CENA 1: Daniella percebe que Patrícia está fora de si.
-Miga... cê tomou o medicamento hoje?
-Ah, vai ficar regulando a minha vida agora, vai?
-Patrícia, cê tá em tratamento, esqueceu? Transtorno limítrofe, lembra?
-Ah, que se foda!
Daniella explode com Patrícia.
-Que se foda um caralho! Porra, Patrícia! Será que cê tem noção da coisa toda? Não percebe a dimensão de tudo isso, não? Qual a sua idade, criatura? Vinte e sete ou sete anos?
-Caraca... precisava pegar pesado desse jeito comigo? Eu sou uma pessoa em tratamento psiquiátrico, se esqueceu?
-Ah é... não me diga! E quem foi que te deu a letra pra procurar esse tratamento, mesmo?
-Foi você...
-Quem é que insistiu pra você continuar quando cê tava se borrando de medo das consequências do tratamento?
-Você...
-Então baixa bem essa sua bola e cala essa sua boca antes de dizer que eu não faço porra nenhuma por você e que não te dou a porra da minha atenção, porque é o que eu mais tenho feito nesses meses todos, sua ingrata! Para de se colocar sempre nessa eterna condição de vítima, Patrícia! Você é muito maior que isso! Você não é o seu transtorno, caramba!
-Gente... eu nunca pensei que ocê ia me tratar desse jeito...
-E cê quer que eu fale como? Cheia de cuidado? Com a voz suave e fresca pra não ofender? O seu problema, Patrícia, é que você mesma se mima, já que ninguém nessa vida aparentemente te mimou.
-Mas Dani... ocê tem que entender que eu não tenho quase ninguém nessa vida...
-E acha que vai manter as poucas pessoas que tem por perto desse jeito?
-Que jeito?
-Impondo sua presença...
-Mas não foi você que disse que tava tudo bem de eu esperar?
-Não é sobre isso, Patrícia... para de distorcer, caramba! Você tem noção da merda de dia que foi hoje?
-Nossa, desculpa...
-Eu podia ter perdido minha irmã e minha sobrinha numa tacada só e ainda corria o risco de ser responsabilizada por isso, porra!
-Desculpa...
-Chega, Patrícia! Tudo é “desculpa” pra cá, “desculpa” pra lá... em vez de fazer merda o tempo todo e ficar pedindo desculpa depois. Para com isso! Você só é vítima se quiser continuar sendo vítima!
-Ai, Dani... mesmo com raiva, ocê me diz as coisas certas...
-Não tou com raiva de você, Pati... só que eu fico revoltada, indignada de ver que cê tem um potencial fantástico de ser uma pessoa maravilhosa nessa vida e joga tudo isso fora forçando a barra...
-Não é por mal...
-Adianta não ser? O que fica é a consequência dessa sua inconsequência...
-Mas...
-Pati... sua intenção pode ser das melhores, mas é como diz o velho ditado: de bem intencionado, o inferno tá cheio...
-Nossa, Dani... eu pensei que ocê fazia bom conceito de mim...
-Continuo fazendo. Mas porra Patrícia... ser amiga não é passar a mão na cabeça, sempre... você fez merda hoje.
-Desculpa.
-Tá desculpada... mas vê se não chega a fazer as merdas pra ter que pedir desculpa o tempo todo, sabe? E toma esse dinheiro aqui...
-Pra que?
-Tenho certeza que cê tá com pouco dinheiro pro uber. Toma esse aqui e não precisa me pagar que tou dando esse dinheiro pra você. A gente se fala quando der, querida... não pense que tou te ignorando, mas é que nem sempre eu tou com cabeça, é só isso...
Patrícia pega o dinheiro, abraça Daniella e sai impactada. CORTA A CENA.
CENA 2: Gustavo e Flavinho chegam em casa, exaustos.
-Gente do céu... e esse dia que nunca mais acabava, como faz?
-Nem fala, Flavinho... eu jurava que ia dar ruim pra chefinha...
-Ainda bem que a Júlia é competente e deu conta de salvar tanto a bebê quanto a Cris...
-E o desespero da Dani, ocê viu?
-Vish... coitada, viu? Aliás, ocê chegou a ouvir a Dani discutindo com a Patrícia? Foi babado, confusão e gritaria!
-Eu escutei os gritos da Dani. Mas ocê sabe como eu sou nessas horas... não me meto e ainda tomo distância.
-Não quer saber o que rolou?
-Fala, Flavinho... com ou sem o meu endosso ocê tá doido pra falar...
-E tou mesmo...
-Pois então fica de boa...
-A Dani meteu a boca na Pati, disse que ela fica dando ataquezinho do nada, cobrando demais das pessoas.
-Coisa que eu devia ter feito quando ainda era namorado dela. Aposto que ela ia amadurecer, pelo menos...
-Mas quer saber? Eu acho que a amizade das duas não anda mais a mesma coisa de antes...
-Esse papo tá ficando chato, não acha?
Surge uma atração mútua entre Flavinho e Gustavo.
-Acho sim, mas... o que é que tá acontecendo aqui, Gustavo?
-Não sei... ocê sabe?
-Não... e tenho medo.
-Quer tentar?
-Tentar o que, Gustavo?
-Isso aqui...
Gustavo beija Flavinho, que corresponde ao beijo, apaixonadamente. Instantes depois, Flavinho recua, assustado.
-Isso não podia ter acontecido...
-Uai, por que não?
-Porque a gente é amigo... e porque ocê é bi...
-O que uma coisa tem a ver com a outra?
-Eu não fico com bissexuais!
Flavinho dispara em direção ao quarto, deixando Gustavo perplexo. CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã seguinte, Hugo tenta dissuadir Valéria de fazer as malas.
-Amor... dá tempo de desistir... dá tempo da gente encontrar uma solução...
-Que solução, Hugo? Todos nós estamos nas mãos do pai do William, será que ocê não percebeu isso ainda?
-Percebi... mas isso precisa acabar. Nem que a gente fuja pra longe com o Leo...
-Ah, claro... e os seus pais, como é que ficam? Sem teto, debaixo da ponte? Não seja impulsivo, Hugo... eu não tenho saída. O seu Mauro fez essa exigência pra salvar a casa e a Natural High...
-Como é que eu vou aguentar esse ano longe de você?
-Não vamos ficar longe. Eu venho visitar sempre que puder...
-O duro vai ser esconder tudo isso da mãe.
-Tem outro jeito? O seu pai morre de medo de que ela queira a separação se souber de tudo...
-Duvido. A mãe já suportou todas as mentiras que o pai inventou...
-Nenhuma delas colocava até então todo o patrimônio dela em risco...
-Não tem jeito mesmo, né?
-Não tem, amor... eu tenho que ir embora pra ficar na casa do pai do William... é pra salvar a todos nós.
Valéria chora e Hugo, também chorando, a abraça.
-Não vai ser nada fácil, meu amor... mas eu te prometo, Hugo: a gente vai passar por tudo isso... e a gente vai sair mais forte disso...
-Casa comigo quando voltar?
-Claro que caso!
CORTA A CENA.
CENA 4: Instantes depois, Bernadete se queixa a Leopoldo da partida de Valéria.
-Não consigo entender, Leopoldo... como é que a Valéria teve a capacidade de deixar a nossa casa e o nosso filho assim, desse jeito?
-Amor... ela não deixou no sentido de abandonar...
-Como não?
-É uma necessidade.
-Por que? Por peso na consciência? Que tipo de consideração ela deve ao Mauro só porque ele é avô biológico do Leozinho?
-Ela tem as razões dela...
Leopoldo se levanta.
-Ei, onde cê vai?
-Não ando legal, Bernadete... depois a gente se fala.
Leopoldo vai ao quintal e lamenta ter permitido que as coisas chegassem ao ponto que chegaram. CORTA A CENA.
CENA 5: Flavinho e Gustavo se preparam para mais um dia de trabalho e Gustavo puxa conversa com ele.
-Olha... eu sei que ficou um clima esquisito depois de ontem, mas...
-Esquece ontem, Gustavo.
-Oi?
-Sim... o beijo. Esquece o beijo.
-Não consigo, Flavinho...
-Foi só um momento de ternura entre a gente. Nada mudou.
-Se você quer assim...
-Acredita em mim, Gustavo... vai ser melhor...
-Eu queria te dizer que eu entendo seu preconceito quanto a mim.
-Preconceito, logo eu?
-Sim... você foi preconceituoso comigo, ontem.
-Gustavo... é melhor a gente não falar sobre isso. Sério...
CORTA A CENA.
CENA 6: Poucos minutos depois, Flavinho estranha quando Gustavo olha repetidamente para os lados antes de subir na moto.
-O que foi isso, Gustavo?
-Uma sensação esquisita... parece que tem alguém observando a gente...
-Vish, Gustavo... esquece disso, vai! Aposto que ocê ficou impressionado com o que eu contei da discussão da Daniella com a Patrícia...
Flavinho sobe na garupa da moto e os dois partem. Patrícia observa, de longe, os dois partirem ao trabalho.
-Esse viadinho... pensa que me engana... aos poucos vai se chegando... até conquistar o Gustavo de vez. Mas se ele pensa que vai conseguir, tá muito enganado. O Gustavo pode me trocar pela mulher que quiser... mas jamais por um homem... - fala Patrícia, no ranger de dentes.
Patrícia treme de raiva.
-Esse viadinho pensa que não vai ter volta? Pois tá muito enganado. Eu posso não ficar com o Gustavo... mas ele também não vai!
CORTA A CENA.
CENA 7: Daniella chama Júlia em sua sala.
-Estranhei quando cê disse pra vir aqui. Foi algum procedimento que fiz errado?
-Pelo contrário, Júlia... você tem sido ótima.
-Então por que me chamou aqui?
-Pra saber como as coisas vão. Cê sabe como é a coisa por aqui... tem uns enfermeiros que fazem fofoca até do que não viram, quanto mais do que podem ver...
-Tou entendendo... quer saber como vai a sua irmã ou a sua sobrinha?
-As duas.
-A Cristina se recuperou maravilhosamente. Nem parece que teve hemorragia. Mas se recusa a ir embora enquanto a Arlete não for liberada...
-É compreensível, Júlia... e a minha sobrinha?
-Está evoluindo muito bem, se continuar nesse ritmo, em uma semana já vai poder ir pra casa.
-Maravilha! E a respiração dela, como anda?
-Ainda fraca... mas tem sido espontânea. Bem diferente do quadro das primeiras cinco horas de vida...
-Sinal de que ela tem boas defesas, certo?
-Exatamente.
-Muito obrigada, Júlia... pode voltar ao trabalho.
CORTA A CENA.
CENA 8: Bernadete tem o impulso de ir ao quarto de Flavinho/Leonardo e acaba descobrindo um fundo falso numa gaveta.
-Gente... e esse fundo falso? Nunca soube dele...
Bernadete descobre uma agenda. Ao abrir, depara-se com a letra de Leonardo.
-Não pode ser... o meu filho tinha um diário!
Bernadete lê em voz alta.
“12 de maio de 2008.
Eu sei que posso ser jovem demais ainda... mas fico sempre com a sensação de que não me resta tanto tempo assim. Viver desse jeito, escondendo quem eu sou das pessoas que eu amo, me tortura. Pelo menos dentro de mim mesmo, eu sou livre... mas quem vai poder me enxergar? Quem vai poder me amar? Me pergunto todos os dias porque eu fui nascer assim. Seria tão mais fácil gostar de mulheres, mas eu nunca consegui. Eu só quero poder merecer o amor de alguém. De um homem que sinta o que eu sinto. Que divida a vida comigo... e saiba reconhecer em mim todo o amor que eu sinto que tenho aqui dentro... espero encontrar esse alguém, um dia...”
Bernadete fecha o diário, impactada com o que acabou de ler. Silenciosamente, começa a chorar. CORTA A CENA.
CENA 9: Hugo invade a sala de Giovanna na agência e a deixa assustada.
-Que isso, cara? O Ricardo podia estar aqui, sabia?
-Pena. É uma pena que ele tenha saído.
-O que cê tá falando, Hugo?
-Cê sabe muito bem.
-Não, eu não sei. Até onde me consta, você não trabalha mais aqui. Quem você pensa que é pra ir invadindo a sala desse jeito?
-Alguém que vai te colocar no seu devido lugar.
-Chega de bravata, libriano bundão. Me deixa em paz.
-Não deixo! Cê pensa que não saquei seu jogo desde o começo?
-Que jogo, Hugo? Eu hein... baixa bem essa sua bola, que eu tenho mais o que fazer da vida. Sou uma mulher casada.
-Besteira. Tudo fachada, tudo cortina de fumaça.
-Cara... não fala besteira... cê nem sabe do que tá falando.
-Sei sim. Você armou tudo isso, toda a situação propícia pra Valéria ir embora, não é?
-Ah, ela foi embora? Grande amor essa que ela vive ao seu lado.
-Não se faça de sonsa. Você sabia disso. Induziu o seu Mauro a fazer o que fez.
-O que o Mauro fez? Não sei de nada, Hugo...
-Não subestime minha inteligência, Giovanna.
-Nem preciso. Você mesmo faz isso sozinho.
Hugo perde a cabeça.
-Eu posso te matar, sabia disso?
Giovanna se assusta. CORTA A CENA.
CENA 10: À noite, Gustavo e Flavinho são surpreendidos por Patrícia, no estacionamento. Gustavo fica perplexo.
-Como foi que você entrou aqui, garota? - questiona Gustavo.
Flavinho se assusta com expressão de raiva de Patrícia.
-Patrícia... tenta respirar. Ocê tá meio fora de si... - fala Flavinho.
-Eu tou bem louca sim, bem fora de mim! Sabem por que? Porque eu tou vendo essa safadeza toda, eu sei exatamente como essa merda toda vai acabar. Esse viadinho chega aos poucos, comendo pelas beiradas, você é um burro de não perceber isso, Gustavo! Ele não vai te roubar de mim! - fala Patrícia.
-Ocê entendeu tudo errado... - tenta argumentar Flavinho.
Patrícia tem um acesso de fúria e esfaqueia Flavinho, apavorando Gustavo.
-O que você fez, sua louca? - pergunta Gustavo, em desespero.
FIM DO CAPÍTULO 101.
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