CENA 1: Madame Marie percebe que Giovanna ficou paralisada de medo e procura tranquilizá-la.
-Não tiro pedaço não, viu? Não vou te morder...
-Longe de mim pensar isso, Madame...
-Por que a gente não volta lá pra dentro e toma um café?
-Por mim tudo bem.
-Confia, Giovanna... não tem nada que eu não diga que não seja real. Não há o que temer.
-Tá certo... vamos.
As duas rumam até a praça de alimentação e ali tomam um café. Giovanna estranha silêncio de Madame Marie.
-Não gosto quando você fica muda assim, Madame...
-Me dá a sua mão esquerda.
-Que?
-Calma, Giovanna. Não vou fazer nenhum ritual satânico, se é isso que cê tá pensando. Trata-se apenas de quiromancia. Não arranca pedaço de ninguém.
Giovanna estende a mão, receosa.
-Não precisa temer. O que eu consigo ver, pelas linhas da sua mão, é que você tem um conflito absurdo de personalidades. No plural. É impressionante, isso... já vi isso em algumas poucas pessoas antes...
-Viu o que?
-Várias pessoas, várias personalidades dentro de uma pessoa só. Existem pelo menos quatro de você. Completamente diferentes. Uma Giovanna de cada. É importante você encontrar um ponto de equilíbrio entre elas todas... ou então...
-Ou então o que?
-Você vai acabar perdendo de vez a conexão com a realidade desse mundo.
-Enlouquecer? Morro de medo disso...
-Mas se você não aprender a conhecer cada uma das personalidades que vive dentro de você, é exatamente o que vai acabar acontecendo.
-Não me assusta...
-Não disse pra te assustar. É um alerta, um aviso. Você ainda tem a chance de administrar tudo isso...
Giovanna fica apreensiva. CORTA A CENA.
CENA 2: Gustavo fica apreensivo, esperando pela resposta de Daniella a seu pedido de casamento.
-Não vai me dizer nada? Eu acabei de te pedir em casamento...
-Você sabe o que eu penso sobre casamento, não sabe? Me surpreende que você tenha achado que isso é uma ideia a se considerar...
-Uai, tanta coisa mudou entre a gente que eu pensei que...
-Não me leve a ma, Gustavo. Você sabe muito bem o quanto eu te amo. Mas não a ponto de querer casar. Casar nunca esteve nos meus planos e, sinceramente, eu não acredito que um dia nessa vida vá estar.
-Duro ouvir isso. Quem sabe a gente não tenta só um noivado, como teste pra ver se ocê vai adiante não não...
-Tá certo. A gente pode noivar. Mas vou antecipando que não vai passar disso. Tudo bem ainda assim?
-Tudo bem.
-Deixando claro que, se eu sentir que tou num navio afundando, eu pulo fora na primeira oportunidade, combinado?
-Combinado...
-Então tá tudo certíssimo. A gente fica noivo.
CORTA A CENA.
CENA 3: No dia seguinte, ao amanhecer, Valéria desperta e vê William já acordado na sala, tomando um café.
-Que bom que ocê tá acordado, tava mesmo precisando levar um papo sério e não queria mais adiar.
-Uai, Valéria... pode falar.
-Sabe o que é? Eu tou vendo que tudo isso aqui tá meio sem sentido. Inútil, mesmo.
-Como assim?
-Não pense que sou ingrata. Trabalhar na revista se transformou em parte fundamental da minha vida. Mas não quero mais essa casa. Não quero mais me enganar, muito menos te iludir fazendo acreditar que alguma coisa além de amizade pode rolar entre nós. Porque não vai acontecer. Eu não consigo mais. Espero que ocê entenda...
-Eu não sei o que responder. Me pegou completamente de surpresa.
-Só diz que entende. E que me perdoa por não conseguir mais te amar...
-Isso eu entendo, só preciso de mais um tempo pra pensar em tudo. Ocê quer mesmo voltar pra sua casa?
-Quero.
-Me dá até o fim do dia...
CORTA A CENA.
CENA 4: Horas mais tarde, Giovanna desabafa com Valéria sobre encontro com Madame Marie no dia anterior.
-Foi isso, Valéria. Desculpa desabafar com você, mas é que só mesmo você e a Mônica me escutariam. E como ela não tá por aqui...
-Tenta ficar relaxada. Já vi a Madame Marie. Ela fala através de enigmas. Dificilmente ela coloca as coisas num sentido literal.
-É, mas eu fiquei bem assustada com esse lance dela dizer que tem quatro de mim aqui dentro...
-Deve ter sido um eufemismo, boba. Não se deixe impressionar tanto. Ela sempre diz coisas que a gente acaba entendendo depois, mais pra frente...
-E o que eu faço até lá?
-Tenta relaxar. Esse nervosismo, esse medo em nada ajuda.
-Já me ajuda você me ouvir. Obrigada.
-Disponha, Giovanna. Agora preciso voltar ao trabalho.
CORTA A CENA.
CENA 5: Elisabete, acompanhada de Maria Susana, que aguarda do lado de fora, se consulta pela primeira vez com psicóloga.
-Boa tarde, me chamo Elisabete.
-Prazer. Sou Rosângela, mas pode me chamar de doutora Rô ou só Rô, se quiser.
-Prefiro chamar de doutora. Pelo menos agora.
-Como preferir. O que te trouxe aqui?
-Ando sofrendo com minhas inseguranças em medo, sabe? Tudo isso anda me levando a sentir muito ciúme da minha esposa. Com tudo, com todos, o tempo inteiro. Sinto que estou perdendo o controle e não consigo impedir meus pensamentos negativos.
-Interessante. Fale mais sobre isso.
-Eu nunca fui uma pessoa muito confiante, pra ser bem sincera.
-Prossiga.
-Fui casada por mais de vinte anos com meu ex marido. Tive meu filho Maurício desse casamento. Mas muitos anos antes do divórcio, o casamento já tava acabado, sabe? Eu me recusava a entender ou aceitar isso. Cheguei a tentar suicídio em determinado momento, acredita? Não via nenhum horizonte possível na minha vida antes de conhecer a Maria Susana...
-Entendi... então você foi com todas essas feridas abertas ainda...
-Basicamente, sim...
Elisabete segue falando. CORTA A CENA.
CENA 6: Maurício circula pelo calçadão de Copacabana quando se depara com Daniella se exercitando na beira da praia e fica ali, admirando. Maurício tenta se concentrar novamente em seus exercícios, mas acaba novamente se deixando distrair e encantar pela beleza de Daniella.
-Ei, Maurício! Volta a si, cara! Você nunca foi de babar desse jeito por mulher nenhuma! Foco! - fala, consigo mesmo.
Maurício volta a se concentrar em seus exercícios e quando ele está se alongando, leva um esbarrão. Maurício percebe que a pessoa derramou suco de uva em sua camiseta e reclama.
-Poxa vida, cara! Minha camisa novinha! - reclama Maurício.
Quando Maurício levanta o rosto, percebe ser Daniella.
-Desculpa, moço... ei, desculpa a pergunta, mas você não é o filho do Fábio? - pergunta Daniella.
-Sou sim, como cê sabe disso, garota?
-Sou Daniella, cunhada ou ex cunhada do seu pai. Nem sei mais em que pé ele e a Cristina estão...
-Não é possível. Você que é a irmã mais nova da Cristina? Não sabia que você era tão gata assim... ai, desculpa, te deixei sem graça...
-Sem graça tou eu de fazer a desastrada e me esbarrar em você. Que maneira ridícula de conhecer o filho do meu cunhado!
-Relaxa. Mas agora você me deve uma camiseta nova! - descontrai Maurício.
-Ah, é assim? Então você me deve um suco de uva! - prossegue Daniella.
CORTA A CENA.
CENA 7: Valéria vai à sala de Giovanna, que se surpreende.
-Que milagre você vir aqui por conta própria. Quer um cafézinho? Acabei de colocar cartuchos novos aqui na máquina.
-Por favor, tou mesmo precisada de um café. Trabalho tá puxado hoje.
-Eu confesso que fiquei feliz de te ver aqui.
-É que te achei tensa ainda, depois daquela conversa de mais cedo. Tá se sentindo melhor?
-Tou sim. Você é mesmo uma pessoa especial, Valéria. Iluminada, eu diria. Consegue se preocupar comigo quando ninguém mais parece se importar, além do Hugo, claro... quer dizer, ai... desculpa, não devia ter falado nele.
-E por que não? Apesar de tudo, ele continua seu amigo. E isso é bom. Sabe de mais uma coisa?
-O que?
-Tudo isso, essa sua exposição tão sincera sobre seus medos e suas inseguranças... me mostraram uma outra Giovanna... uma Giovanna que eu não conhecia e nem suspeitava existir. Foi positiva a surpresa. Hoje eu sinto que você tá mesmo focada nesse caminho de mudança. Acredito de verdade nisso.
-Eu fico feliz de verdade por saber disso.
-Dá pra ver no seu olhar que é verdade.
-Isso significa que nós estamos nos tornando amigas?
-Acho muito cedo pra dizer uma coisa dessas. Muita calma nessa hora. Acho que precisamos nós duas de mais tempo pra definir isso. Mas confesso que ando simpatizando de verdade com essa Giovanna que tou conhecendo.
-A recíproca é verdadeira...
CORTA A CENA.
CENA 8: Mônica chama Giovanna para uma conversa.
-Precisando de uma força, Mônica?
-Não. Na verdade, eu queria te dar os parabéns.
-Que? Não tou entendendo... estamos em maio, meu aniversário já passou... não tou entendendo o motivo dos parabéns...
-Não é pelo seu aniversário, boba... é por você estar se reinventando dessa forma.
-Ah... sim. Você notou? Tenho me esforçado pra me tornar uma pessoa melhor pra mim e pros outros...
-Dá pra perceber. Confesso que vejo tudo isso com alguma desconfiança ainda... desculpa a minha sinceridade, mas você conhece bem esse meu jeitinho taurino de dizer tudo na cara...
-Admiro isso, Mônica. Duro mesmo vai ser fazer com que todos acreditem em mim...
-Se eu fosse você, não perderia meu tempo com esse tipo de preocupação. Mais importante é trilhar um caminho bonito, de consciência leve e limpa. Isso é o que realmente importa.
CORTA A CENA.
CENA 9: Antes do jantar, Mauro discute com William.
-Fraco! Isso que ocê é! Não passa de um fracote, um banana, um perdedor. Nem parece meu filho, derrotista desse jeito, entregando os pontos antes mesmo de se lançar de verdade nessa batalha!
-Fraco é ocê, pai! Quem disse que é sinônimo de força dominar as pessoas pelo dinhero e pela influência? De que adianta essa merda toda aqui se no fim das contas tudo isso é ilusão?
-Me surpreende a sua audácia de chamar tudo isso de ilusão. Andou conversando com espiritualista badabauira, foi? Isso tudo aqui é bem real e ocê, meu filho, devia ser menos ingrato, sabe por que? Porque se não fosse a minha interferência, nada disso aconteceria, a Valéria não estaria aqui.
-Por esse preço? Prefiro então que ela vá embora mesmo. Não se força ninguém a ficar.
-Eu não fiz tudo o que fiz pra isso. Eu não chantageei o Leopoldo e coloquei como condição a continuidade da agência e da revista pras coisas terminarem assim. Eu fiz isso por você, meu filho. E você abre mão da Valéria dessa forma? Vai me obrigar a tirar tudo do Leopoldo!
Nesse momento, Valéria chega e escuta o que Mauro diz, ficando chocada.
-Como é que é? O senhor seria capaz de uma atrocidade dessas? - espanta-se Valéria.
FIM DO CAPÍTULO 158.
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