segunda-feira, 6 de março de 2017

CAPÍTULO 97

CENA 1: Fábio fica ansioso diante de Cristina.
-Vai ficar me olhando com essa cara de quem tomou susto, Cristina? Eu acabo de dizer que não posso viver sem você e tudo o que você faz é me olhar com essa cara?
Cristina beija Fábio, num impulso apaixonado. Fábio tenta avançar o sinal e Cristina recua.
-Ei, pode parar por aí.
-Mas foi você que...
-Sim, fui eu. Não resisti. Ainda sinto sua falta, Fábio... mas foi uma fraqueza minha. Ainda mais agora, caminhando pra reta final da gravidez, eu não devia ter sido fraca assim...
-Sinal de que ainda temos uma chance.
-Nada mudou.
-Como é que você diz isso depois do beijão que me tascou?
-Eu fiquei tocada. Comovida com as coisas que você disse. Eu senti verdade. Mas você tem noção das coisas? Tem noção de que esse é o pior momento pra tentar reatar comigo?
-Quando vai ser o tempo certo?
-Quando eu decidir, Fábio! Será que não é possível entender isso?
-Nem sempre. Sou eu quem sempre espera e entende.
-Não seja injusto. Nem seja auto condescendente. Você não é nenhum santinho, não... tem quase quarenta e sete anos na cara pra saber perfeitamente o que faz ou deixa de fazer.
-Você é egoísta, Cristina. Pede o tempo todo que a gente se coloque no seu lugar, mas não se coloca no lugar de ninguém.
-Quem você pensa que é pra chegar praticamente à meia noite na minha casa e ainda me falar essas coisas? Quem não tá me respeitando é você, Fábio! Quem tá sendo egoísta é você, que só pensa no quanto supostamente não consegue viver sem mim pra me procurar na hora que bem entende. Isso pode ser lindo em romances, em livros, em filmes e novelas... mas na vida real é um saco. Cerceia a liberdade. Isso não é amor.
-Claro que é amor, Cristina! Você não entendeu isso ainda?
-Se você me ama, por que não me liberta?
-E o que eu tenho feito nesses meses todos?
-Ah, tou entendendo... quer biscoitinho, macho? Quer prêmio? Olha primeiro pro seu próprio umbigo antes de me chamar de egoísta, valeu?
-Você nunca me amou?
-Eu te amo, Fábio.
-Por que não estamos juntos, então?
-Você sabe o motivo.
-Não, não sei. Eu não sinto mais verdade em você quando você cita a Arlete como impedimento.
-Você não sabe de nada...
-Sei sim. Isso é medo de amar.
-Vem cá, você andou conversando com a minha mãe? Ela disse a mesma coisa.
-Não falei com ela. Mas vejo o que tá óbvio.
-Se você me ama e quer esperar por mim, como disse que faria, então resista.
-Você acha bonito me ter assim nas suas mãos?
-Não! Não é nada disso. Só que eu preciso de tempo. De paz. Eu preciso de mim, da minha própria companhia. Me preencher de mim mesma. E espero que você entenda e respeite isso.
-É difícil...
-Mas é impossível?
-Nunca!
-Ótimo. Porque um amor deve ser maior que medos, inseguranças, qualquer tipo de dependência ou coisa que valia.
-Estamos passando por uma prova de fogo, é isso?
-E só agora que você percebeu, Fábio? Você é mais velho que eu... deveria saber, melhor que eu, que é preciso dar tempo ao tempo.
-Quanto tempo?
-Pergunte ao tempo, não a mim.
-Nossa...
-Por favor... não me obrigue a ser grossa... eu preciso que você vá embora. Eu quero descansar...
-Tudo bem...
Fábio vai embora, entristecido. CORTA A CENA.

CENA 2: Com a noite avançada, Gustavo observa Flavinho dormir e em seus pensamentos, Gustavo relembra momentos ao lado dele e acaba sentindo uma estranha atração pelo amigo.
-Que isso, Gustavo... ocê conhece o Flavinho faz uma vida. Volte a si! - fala Gustavo, consigo mesmo.
Gustavo decide pegar seu celular e ligar para Daniella, que atende prontamente.
-Fala, Gustavo...
-Tou incomodando?
-Sua sorte é que eu não consigo dormir antes das três da manhã...
-Enfim, eu tava querendo saber de uma coisa.
-Pois fale.
-Quer dar uma saída comigo? A gente pode ir naquela boate que ainda tá no horário...
-Nem pensar, Gustavo. Tou completamente exausta. Nem que a gente tivesse combinado mais cedo, eu desistiria mesmo assim...
-Pena...
-Tá precisando conversar? A gente pode resolver isso por telefone, não?
-Poder, pode... é que eu prefiro o olho no olho.
-Por que?
-Não sei se ocê ia entender...
-Quando é que eu não entendi alguma coisa sua? Eu hein...
-Não posso ir na sua casa?
-Numa hora dessas? Tá doido? Ou será que cê não quer falar ao telefone com medo que alguém escute?
-O que ocê tá querendo dizer?
-Exatamente o que eu disse. Tá com medo que o Flavinho escute?
-Na mosca... sabe o que é? Eu senti um trem esquisito agora pouco...
-Sei... isso que cê chama de trem esquisito, Gustavo, eu chamo da mais pura e simples paixão. Desejo, tesão... defina como quiser.
-Como é que ocê sabe?
-Gustavo... faz meses que eu dou essa letra pra você... eu acho que você ainda vai acabar apaixonado pelo Flavinho...
-Mas isso chega a ser absurdo, Dani...
-Por que? Você é bi... não esconde isso de ninguém...
-Mas eu ainda te amo!
-E daí?
-Daí que não tem espaço pra mais ninguém.
-Claro que tem. Você que não vê... ou não quer ver. Não é preciso deixar de me amar pra amar outra pessoa. Nem que seja outro cara. E tem mais uma coisa: eu e você somos amigos... e não acho que tenhamos chance de volta...
Gustavo fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 3: O fim de semana passa. Na manhã de segunda, Fábio procura Elisabete, que lhe atende prontamente.
-Oi, Fábio! Entra, por favor. Já tomou café?
-Tomei sim, mas aceito o seu.
-Ótimo... tou quase de saída, mas o Maurício pode te fazer companhia...
-Sabe o que é, Bete? Eu precisava de você...
-Desabafar?
-Exatamente.
-Fábio, meu amigo... eu adoraria poder te ouvir com atenção, mas tou só terminando meu café da manhã pra ir acertar a compra do apartamento que a Susi escolheu pra gente.
-Nossa, já encontraram?
-A Susi saiu daqui não era nem seis e meia da manhã, foi olhar o apartamento. Me mandou fotos pelo celular e eu simplesmente amei a escolha dela. E eu preciso ir lá fechar a compra.
-Mas... será que não resta um tempinho pra me ouvir?
-Desculpa, Fábio... não resta. Nosso filho vai ficar aqui em casa. Se você não tiver pressa, tenho certeza de que ele pode ouvir seus desabafos...
-Uma pena... ninguém me dá conselhos como você.
-Querido, se eu pudesse, eu ficava... mas não posso. É a compra do meu apartamento com a Susi... nosso apartamento, entende? Não posso deixar ela plantada me esperando. Tenho que sair daqui o quanto antes...
-É que falar com o nosso filho não é a mesma coisa. Ele não tem a mesma delicadeza...
-E daí? Sabe que se não fosse por ele, eu talvez tivesse demorado mais tempo pra acordar pra vida? Esse jeito dele, meio direto, meio sem rodeios, quase grosseiro, salvou minha vida, sabia?
-Ah... é que eu sei que ele vai me julgar.
-Vai sim, mas também vai te apresentar uma solução e você sabe muito bem disso. Agora eu realmente preciso ir, querido. Não tenho o dia todo, outra hora quando der a gente conversa melhor, tá? Ah, tem aquele biscoito de amendoim que você gosta, no armário da cozinha. Beijo, fui!
CORTA A CENA.

CENA 4: Poucos instantes depois, Maurício, já acordado, percebe aflição de Fábio.
-Tá louco pra desabafar, né pai?
-Tou... só que nem sei por onde começar.
-Posso saber o motivo?
-É que às vezes cê joga umas coisas na cara da gente...
-Nada além da verdade.
-No seu ponto de vista. Pode não ser no meu.
-Bem, daí eu não posso fazer nada. Se quiser desabafar eu tou aqui... é pegar ou largar, pai.
-Eu não sei se quero.
-Quer saber o que eu acho?
-Você vai falar de qualquer jeito, filho... vai em frente.
-Eu acho que você pensa que as pessoas tem que estar sempre à sua disposição, na hora e no lugar que você bem quiser.
-Nada disso, filho! Mas que ideia absurda...
-E eu não falo só por hoje... falo por sempre. Você ignora que a mãe, por mais que tenha continuado sua amiga depois do divórcio, tem uma vida que é só dela.
-Eu juro que não é minha intenção.
-E daí? De bem intencionado o inferno já tá superlotado, pai...
-Sabe o que é? Eu me sinto abandonado.
-Mas não devia. Tem a mim, que sou seu filho. A mãe é sua melhor amiga. Até a Cristina não te deixaria na mão. Essa sua sensação vem do fato de você ter sido filho único...
-Como se você também não fosse por mais de vinte anos...
-Mas você e a mãe me criaram de outra forma. Não foi assim com você. E só agora, depois de quase cinquenta anos de vida, tá te caindo a ficha de que as pessoas não vão estar sempre à sua disposição, porque elas tem uma vida alheia a você, independente de você...
Fábio engole a seco as afirmações do filho. CORTA A CENA.

CENA 5: Ricardo questiona Giovanna.
-Amor, que história foi essa da Valéria aparecer aqui na agência soltando fogo pelas ventas?
-Ué... não foi nada disso...
-Giovanna, quem me contou foi a Mônica, não foi a Glória.
-Ah tá... como se as duas não tivessem tido algum trelelê com você no passado.
-E daí? Em nada isso se relaciona com o fato de que a Valéria veio te enfrentar.
-Esse pessoal anda fofoqueiro demais. Não sabem de nada.
-Ouviram gritos. De vocês duas.
-Ai, que saco!
-Não vai mesmo me contar nada do que aconteceu aqui?
-Era um assunto só meu e dela. Não acho que você, mesmo sendo meu marido, tenha de participar de tudo. Ainda mais quando são problemas só meus.
-Eu não sei porque... mas não consigo acreditar nisso.
-Isso é um problema seu, Ricardo. Não posso te obrigar a acreditar sempre em mim.
-Olha aqui... se eu descobrir que tudo o que já ouvi falar de você é verdade...
-Vai fazer o que? O que exatamente falaram? Aposto que foi a Glória...
-Não importa quem foi... mas se eu descobrir que alguma das coisas é verdade, principalmente a parte de você querer prejudicar um cara gente boa como o Hugo, pode ter certeza, que você nunca mais olha na minha cara ou me dirige a palavra. Peço o divórcio mesmo!
-Tá, tá, tá... acabou com o showzinho de defensor dos fracos e oprimidos? Agora chega desse papo. Temos trabalho sério pela frente.
-Não deboche de mim, Giovanna...
-Então não seja ridículo, ora! Tenha santa paciência, viu? Haja saco!
-Não subestime minha inteligência, Giovanna...
CORTA A CENA.

CENA 6: Valéria tenta convencer Bernadete e ser menos inflexível.
-Bernadete... eu tenho estado triste com tudo...
-Por que, querida?
-Ocê ainda me pergunta? Eu não me sinto totalmente bem de ter sido perdoada sabendo que meu amigo tá fora daqui.
-Que amigo, Valéria?
-Ora Bernadete, não finja que não sabe de quem eu tou falando...
-Não, eu não sei. Você é parte da família, é isso que importa.
-E o Flavinho nunca foi?
-Nem sei quem é esse tal de Flavinho! É claro que ele nunca foi...
-Eu não acredito que ocê tá falando isso. Ele era como um filho pra você...
-Valéria... eu gosto muito de você. De verdade. E eu não quero falar sobre nada disso, por favor. Não me obrigue a ser indelicada com você...
-Tudo bem, Bernadete... eu entendi. E sabe de uma coisa? Isso tudo... não é culpa sua.
-Como assim, querida?
-A culpa é do seu marido...
-Desculpe, agora eu não entendi de verdade, Valéria...
-A culpa é do seu Leopoldo, sim. Ele sempre tão cristão, conservador, cheio de restrições... te transformou num fantoche dele.
-Alto lá! Eu não sou fantoche de ninguém...
-Não percebe, Bernadete... mas é, sim.
Bernadete fica pensativa. CORTA A CENA.

CENA 7: Daniella conversa com Gustavo a sós, na sala da clínica.
-Mandou me chamar?
-Sim, querido... acho que a gente ficou com uma conversa inacabada. Em primeiro lugar, mil perdões por não ter ido te ver no sábado, mas eu tava mesmo quebrada... em segundo lugar, bem... cê sabe...
-Sei? Acho que não, viu? Esse trem de estar apaixonado pelo Flavinho é doido demais!
-Mas tá acontecendo, Gustavo. Admita.
-Eu não tenho como admitir...
-Não é a mim que cê tem que admitir qualquer coisa. É a si mesmo. Algo está nascendo entre vocês e isso já vem acontecendo há meses...
-E eu posso saber porque ocê tá insistindo nesse assunto agora?
-Quem sabe porque depois daquele incidente todo, ele foi morar com você?
-Isso não quer dizer nada. Eu já falei que não te esqueci. É impossível eu estar apaixonado por ele.
-Você usa isso como desculpa, Gustavo. Mas nem acredita direito nisso. Espera, meu amigo... espera e veja... mas principalmente: deixe acontecer...
-Eu não sei o que tá acontecendo...
-Não precisa ter resposta... só deixa rolar.
-Como?
-Deixando, ué... você descobre como.
-Eu nem sei se ele também iria me querer...
-E você ainda duvida? Francamente...
Gustavo fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 8: Sérgio desabafa com Nicole durante visita.
-Sabe, Nicole... no final das contas, desde que a Mônica terminou comigo, eu andei reavaliando uma série de coisas...
-Como o que, por exemplo? Olha se for pra tentar reatar nosso casamento, eu confesso que não tenho a mínima vontade ou disposição...
-Não... nada disso. Na verdade eu tenho revisitado um passado mais distante.
-Mais distante até onde?
-Mil novecentos e oitenta e quatro.
-Peraí... nessa época você e a Bernadete ainda namoravam e...
-Exatamente. Eu acho que a maior burrada foi terminar com ela.
-Sérgio... meio complicado lamentar por isso depois de mais de trinta anos, não acha?
-Sabe o que é? Eu percebi que nunca deixei de...
-Não pode ser. Esse tempo todo? Sérgio... eu nem sei o que te dizer. No fundo eu meio que sempre soube que você nunca deixou de amar a Dete... e me sinto culpada por isso.
-Culpada pelo que? Há trinta e três anos, a gente não fazia ideia que as coisas seriam assim...
-Mesmo assim... eu sabia que vocês se amavam.
-Já passou... fizemos o que podíamos fazer. Fomos felizes, apesar disso...
CORTA A CENA.

CENA 9: Armênia percebe tristeza de Humberto e o chama em um canto.
-Amor, o que te deu? Desse jeito não tem condição de você atender nossos clientes...
-Acho melhor que você fique mesmo no meu lugar... pelo menos por uma meia hora.
-O que foi, querido?
-Andei pensando em tudo... nas coisas que nosso filho me disse...
-Precisa remoer isso, Humberto?
-Claro que precisa. Eu fui o errado nisso tudo.
-É louvável que cê tenha reconhecido isso. Agora só resta a você e a nós dar tempo ao tempo...
-Pois é exatamente isso que tá me maltratando, sabia?
-Humberto, meu querido... aprenda a assumir as consequências dos seus atos... parte dessa consequência é a dificuldade do Guilherme confiar em você outra vez...
-Mas me maltrata mesmo assim saber que meu próprio filho não confia em mim.
-Você deu motivos, Humberto. Aprenda a lidar com isso. Já foi... agora é esperar que o tempo resolva essas questões e cicatrize essas feridas...
-Pelo menos você acredita que eu tenho mudado?
-Eu acredito, meu amor... mas deixa nosso filho encontrar o tempo de voltar a acreditar em você... pode ter certeza, ele vai voltar a confiar em você.
-Deus te ouça, Armênia...
Armênia afaga Humberto. CORTA A CENA.

CENA 10: Na manhã do dia seguinte, logo cedo, Patrícia caminha pela rua do prédio de Gustavo quando flagra Flavinho e Gustavo em clima de cumplicidade. Gustavo ri de Flaivnho.
-Vem cá, quando é que ocê vai perder o medo de andar de moto?
-Ai, credo, esse trem é todo vulnerável, tenho medo sim.
-Já falei que é pra se agarrar em mim que tá tudo certo.
-Ai, fico sem graça...
-Deixa de ser besta, Flavinho! Sou eu, caramba...
Patrícia treme de raiva ao observar os dois.
-Não pode ser... será que esse viadinho do Flavinho tá envolvendo mesmo o Gustavo?
Patrícia resolve abordar os dois. Gustavo se assusta e Flavinho se surpreende.
-Nossa, Pati... que surpresa te ver por aqui tão cedo! - fala Flavinho.
-Não vai me dar oi, Gustavo? - pergunta Patrícia.
Gustavo fica tenso enquanto Patrícia olha para Flavinho junto dele, tentando disfarçar sua raiva. FIM DO CAPÍTULO 97.

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