quarta-feira, 30 de novembro de 2016

CAPÍTULO 15

CENA 1: Flavinho procura tranquilizar Leonardo, mas se preocupa com presságio dele.
-Ei, amor... fica calmo, tá? Não tem nada errado. A sua mãe tá viva, vocês ainda vão se ver, tenho certeza disso.
-Queria ter essa sua certeza, Flavinho. Quando penso na minha mãe, dá um aperto no peito... uma sensação de que tem alguma coisa, sabe? Maior que eu, maior que você, maior que ela... maior que todos nós.
-Não será a sua consciência pedindo por algo que você tá negando?
-Onde você quer chegar com esse papo, amor?
-Simples, Leo... você com certeza ficou abalado com a vinda do seu pai aqui, apesar de todos os insultos dele e da postura que ele costuma ter. E sabe também que, apesar de todas as diferenças entre vocês, ele não brincaria com um assunto tão sério quanto a saúde da sua mãe.
-É isso que me apavora, Flavinho... e se não der tempo de eu ver minha mãe? E se ela for embora antes? Como eu vou fazer pra lidar com remorso?
-Eu acho que pra começo de história, você devia ser menos cabeça dura e aprender a dar o braço a torcer pro seu pai.
-Você sabe o que isso significa. Eu teria que sustentar uma mentira. Fingir que você não é nada na minha vida. Fingir que eu sou alguém que não existe nem nunca existiu.
-De qualquer forma, seria apenas por uns dias, não seria? Se eu fosse você, pensava seriamente em ir ao Rio ver sua mãe.
-Sim, amor... mas se coloca no meu lugar: por mais que eu ame minha mãe e me preocupe com ela, você imagina como eu ia me sentir sufocado com tudo isso?
-Claro que imagino. Mas se for esse o preço pra ver sua mãe... e se a saúde dela piorar, já pensou nisso? E se ela só estiver esperando você chegar pra poder ir embora tranquila e feliz?
-Ai, Flavinho... você falando uma coisa dessas? Nossa...
-Amor... vamos ser realistas, por favor? Tem anos que sua mãe sofre do coração... e você sabe que ela pode não resistir.
-Tá... eu sei que eu preciso ir ao Rio.
-Então vai, amor. Vai ser importante pra você... mas vai ser muito mais importante pra sua mãe.
-Vou precisar organizar todas as coisas. Não posso simplesmente sair pra passar sei lá quantos dias fora sem deixar tudo no seu devido lugar.
-A gente pensa nisso, Leonardo... eu te ajudo.
-Eu queria casar com você antes. Oficializar diante da lei o que nós já somos. Garantir seus direitos caso alguma coisa aconteça.
-Nada vai acontecer, amor. A gente pode pensar no casamento depois de tudo... a prioridade agora é você dar um jeito de ir ao Rio e matar as saudades da sua mãe. Quem sabe, ela até melhore do coração, já pensou?
-É o que eu mais quero, amor... imaginar minha vida sem minha mãe é uma coisa que ainda não me faz bem...
-Um dia vai acontecer. Mas não vai ser agora... você vai ver. Agora tenta ficar tranquilo e dormir, tá? Eu te faço um chá... senão amanhã você vai estar cansado e cheio de olheiras.
-Nem me fala. Tem dias que me sinto quase um vampiro.
-Bobo... eu vou ali fazer seu chá. Volto já.
CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Valéria faz compras no supermercado quando é surpreendida por Patrícia no mesmo corredor.
-Valéria, quando tempo, menina! Como vai?
-Oi, Pati... quanto tempo mesmo, hein? Nem sabia que ocê tinha voltado pra BH... achei que andava longe daqui.
-E tava mesmo, menina, até outro dia. Tava no Rio...
-Que? Sério isso? Então o que o meu irmão disse faz todo sentido...
-Você sabe que não minto procê, não sabe?
-Sim, Patrícia. O que você andou aprontando dessa vez?
-Eu precisava ver Gustavo. Falar com ele... dizer que não posso viver sem o amor dele.
-Ai, menina... eu gosto docê... mas não dá pra te defender desse jeito. Não pode ser desse jeito...
-Só quem ama como eu consegue entender, Valéria... no dia que ocê amar de verdade, vai saber que por amor se faz qualquer loucura.
-Não, Pati... amor e loucura não são sinônimos. O Gustavo terminou com você antes de ir embora. Já tem mais de três anos... custa você levar a vida adiante?
-Como, Valéria? Como? Eu sou sozinha no mundo como vocês...
-Aliás... de onde você tirou dinheiro pra viajar?
-Tenho minhas economias, cê sabe disso...
-Amiga... você é jovem, bonita. Tem uma vida inteira pela frente. Pra que perder tempo e energia indo atrás de alguém que não te quer?
-Pensei que ocê estivesse do meu lado.
-Mas eu tou! E é por estar ao seu lado que não posso mentir procê, entendeu? O Gustavo não quer mais você. As coisas mudam o tempo inteiro...
-Mas o que eu faço com esse amor dentro de mim? Como ele me deixa mesmo sabendo que nunca amei ninguém nessa vida além dele?
-Tenta transformar esse amor numa coisa boa, Patrícia... pelo menos tenta.
-Eu só queria poder ter ele sempre perto de mim.
-Querida... as pessoas não são objetos. Ninguém realmente pertence a ninguém.
-Cê sabe se ele trocou o celular? Não consigo mais mandar mensagem pra ele. Voltam todas...
-Não tou sabendo de nada, Pati...
-Ocê não tá me mentindo, tá? Se eu souber que é mentira... sei não.
-Chega, Patrícia. Eu não sei de nada, de verdade. E mesmo que soubesse, se ele trocou de celular, quem deve passar o novo contato é ele, não eu.
-É, mas aquela vez você me deu o contato dele...
-Dei. Porque achei que você só queria conversar com ele...
-Ah, então ele te contou que eu mandei aquelas mensagens...
-Ele é meu irmão, Patrícia, cê queria o que? Que ele não me contasse? A gente só tem um ao outro nessa vida, mulher! Agora me dá licença que eu ainda preciso comprar um monte de coisa pra semana, tá?
-Não fica triste comigo, Valéria... eu gosto de ser sua amiga.
-Eu sei. Pena que você não é sua própria amiga. Outra hora a gente se fala, com mais tempo...
Valéria segue com o carrinho e Patrícia chora. CORTA A CENA.

CENA 3: Arlete e Fábio retornam ao Brasil e chegam ao apartamento deles em segredo.
-Nossa... vai dar uma trabalheira danada dar conta de organizar tudo de novo com esse monte de coisa que comprei lá na França...
-Bem que eu avisei, Arlete. Esse apartamento pode ser grande, mas não é fácil de achar lugar pra tudo.
-Se bem que depois, tudo vai ficar mais ainda com a nossa cara. Só de imaginar que logo a gente vai se casar e que essa vai ser a casa que a gente vai ser feliz... nossa, minha cabeça vai longe...
-Não é só a sua, meu amor... fico imaginando você grávida daqui algum tempo... e daqui mais um tempo com nossa filha andando por aí...
-Você insiste nessa coisa, né Fábio?
-Que coisa?
-De enfiar na cabeça que nosso primeiro bebê vai ser uma menina.
-Vai ser, Arlete... você vai ver.
-Deu pra bancar o profeta agora? Olha que dizem que o que pega de verdade é profecia de mãe... e como logicamente você não pode ser mãe...
-Boba! Independente do que vier, a gente vai ser uma família feliz...
-Disso não tenho a mínima dúvida.
-Bem que a gente podia deixar essa arrumação pra depois, né? De repente me bateu uma saudade da nossa cama...
-Sabe que também me bateu? Acho que ela deve estar sentindo nossa falta, também...
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 4: Elisabete conversa com Maurício sobre dificuldade em aceitar que o casamento com Fábio chegou ao fim.
-Olha, filho... eu sei que você deve estar cansado de eu insistir nesse tema, mas se eu não desabafar com você, não desabafo com mais ninguém...
-É sobre o pai, de novo?
-Queria que não fosse, Maurício... mas é.
-Fala, mãe... é melhor botar pra fora sempre que puder. Muita coisa foi represada nesses últimos anos e é por isso que as coisas chegaram onde chegaram.
-Ai, meu filho... é tão difícil, tudo isso... sabe, eu realmente acreditei, durante a minha vida toda, que casamento era coisa feita pra durar toda vida. Seus falecidos avós sempre me ensinaram isso. E sempre acreditei que valia tudo, absolutamente tudo pra manter o casamento.
-É, mãe... eu entendo você. Você não tem culpa pela criação que recebeu. Deve ser um choque pra você perceber que aquele mundinho perfeito inventado pelos meus avós nunca existiu.
-Não sei se é bem um choque, filho... mas dói ver que a vida real não é como a gente quer.
-Ah, mãe... isso é comum. A gente é jogado na vida adulta sem preparo pra isso. A gente acha que ser adulto significa ter controle de tudo. De todos... talvez seja nisso que a gente se perca.
-E eu me perdi, Maurício... me perdi de uma maneira que simplesmente não sei reconhecer mais quem eu vejo diante do espelho. Quem eu sou? Quem é Elisabete? Uma mãe, uma mulher que nunca aprendeu a viver sem o marido? Qual é meu propósito nessa vida? Eu me sinto fracassada como mulher, meu filho... e não queria me sentir assim, mas é o que sinto.
-Mãe... a gente não precisa de uma resposta pronta pra tudo. Todos nós temos dúvidas, medos, inseguranças... algumas pessoas só disfarçam melhor. Vai por mim...
-Isso não consegue tirar de mim essa sensação de fracasso. Como mulher, como pessoa... simplesmente não sei quem sou. Ou qual é minha função na vida, ou na vida das pessoas.
-Pra mim você é uma mãe. Uma guerreira... uma pessoa boa.
-Será que isso é suficiente, filho? Ainda me sinto fracassada como mulher.
-O que é ser mulher, mãe? Quem te disse o que é ser mulher?
-Eu não sei dizer, Maurício... e é isso que me deixa ainda mais inquieta.
-Tá vendo, mãe? Você não é um fracasso.
-Mas me sinto assim... é mais forte que eu.
-Isso vai passar. Pode acreditar em mim...
-Ah, filho... você é de ouro, sabia? Não sei o que ia ser de mim se não tivesse você pra me ouvir, me entender, me apoiar, me ajudar...
-Você ainda seria uma pessoa maravilhosa, nunca duvide disso.
Elisabete abraça o filho, emocionada. CORTA A CENA.

CENA 5: Nicole estranha maneira como Sérgio a encara.
-Ih, que cara é essa, Sérgio? Deu pra entrar em transe e me olhar com cara de acusador agora, é?
-Você sabe muito bem porque tou te olhando com essa cara.
-Não, não sei. Andei faltando o curso de vidente e a minha bola de cristal quebrou. Quer ser mais direto, por favor?
-Marilu, não seja irônica!
-E você não me chame por esse nome. Você sabe que meu nome é Nicole, pombas!
-Na sua identidade não é o que consta. Mas sabe de uma coisa? Isso combina com você: você é uma fraude.
-Como é que é? O que te deu pra falar uma coisa dessas? Pensei que a gente tava numa boa...
-Em que mundo você vive? Onde você andou nesses últimos dias que não viu tudo o que aconteceu na nossa família?
-Eu vi tudo o que aconteceu. Só não entendo o que isso tem a ver com você me tomando desse jeito. Dá licença que eu tenho mais o que fazer, Sérgio.
-Sempre assim. Você lava as mãos, sai pela tangente, não se envolve no que deveria se envolver.
-Sérgio, eu não sei exatamente que bicho mordeu você, mas você escolheu a pior hora pra dar esse ataque, sério...
-Você não entende o óbvio, Nicole: você não foi uma boa mãe.
-Com que direito você me fala uma coisa dessas, me diz? Foi você que carregou duas filhas por nove meses na barriga? Foi você que perdeu noites de sono pra dar a teta pra elas? Não! Porque você é homem! Não pode dizer que não fiz o suficiente por elas.
-Mas não fez. Deveria ter sido mais firme, mais enérgica.
-Olha aqui, a responsabilidade pela criação dos filhos não é só da mãe, não senhor! Se você pensa que não tem suas responsabilidades e prefere me culpar pelo que você acha que deu errado, não posso fazer nada.
-Que eu acho que deu errado? Olha o que a Cristina e a Daniella se tornaram!
-O que? Duas mulheres fortes que sabem o que querem? Que não tem medo de encarar as consequências das próprias escolhas? Não seja hipócrita, Sérgio. Você já foi jovem um dia...
-Não tem condição de falar com você, Marilu. Você não percebe que tá destruindo a vida das nossas meninas.
-Meu nome é Nicole! E a vida delas não está destruída. A única coisa que tá caindo por terra aqui é esse seu machismo tardio. Dá licença, Sérgio, tenho realmente mais o que fazer.
CORTA A CENA.

CENA 6: Anoitece. Valéria resolve contar a Flavinho e Leonardo sobre abordagem de Patrícia, antes do jantar.
-Meninos... desculpa cortar o clima de masterchef de vocês, mas... tou com um troço martelando na cabeça desde cedo... - fala Valéria.
-Uai, mais um problema? Achei que com o William dando o fora, a coisa tava mais tranquila... - fala Flavinho.
-Então, gente. É outra coisa... o Leonardo não conhece a Patrícia porque o Gustavo já tinha ido pro Rio quando vocês se conheceram, mas... - fala Valéria.
-Não me diz que aquela maluca da ex do seu irmão materializou de novo... - preocupa-se Flavinho.
-Apareceu, cê acredita? Continua obsessiva pelo meu irmão... - esclarece Valéria.
-Vocês nunca me contaram direito essa história. Essa garota é mesmo maluca? - questiona Leonardo.
-Não sei se é maluca, mas ela inferniza a vida do irmão da Valéria desde que ele terminou com ela... - esclarece Flavinho.
-Tento não julgar a Patrícia, mas não dá, gente... a atitude dela me assusta. Ela sempre vem querendo arrancar informações de mim. Tenho medo do que ela possa fazer comigo. - desabafa Valéria.
-Com você? Mas o negócio dela não é com seu irmão? Não faz sentido... - fala Leonardo.
-Não é diretamente comigo. Mas ela pode acabar me manipulando e eu sinto isso. E meu irmão me proibiu de passar qualquer informação sobre ele a ela. Tenho medo de trair a confiança do Gustavo... - esclarece Valéria.
-Tou ficando com a sensação que tá ficando insustentável você continuar aqui em BH, amiga... pelo menos, nos próximos tempos. - constata Flavinho.
-Gente, vocês me deixam confuso. Essa garota é tão ladina assim? - questiona Leonardo.
-Talvez não seja tanto. Mas não é justo com a Valéria mais essa fonte de preocupação justo agora. Os problemas já são muitos. Ei, amor... por que você não leva a Valéria com você pro Rio e deixa ela com o Gustavo? - propõe Flavinho.
-Não, gente... que isso? Tudo bem que meu irmão quer que eu vá morar com ele, mas assim, desse jeito, quase fugida? Sei não, gente... - fala Valéria.
-Flavinho tem razão quando diz que sua situação tá ficando ruim por aqui. E a gente quer seu bem, de coração. Se eu puder ajudar de alguma forma, faço questão de poder fazer isso por você... - fala Leonardo.
CORTA A CENA.

CENA 7: Daniella chega em casa furiosa e vai diretamente ao pai.
-Seu Sérgio, precisamos ter uma conversa séria. E você não vai me escapar.
-Olha aqui, garota: não é porque você tá no lugar da sua irmã na clínica que pode me tomar desse jeito, tá me ouvindo? Ainda sou seu pai.
-Eu falo com você do jeito que eu quiser. Preciso fazer você cair na real. Fiquei sabendo da palhaçada de discussão que você teve com a mãe hoje mais cedo.
-Vocês são sempre assim... fofoqueiras. Batem tudo umas pra outras. Se merecem.
-Chega, pai! Não se trata de fofoca, mas que saco! Será que você não percebe que não tem direito de apontar o dedo pra mãe, pra mim, pra Cristina ou pra qualquer outra mulher?
-Papo de feminista idealista... bobagem.
-Chega! Não é bobagem coisa nenhuma. Será que você não percebe como é injusto com a minha mãe? Com a Cristina, com todas nós?
-Fácil pra vocês se colocarem como vítimas da situação depois da merda feita.
-Que merda que foi feita, seu Sérgio? Me diz! Será que você não percebe a gravidade de tudo o que vem acontecendo nos últimos tempos? A Cristina corre o risco de ficar permanentemente cega e você prefere apontar as mulheres da famílias como culpadas de alguma coisa. Que espécie de homem você é, pai? Você nunca foi assim. Resolveu ficar conservador depois de velho, foi? A Cristina não era a sua queridinha? Onde foi parar essa porra dessa predileção, hein?
-Não fale o que você não sabe, minha filha. Não tenho predileção por nenhuma de vocês...
-Pra cima de mim esse papo não cola. Pai, eu sei que você me ama. E é normal a gente preferir um filho em detrimento do outro. Só que não é normal a gente lavar as mãos e colocar toda a culpa em alguém pra não encarar o fato de que as pessoas continuam sendo livres, querendo você isso ou não.
-Desculpa, filha... eu realmente não pensei que chegaria a esse ponto.
-Não é a mim que você deve desculpas... é à mãe. E deve pedir desculpas pra Cristina também, viu?
-Vou dar um jeito nisso agora mesmo...
-Como é que é?
-Você vai ver, filha...
CORTA A CENA.

CENA 8: Nicole e Sérgio se abraçam depois que ele lhe pede desculpas por tudo.
-Eu não gosto que a gente brigue, Sérgio... só tava esperando que você reconhecesse o erro e me pedisse desculpa...
-Sei que eu errei, amor... nossa filha me abriu os olhos pra isso. Às vezes a gente se torna o oposto do que era e isso é assustador...
-De qualquer forma, já passou. Fico tranquila que você reconheça tudo isso, é melhor pra você, antes de ser melhor pra gente...
-Não passou totalmente. Eu vou ver nossa outra filha.
-Mas agora?
-Não posso esperar. Preciso ir agora mesmo na casa do Leopoldo e da Bernadete.
-Quer que eu vá com você?
-Não precisa. Eu preciso resolver isso sozinho, a sós, com nossa filha...
CORTA A CENA.

CENA 9: Leonardo conversa com Flavinho sobre planos de ir ao Rio visitar sua mãe.
-Amor... eu preciso falar com nossos chefes.
-Pra que?
-Ora, pra que... pra conseguir o suficiente de folgas extras pra viajar com tranquilidade pro Rio...
-Verdade... não tinha pensado nisso antes. Vai dar tudo certo, você vai ver...
CORTA A CENA.

CENA 10: Sérgio, já na mansão dos di Fiori, acaba escutando acidentalmente conversa entre Giovanna e Hugo.
-Fico muito tranquila de saber que no final das contas tudo voltou pro lugar.
-Nem me fale, Giovanna. Dessa vez tou disposto a tudo. Se a Cristina prefere ficar cega, é até melhor assim. Dependendo completamente de mim...
Sérgio se aterroriza com as palavras de Hugo. FIM DO CAPÍTULO 15.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

CAPÍTULO 14

CENA 1: Hugo permanece sem palavras e Cristina se preocupa.
-Olha... se eu vim numa hora ruim, eu vou entender, tá?
-Calma, Cristina... entra, por favor. Se você preferir, a gente sobe até meu quarto pra essa conversa ficar só entre nós.
-Prefiro, Hugo. Ainda não tenho cara pra encarar de frente os seus pais. Sei que eles devem estar com raiva de mim e não posso julgá-los por isso...
Os dois sobem ao quarto de Hugo.
-Eu queria antes de mais nada te pedir perdão por tudo, Hugo...
-Não precisa pedir perdão outra vez, Cristina. Você sabe que eu já passei uma borracha nisso tudo.
-É que minha consciência pede por isso. Eu fiz muita besteira. Coisas que eu mesma, olhando de fora, não saberia perdoar.
-Mas nada de se culpar por isso, viu, meu amor?
-Meu amor?
-Sim. É isso que você é pra mim, Cristina. Que se danem as convenções... que se dane o que os outros possam dizer ou pensar. Você ainda é meu amor.
-Então você realmente tá disposto a me aceitar de volta?
-Sempre estive, Cristina. Basta você querer.
-Claro que eu quero! Só não sei se mereço tanto! Devo ter nascido com a bunda virada pra lua, mesmo... não mereço tanta sorte...
Hugo beija Cristina.
-Você é o melhor cara que já conheci nessa vida... sem exagero. Tenho muita sorte de ter te conhecido, de verdade...
-Eu que tenho sorte, Cristina. A sorte de poder aprender com você que as pessoas são livres. E que não existe nada de errado com isso.
-Livres? Não sei, Hugo... a gente tenta ser. Mas são tantas as prisões nessa vida...
-A única prisão que quero com você é nosso casamento.
-Você tá falando sério, Hugo? Depois de tudo o que te fiz passar?
-E por que não? A gente tem tanta coisa em comum... nós funcionamos como uma dulpa. Não precisamos da paixão avassaladora porque já passamos dessa fase da vida. Não vejo nada demais em manter meu casamento com você.
-Mas e seus pais? E o seu Leopoldo, principalmente? Sempre todo católico, quase carola... sei não, viu?
-Deixa que com meus velhos eu me entendo, pode ser?
-Se você diz...
-Então... você ainda não me respondeu. Quer casar comigo, ainda?
-Claro que sim, Hugo! Chego a achar isso uma doideira, parece um sonho bom... no final das contas, tá tudo exatamente no mesmo lugar de antes! Eu aceito casar com você, meu querido...
Cristina beija Hugo.
-Agora o jeito vai ser contar a novidade pras feras... e esperar pela reação deles...
-Ai, Hugo... só espero que isso não termine em confusão.
-Confusão? Duvido muito. Dona Bernadete prefere arrancar o mindinho a ter que levantar a voz, vai por mim...
-Se você tá me dizendo... eu confio.
-Alguma vez dei razão pra você não confiar? Então fica relaxada...
-E a data do casamento, quando vai ser?
-A gente decide isso mais adiante.
-Concordo. Afinal de contas, a gente ainda vai precisar de algum tempo pra domar seus pais...
-As feras, você quer dizer.
-Bobo... você vai ver como tudo vai serenar...
CORTA A CENA.

CENA 2: Bernadete se choca com a notícia de que Hugo ainda se casará com Cristina e vai ao pátio da mansão, em silêncio.
-Hugo... você nem tente me impedir. Eu preciso falar com a sua mãe. Ela precisa entender meus motivos...
Cristina vai atrás de Bernadete, que tenta se esquivar.
-Por favor, dona Bernadete... eu preciso que a senhora me dê pelo menos cinco minutos.
-Cinco minutos, Cristina? E o tempo que você passou sumida, porque resolveu que era uma boa ideia fugir com o seu ex e deixar meu filho chupando dedo e ainda aguentando fama de corno? Eu não devia nem te dar cinco segundos, garota...
-Eu sei que eu errei, de verdade. Mas preciso que você procure pelo menos tentar entender meu lado.
-Pois então fale. Você tem cinco minutos pra me convencer.
-Não piora as coisas, dona Bernadete... não tem sido nada fácil tudo isso pra mim.
-E você não perca tempo, garota. Agora você tem pouco mais de quatro minutos e meio.
-O Vitório foi o grande amor da minha vida. De certa forma, ainda é. A gente se conheceu quando eu era adolescente ainda. Antes do Hugo, Vitório tinha sido meu único homem, se é que você me entende. A gente planejava casar... morar junto, que fosse. Tínhamos muita química e muita parceria, muita cumplicidade. De repente Vitório some... não dá notícias por três anos. Eu fico sem saber se ele tá vivo ou morto, durante todo esse tempo. E então ele ressurge... dias antes de eu casar com o seu filho. Minha primeira reação foi mandar ele pra longe, depois do choque. Mas ele foi me cercando, argumentando, me convencendo a dar uma chance pra ele. Aceitei a proposta dele de fugirmos juntos... eu fui covarde, dona Bernadete... eu admito isso. Não tive coragem de encarar as coisas, de romper com o Hugo, de fazer as coisas pelo lado certo. Só que no meio disso tudo, minha visão começou a se deteriorar... rapidamente. Eu tenho uma doença degenerativa, rara em pessoas da minha idade... eu vou ficar cega, dona Bernadete: tenho degeneração macular relacionada à idade exsudativa... num caso raro de precocidade. Rompi com Vitório porque ele tinha uma visão contrária à minha sobre as opções de tratamento. Percebi que ele podia ser frio e cruel... e aos poucos me arrependi da sandice que fiz quando fugi com ele. Por favor, dona Bernadete... tenta entender! Não precisa perdoar, só precisa de um pouco de empatia.
Bernadete se emociona.
-Sabe, Cristina... você me lembra demais sua mãe... e Nicole é uma querida amiga minha... desde que somos muito jovens. Eu não sei se é a coisa certa, mas não me resta outra alternativa senão te perdoar.
As duas se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 3: Valéria recebe Flavinho e Leonardo quando eles chegam em casa, apreensiva.
-Oi, gente... como foi o dia docês?
-Teria sido melhor, Valéria... Flavinho me contou que você foi demitida. A gente precisa conversar sobre isso, antes de mais nada... - fala Leonardo.
-É, Valéria... a verdade é que esse trem complicou a vida de todos nós... - complementa Flavinho.
-Ai, meninos... eu nem sei o que dizer. No final das contas essa coisa toda ainda acaba prejudicando todos nós... desculpa, gente. Não imaginei que o salão estivesse tão mal, senão tinha procurado outro emprego antes. Mas agora com essa gravidez, ninguém vai querer me contratar... - desabafa Valéria.
-Calma, querida. Nós somos uma família. Família tem dessas coisas: momentos bons e momentos ruins, fáceis e difíceis. A gente vai encontrar um jeito, uma maneira de sair desse buraco que começa a se abrir diante dos nossos pés. - fala Leonardo.
-Eu acho que a gente precisa de um jeito de resolver isso de uma forma que não prejudique vocês. Não ia ser justo, meninos... essa casa, tudo o que vocês conquistaram, sabe? É de vocês, muito mais do que meu... - fala Valéria.
-E por que você não fala com o Gustavo, Valéria? Ele é seu irmão... precisa saber do que tá acontecendo. Vai poder ajudar de algum jeito, por mínimo que seja... - orienta Flavinho.
-Flavinho tá certo, querida: o seu irmão pode pelo menos aliviar o seu lado, o que já pode ser de grande ajuda, né? - fala Leonardo.
-Ai, gente... mas com que cara eu chego pro meu irmão e digo que tou precisando de dinheiro? Nem justo é... - fala Valéria.
-Justo pode não ser, mas ele é seu único parente vivo... - argumenta Flavinho.
-Verdade, Valéria... antes de mais nada você fala com ele. Vê como ele pode ajudar. Depois a gente pensa no que faz. Agora chega dessa conversa que eu vou preparar o jantar pra gente hoje... - finaliza Leonardo.
CORTA A CENA.

CENA 4: Fábio percebe, no meio da madrugada, que Arlete não consegue dormir.
-De novo com essa insônia?
-Pra variar, amor... achei que essa mudança de fuso ia ajudar, mas na verdade só piorou as coisas...
-Engraçado, Arlete... eu posso jurar que essa testa franzida não é só pela insônia.
-Você não vai levar a mal se eu disser uma coisa? Juro que não é pra fazer desfeita com esses dias maravilhosos que a gente tem passado aqui...
-Claro que não vou levar a mal, querida. Até parece que você não me conhece, Arlete...
-Ando sentindo muita saudade do Brasil. Do meu Rio de Janeiro... de tudo. Sentindo uma vontade louca de arrumar minhas coisas e me mandar de volta...
-Eu imaginei que você me diria isso, amor...
-Sério que imaginou?
-Sim, boba... você é fácil de ler.
-E você não ficaria chateado se a gente antecipasse a nossa volta ao Brasil?
-Por que ficaria, Arlete? Essa foi nossa primeira de muitas viagens. E ainda nem chegamos à nossa lua-de-mel, que vai ser infinitamente melhor. Temos o resto das nossas vidas pra aproveitar... juntos, como marido e mulher. A mim realmente não importa se é em Paris ou em Copacabana... de verdade.
-Você não existe, Fábio... não tem como não te amar. Nem quando eu acho que você vai ficar chateado, você fica...
-Besteira, meu amor... o mundo não gira em torno de mim. Uma relação é feita de troca, de companheirismo, de compreensão. Você quer voltar pro Brasil ainda hoje? Porque se quiser, a gente pode ir arrumando as nossas coisas agora mesmo e ir pro aeroporto.
-Cê tá falando sério? Porque por mim, eu ia embora pro Brasil agora mesmo...
-Então tá mais que resolvido... a gente vai voltar.
-Só queria te pedir uma coisa, querido: não vamos avisar ninguém, pode ser? Quero aproveitar ainda mais uns dias com você, no nosso apartamento... como se não existisse mundo lá fora...
-Então tá feito... vai ser isso.
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 5: Cristina fica na mansão dos di Fiori para o jantar, na presença de Hugo, Bernadete, Leopoldo e Giovanna.
-Preciso agradecer do fundo do meu coração essa nova acolhida, queridos... tenho mais sorte que mereço nessa vida, mesmo estando condenada a ficar cega... - fala Cristina.
-Você só fica cega se quiser, não é, Cristina? Pelo que entendi, existe a opção do transplante experimental... arriscado, mas é uma chance, não é? - questiona Leopoldo.
-Não quero entrar em aprofundamentos sobre essa questão, meu sogro... mas basicamente essa é uma questão que coloca um conflito imenso na minha cabeça. É a minha ética brigando com a lógica. Pode ser que amanhã ou depois eu mude de ideia, mas nesse momento, minha decisão é de não fazer o transplante. E de fatalmente ficar cega com o tempo. - afirma Cristina.
-Mas isso não é uma sandice? Cristina, você é mais jovem que eu. Não deveria ser tão conformista... - fala Giovanna.
-Independente de qual for a decisão final da Cristina, eu já decidi que vou fazer o possível pra ver ela feliz. Nem que pra isso eu seja os olhos dela... - fala Hugo.
Todos seguem conversando enquando Giovanna observa a tudo, se sentindo vitoriosa e se afastando da mesa, a murmurar consigo mesma.
-A tonta ainda se acha esperta... mal sabe que tá tudo saindo como eu planejei...
CORTA A CENA.

CENA 6: Instantes depois, Cristina pede para conversar a sós com Giovanna.
-Nossa, o que cê tem pra dizer que não pode falar perto do Hugo, Cris?
-Sabe o que é, Giovanna? Minha consciência anda pesando pra caramba, mesmo sabendo da sorte que tenho.
-Não tou entendendo... pesando por que?
-Porque eu sinto como se eu estivesse ainda mentindo, enganando todo mundo. Vivendo uma farsa... só que essa farsa parece que faz todos felizes.
-Mas que farsa, mulher? Tá tudo mais que esclarecido, depois de toda essa tempestade...
-Tirando o fato de que eu não amo o Hugo... não o suficiente.
-Mas pelo menos ama. Já é um começo.
-Será, Giovanna? E depois, como é que vai ser? Claro que eu sei que devo ser grata por ele ser um homem tão compreensivo, por se dispor a ficar comigo pro que der e vier, mesmo comigo prestes a ficar cega... eu amo, sim. Mas me sinto uma farsante porque não amo suficiente. Meu grande amor, apesar de tudo, ainda é o Vitório.
-Bobagem, Cristina... amor se constrói com o tempo. Você vai ver.
-Que tempo, Giovanna? Já vai fazer três anos que conheci Hugo. Acho que já tive tempo pra construir um sentimento forte por ele. E tenho medo que só amizade e gratidão não sejam suficientes.
-Vai depender de você, minha amiga. Você é uma mulher sensata, não é? Então deve saber que melhor homem nesse mundo não existe pra você. O Hugo é um grande amigo meu, você sabe disso. Sei bem o valor que ele tem. Você deve ser sempre grata a isso... deixa que o resto é cuidado pelo tempo. Não precisa de uma paixão avassaladora pra ser amor.
CORTA A CENA.

CENA 7: Gustavo está num corredor da clínica esperando dar sua hora de ir embora quando seu celular toca.
-Oi, mana... que te deu pra ligar agora? Ainda tou no meu trabalho...
-Ai, Gustavo... espero não estar atrapalhando.
-De forma alguma, Valéria. Esses últimos minutos eu só fico cuidando de tudo antes do fechamento.
-Melhor assim... o que tenho a falar com você é um trem meio chato...
-Vixe... o que é, mana?
-Sabe o que é, mano? Eu fui demitida. O salão que eu trabalhava tá quase falindo. Só que tem mais coisa... cheguei a te contar que tava de namorado, certo?
-Sei... o William, não é esse o nome dele?
-Ele me largou. Eu engravidei dele... ele confessou que nunca foi pobre e me acusou de querer dar o golpe da barriga nele. Foi tudo muito traumático e no fim das contas acabei mentindo pra ele que não tem gravidez nenhuma, que foi só um alarme falso...
-Valéria... isso é grave. E agora, como vai ser? Você desempregada e grávida! Os meninos vão dar conta disso?
-É por isso que te liguei, mano... queria saber se tem como você me mandar um dinheiro pra eu pelo menos ter alguma coisa antes de ver o que fazer...
-Claro que posso te mandar esse dinheiro, Valéria... mas como vai ser depois, mana? Quem é que vai contratar uma grávida? Ainda mais em BH?
-Nem me fala, mano... não sei o que vai ser de mim a longo prazo.
-Pois vai precisar pensar. Agora você não é mais sozinha. Tem um filho ou uma filha pra se preocupar. Você quer ter esse bebê, não quer?
-Quero, sim... é louco, mas amei essa sementinha desde o primeiro momento.
-Mana... vem pro Rio. Você pode comprar uma passagem de ônibus com o dinheiro que vou te mandar pela conta corrente. Vem morar comigo no meu apartamento. Você não pode ficar sozinha...
-Mas eu tenho Flavinho e Leonardo...
-Sim, mas ocê acha justo com os meninos tirar do trabalho deles?
-Por esse lado... eu vou ver o que posso fazer, mano... não te respondo agora porque ainda preciso de um tempo pra ver como tudo se resolve.
-Se nada der certo, eu te espero aqui no Rio. Não se esquece disso. Te amo, baixinha...
CORTA A CENA.

CENA 8: William surpreende Flavinho e Leonardo ao surgir na casa deles durante jantar. Valéria fica na defensiva.
-Ói... se ocê veio aqui pra me pedir perdão e vir com um monte de desculpa furada e papinho de pobre arrependido, tá perdendo seu tempo, William. Quero mais nada com você, não... - fala Valéria.
-Calma, gente. Eu vim me despedir. - esclarece William.
-Como é que é? Se despedir? Tá com doença terminal? Se ocê veio nessa casa pra soltar mais uma mentira, vai embora da minha casa agora! - fala Flavinho.
-Eita! Cês querem deixar o William falar, por favor? - protesta Leonardo.
-Obrigado, Leo. Gente... eu sinto muito pela mentira que sustentei a todos vocês. Gosto de vocês todos, de verdade. Valéria sempre vai ser meu amor e vocês sempre vão ser bons amigos pra mim. Mas o fato é que eu vim, sim, me despedir. Estou de partida para a Inglaterra. Vou passar um tempo lá... não sei quando volto. Nem se volto. Preciso colocar algumas coisas no lugar, dentro de mim... aprender a ser menos mimado e desconfiado, quem sabe. Eu vim me despedir de vocês porque vocês significam uma coisa bonita pra mim... uma coisa bonita que eu, burro, não soube manter e joguei fora... a culpa é toda minha... - fala William, emocionado.
Valéria fica impactada com as palavras de William e resolve falar.
-Sabe, William... apesar de tudo, a gente viveu coisas boas. Apesar de todas essas suas mentiras que levaram ao fim do nosso namoro, eu te desejo sorte. E paz... só não te dou um abraço agora porque vou me acabar chorando e detesto despedida. Espero que você cresça. De verdade. - fala Valéria.
-Cara... você fez besteira. Das grandes. Mentiu pra todos nós, mas o pior de tudo foi ter questionado o caráter da Valéria na hora da raiva. Mesmo assim, acredito que você seja uma boa pessoa. Pelo menos, potencial para ser uma boa pessoa, você tem. Apesar de tudo, eu espero de coração que você possa melhorar, pra quem sabe um dia voltar e ressignificar tudo isso aqui. Aprender a tratar as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas tem ou não... - fala Leonardo.
-William... todos nós somos humanos. A gente erra. Pra caramba... e muitas vezes a gente erra querendo acertar. A vida tá te ensinando lições que você não deve ignorar. Seja feliz, meu amigo... e coloca um pouco de juízo nessa sua cabeça, viu? - fala Flavinho.
William, emocionado, abraça a todos e vai embora. CORTA A CENA.

CENA 9: Ao organizar as coisas após o jantar, Maria Susana se sente cansada.
-Ai, José... tou virada num chapéu velho de tão derrotada hoje... tudo bem você lavar a louça e colocar tudo no lugar?
-Que isso, querida... claro que posso!
-Eu quero ajudar, mãe. Posso ir com o pai? - pergunta Miguel.
-Claro que sim, meu filho!
José e Miguel vão à cozinha para lavar a louça e Maria Susana os observa. José ri da maneira que Miguel pega os talheres para colocar na pia.
-Não, meu filho... não é assim que pega. Deixa o pai mostrar, ó: as colheres você pega por aqui, tá vendo?
-Ai pai... isso é tão difícil. Como é que vocês lembram de tudo?
-Ah, filho... a gente não nasce sabendo das coisas. Mas depois que aprende, não esquece mais como faz. Ó, presta atenção aqui: as facas você pega sempre com as pontas voltadas pro lado de fora, tá vendo?
-Sim, pai...
Maria Susana se emociona ao ver interação entre pai e filho. CORTA A CENA.

CENA 10: Flavinho percebe que Leonardo não consegue dormir e se revira de um lado pro outro na cama.
-O que te deu, amor? Insônia depois de tanto tempo?
-Pra você ver, Flavinho... nem eu esperava sentir mais essa coisa...
-Podia jurar que tem alguma coisa fervendo aí na sua cabeça.
-O que poderia ser? Acho que fiquei meio mexido com o William se despedindo da gente... acho que isso mexeu mais com a Valéria.
-Eu te conheço, Leo. Você não quer me dizer, mas sua preocupação é outra.
-Não consigo esconder nada de você... nem adianta tentar. É que tou com um pressentimento ruim com a minha mãe. Com a sensação de que nunca mais vou ver ela nessa vida...
Flavinho se assusta. FIM DO CAPÍTULO 14.