CENA 1: Valéria acaba recuando, assustada após se entregar ao beijo de William, que estranha repentino recuo dela.
-Uai... eu pensei que ocê tivesse querendo...
-Não sei se eu queria. Me deixei levar. Foi bom, eu não posso negar... mas isso tudo é maluco demais... eu fiquei assustada.
-Por que? A gente não se amou antes?
-Sim, William. Antes. Eu não te amo mais e ocê sabe muito bem disso...
-Mas eu ainda te amo. E me disponho a tentar de novo, se ocê deixar...
-William, por favor... olha pra gente. Olha pro tanto de dor que a gente já se causou. Olha pro tanto de dor que ocê me causou quando me chamou de mentirosa, quando o mentiroso era você!
-Pegou pesado, agora...
-Eu preciso dizer tudo o que penso, não leva a mal... não tou brigando com você, mas prefiro falar tudo na sua cara.
-É justo. Prossiga.
-A gente se machucou demais. Você me machucou demais... mentiu pra mim e quando eu falei que tava grávida do Leozinho, ocê surtou daquele jeito horroroso comigo...
-É, mas bem que ocê também mentiu que era alarme falso depois...
-Queria que eu agisse como? Você foi a melhor e a pior coisa que aconteceu na minha vida.
-Pesado...
-Sim, isso é pesado. Pesado, porém sincero. Eu tou te conhecendo de verdade agora, William...
-Não, Valéria... fora a mentira que eu era pobre, todo o resto era verdade.
-Deixa o tempo revelar isso por você, William...
-Eu só pensei que a gente podia tentar outra vez...
-Pensou errado. Eu tou muito machucada, não por você, mas pelo término com o Hugo, com a maneira estúpida que isso aconteceu...
-Eu nunca fui com a cara dessa Giovanna.
-Nem fala. Não sei como seu pai consegue ser amigo dela...
-Isso faz uma vida. Ele praticamente viu a Giovanna nascer, até onde sei.
-Será que é por isso que seu pai não vê a bela biscate que ela é de verdade?
-Pode ser. Mas não vai pensando que meu pai é santinho porque ele não é...
-Gente, mas seu Mauro tem sido um fofo comigo! Tá, confesso que eu tinha um pé atrás com ele, mas ele me deu carta branca na revista e em parte da editora na agência, sabe?
-Fez isso pra aliviar a consciência pesada, Valéria... não seja ingênuo.
-William... ocê não tá em condição de criticar seu pai. Concordou com a manobra que ele fez pra impor que eu viesse pra cá por um ano...
-Ia adiantar se eu batesse de frente com ele? Você não conhece meu pai... ele não ouve ninguém...
-Nossa...
-Mas chega desse assunto... eu só queria deixar claro p'rocê que não vou desistir de você nem de nós dois.
-É uma escolha sua. Mas não vá contando com a vitória.
-Veremos... eu sei ser paciente e esperar o tempo que for preciso...
-William, eu tou aprendendo a gostar de você sim, mas... não espere por mim. Sério mesmo...
-Eu vou esperar.
-Viu? No fim das contas seu pai e ocê são iguais...
-Como assim?
-Você também não ouve ninguém...
-Não é bem assim... bem, vou deixar você e nosso filho dormirem. Boa noite.
-Boa noite, durma bem.
William deixa quarto de Valéria e sofre. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Gustavo bate à porta da sala da clínica para falar com Daniella.
-Posso entrar?
-Que cedo! Pode sim, Gustavo... alguma coisa pra me comunicar?
-Sim, mas não tem nada com a clínica... quer dizer... tem a ver com a minha ausência.
-Como assim ausência? Não vai me dizer que cê tá pensando em pedir demissão...
-Não, eu nem pensei nisso...
-Então me diz o que tá pegando...
-Meu amigo Jonathan, que trabalha no hospital que eu trabalhei em BH... vai precisar antecipar as férias e não tem ninguém pra ficar no lugar dele...
-Entendi...
-Daí que me chamaram pra ficar esses dias no lugar dele, já q ue eles me conhecem e tal...
-E não tem outro jeito deles resolverem isso?
-Até onde sei, não.
-Quanto tempo que você vai precisar pra cobrir as férias antecipadas desse seu antigo colega?
-Duas semanas.
-A partir de quando?
-A partir da semana que vem, comecinho.
-Então eu teria que dispensar você ainda no fim de semana pra você chegar lá com pelo menos uns dias de antecedência, certo?
-Por isso que eu vim falar com você agora... pra saber se tá tudo certo pra eu ir...
-Claro que tá! A Cris também concordaria se já estivesse de volta. Fica tranquilo e vai numa boa cobrir as férias do seu conhecido. Se quiser, pode tirar o dia de folga hoje mesmo!
-Não, eu ainda vou trabalhar hoje e no tempo que for preciso. Só vim comunicar com antecedência pra deixar tudo certo...
-Você é sempre prevenido. Admiro isso em você, meu amigo...
-Ah, Dani... um escorpiano prevenido vale por dois!
-Mas e o Flavinho, como vai se virar nesses dias?
-Vish! Não pensei nisso, ainda...
-Vai ter que pensar, porque né...
-Ah, ele vai saber se virar.
-Disso não tenho dúvida, só não sei se ele vai ficar bem na sua ausência.
-Ih, Daniella... nem venha de novo com esse papo...
-Vocês se amam.
-Pouco importa. Ele fez a escolha de me julgar e eu nem gosto de lembrar dessas coisas...
-É um direito seu. Bem, eu vou cuidar dos procedimentos pra deixar acertada a sua dispensa por esses dias...
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Valéria vai à clínica e acompanha Flavinho e Gustavo enquanto eles partem para a cantina em horário de almoço.
-Sabe, gente... eu tenho muita sorte de ter vocês dois na minha vida... além de um irmão incrível, eu tenho um melhor amigo sensacional! - fala Valéria, agradecida.
-Para com isso, mana... o que eu fiz pelo meu sobrinho era o mínimo que podia ter sido feito... - fala Gustavo, ligeiramente sem graça.
-Sem falar que a gente ama o que faz. Cuidar dessas crianças faz parte da nossa rotina, já... - prossegue Flavinho.
-Bem, ocês me desculpem, mas eu preciso voltar rapidão lá porque tou lotado de coisas pra resolver hoje... - fala Gustavo.
-Tudo bem, mano... vai tranquilo... - fala Valéria.
Gustavo parte e Valéria nota expressão tristonha de Flavinho.
-Ei, que cara é essa de quem enterrou os ossos da viuvinha?
-Você tem umas expressões malucas...
-Sou bem dessas, meu querido... mas te notei triste. O que tá pegando?
-O que tá pegando é que eu acho que gosto mesmo do Gustavo...
-Ué, mas não é normal? Vocês são amigos faz uma vida toda... a não ser que seja o que eu tou pensando.
-É exatamente o que ocê tá pensando. Mas eu não posso.
-Como assim não pode? Tudo isso é medo de estragar amizade? Ah, pelamor! Cês são bem maiores que isso, certeza!
-Não é só isso.
-Mas então é o que?
-Ele ser bissexual.
-Olha aqui, Flavinho, eu te adoro, te admiro pra caramba, mas bata na sua cara antes que eu bata, puta que pariu! Que ignorância feia prum cara esclarecido como você! Que preconceito feio vindo de um gay!
-Não é preconceito.
-Então é o que, posso saber?
-Medo, insegurança...
-Lide você com isso. Mas seja maduro o suficiente pra não responsabilizar nem culpar ninguém pelas coisas que são suas. Pense nisso.
CORTA A CENA.
CENA 4: Giovanna vai atrás de Ricardo quando o vê em sua antiga mesa na agência.
-Ricardo, a gente precisa conversar.
-Se você acha que eu vou sair daqui, tá muito da enganada. Quer conversar? Então que seja aqui. Pra todo mundo ver e ouvir.
-Pra que me maltratar assim, Ricardo? Eu te amo!
-Então prove!
-Você quer que eu me ajoelhe diante de todo mundo aqui? Eu me ajoelho...
-Não é uma má ideia.
Giovanna se ajoelha. Ricardo começa a gargalhar.
-Ai, você é impagável. Anda, demônia... levanta daí que isso tá ridículo!
Giovanna, humilhada, se levanta.
-Vai, Ricardo. Se vinga, me humilha, mas diz que me perdoa! Diz que ainda me ama! Diz que é possível nós dois ainda, que a gente pode ficar junto! Eu faço tudo o que você quiser. Eu te dou um filho, quantos filhos você quiser!
-Nem que você adotasse um orfanato inteiro. Acabou, Giovanna. Eu te amo sim, mas esse amor vai morrer rapidinho aqui dentro. Você não presta e eu quero que todo mundo aqui escute bem isso.
-Meu amor, fala o que quiser, me expõe, mas me perdoa!
-Não perdoo. Não esqueço. E falo mesmo!
Ricardo agarra o rosto de Giovanna, que chora de raiva.
-Cês tão vendo a cara chique dessa mulher? Tudo fachada, tudo mentira, tudo enganação! Ela é uma diaba, uma pessoa sem limites, sem caráter, sem respeito a ninguém, nem a si mesma! Durante mais de dez anos ela fez do Hugo gato e sapato. Mas ele acordou e se libertou dela. Ela precisava de outro pato e esse outro pato fui eu! Até agora. Mas nunca mais! Se quiser me demitir, vá em frente, mas não se esqueça que eu posso ferrar a sua vida! Ah, queridinha, tem mais uma coisa: o pedido de divórcio já foi feito. E vai correr tudo no litigioso. Você não perder por esperar!
Ricardo solta Giovanna, que corre e se tranca em sua sala. Glória vibra ao assistir tudo. Mônica lamenta situação, em silêncio. CORTA A CENA.
CENA 5: Preocupada com Giovanna, Mônica vai atrás dela.
-Ei, Giovanna! Nem tudo tá perdido. Essa maré de azar vai passar!
-Como, Mônica? Me explica! Eu fui exposta e humilhada!
-Bem... se pelo menos tudo aquilo fosse mentira... mas não é. E você precisa encarar de frente tudo isso, pra preservar o que te resta de dignidade.
-Nossa, eu pensei que cê tinha vindo aqui pra me prestar pelo menos solidariedade...
-Solidariedade sim, passar a mão na sua cabeça? Nem pensar.
-Eu sei que errei.
-Errou feio e rude com quem não devia. Não é segredo pra você nem pra ninguém que eu sou ex do Ricardo. Ele não suporta mentira. E posso ser bem sincera?
-Por favor, Mônica...
-Seu erro fundamental e mais grave foi ter escondido o jogo dele. Ele não suporta mentira e omissão de fatos importantes. Se você tivesse jogado limpo com ele desde o começo, sobre seu passado como Hugo, talvez ele fosse capaz de perdoar essa escorregada.
-Caramba... se eu soubesse disso antes...
-Só que agora é tarde demais, Giovanna. A você, resta apenas encarar essa situação toda de cabeça erguida e nada mais. Ainda te resta a dignidade.
-Pra que? Não sei se quero ser digna vendo meu casamento desmoronar.
-Giovanna... olha pra mim: você viveu praticamente quarenta anos sem um casamento, sem depender disso...
-Mônica, além do peso do fim, tem a sensação de fracasso...
-É fracasso ou humilhação?
-Eu não sei.
-Pois é bom que reflita sobre o que te deixou assim, tão fora de si. Talvez você precise de um tempo de introspecção, longe de tudo...
-Cê tá sugerindo que eu suma pra não ser vista? Mas isso seria baixar minha cabeça.
-Não, não seria. Pessoas dignas sabem a hora de se retirar estrategicamente. Pense nisso.
CORTA A CENA.
CENA 6: Sérgio e Nicole almoçam juntos e divagam sobre os rumos da vida.
-É doido estar aqui, sentado nessa mesa...
-Doido porque, Sérgio?
-Depois de tanto tempo, nossas filhas longe daqui...
-Mas a Dani ainda mora aqui...
-Cê me entendeu...
-Acho que entendi. De qualquer forma, a gente fez muita coisa boa nessa vida, né? À nossa maneira, a gente se amou...
-Nada tão intenso quanto o que eu vivi com a Bernadete.
-Nem eu com o Leopoldo...
-É doido, pensar nisso. Quem de nós iria acreditar, lá nos idos de 1984, que os casais iam inverter?
-Nem fala... mas penso pelo lado positivo... se não fosse a gente ter se casado, a gente jamais ia ter a Cristina e a Daniella... elas seriam outras pessoas. Talvez nem fossem duas mulheres. É meio maluco pensar no que podia ter sido, mas não foi...
-Será que a Bernadete não teria perdido o filho? Ou será que eu choraria a morte do meu filho?
-Nossa, é até melhor a gente parar de pensar essas coisas, caramba...
-Não sei se tenho direito ou mesmo tempo nessa vida pra viver um amor...
-Te compreendo. Sinto o mesmo. Uma falta de ânimo, de perspectivas, sabe?
Os dois se olham e se beijam. Logo depois, ambos se afastam e gargalham diante da situação.
-A gente é mesmo bobo, né Nicole?
-Crescemos em idade. Mas continuamos adolescentes bobos e inseguros no íntimo... é, meu amigo... a gente não pode cair nessa armadilha de se contentar com a primeira oferta do universo, nem requentar o prato que já venceu...
Os dois riem e se abraçam, com cumplicidade. CORTA A CENA.
CENA 7: Leopoldo estranha expressão pensativa de Bernadete, ao deparar com ela na sala.
-Nossa, Bernadete... parece que você foi lá longe no passado.
-Não parece, Leopoldo, eu fui.
-É onde tou pensando?
-Se você tá pensando na nossa época de adolescentes, sim... é pra lá, direto pra lá, que eu fui.
-Duro você me dizer isso.
-A gente tá se separando, Leopoldo. Não tenho motivo pra te esconder nada.
-Tenho medo de te fazer uma pergunta.
-Não tenha, Leopoldo. Eu quero manter a dignidade entre nós.
-É do Sérgio que você sente saudade?
-Sim, é dele. Não posso mentir, Leopoldo... eu ainda penso nele, sim. E em como fomos imaturos em conduzir as coisas do jeito que elas foram...
-Nossa... isso me machucou...
-Não foi minha intenção, querido. Mas você me pediu a verdade.
-Só não esperava por tanta verdade.
-Não espere menos de mim. Você sabe que eu abri mão do Sérgio por consideração à Nicole. Aliás, quer saber de uma coisa?
-O que?
-Lá no fundo, eu acho que a mulher certa pra você sempre foi ela.
-Deixa de besteira, Dete... eu e você fomos felizes esses anos todos.
-Será? Nós fizemos o possível, mas o tempo aumentou o abismo.
-E a culpa foi minha.
-Minha também. Eu nunca fui religiosa e me tornei preconceituosa por sua causa...
Os dois se olham, entendendo o fim. CORTA A CENA.
CENA 8: Com a noite avançada, Flavinho e Gustavo conversam vendo TV.
-Me diz um negócio, Gustavo...
-Fala, Flavinho...
-Quantos dias mesmo ocê vai precisar ficar fora, a partir da semana que vem?
-No máximo quinze. Eu volto logo.
-E como vai ser até lá? Eu aqui, sem saber como cuidar de tudo...
-Deixa de bobeira, Flavinho. Eu sei que ocê sabe cuidar dos jasmins da janela. O apartamento é fácil de manter em ordem, porque é pequeno e prático. Na dúvida, me liga ou me manda mensagem de áudio... aliás, me manda áudio que eu até prefiro, porque daí te respondo quando der...
-E se aparecer barata?
-Sério isso?
-Sério... odeio elas.
-Tem veneno aqui, uai.
Os dois riem.
-Vou sentir sua falta, Gustavo.
-E eu vou sentir sua falta também, mas eu volto...
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.
CENA 9: Mônica e Sérgio bebem vinho no apartamento de Sérgio e Sérgio começa a desabafar sobre falta que sente de Bernadete.
-É, Mônica... se você soubesse como me dói saber que deixei a Bernadete pra trás lá no passado...
-E por que você não luta por isso?
-Nem pensar!
-Ah, até quando cê vai ficar nessa de excesso de escrúpulos, posso saber?
-Porque ela ainda é casada com meu amigo, quem sabe?
-Você bem disse: ainda! Mas um dia não vai mais estar...
-Isso seria uma loucura, Mônica.
-E daí? O que é da vida sem uma boa e bela dose de loucura? Desconfio é dos normais, tá querido?
-Você tem cada uma...
-E você tá perdendo tempo, bobo... liga pra ela agora!
Sérgio fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 10: Instantes depois, Bernadete se diverte ao celular com Sérgio.
-Ah, querido. Você é sempre ótimo! Não esperava que você fosse ligar, ainda mais numa hora dessas!
-Me deu saudade de relembrar os velhos tempos, sabe?
-Se sei! Engraçado, sabe? Essa sincronia toda... eu pensei muito nisso tudo hoje. Pensei muito em você.
-É sério?
-Seríssimo, Sérgio...
-Sabe, Bernadete... te amo.
-Ah, querido... eu também, meu amigo.
-Bernadete, me escuta: eu não te amo só como um amigo. Na verdade eu nunca deixei de te amar como mulher, nem por um só dia. Eu sempre te quis.
Bernadete fica impactada com declaração de Sérgio. FIM DO CAPÍTULO 112.
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