CENA 1: Flavinho se arrepende por um momento de ter insistido em provocar Gustavo, que corresponde ao beijo. Flavinho se afasta, causando estanheza em Gustavo.
-Pera... para. Isso que a gente tá fazendo não é certo.
-Eu sei que não é. Mas eu quero. Ocê também quer. Foge, mas quer... dá pra sentir. Foi pra isso que ocê passou da medida, não foi?
-Foi, mas é que agora...
-Agora a gente tá aqui. Só nós dois. Esquece o mundo lá fora.
Os dois se beijam cheios de paixão e vão lentamente e se despindo ao quarto de Gustavo, onde acabam transando. Depois do sexo, Flavinho olha para Gustavo e ri.
-Gente... isso é uma loucura!
Gustavo também ri.
-É sim. Mas é a melhor loucura da vida.
-Sabe, Gustavo... eu sei que não devia dizer um trem desses assim, na bucha... mas a verdade é que eu te amo.
-Eu... não esperava ouvir isso.
-Só quis dizer. Porque na verdade eu acho que é isso que eu sempre senti e só não tinha coragem de falar isso antes.
-Ei... ocê tá falando normal. Nem parece que tava todo tonto de beber.
-Eu não tava tão bêbado como pareci estar. Fiquei tonto sim, mas não foi tudo aquilo. Eu na verdade queria estar aqui sim... com você, ao seu lado. Só não admiti isso a mim mesmo... a verdade, Gustavo, é que eu sempre te amei de alguma forma. De um jeito que nem sei explicar, de um jeito que demorei anos pra entender. Foi necessário eu passar por todos os perrengues que eu passei pra começar a acordar pra isso. Somos mais que amigos. Pelo menos, é o que eu sinto aqui dentro...
-Flavinho... eu sempre vou te amar. Sempre te quis. Te amei mesmo antes de perceber isso. Na verdade eu acho que o amor da gente se transformou ao longo dos anos. As nossas necessidades eram outras.
-A questão é saber quais são as nossas necessidades agora...
-Também quero descobrir.
-A gente pode descobrir isso junto, não pode...
-Tudo o que a gente tem de concreto agora é esse momento. No resto, a gente pensa amanhã...
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã seguinte, Flavinho desperta antes de Gustavo e, constrangido, o desperta.
-Acorda, cara! Já passa das seis. Não vai atrasar pro trampo!
Gustavo percebe constrangimento de Flavinho ao despertar e tentar beijá-lo, pois Flavinho se esquiva.
-Eu pensei que...
-O que aconteceu essa noite ficou ali.
-Nossa, Flavinho... desculpa.
-Não precisa pedir desculpa. Eu vim porque quis. Fiz porque quis. Foi o melhor sexo da minha vida. Eu fui responsável por isso.
-Eu também fui.
-Fomos os dois... e tá tudo certo com isso.
-Mas se tá tudo certo, porque esse constrangimento? Por que fingir que isso não significa nada?
-A gente sabe que significa. Mas não pode significar.
-Por que?
-Ocê ainda me pergunta? Eu tenho o Érico. Você tem a Dani. Não é certo com nenhum deles o que a gente fez.
-Verdade... ocê tem razão. Mas vai ser difícil olhar p'rocê e fingir que tudo isso aqui foi um sonho delirante...
-Vai ter que ser assim.
-Não tem mesmo outro jeito?
-Você vê outra saída? Porque se for esse o caso, me avisa que eu sou o primeiro a entrar nessa.
-Não... pior que eu não consigo ver nenhuma saída, mesmo...
-Então é isso, Gustavo. Melhor doer agora do que doer mais ainda depois.
CORTA A CENA.
CENA 3: Sérgio acaba confidenciando a Bernadete segredo de Cristina.
-Então é isso, querida... a minha filha não voltou de verdade com aquele traste. Só que isso não me alivia nem um pouco. Me aliviou na hora sim, não vou mentir... mas depois parei e pensei nisso tudo e percebi que a Cris não sabe mesmo o que tá fazendo da própria vida.
-Querido... cada um de nós nessa vida tem uma forma particular de reagir às coisas. Se essa foi a forma que a sua filha encontrou de superar ou conviver com o término com o Fábio, então que ela siga fazendo o que acha certo. Complicado é você, na qualidade de pai dela, julgar nesse momento...
-Não tou julgando...
-Intencionalmente, não. Mas está julgando sim, querido...
-Fica difícil entender a lógica disso e ainda prometer silêncio pra que ela leve essa farsa adiante...
-Não precisa entender, só é preciso respeitar, Sérgio. Se ela estiver errada, a vida se encarrega de mostrar isso a ela.
-Só temo que ela sofra ainda mais.
-Somos prisioneiros das nossas escolhas. Deixa ela livre pra escolher as próprias prisões...
CORTA A CENA.
CENA 4: Ao chegar na clínica, Cristina é surpreendida por Fábio esperando por ela na sala.
-Cara, como é que cê entrou?
-Esqueceu que eu ainda tenho as chaves?
-Devia ter pedido de volta.
-Não seja por isso, pode pegar as chaves.
-Então por que veio aqui, eu posso saber?
-Pra saber como cê tá...
-Vou bem. Aliás, foi até bom que cê tenha vindo, sabia? Tenho uma novidade pra te contar.
-Finalmente, né! Mais de uma semana sem me dar notícias.
-Você não me procurou porque não quis. Não impeço você de ver a nossa filha. Enfim, que seja: eu e o Vitório voltamos.
-Que? Isso só pode ser brincadeira.
-Eu pareço estar brincando?
-Cristina... você não foi capaz.
-Fui. Sabe por que? Porque ele jamais duvidaria de mim como você duvidou. Agora faça o favor de ir embora que eu tenho um dia cheio de trabalho pela frente.
CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella e Patrícia andam pela praia e conversam sobre diversos assuntos, quando Daniella confessa um medo seu.
-Pati... pensando bem, eu acho que tenho um pouco de receio de voltar pro Rio.
-Como assim?
-Quando a gente voltar dessa viagem, eu posso encontrar um Gustavo completamente desligado de mim.
-Mas ocê sabia disso desde o começo, não?
-Sabia sim. Mas sinto esse receio...
-Isso não te faz sofrer?
-Sabe que não? Me inquieta, é claro... mas não chega a me fazer sofrer. Pelo menos, não me permito sofrer.
-Não se permitir não significa estar livre do sofrimento, amiga...
-Verdade. Não significa. Mas ainda assim, Pati... de que adiantaria alimentar isso? Me convencer de que o egoísmo é uma saída racional tá fora de cogitação...
-Não entendi. Ninguém falou em egoísmo...
-Eu sei... mas alimentar certos pensamentos me faria egoísta. E isso vai contra tudo o que eu entendo por amor...
-Às vezes demoro pra conseguir acompanhar seus pensamentos... mas eu sei que ocê tá coberta de razão.
-Não me sinto bem de imaginar que posso chegar lá e encontrar o Gustavo totalmente desligado do que eu idealizei.
-Você idealizando?
-Todo mundo idealiza. Até quem não diz...
CORTA A CENA.
CENA 6: Em horário de descanso, Gustavo tenta conversar com Flavinho.
-Ei... tava bom o almoço?
-Tava.
-O meu também tava ótimo. Mas me conta, como vai sua mãe?
-Ela não é minha mãe.
-Ah, ocê me entendeu. Como vai a dona Bernadete?
-Bem.
-Credo, Flavinho. Precisa ser tão seco assim comigo?
-Não tou sendo seco.
-Imagina então se estivesse sendo, né? Mal abre a boca pra falar e, quando fala, é uma ou duas palavras.
-Só não tou a fim de conversa.
-Olha, se foi por essa noite...
-Deixa isso pra lá.
-Eu deixaria, se ocê estivesse agindo de uma forma minimamente mais madura diante disso.
-Gustavo... me deixa sozinho, vai! Eu tou pedindo...
-Você que sabe. Mas não vai se arrepender depois.
-Não tenho do que me arrepender.
-Então tá. Boa sorte.
CORTA A CENA.
CENA 7: Fábio desabafa com Maurício sobre comportamento de Cristina.
-Fala, pai... desabafa. Eu tou vendo que cê tá triste.
-Eu não sei como a Cristina foi capaz de chegar a esse ponto...
-Ah, não sabe mesmo? Tem certeza que não sabe?
-Dispenso suas ironias, Maurício... que eu me lembre, eu ainda sou seu pai e não gosto quando você me trata dessa forma.
-É dessa forma que talvez você se acorde, pai.
-Me acordar pro que? Eu sei que fui machista.
-Sim, foi. Mas reconheceu isso meio que tarde demais, não?
-Cê acha, filho?
-Não pra sempre, pai... mas nesse momento sim. Respeita as escolhas e o tempo dela.
-Aceitar ela estar com o cara que sequestrou ela? Um pouco demais pra mim...
-Você foi responsável por isso, pai... aceite esse fato ou não.
CORTA A CENA.
CENA 8: Maria Susana elogia Elisabete.
-Tou gostando de ver...
-O que, amor?
-A sua mudança...
-Que mudança, boba? Não tem mudança nenhuma acontecendo, de onde você tirou uma coisa dessas?
-Tá vendo? Ficou tão intrínseco a você que você nem notou.
-Continuo sem entender.
-Reparou que faz uma semana que você não dá ataque de ciúme comigo?
-Ah, mas isso não significa que eu não sinta!
-Sim, amor... mas significa que cê tá aprendendo a dominar as suas próprias sombras e a conviver com elas em harmonia...
-Sabe que cê até tem razão? Desde que comecei a me tratar eu me sinto mais presente em mim mesma. Como se eu tivesse uma lente de aumento, sobre mim e tudo o que é meu...
-Tá vendo? É assim que a gente começa...
-Você fala como se soubesse...
-E sei, boba... durante um longo tempo eu fiz análise por vontade própria, pra me compreender melhor...
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 9: Vitório vai à clínica buscar Cristina e enquanto ela arruma suas coisas, desabafa.
-Sabe, Vitório... eu sinto que nunca vou ser totalmente feliz no amor...
-Esquece isso. A vida é longa e cheia de surpresas. Não dá pra ser fatalista assim...
-Cê tem sido incrível comigo, sabia?
CORTA A CENA.
CENA 10: Na saída da clínica, Gustavo corre atrás de Flavinho e o segura pelo braço. Flavinho se impacienta.
-Fala o que quer e me solta!
-Eu acho que a gente precisa conversar sobre ontem.
-Não tem nada pra ser dito. Aliás, acho bom a gente nem ser mais amigo, viu?
Gustavo fica perplexo. FIM DO CAPÍTULO 166.
Nenhum comentário:
Postar um comentário