CENA 1: William afasta carrinho de Giovanna e pega Leonardo em seu colo. Giovanna fica surpresa com reação intempestiva de William.
-Que isso, cara? Parece que eu sou uma sequestradora de crianças! Nazaré Tedesco é cria da ficção, tá?
-Quem ouve ocê falar com tanta firmeza até acredita que você é uma boa pessoa!
-De repente é por que eu não sou essa coisa horrível que cê tá pensando?
-Pois eu duvido muito, Giovanna... é só olhar pra você e sacar qual é a sua.
-Falou o grande sabichão que deu pé na bunda da namorada porque teve mania de perseguição.
-Tá vendo como ocê é baixa? Nem precisa de muito pra se revelar. Isso tudo é tão típico!
-Ah, William... você faz um juízo muito errado a meu respeito, sabia?
-Será, mesmo?
-Posso afirmar. Você fez um juízo apressado e bem errado a respeito de mim. Caso contrário, eu não seria amiga do seu pai desde que meus pais eram vivos...
-Meu pai ocê pode enganar, mas não a mim...
-William, pelo menos de vez em quando dá pra baixar essa sua guarda, viu?
-Não, não dá. Meu pai dificilmente veria quem você é de verdade. Ficou com a imagem da criança prodígio congelada na cabeça...
-Depois quando eu digo que você faz juízo errado de mim, você ainda diz que tá certo... observa o que você acabou de falar, cara! Seu pai já era amigo dos meus falecidos pais antes de você nascer!
-E daí? Isso me obriga a ser seu amiguinho?
-Não, imbecil! Mas seria uma boa se você entendesse que eu só quero poder ajudar.
-Ajudar no que, posso saber?
-Você não entenderia...
-Acho que já entendi desde que voltei da Inglaterra. E não concordo com nada disso.
-É uma pena, viu?
-Seria uma pena se eu colocasse minha vida nas mãos de uma manipuladora feito ocê...
-Vou tomar isso como um elogio, tá, querido? Porque, de fato, eu sou ótima em gerir destinos.
-Você se acha maior do que realmente é. Ninguém nessa vida é semideus.
-Eu poderia ser útil pra você, se você quisesse.
-Mas eu não quero.
-Um dia você ainda vai mudar de ideia... e eu espero ainda estar disposta a ajudar.
-Essa sua maneira de comer pelas beiradas não me convence. Já vi muito disso pela vida.
-Vai se arrepender...
-Isso é uma ameaça, Giovanna?
-Ai, William... preguiça de você. Para de se achar o fodão, tá? Você nem é tão importante assim...
-Não é o que me parece. Vai embora que a babá do meu filho tá voltando.
-Com todo o prazer, detesto me misturar com a plebe...
-Isso, reaça! Mostra a sua cara! Só um último aviso: fique longe de mim, da Valéria e principalmente do nosso filho!
Giovanna parte. CORTA A CENA.
CENA 2: Leopoldo percebe Bernadete melancólica durante café da manhã.
-Ei, amor... que saudosismo forte foi esse que bateu aí?
-Não tem saudosismo nenhum, Leopoldo.
-Engraçado... podia jurar que cê tá melancólica com alguma coisa...
-Até tou... mas não é por sentir saudade de alguma coisa específica... é mais uma constatação, sabe?
-Constatação do que, querida?
-De tudo o que a gente já teve e já viveu... perceber que grande parte disso já se foi. Para nunca mais voltar...
-Pensa que daqui alguns meses, a Valéria volta com nosso netinho do coração pra cá...
-Não é só por isso... é por tudo.
-A vida mais calma que a gente levava?
-Não só mais calma. Mas tinha mais vida nessa casa. Mais alegria...
-Quem sabe não é a hora de chamar o Flavinho de volta, não é mesmo?
-Ficou maluco, Leopoldo?
-Maluco por que? Ele trazia alegria pra dentro dessa casa.
-Que se dane! Não quero mais um traidor dentro dessa casa.
-Mais um?
-Sim, você já gastou a cota de traidores que eu suporto aqui dentro. Mais um, eu não aguento...
-Eu pensei que você tivesse me perdoado...
-Perdoar não é esquecer, Leopoldo. Ainda mais quando nosso filho está morto.
Leopoldo engole a seco. CORTA A CENA.
CENA 3: Fábio visita novamente Cristina, que cuida de Arlete.
-Cheguei em boa hora, amor?
-Até demorou, Fábio... pensei que vinha antes...
-Então, é que eu andei arrumando o apartamento.
-Legal... aquele apartamento é mesmo um lugar maravilhoso.
-Você acha?
-Sim! Além da localização, que é tudo de lindo na vida do ser humano, né?
-Maravilha, porque eu pensei em te fazer uma proposta...
-Que proposta?
-Quer vir morar comigo lá no apartamento?
-Deixa eu ver... quero sim, mas sob uma única condição que vai ter que ser cumprida a risca!
-Você não perde a oportunidade de ser sagitariana mandona, né?
-Não perco mesmo que é pra não ficar enferrujada, mas vamos lá: eu quero que a casa inteira seja redecorada... por mim.
-Mas você entende disso?
-Deixa comigo que eu vou deixar aquele apartamento com a minha cara e você vai amar. Concorda?
-Claro que sim! Você pode tudo, se a gente casar, você também vai ser dona...
-Ei, devagar com o andor dessa carruagem que a princípio nós só vamos morar juntos...
-Te amo, Cris... esse seu jeito de durona me deixa doido!
-Ai, ai... e não é que esse seu jeito de bundão, meio cãozinho carente, me derrete toda também?
Os dois se beijam. CORTA A CENA.
CENA 4: José conversa com Idina sobre sua empolgação com militância nas causas sociais.
-Sabe, amor... essa sua garra me faz ter cada vez mais vontade de me juntar a todas lutas possíveis!
-Fico orgulhosa de te ouvir falar assim, Zé! Você nem faz ideia do quanto isso me enche de orgulho... mais um pouco e você se lança na política!
-Eu quero.
-Pra valer?
-Sim!
-Então vamos encarar tudo isso juntos, mais que nunca! Só que antes, eu preciso fazer alguns apontamentos.
-Por favor, faça!
-Em primeiro lugar, você é esforçado, mas dispersivo, Precisa focar mais. Eu vou separar um material aqui pra você ficar por dentro do conhecimento teórico necessário pra compreender o sistema prisional brasileiro desde que o Brasil deixou de ser uma colônia de Portugal e como até mesmo a influência europeia definiu muita coisa por aqui. Além desses materiais, vai ser preciso ir mais a campo, entende? Se jogar mais dentro dessa realidade. Tudo bem pra você?
-Com você me apoiando desse jeito, tá tudo ótimo!
-Então se prepara que essa luta tá só começando, meu querido!
CORTA A CENA.
CENA 5: Madame Marie surge de surpresa no quintal dos di Fiori enquanto Bernadete lê um romance.
-Nossa, Madame! Desculpe, nem te vi chegar...
-Você sabe que me torno invisível aos olhos de quem não quero ser vista de vez em quando, não sabe?
-Bem, se você diz... eu nunca vi, mas prefiro acreditar que isso tudo seja verdade. Precisa falar comigo?
-Sim. Mais do que você imagina. Eu estou decepcionada com você, Bernadete... profundamente decepcionada!
-Ué, por que? Te fiz alguma coisa?
-Querida, você sabe que sou tranquila com isso... mas o que você tem feito com o menino Flávio é muito triste. Querendo ou não, aceitando isso ou não, ele é o seu outro filho. E você sabe que foi o próprio Leonardo que te disse isso.
-Como é que você sabe disso?
-Bernadete, você me conhece há mais de trinta anos. Eu sempre sei das coisas. Seu filho precisa de você.
-Ele não é meu filho!
-Engraçado, isso: sua boca diz uma coisa, mas o seu coração diz outra.
-Não importa mais... ele traiu minha confiança.
-Foi você que traiu a si mesma, Bernadete. Onde foi que você deixou a sua doçura se perder?
Madame Marie parte e deixa Bernadete pensativa.
-Ai, Deus... eu não deixei de ser eu mesma... ou será que deixei? Por que eu não consigo tirar essa dor e essa mágoa do meu coração? Deus, me ensina a perdoar, eu falhei!
Bernadete tenta ler novamente, mas acaba começando a chorar e larga o livro sobre a mesa. CORTA A CENA.
CENA 6: Margarida se surpreende ao ver Carla fazendo as malas.
-Que isso, filha?
-Ah, mãe... desculpa! Achei que você ainda tava no supermercado... eu já tava indo falar com você e com o Érico...
-Sei. O que é que tá acontecendo aqui?
-Eu consegui aquela bolsa de estudos no exterior.
-Não acredito! Que maravilha, querida... mas já tá fazendo as malas? Quando você parte?
-Daqui três dias, entendeu agora o motivo da minha pressa?
-Claro... até porque você ama deixar tudo organizado com antecedência...
-Exatamente, mãe.
-Mas filha... cê tem mesmo que ir?
-Sim, mãe... é a realização de um sonho querido e antigo meu...
-Será que você não tá fugindo das coisas pendentes que deixou por aqui, filha?
-Mãe... olha pra mim: o que eu tinha de pendente com o Gustavo eu já resolvi. Ele não é pra mim e eu não sou pra ele. Vida que segue...
-Nunca pensei que ia te ver assim, tão madura, Carla...
-Sempre chega essa hora quando a gente se dispõe a melhorar, né? Mãe... eu não tou indo pra Irlanda pra fugir de nada. Eu tou indo é me encontrar, isso sim!
-Vou sentir tanto a sua falta, minha filha...
-Ah, dona Margarida... para com isso que senão eu fico de coração apertado!
-Não fique. Vá viver sua vida, correr atrás dos seus objetivos...
As duas se abraçam. CORTA A CENA.
CENA 7: Daniella aproveita horário de almoço de Flavinho e vai conversar com ele.
-Oi, querido... posso sentar aqui um pouquinho?
-Eita, nunca vi ocê almoçar tão cedo. Não vai na lanchonete hoje?
-Não... eu aproveitei que o Gustavo acabou de voltar pra clínica porque queria falar mesmo é com você.
-Sobre o que?
-Sobre a sua relação com o Gustavo...
-Dani, olha... eu posso explicar...
-Calma, Flavinho... eu e o Gustavo só somos amigos. E pela sua reação, só fica confirmado o que eu já observei ultimamente.
-O que?
-Que você tá mais que encantado por ele. Eu diria, apaixonado.
-Que ideia! Claro que não!
-Não precisa negar, querido... não vou te julgar. Acho mesmo que seria maravilhoso vocês juntos...
-Como é que é? Mas... vocês foram namorados...
-E daí? Quem ama quer ver as pessoas felizes, não?
-Sim, mas... essa conversa, essa situação... tudo isso é meio bizarro, sabe?
-Bizarro por que? Flavinho, eu vou ser bem franca com você: acho que cê tá perdendo tempo julgando o Gustavo por ele ser bissexual. Pode ser a sua chance de viver outro grande amor sendo jogada fora pela sua teimosia taurina. Pense nisso, tá?
CORTA A CENA.
CENA 8: Durante almoço, Guilherme percebe tristeza em Érico.
-Querido, cê tá triste por causa da sua irmã?
-Também, Gui... mas tem mais coisa.
-Tipo o que?
-Não quero falar sobre. É melhor poupar você das minhas besteiras...
-Ah, tou começando a sacar... cê tá chateado comigo, não é isso?
-Guilherme, é mais fácil eu ficar chateado comigo mesmo do que com você que sempre joga limpo comigo...
-Mas é algo comigo... eu posso sentir isso no ar.
-Prefiro te poupar disso, pra não parecer que tou te cobrando qualquer coisa ou te colocando contra a parede.
-Érico... eu te juro que se eu pudesse, já estaria namorando com você...
-Então o que impede?
-Cê sabe muito bem... você merece que eu corresponda seu sentimento à altura. Eu te adoro, mas não do mesmo jeito que você me adora, entende? Eu juro que me esforço todos os dias pra imaginar a gente junto... mas fica difícil, sabe?
-Você é incrível, sabe? Sempre sincero, jogando limpo... desculpa se eu te cobro alguma coisa, tá?
-Não precisa viver na defensiva, Érico... você não me cobrou nada.
CORTA A CENA.
CENA 9: Fábio chega em seu apartamento e é surpreendido pela nova decoração arranjada por Cristina.
-Amor, como é que cê conseguiu tudo isso tão rápido?
-Simples, seu bobo... já tinha tudo esquematizado na minha cabeça de como eu queria, daí eu deixei a Arletinha com a minha mãe pra gente ir buscar ela junto depois...
-Mas tou passado com isso, Cristina. Em questão de horas você mudou completamente o clima desse apê...
-E aí... gostou?
-Não gostei...
-Ah...
-Eu amei! Ficou solar, cheio de vida, com uma força e uma intensidade que estavam faltando aqui...
-Ai, que bom que cê gostou, amor! Por mais que eu soubesse que tinha carta branca pra fazer o que eu quisesse, eu ia ficar meio chateada se não te agradasse alguma coisa...
-Pois fica tranquila que ficou muito melhor do que tava antes.
-E eu aqui, com medo de mexer no que a Arlete tinha decorado antes de morrer...
-Boba... você trouxe vida pra esse lugar outra vez!
Os dois se beijam. CORTA A CENA.
CENA 10: Já com a noite avançada, Flavinho e Gustavo chegam em casa depois de um longo dia de trabalho.
-Nossa, que dia bem puxado, nossa senhora!
-Até que enfim ouvi sua voz, Gustavo!
-Oi?
-Passou o caminho todo caladão, parecia que tinha engolido algum sapo...
-Sabe o que é? Eu andei pensando em muita coisa.
-Nossa, mas precisava de tanto silêncio? Até achei que eu tinha feito algo de errado...
-Não fez. Mas a gente precisa ter uma conversa séria.
-Ai Gustavo, não me assusta.
-Não é pra se assustar... eu acho que a gente precisa falar sobre nós dois.
Flavinho paralisa. FIM DO CAPÍTULO 107.
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