CENA 1: Mauro se interessa pelo que Giovanna tem a dizer.
-Muito bom, excelente... e qual é o plano, minha querida?
-Simples... cê sabe que eu meio que convivi com a Valéria, não sabe?
-Claro que sim... assim como eu sei que ocê é uma ótima observadora...
-É exatamente aí que eu queria chegar.
-Eita. Tou gostando...
-A Valéria é essencialmente uma meninona. Uma mulher extremamente carente e sozinha...
-Mas ela não tem aquele irmão enfermeiro dela?
-Sim... mas eles só tem um ao outro. Ela estava apegada aos di Fiori porque eles proporcionavam a ela justamente essa sensação de pertencer a algo... de unidade, de família... família que ela nunca teve.
-Tou começando a entender...
-Então presta bem atenção, Mauro... porque eu tenho uma maneira bem eficaz pra você ir convencendo a Valéria aos poucos a ficar com o seu filho...
-Como? Acho meio improvável que eu consiga fazer eles reatarem e não usar dinheiro...
-Calma, Mauro... tenta pensar além do que cê tá acostumado a fazer pra conseguir o que quer, entendeu?
-Então me diz... como posso fazer?
-Você sabe ser afável quando quer, não sabe? Senão não seríamos amigos há tanto tempo. Você sabe o quanto eu prezo por gentileza. O caminho a ser seguido é esse: seja amável e afável com a Valéria, afinal de contas você é o avô do filho dela.
-Tou começando a pegar o espírito da coisa.
-Nunca ouviu falar que pra agradar uma mãe, basta agradar o filho dela? Então começa investindo nisso, que não vai ser difícil porque eu sei que você ama seu neto, certo?
-Claro que amo!
-Então é por aí que é pra começar.
-Mas onde o William entra nisso?
-Ora, Mauro! O seu filho está presente em tudo o que existe naquela casa, além da presença dele. A Valéria lembra todos os dias que eles se amaram e por causa disso o Leonardo nasceu, entendeu?
-Entendi...
-As coisas podem ir se associando.
-Mas será que isso vai dar certo?
-Vai por mim... ela se acha esperta... seu filho é outro, se julga esperto, mas com você à frente de tudo isso, Mauro... não tem erro.
-Ah, isso é verdade. Eu manipulo todos que eu quiser.
-Então aproveita essa chance, meu amigo! O tempo tá correndo e quando você menos perceber, esse prazo de um ano já era...
-Espero que tudo isso funcione, Giovanna... eu não sei mais o que fazer. A Valéria só fica de briguinha com meu filho...
-Melhor ainda! Sinal de que não é indiferente. Pior seria se houvesse essa indiferença, percebe?
-Olhando por esse lado.
-Fica tranquilo. Você é macaco velho. Sabe das coisas... sabe como manipular as coisas à sua forma...
-Bem, isso é verdade.
-Fica sossegado. Vai dar certo.
-Só me responde uma coisa, querida...
-Fala, meu amigo...
-Por que você tem tanto interesse em juntar meu filho com a mãe do filho dele?
-Ah, meu amigo... você sabe como eu gosto de juntar casais, não sabe?
-Verdade... você sempre arranjava namoradinhas pro Hugo... bem, querida, eu preciso ir agora. Obrigado pela sua ajuda. Foi fundamental!
Mauro parte e Giovanna sorri, triunfante.
-É... parece que a alegria do Hugo vai acabar logo...
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Valéria se encanta com Mauro a paparicar o neto.
-Gente, que coisa fofa o senhor paparicando meu filho assim...
-Ah, Valéria... é meu netinho. E é a cara do pai...
-Pior que eu tenho que dar o braço a torcer mesmo, viu? Ele é a cara do William, sem tirar nem por...
-Eu sei que não tá sendo fácil pra você...
-Tou fazendo isso aqui pela família que me acolheu e que virou também a minha família.
-Quero que saiba que ocê tem uma família aqui também...
-Agradeço, mas não consigo ver as coisas assim... não enquanto esse prazo não acabar.
-Tem alguma coisa que eu possa fazer pra melhorar o clima aqui?
-Sim, seu Mauro... eu notei que ocê tá diposto a me proporcionar uma boa estadia, não está?
-Claro que eu tou!
-Maravilha! Porque eu queria saber se tem uma vaga aberta ou qualquer coisa do tipo na revista Natural High.
-Que? Na revista da agência?
-Isso mesmo, seu Mauro...
-Nunca pensei que...
-Eu sei. Ninguém pensa que eu tenho interesse por essas coisas...
-Fiquei surpreso, mas positivamente...
-Então, seu Mauro... sabe me dizer se tem vaga em aberto?
-Precisamos de colunista pras próximas edições, o contrato da antiga venceu e ela não quis renovar... só que tem um problema nisso...
-Qual problema, seu Mauro?
-A revista, assim como a agência, corre o risco de ser fechada a qualquer momento.
-Gente, a crise tá tão brava assim? Eu não fazia ideia que a coisa tinha ficado tão séria pro lado do seu Leopoldo...
-Pois ficou...
-Eu aceito o desafio. Ainda vou reerguer essa revista e dobrar, pra não dizer triplicar as vendas delas!
-Como?
-Vai por mim, seu Mauro... minhas colunas vão ser muito bem escritas.
-Se ocê diz... eu confio.
-Pois o senhor não vai se arrepender de depositar a sua confiança em mim. Assim eu me sinto útil nesse tempo que fico por aqui...
Mauro olha admirado para Valéria. CORTA A CENA.
CENA 3: Poucas horas depois, William paparica Leonardo enquanto Valéria toma banho.
-Ah, meu filho... será que um dia a sua mãe vai entender que eu não quis causar tudo o que eu causei? - murmura William consigo mesmo.
William começa a relembrar os momentos felizes que viveu ao lado de Valéria em Belo Horizonte, desde que se conheceram e enquanto namoravam. Ao lembrar de tudo, pega seu filho no colo e começa a “conversar” com ele.
-Sabe, filho... eu e a sua mãe tínhamos tudo pra dar muito certo. Mas eu caguei tudo... coloquei tudo a perder. A gente foi muito feliz, sabia disso? Também se amou muito... e foi desse amor que você nasceu. Você, meu filho, é a prova de que um dia existiu um grande amor entre sua mãe e eu...
William começa a se emocionar e segue “conversando” com Leonardo.
-Eu pensei que a gente ia ficar junto pra sempre, meu filho... mas errei demais. Achei que meus medos justificavam minhas mentiras. E desde o começo eu fingi ser uma pessoa que eu nunca fui. Eu contei tantas vezes a mesma mentira que muitas vezes eu mesmo acreditei que fosse aquele pobretão que eu inventei que era. Mas eu não era... me esqueci disso tantas vezes! Só que não esqueci quando sua mãe me contou que tava grávida de você. Pensei que ela tivesse descoberto alguma coisa sobre a minha vida... eu fui um canalha, meu filho... e nunca vou me perdoar totalmente por ter chamado a sua mãe de golpista, aproveitadora e tanta coisa horrível... se arrependimento matasse, eu nem tava mais aqui. Queria poder voltar no tempo pra consertar essa parte. Assim eu nunca teria me afastado de vocês... teria visto você crescendo dentro dela, todos os dias... eu perdi uma parte da nossa história, meu filho... talvez isso tenha se perdido pra sempre. Mas não quero que você duvide jamais do meu amor por você. Quem sabe um dia sua mãe descobre que ainda me ama e a gente volta a ser o que era, né não? Daí quem sabe você ainda ganha um irmãozinho, ou irmãzinha...
William percebe que Leonardo adormeceu e o coloca novamente no berço.
-Isso, meu filho... dorme tranquilo. Aproveita essa fase sem problemas da vida. Quem sabe um dia eu volte a ser assim, despreocupado...
CORTA A CENA.
CENA 4: Mauro chega, acompanhado de Valéria, à agência e solicita a presença de todos na sala principal.
-Por favor, queridos: chamem a Giovanna e o Ricardo, por favor? Preciso de todos aqui para ouvirem o que tenho a dizer. - ordena Mauro.
Poucos instantes depois, Giovanna e Ricardo vão à sala principal da Natural High e Giovanna se surpreende ao ver Valéria ali, vestida com roupas executivas.
-Você aqui, Valéria? Que surpresa... - fala Giovanna.
-Queria comunicar a todos vocês, que agora estão aqui presentes na sala principal, que Valéria vai ser a nova colega de vocês! - anuncia Mauro.
Giovanna fica perplexa, mas nada diz. Ricardo e os demais funcionários dão as boas vindas a Valéria.
-Obrigada, gente! - agradece Valéria.
Giovanna tenta disfarçar sua raiva e se direciona a Mauro.
-Que eu mal pergunte, mas que espaço ela pode ocupar na agência? - questiona Giovanna.
-Sabe a revista? Estamos precisando preencher a vaga de colunista de comportamento. Valéria vai passar a ocupar o cargo de colunista de comportamento. - esclarece Mauro.
Mônica se empolga.
-Que maravilha! A gente tava mesmo precisando de um respiro, um ar mais jovial dentro da revista, pra deixar o nome da Natural High mais popular entre a parcela mais jovem dos consumidores. Sucesso, minha querida! - fala Mônica, abraçando Valéria.
Giovanna observa a tudo e contém sua raiva. CORTA A CENA.
CENA 5: Ao se acordar, Cristina é surpreendida pela presença de Fábio em seu quarto, cuidando de Arlete.
-Caramba, Fábio... eu não te vi chegar. Podia ter me acordado, não?
-Até pensei em te acordar, mas você tava dormindo tão pesado que eu não quis incomodar. Fiquei cuidando da nossa filha enquanto isso.
-Sabe, Fábio... em qualquer outro momento, eu teria ficado puta da vida de você ter vindo aqui... mas desde que a Arlete nasceu eu parei pra repensar um monte de coisa...
-Espero que tenha se dado conta pelo menos de que nem pra mim tá colando mais a desculpa da sombra da morta...
-Pois é... eu fui meio idiota com você nesses últimos tempos, né?
-Meio idiota? Totalmente, desculpa a franqueza!
-Você tem mais é que me dizer o que realmente pensa, na minha cara... eu me achava tão madura e ainda tenho tanto pra aprender, sabe?
-Ah, Cris... esse é o maior sinal de maturidade. Ser humilde e reconhecer que temos muito a aprender sempre...
-Você perdoa essa cavalona que eu sou? Porque apesar de tudo o que a gente passou, apesar de todo o medo que eu ainda sinto, eu ainda te amo... e quero tentar de novo com você...
-É o que eu mais queria ouvir, Cristina... eu esperei esses meses todos só por isso.
-Então você me dá essa chance?
-Você me dá essa chance de te fazer feliz?
-Claro que sim, Fábio. Eu te amo!
-Então nós estamos juntos. Promete que não me deixa nunca mais?
-Nunca mais é tempo demais... mas prometo estar com você enquanto houver amor...
Os dois se beijam, apaixonados. CORTA A CENA.
CENA 6: UMA SEMANA DEPOIS.
Flavinho retorna ao trabalho e é surpreendido por uma recepção surpresa preparada por Daniella e Gustavo na sala de Cristina, ocupada por Daniella.
-Gente... precisava de tudo isso? - emociona-se Flavinho.
-Claro que precisava, bobo! - fala Daniella.
-Agora tou entendendo vocês dois de segredinhos esses dias antes de eu voltar... era isso então que ocês dois tavam tramando, não é? - percebe Flavinho.
-Sim. Nada mais justo do que a gente preparar uma festinha pra receber de volta o meu melhor amigo e o melhor enfermeiro que essa clínica já viu! - fala Gustavo.
Flavinho fica ainda mais emocionado.
-Ô, gente... desse jeito eu nem aguento... - fala Flavinho.
Daniella percebe que há tristeza na emoção de Flavinho.
-Engraçado, querido... eu posso jurar que tem uma pontinha de tristeza aí... - observa Daniella.
-Ai, gente... vocês estão sendo ótimos, maravilhosos... mas eu sinto falta da Bernadete, sabe? Eu sei que ela não quer mais saber de mim... que me despreza e que acha que tudo o que eu sou é uma abominação... mas eu ainda amo a Bernadete como se fosse uma mãe... - fala Flavinho.
-Tudo bem se sentir assim, meu amigo... - fala Gustavo.
-Gustavo, querido... se importa de verificar se tá tudo certo com as crianças do trezentos e cinco? - fala Daniella.
-Sem problema, tou indo lá... - fala Gustavo, se retirando.
Daniella se volta para Flavinho.
-Ei. Vem cá... não precisa segurar o choro, querido... bota pra fora... as emoções devem ser vividas, jamais represadas...
Flavinho chora nos braços de Daniella.
-Me machuca demais, Dani... eu podia ter morrido no atentado e a Bernadete nem pra perguntar como eu estou. Nem uma única ligação ela fez. Simplesmente deixei de existir pra ela a partir do momento que ela soube que eu era o namorado do filho dela que morreu... ocê tem noção do tanto que isso me machuca?
-Eu não sei... mas posso compreender e imaginar, meu querido. Sozinho, você nunca vai estar, viu? Eu e o Gustavo, além da Valéria, obviamente, vamos estar sempre por perto. Ei, querido... sorria! Olha essa festinha que a gente fez pra te receber aqui de volta! Pode ser pouca coisa, mas foi feito de coração. E a gente só fez isso porque te ama. E muito, viu? A gente nunca vai deixar você ficar sozinho ou desamparado... e quando se sentir triste, lembra disso, tá?
-Obrigado exatamente por isso, Dani... sem vocês, eu sinceramente não sei mais o que seria da minha vida...
-Melhor nem pensar. Vem cá que eu ainda nem mostrei os brigadeiros que eu comprei.
-Não brinca! E são aqueles que tem morango junto?
-Exatamente!
Flavinho se empolga. CORTA A CENA.
CENA 7: Valéria vai à sala de Giovanna quando ela está sozinha.
-Pediu pra me chamar, Giovanna? Algum apontamento a ser feito?
-Todos os apontamentos possíveis, Valéria.
-Uai, meu artigo foi tão ruim assim?
-Sabe que não? Você até que é talentosa, garota... mas não é exatamente sobre a sua coluna na revista que eu quero falar com você...
-Então é sobre o que, Giovanna? Vá me desculpar, mas eu não acho que eu e você tenhamos qualquer assunto em comum que não seja relativo ao meu cargo na revista da agência...
-Te chamei pra te dar um aviso, mineirinha folgada: você não vai ter folga comigo, porque eu não vou te deixar em paz.
-Isso é uma ameaça, Giovanna? Seja mais específica, porque eu não tenho medo de bravata, tá me ouvindo?
-Não vou facilitar sua vida. Nem aqui, nem em nenhum lugar.
-Pois eu pago pra ver...
-Eu não pagaria.
-Era só isso, fofa?
-Sim, amore. Pode ir pro seu computadorzinho rosa de pós-patricinha!
-E você, Giovanna, cuide da sua vida!
Valéria se retira e Giovanna sorri triunfante.
-Isso, garota... vai achando que eu sou inofensiva... vai achando! Você e o Hugo não perdem por esperar...
CORTA A CENA.
CENA 8: Leopoldo conversa com Hugo sobre Valéria e Leonardo.
-Então, meu filho... já sabe quando a Valéria vem com o Leozinho pra ver a gente outra vez?
-Ela falou comigo faz uns dois dias. Disse que semana que vem é sem falta.
-Ah, então cê já ficou sabendo que ela é a mais nova colunista de comportamento da Natural High Magazine...
-Que? Que história é essa, pai?
-A Valéria não te contou? O Mauro descobriu o talento dela e colocou ela no lugar da Laura Guerra, que se desligou da revista...
-Gente... a Valéria não me contou nada disso...
-Que cara é essa que cê ficou, filho?
-Não gostei dela não ter me contado isso. Me deu uma sensação estranha de que tou deixando de fazer parte da vida dela...
-Para com isso, filho... cê sabe que não tá sendo nem um pouco fácil pra ela passar esse um ano lá...
-Será? E se ela estiver gostando? Até emprego o “sogrinho” já conseguiu...
-Deixa disso, filho... esse um ano vai passar e ela vai voltar pra gente.
-Quero muito que você esteja certo, pai... mas tou com medo que estejamos os dois errados sobre isso...
CORTA A CENA.
CENA 9: Bernadete, sentindo falta de Leonardo, acaba indo ao quarto dele/de Flavinho mais uma vez e pega o diário do filho para ler mais um trecho.
“Morro de medo de que minha mãe um dia saiba de tudo o que eu sou e deixe de me amar por conta disso. É triste viver desse jeito... sabendo, em meu íntimo, que não estou fazendo nada de errado, mas ao mesmo tempo morrendo de medo que as pessoas que eu amo saibam que eu sou gay. Eu não queria me esconder desse jeito... mas acabo encontrando nesse esconderijo meu único refúgio pra ainda ter o amor da minha família... meu maior medo é descobrir que o amor da minha mãe, ao contrário do que ela diz, não é incondicional. A isso, eu não sei se sobreviveria...
Todos os dias me acordo fingindo que ela e todos já sabem quem eu sou. Mas assim que saio do meu quarto, a realidade da vida me estapeia... e eu volto a ser esse cara... escondido dentro de mim mesmo...”
Bernadete fecha o diário e chora. CORTA A CENA.
CENA 10: William vai, acompanhado da babá, à orla de Copacabana com o filho.
-Cláudia, ocê passou o protetor solar especial no meu filho?
-Passei sim senhor.
-Ótimo. Deixa ver se tá tudo certinho aqui... maravilha. Você é uma ótima babá, sempre muito cuidadosa e competente.
-Ah, seu William... nunca tive filhos, mas sempre amei cuidar dos meus sobrinhos quando eles eram pequenos...
-Querida, vai comprar alguma coisa pra você tomar, debaixo desse sol ninguém aguenta a seco.
Cláudia pega dinheiro de William e parte em direção ao vendedor de picolé. Nesse mesmo momento, Giovanna se aproxima do carrinho de Leonardo e o paparica.
-Olha, que coisa mais fofa, que coisa mais amada. É mesmo a cara do papai!
William percebe se tratar de Giovanna e reage imediatamente.
-Se afaste do meu filho, Giovanna. Agora!
FIM DO CAPÍTULO 106.
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