terça-feira, 28 de março de 2017

CAPÍTULO 116

CENA 1: Giovanna encara Valéria triunfante. Valéria insiste na pergunta.
-Fala pra mim, Giovanna. Ocê tá grávida depois de todo esse tempo?
-Não, sua boba... eu poderia estar. Até achei que tava, acredita?
Cláudia se retira, assustada com Giovanna. Valéria segue conversa com Giovanna.
-Então que história foi essa de falar o que ocê disse pra Cláudia? Aliás, o que foi você ameaçando a Cláudia?
-Ai, Valéria... cê me dá uma preguiça enorme com essa sua mania de achar que sempre sabe de tudo, mineirinha pretensiosa...
-Deixe de evasivas. Por que ocê disse que é mãe? Teve filho perdido na juventude e escondeu isso de todo mundo, foi?
-Ai, você me cansa, garota. Não tenho filhos. Ainda.
-Nem vai ter, pelo visto. Afinal de contas, levou um mais que merecido pé na bunda do Ricardo.
-Ui, olha ela! Dona de todas as verdades e da moral do mundo. Se enxerga, sua oportunista! Olha bem pra onde cê tá, garota. Na casa do avô do seu filho. Aceitou por dinheiro.
-Não seja maldosa, Giovanna. Não tente virar o jogo. Se eu vim parar aqui, foi pra salvar a minha família da falência completa.
-Que família? Você só tem o giletão do seu irmão de família...
-Se engana, Giovanna. Eu tenho uma família de coração, mas disso ocê não entende, né?
-Que seja. Eu vou embora.
-Não antes de me explicar algumas coisas.
-E eu lá te devo alguma satisfação, garota?
-Deve quando chega na minha casa, parece ameaçar a Cláudia sem motivo aparente e ainda afirma ser mãe.
-Em primeiro lugar, baixa o seu tom de voz, Valéria. Em segundo lugar, eu não ameacei a sua empregadinha, babá, sei lá o que ela é... em terceiro lugar, eu posso ser mãe a hora que eu quiser.
-Difícil, viu?
-Tá me achando velha demais, Valéria?
-Não. Mas ocê acabou de separar, criatura!
-E daí? Não sou fraca, nem tou morta.
-O que ocê tá querendo dizer com isso, Giovanna?
-Opção pra engravidar não me falta.
-Ui, pra quem não queria ser mãe até outro dia, quer dizer que ocê anda pesquisando banco de sêmen agora? Quem diria...
-Não, tolinha... eu tou falando do corpo a corpo.
Valéria se enfurece, mas se contém.
-Isso tem a ver com aquela escapada com o Hugo?
-Também. Não só ele, mas muito homem nessa cidade... basta eu estalar meus dedos que eles babam por mim!
-Você se acha, né?
-Queridinha, olha pra mim: eu sou essa coisa que parece mais jovem, sou bonita pra caramba, gostosa pra danar. Que homem não ia me desejar? Sou mil vezes mais mulher que uma mineirinha tonta com cara de santinha feito você...
-Grande vantagem... pena que ocê não consegue nada pela honestidade.
-É o que veremos, queridinha. Agora eu vou embora mesmo, viu? Ou a garotinha tá com dúvida, ainda?
-Vai pro inferno, Giovanna. Some daqui.
-Difícil, eu sou amiga do seu quase sogro.
-Que seja. Mas não me dirija a palavra. Vá embora.
CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Flavinho vai logo cedo à sala de Daniella conversar com ela.
-Oi, Dani... atrapalho?
-De jeito nenhum, querido.
-Então... posso entrar?
-Claro. Fica a vontade.
-Daniella... eu queria saber se ocê pode me liberar mais cedo hoje...
-Ué, por que? O Gustavo já tá desfalcando a gente por duas semanas, não posso simplesmente liberar você sem saber o motivo, depois quem cobra de mim é a Cristina.
-Só que eu preciso ver uma coisa com urgência.
-Flavinho, é tanta urgência assim? Fala a verdade...
-Sim. Eu preciso achar um lugar pra ficar.
-Deixa disso, Flavinho! O Gustavo não disse que não precisa de nada disso?
-E ocê acha que eu fico como?
-Bem, se for por aquele dia, eu... eu sinto muito. Mas eu e ele não temos mais nada.
-Não tem nada a ver com aquele dia, Dani.
-Sua boca diz que não, mas seus olhos não dizem o mesmo...
-Tanto faz, Dani... não importa mais.
-Como que não importa? Passa a impressão que depois da situação toda, cê tá fugindo...
-Fugindo do que?
-Cê sabe muito bem, Flavinho...
-Tenho medo de saber mais do que queria.
-O que te impede de aceitar que isso que você sente pelo Gustavo é amor? Amar é maravilhoso, criatura!
-Maravilhoso quando ocê não passou pelo que eu passei.
-Certo. E vai usar a morte do Leonardo de justificativa até quando?
-Até superar o luto.
-Engraçado. Você não tem me parecido enlutado nos últimos tempos... quer enganar a quem?
-A ninguém.
-Tem razão. Só a você mesmo.
-Credo... pegou pesado...
-Eu te libero pra sair mais cedo, sim. Mas você trate de pensar muito bem antes de tomar qualquer decisão. Pode acabar se arrependendo depois.
-Eu vou me arrepender se não me mexer, vai por mim.
-Você que sabe.
-A partir de que horas eu consigo a liberação?
-Depois do almoço, pode ser?
-Ótimo.
-Juízo, Flavinho... eu gosto muito de você, sabia?
-Também gosto muito de você, Dani...
-Agora vai trabalhar e some da minha frente!
CORTA A CENA.

CENA 3: Nicole paparica Arlete enquanto Cristina sai do banho.
-Ei, mãe... te falei que não precisava se preocupar com a Letinha...
-Cê acha que eu ia ficar sossegada? O Fábio saindo pra procurar emprego, você no banho...
-E o que ia acontecer? Ela, uma bebê praticamente recém-nascida ainda, ia rolar até cair da cama?
-Não, filha... mas me preocupo...
-Bobeira, mãe... não foi você aprendendo a ser mãe sozinha? Assim eu também sigo... fica tranquila. Sabe o que cê devia estar fazendo agora?
-O que?
-Aproveitando aquela sacada coberta maravilhosa para se balançar na rede, quem sabe até usar o computador que o Fábio deixou ali... aproveitar o que esse apartamento maravilhoso tem a te oferecer, sabe?
-Ainda vou demorar pra me acostumar com tudo isso aqui...
-Mas cê tá gostando de morar aqui com a gente, não tá?
-Sim, querida... mas não quero atrapalhar a vida de vocês, entende?
-Atrapalhar como, mãe? Esse apartamento é imenso, maior que muita casa por aí... não tem como você atrapalhar, seu quarto fica no outro extremo do corredor... se bem que a gente nem tem pensado nisso ultimamente.
-Ué, como assim? Vocês mal reatam e mal se encontram na cama?
-Mãe, nossa filha tá bebêzinha ainda, eu fico cansada e ele também cuida da Letinha, né?
-Pena...
-Pena por que?
-Bem que vocês podiam pensar em outro filho...
-Ficou doida?
-Doida por que, Cristina?
-Eu mal pari, pra começo de história. Em segundo lugar, a sua neta nasceu prematura. Se já não é recomendável engravidar assim, logo depois de ter bebê, imagina quando a sua primeira filha é prematura?
-Pois eu tenho certeza que logo vem outro rebento por aí...
-Ih mãe... o que te deu?
-Intuição, apenas.
-Bem bizarra, essa sua intuição, por sinal... acho até que vou bater na madeira pra me proteger, depois dessa.
-Ai, Cris... quase trinta anos na cara e você não muda mesmo, né?
-Não mudo o que?
-Essa sua mania de colocar a racionalidade acima de tudo.
-Mãe, eu sou médica. Depois, a Dani tá sofrendo por ocupar o meu lugar... vamos mudar de assunto, por favor?
CORTA A CENA.

CENA 4: Valéria se surpreende ao ver Hugo na agência e vai atrás dele.
-Ei, Hugo! Espera.
Hugo se espanta ao ser abordado por Valéria.
-Ué... o que te deu, Valéria? Memória fraca? Dormiu mal? A gente não tem mais nada, acabou noivado, lembra?
-Credo, Hugo! A gente não precisa se tratar desse jeito. Não mesmo...
-Valéria, não é hora nem lugar da gente ter um papo desses...
-Então o que foi que ocê veio fazer na agência?
-Eu trabalhei aqui por mais de dez anos.
-Sim, mas quem trabalha aqui hoje sou eu.
-Na revista. Cuide da sua parte.
-Olha aqui, Hugo, quem deve alguma coisa aqui não sou eu, viu? Quer que eu lembre por que a gente terminou?
-Valéria, não é hora nem lugar...
-Tudo bem, mas quer fazer favor de pelo menos ser cordial comigo? Eu tenho um assunto sério pra falar com você. E não é o que ocê tá pensando.
-É sobre o que, então?
-Sobre o nosso filho.
-Nosso? Você já não tá deixando o William ser pai do Leo?
-Ai, Hugo... francamente. O assunto é sério. É sobre a otite que ele teve...
-Sou pediatra? Não sou. Então essa sua conversa não é comigo.
-Caramba...
-Agora vê se me dá licença.
-Pode deixar, Hugo. Desse jeito fica mesmo impossível falar.
Valéria deixa o corredor e volta à sua mesa, perplexa pelo comportamento de Hugo. CORTA A CENA.

CENA 5: Flavinho se encanta pelo apartamento que viu no anúncio e decide alugar.
-Dona Sônia, pode confirmar que eu vou alugar mesmo esse apê. Tudo aqui é uma graça!
Dona Sônia assente com a cabeça.
-Só me dá um momento pra eu ligar pra uma amiga?
Dona Sônia assente novamente com a cabeça.
Flavinho liga para Valéria, que atende.
-Fala, amigo!
-Valéria, achei um apê que é uma gracinha e queria saber se ocê pode vir me ajudar.
-Ajudar com o que, viado? Me explica antes essa história de apê bonitinho que eu tou passada...
-Ah, Valéria... ocê sabe que eu não tava bem no apartamento do seu irmão...
-Não tá bem porque não quer estar bem. Que bobeira, Flavinho... que bobeira!
-Tá, ocê vem ou não vem me ajudar com a mudança?
-Que horas vai ser tudo isso? Vou ver se deixo tudo acertado aqui na agência e ainda falo com a Cláudia antes...
-Vai ser depois das sete da noite. Tudo bem pra você? Ocê vem?
-Vou te ajudar sim, fica tranquilo. Mesmo achando essa coisa toda uma tremenda de uma burrice...
-A gente conversa mais sobre isso depois, querida. Preciso acertar o aluguel aqui. Beijo, amiga. Obrigado!
CORTA A CENA.

CENA 6: Leopoldo se surpreende por impulso carinhoso de Bernadete, que o abraça por trás enquanto ele lê um livro.
-Nossa, Dete... o que te deu, amor?
-Ué, não posso fazer um carinho em você?
-Pode, mas é que não esperava por isso.
-Por que não esperava? Será que a imagem que você guardou de mim ainda ficou presa naquela mulher doente, com o pé na cova?
-Não, nada disso... que besteira.
-Então é o que?
-É que não esperei essa sua iniciativa.
-Por que? Tava acostumado a ser quem sempre tomava a iniciativa? Nunca te passou pela cabeça que eu também tenho vontades e desejos, que antes de ser mãe ou esposa eu sou mulher?
-Não te entendo, Bernadete. Você não disse que quer a separação? Então pra que me procurar?
-Em primeiro lugar, porque ainda somos casados. Em segundo lugar, porque eu pensava que você ainda me amava.
-Eu te amo, mas não é bem assim que as coisas funcionam.
-Funcionam como, então?
-Nunca vi você tomar essas iniciativas.
-Ah, certo... quer dizer que o problema todo consiste em ser eu, a mulher, tomando a iniciativa?
-Querida... eu não quero brigar.
-Nem eu quero brigar. Não levantei a voz. Mas sabe que é bom perceber tudo isso, no fim das contas?
-Bom pra que?
-Pra saber que eu realmente não sei quem você é. Não sei se um dia eu realmente soube.
-Mas, amor...
-Me deixa um pouco, Leopoldo...
Bernadete sai andando. CORTA A CENA.

CENA 7: Érico se queixa com Margarida a respeito de suas expectativas em relação a Guilherme.
-Sabe, mãe... eu tou realmente começando a cansar dessa lenga lenga toda com o Guilherme...
-Que lenga lenga, meu filho? Se tem uma coisa que ele sempre fez, foi jogar limpo e falar tudo...
-Mas tou cansado de ser feito de idiota.
-Filho, não tem ninguém te fazendo de idiota.
-Eu cansei, mãe. Cansei de sempre ser aquele que entende. E ele, me entende? Nunca quis!
-Não seja injusto, Érico!
-Injusto, eu?
-Sim! Esse menino faz o que pode pra te deixar feliz, sempre se abre ao diálogo, sempre diz que se pudesse, te amava como você merece. E você vem me dizer que ele tá te fazendo de idiota?
-Não, não é bem isso...
-Cuidado, meu filho... cuidado pra esse seu gênio canceriano não afastar o Guilherme de vez...
-Será que não seria melhor?
-Você que sabe, meu filho. Mas você precisa aprender a discernir as coisas.
-Tipo que coisas?
-O que é responsabilidade sua e o que não é. Não cobre tanto de quem já se esforça tanto pra te ver sorrir...
Érico fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 8: Armênia e Humberto notam preocupação em Guilherme, que desabafa com os pais.
-Desculpa encher vocês com isso, mas tou sinceramente começando a perder a paciência com o Érico... - fala Guilherme.
-Gente, como pode isso? Ele é um menino tão bom, amoroso, educado... só é meio triste, parece que sempre carrega uma cruz... - fala Armênia.
-Sua mãe tem razão. O menino é bom. Mas talvez não esteja disposto a segurar essa barra. - fala Humberto.
-Que barra, gente? Em algum momento eu faltei com a verdade? Eu sempre disse que era uma amizade colorida. Eu nunca enganei ele. - retruca Guilherme.
-Sim, querido... mas no coração não se manda... - argumenta Armênia.
-Filho, cê ainda não percebeu que esse menino quer ser seu namorado? E acho bom você se posicionar a respeito disso, seja pra namorar ou pra acabar com essa... “amizade colorida”, é assim que chama, né? - fala Humberto.
-É, pai... mas eu amo esse menino. Não do jeito que ele gostaria, mas... dói perceber que ele tá me deixando sem saída. - prossegue Guilherme.
Armênia e Humberto seguem tentando aconselhar o filho. CORTA A CENA.

CENA 9: Valéria percebe que vai se atrasar e, ainda da agência, liga para Flavinho, que atende prontamente.
-Fala, amiga!
-Querido, eu vou acabar atrasando uma meia hora. Tudo bem?
-Tranquilo. A mudança não vai ser cheia de coisa, não...
-Ótimo. Eu já avisei a Cláudia lá em casa que eu vou chegar bem mais tarde, então fica tranquilo.
-Agora que tá chegando a hora de fazer tudo, tá me dando um aperto no peito, sabe?
-Ah, meu amigo... eu bem que te avisei, ocê não quis me ouvir... agora é tarde demais, com esse aluguel fechado aí...
-Quem disse que tou arrependido, sua doida?
-Seu tom de voz.
-Falou a sensitiva!
-Besta. Eu preciso fechar algumas coisas aqui, ainda. Te liguei pra avisar do atraso, mesmo. A gente se vê lá. Beijo.
-Beijo, Valéria...
CORTA A CENA.

CENA 10: Horas depois, Valéria termina de ajudar Flavinho na mudança para novo apartamento e suspira, cansada.
-Credo! Tou mesmo ficando velha. Me cansei demais da conta, socorro!
-Deixa de besteira, boba. Ocê foi ótima me ajudando hoje.
-Esse apartamento é mesmo uma graça. É a sua cara, Flavinho!
-Mas não é? Lembra até a minha casa de BH, numa escala menor...
-Eu não queria dizer isso, mas já que ocê disse... mas isso é bom sinal, viu?
-Bom sinal de que, Valéria?
-De que ocê tá superando, se é que já não superou totalmente, o luto pelo Leonardo...
-Lá vem ocê com essa. Me poupe.
-Não poupo coisíssima nenhuma. Quando era ocê falando as coisas, eu ouvia, agora quem vai me ouvir é você. Sabe o que eu acho? Que ocê tá fugindo do meu irmão sim, mas não admite isso!
Flavinho paralisa diante de afirmação de Valéria. FIM DO CAPÍTULO 116.

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