobre o que?
-Vitório.
-Ah, aquele namorado ou noivo que ela teve no passado e que gerou aquele desconforto todo pra gente ano passado quando ela ficou doente e tal?
-Exatamente.
-Mas por que ela tá com esse medo?
-Ela teve um pesadelo, como eu já disse.
-Sim...
-Daí que ela ficou com a nítida sensação de que o vulto que ela viu nesse pesadelo, roubando a Arlete e o Fábio dela, podia ser o Vitório, entendeu?
-Mas gente... de onde ela tirou isso?
-Medo, intuição, sei lá... só sei que eu como mãe fiquei preocupada.
-Posso imaginar.
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 3: Flavinho segue desanimado e Daniella tenta estimular o amigo.
-Flavinho, vem cá um instante... vem comigo.
-O que foi, Dani? Fiz algo de errado? Deixei alguma coisa pendente?
-Nada disso, bobo. Você é um dos melhores daqui. Só queria saber porque você continua assim...
-Assim como?
-Com essa cara de quem anda se arrastando pelos cantos, desanimado com tudo.
-Ai, Dani... não é bem desanimado. É triste pelas besteiras que eu fiz.
-Eu tenho uma ótima solução pra isso. Vem comigo.
Daniella leva Flavinho até crianças.
-Ai, Dani... não sei se tou no clima de animar elas.
-Por que não tenta?
-Tenho medo de não conseguir dar conta.
-Deixa de besteira, viado... é melhor do que ficar parado, não acha?
-Mas não vou ficar parado.
-Flavinho, me poupe, se poupe, nos poupe. Cê entendeu direitinho o que eu quis dizer que eu sei.
-Não acha que é contraproducente?
-Nem um pouco. É complemento ao trabalho desempenhado por você aqui dentro da clínica, não é?
-É, mas dessa vez não tem o Gustavo aqui pra me ajudar.
-Credo, Flavinho, que baixo astral esse seu comentário! Em primeiro lugar, você não nasceu grudado com ele. Em segundo lugar, ele vai voltar logo. Do jeito que cê fala, faz parecer que ele voltou de vez pra Minas, eu hein...
-Cê tem razão...
-Não é que tenho?
-É que eu tenho medo de não divertir os pequenos.
-Quer parar de besteira? As crianças daqui te amam tanto quanto amam o Gustavo, então pare de se nivelar por baixo, faz favor?
-É... eu devo confiar mais no meu taco.
-Ainda duvida disso? Não perde tempo e vai se divertir com os pequenos que você sai ganhando com isso também!
-Ai, eu vou mesmo.
-Então vai agora, pra sumir da minha frente com essa cara de coitadinho que eu tenho pavor de genmte coitadinha!
Flavinho ri. CORTA A CENA.
CENA 4: Patrícia, na casa de repouso, se reúne com outros pacientes em um grupo de apoio. Patrícia escuta com atenção aos relatos de cada um ali presente. O primeiro a falar é um rapaz.
-Oi gente. Eu sou o Emerson e vim pra esse lugar pra tentar superar com mais tranquilidade minhas crises depressivas. Eu sou bipolar. Atentei contra a minha própria vida algumas vezes, antes de meus pais tomarem a decisão de me mandar pra cá. Eu não vim forçado, nós conversamos muito a respeito de tudo. Minha psiquiatra endossou tudo. E agora estou aqui, vai fazer cinco meses, mas me sinto cada vez mais confiante de que esse período tem sido enriquecedor para mim, para as experiências que venho adquirindo, encarando de frente meus problemas, sem a desculpa de estar ocupado demais. Aqui sou eu comigo mesmo, conhecendo realidades completamente diferentes da minha e aprendendo a exercitar a empatia. - fala o rapaz.
-Bem... eu sou a Doriana. Sim, gente, esse é meu nome e eu sofria muito bullying na infância por causa disso. Não sei se foi por conta desses traumas, mas eu com o tempo acabei criando uma outra vida, um outro nome, uma realidade paralela. Nela eu me chamava Yasmin e tinha autoconfiança e tudo ia sempre bem. Menos quando me contrariavam, quando não faziam o que eu queria. Ali, a minha vida se tornava o maior dos dramas. Eu comecei a mentir rotineiramente. Virou um vício. Eu não aceitava estar em segundo plano jamais... então precisava sempre puxar todas as atenções possíveis pra mim. Fui diagnosticada como histriônica com traços clássicos de mitomania. Vim pra cá depois de ter sido desmascarada nas redes sociais. Ali eu percebi que eu estava difamando pessoas, fazendo fofocas sobre elas, tudo porque eu não aceitava que houvesse gente que não entrasse no meu jogo ou que descobrisse quem eu realmente sou. Eu não sou suicida, mas fiz as pessoas acreditarem que eu era.
A garota segue o relato enquanto Patrícia escuta, impressionada com a diversidade de transtornos. CORTA A CENA.
CENA 5: Gustavo aproveita folga que conseguiu no dia e, em Belo Horizonte, toma uma decisão e comunica Valéria a respeito, ligando para a irmã.
-Oi, mana. Tá podendo falar?
-Tou com tudo adiantado aqui na revista, mano... fala.
-Eu andei pensando numa coisa. Hoje eu consegui uma folguinha.
-Sei. No que ocê pensou?
-Em ir atrás da mãe do Flavinho.
-Super apoio, mano! Tá mais que na hora do Flavinho reencontrar a dona Cleusa. Faz quase dez anos já, gente... é tempo demais da conta!
-Liguei pra te avisar disso. Tou indo pra lá agora.
-Boa sorte, mano. Beijo!
Gustavo desliga.
Minutos depois, Gustavo chega ao bairro em que morou na infância e reconhece de imediato a casa de Cleusa, mãe de Flavinho. Ao chegar ali, bate palmas.
-Dona Cleusa! Dona Cleusa!
Gustavo segue batendo palmas, porém ninguém atende.
-Uai gente... que esquisito. Dona Cleusa sempre foi de passar o dia enfurnada em casa enquanto aquele inútil do marido dela tava fazendo besteira pela rua... será que ela reconheceu a miha voz e não quer me atender porque não quer saber do Flavinho? Não pode um trem desses, gente... não pode...
Uma senhora vê Gustavo falando sozinho na frente da casa de Cleusa e o aborda.
-Querido... se ocê tá procurando a Cleusa, faz mais de mês que ela e aquele traste do marido dela saíram da casa.
-De mudança, senhora?
-Isso eu não sei, mas não voltaram mais.
-Obrigado... qual seu nome?
-Alzira.
-Obrigado, dona Alzira...
-Vai com Deus, querido...
Gustavo sai intrigado dali. CORTA A CENA.
CENA 6: Sérgio estranha quando vê Mônica circulando pelo prédio.
-Eita! Chegou cedo do trabalho hoje, hein?
-Nada, seu bobo! Vim a trabalho, cê acredita?
-Como assim?
-O pessoal da agência avisou de última hora que precisava de dois meninos e duas meninas pra uma sessão de fotos, então eu vim falar com meus pupilos e saber se eles topam esse trabalho.
-Caramba, que enrosco!
-É a coisa mais normal do mundo, bobo. Achei que você estivesse acostumado com isso.
-Até hoje me espanto...
-Ei... tou te notando meio pra baixo. O que foi?
-Nada demais... mais fácil me perguntar o que não foi.
-Vish... lamúria com um dia lindo desses? Nem vem, meu querido. Nem vem! Aliás... sabe o que eu pensei?
-O que?
-De repente seria uma boa ideia você me acompanhar.
-Acompanhar onde? Cê não tá trabalhando?
-E quem disse que eu não me divirto enquanto trabalho?
-Não entendi...
-Você nunca viu uma sessão de fotos de modelos, né?
-Não, mas... cê acha uma boa ideia?
-Por que não, Sérgio? Vai servir pra você se distrair um pouco. Esquecer dos problemas...
-Eu topo.
-Então vem comigo que a coisa vai longe hoje!
CORTA A CENA.
CENA 7: Giovanna se assusta ao entrar em sua sala e se deparar com Ricardo sentado em sua mesa.
-Que isso, cara! Quer me matar do coração? Errou o caminho, foi? Aqui não é mais a sua sala e foi você quem optou por isso, eu hein...
-Eu não errei o caminho de nada. Quem parece estar errando é você.
-Quer fazer o favor de ser direto?
-Não precisa pedir duas vezes. Me diz, Giovanna: o que é que cê anda aprontando ou planejando pro lado do Hugo?
-Vish! A fofoqueira da Glória já foi encher os seus ouvidos de besteira, não foi?
-A Glória é qualquer coisa nessa vida, Giovanna... mas fofoqueira, ela nunca foi. E não tem nada a ver com ela. Tem a ver com eu saber exatamente a alma podre que você é.
-Nossa, como isso me ofende! Cê acha que eu tenho medo de cara feia, Ricardo? Vá catar o que fazer, pelo amor de Deus...
-Se eu souber de alguma coisa...
-Vai fazer o que, seu merda? Não tenho saco pra esse tipo idiota de bravata. A gente não é mais casado.
-Graças a Deus.
-Então cuide da sua vida.
-Eu cuido. Você devia cuidar da sua e deixar o Hugo em paz.
-Sai daqui, Ricardo.
Ricardo se retira. CORTA A CENA.
CENA 8: Após sessão de fotos, Sérgio percebe que Mônica está com expressão desgostosa.
-Fiz alguma coisa de errado, Mônica?
-Nada! Você foi ótimo e ainda interagiu com o pessoal, divertiu até o Bruno que não ia com a sua cara...
-Então o que significa essa sua cara de quem perdeu um ursinho de pelúcia?
-Eita, que avaliação que cê faz de mim, hein?
-Só me preocupo, minha amiga...
-Sabe o que é? A situação da agência e da revista... tudo isso me entristece demais, sabia?
-Por que?
-Por tudo. Pelo desmonte que tudo vem sofrendo nesses últimos tempos... pela demissão de tanta gente, pela diminuição dos quadros... sinto falta do tempo que eu fui editora chefe.
-É mesmo difícil, tudo isso...
-Você não faz ideia do quanto. Se não fosse a Valéria assumir a coluna de comportamento, a revista da Natural High já teria sido descontinuada.
-A coisa andava tão séria assim?
-Terrível. A gente mandava pra gráfica uma ordem de tiragem mínima de seis mil exemplares. Não estava saindo nem um sexto disso e os prejuízos só aumentando...
-Ainda bem que a Valéria mudou isso...
-Ainda bem, meu amigo. Ainda bem!
CORTA A CENA.
CENA 9: Horas depois, já em casa, Valéria observa William cuidando de Leonardo.
-Que coisa linda ver ocê assim, William...
-Assim como?
-Cuidando do nosso filho desse jeito... com tanto amor, tanto carinho e empenho, sabe?
-É o mínimo que posso fazer. Afinal de contas eu não vi ele nascer...
-Já passou. Ocê tem se saído um excelente pai, sabia?
-É o que eu tento ser.
-Eu fico feliz por isso... por saber que aquele William que eu conheci lá em BH existe aí dentro.
-Sempre existiu... ocê que não queria ver.
-Tive meus motivos, William. Sabemos o motivo. Mas uma nova afeição tá surgindo aqui...
-Fico feliz de ouvir isso...
-Vamos descer... a Cláudia disse que seu pai tá que não se aguenta de fome.
CORTA A CENA.
CENA 10: Após jantar, Mauro começa a suar muito e William estranha.
-Eita, pai! Te falei que não era pra comer com tanta pressa! - fala William
-Ah, William, vê se não enche! Eu sempre como nessa velocidade! - retruca Mauro.
-O seu filho tá certo, seu Mauro. Ainda mais numa hora dessas, não precisava comer tanto... - prossegue Valéria.
-Nossa, ocês se combinaram pra patrulhar o que eu posso ou não? Vou eu mesmo até a cozinha pegar a sobremesa, porque se eu for esperar a Cláudia... eu morro antes. - fala Mauro, se levantando.
Ao se levantar, Mauro sente uma forte dor no peito.
-Ai! Ajuda, William! Meu filho, me ajuda! Eu acho que vou morrer! - desespera-se Mauro.
-O que tá acontecendo? - pergunta William.
-Seu pai tá tendo um infarto, não tá vendo? - fala Valéria.
FIM DO CAPÍTULO 118.
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