CENA 1: Daniella deixa escapar o oxigênio assim que mergulha, volta à superfície e tenta se acalmar.
-Vamos, Daniella... agora é só você e Deus aqui. Respira fundo, arruma esse negócio e vai atrás do Gustavo!
Após falar consigo mesma, Daniella ajusta o equipamento e torna a mergulhar. Daniella se depara metros abaixo da superfície com Gustavo imóvel e o agarra imediatamente, com o esforço, levando-o até a superfície e o acomodando no barco. Daniella efetua respiração boca a boca ao constatar que Gustavo se afogou. Gustavo desperta, atordoado e assustado. Daniella se alivia.
-Que bom, meu amor! Achei que tava te perdendo!
-Eu afoguei?
-Sim. Do que cê lembra?
-Que ocê tinha me chamado pra subir. Mas quando comecei a te seguir, o ar acabou. Eu não vi que tinha vazamento no tubo. Dali em diante eu só lembro que desesperei, puxei um troço e apaguei.
-Deve ter sido quando você se afogou, no desespero. Que situação, Gustavo! Eu morri de medo!
-Eu vi a morte de perto. E me senti estranho, sabe? De repente eu apaguei. Fiquei suspenso. Não sentia dor, mas tava inquieto. Daí você me trouxe de volta.
-Eu tive tanto, mas tanto medo! Foi uma loucura isso tudo, Gustavo! E aquele inútil do Geraldo, cadê? Esse infeliz simplesmente sumiu e deixou a gente aqui...
-Esquece isso, tou vivo e é o que importa.
-É, mas tá vivo por pouco, por um detalhe. Eu fico imaginando se você tivesse ido mergulhar sozinho e esse instrutor tivesse sumido, como é que ia ser...
-Eu vi mesmo a morte de perto. Mas já passou...
Daniella beija Gustavo.
-Nunca mais faz isso, viu?
-Pode deixar...
CORTA A CENA.
CENA 2: Ao se levantar da mesa, Flavinho sente um aperto no peito e sente vontade de chorar.
-Ai, Valéria... que sensação esquisita...
-O que foi, Flavinho? Será que foi alguma coisa que ocê comeu que bateu errado?
-Não sei. De repente fiquei com uma sensação esquisita.
-Eu, hein... mas pelo menos ocê tá se sentindo bem pra voltar ao trabalho?
-Fisicamente tou legal. Ei, me diz uma coisa: o Gustavo tem ligado?
-Não, por que? Ele tá viajando com a Dani...
-Eu sei que ele tá, mas ocê podia ligar.
-Pra que, Flavinho? Pra incomodar o coitado do meu irmão sabendo que ele tava mais que merecendo essas férias? De jeito nenhum...
-Miga, pres'tenção numa coisa.
-Não gosto quando ocê fala nesse tom, parece que vem bomba...
-Eu não tou com um bom pressentimento. E tem a ver com ele.
-Para de bobeira, viado! Acha mesmo que eu não sei que lá no fundo ocê tá é se mordendo de ciúme dele estar namorando de novo com a Dani porque ocê mesmo foi bobo de não arriscar?
-Quer parar? Eu tou preocupado de verdade, poxa!
-Esquece isso, bobo. Tá tudo certo. Eu preciso voltar pra agência, senão a revista fica sem o fechamento da edição. Fica tranquilo, viu?
Valéria se despede de Flavinho e fica preocupada.
-Não gosto quando ele vem com essas sensações... - fala, consigo mesma.
CORTA A CENA.
CENA 3: Daniella segue assustada e Gustavo tenta tranquilizá-la.
-Amor, já passou. Quem se afogou fui eu... e tou aqui, inteiro.
-Eu sei disso... mas tou assustada, porque eu tive um mau pressentimento antes da gente chamar o Geraldo pra irmos mergulhar.
-Não fica remoendo isso, Dani. Já passou.
-Eu sei que já passou, mas acho que ficou sem condição da gente fica aqui, sabe? Cortou o clima da viagem.
-A gente mal começou essa viagem, amor! Vamos dar uma chance...
-Amor, nós podemos passar as férias no Rio mesmo...
-Ocê tá falando sério?
-Tou. Eu quero voltar pra casa.
-Ai, amor... pra que isso?
-Você sabe que às vezes sou meio sensitiva, não sabe?
-Sei. Tá certo... a gente volta. Mas não precisa ser hoje, precisa?
-Não precisa. Até porque eu tou quebrada e imagino que você esteja também...
CORTA A CENA.
CENA 4: Já de volta à redação da revista da agência, Valéria vê seu celular tocar e percebe que se trata de Gustavo.
-Oi, mano! Que bom que ocê ligou!
-Eita, pensei que tava até atrapalhando seu trabalho...
-Nada... tou bem adiantada por aqui hoje. Mas deixa eu te contar um negócio.
-Deixa eu te contar um trem bizarro antes?
-Claro, mano... pode falar.
-Eu e a Dani vamos voltar pro Rio amanhã. Eu me afoguei hoje mais cedo.
-Que? Como assim, mano? Que horas foi isso?
-Perto do horário do almoço. Eu e a Dani fomos mergulhar e meu equipamento deu problema.
Valéria fica abismada e lembra imediatamente do mau pressentimento que Flavinho teve.
-Bem que o Flavinho falou...
-O que o Flavinho falou?
-Nada não, pensei alto aqui. Que situação, Gustavo! Ainda bem que tudo terminou bem...
CORTA A CENA.
CENA 5: Flavinho vê o celular tocar, percebe que é Valéria e corre para o corredor.
-Fala, Valéria... conversou com o Gustavo?
-Como é que ocê sabe, Flavinho?
-Uai, eu imaginei, né... a gente falou sobre ele mais cedo...
-Foi ele que me ligou, acredita?
-Eita. E tá tudo certo com ele?
-Menino, ocê não vai acreditar. Na hora que ocê teve o mau pressentimento ele tinha se afogado.
-Que? Como assim? Ele tá bem?
-Calma, viado! Ele tá bem, sim. Mas foi um susto danado. O equipamento dele deu problema quando ele tava mergulhando com a Dani. Agora o mais doido: ela teve um mau presságio, pelo que ele me disse, antes de eles irem mergulhar...
-Gente... eu tou passado... nunca pensei que ia rolar esses trem assim comigo... não desse jeito, muito menos que fosse ser com o seu irmão...
-Pois é, Flavinho... e eu então? Fiquei com a cara no chão quando o mano me contou do que aconteceu. Lembrei na hora daquele mau pressentimento que ocê teve logo depois do almoço...
Flavinho fica tocado, mas disfarça. CORTA A CENA.
CENA 6: Giovanna chama Valéria para ir à sua sala e Valéria vai.
-Fala. Giovanna.
-Tá servida de um cafézinho? Tem uns biscoitos aqui também, se você quiser.
-Adorei, Giovanna... tava mesmo vesga de fome e precisava beliscar alguma coisa, mas tava morta de preguiça de sair da agência...
-Queria que a gente conversasse mais, sabe? Trocar figurinhas...
-Desculpa, Giovanna... achei muito gentil da sua parte esse gesto sim, mas não vejo qual assunto que nós possamos ter em comum.
-A gente pode encontrar assuntos, não?
-Giovanna, eu sei que você tá se esforçando em mostrar que não existe mais rivalidade aqui, mas não é bem assim que as coisas funcionam.
-Eu só pensei que nós podemos ser amigas...
-Só que não é forçando a barra desse jeito que as coisas vão chegar onde ocê espera que cheguem....
-Mas... eu não tou forçando a barra.
-Intencionalmente pode até não ser, mas pra quem olha de fora, tá sim forçando uma tremenda barra.
-É que eu não sei como agir.
-Tudo bem não saber como agir. Isso faz parte da vida. Não somos perfeitas e não tem nada de errado nisso.
-Queria ter essa sua compreensão.
-Pode ter. Mas vai com calma, Giovanna... uma coisa de cada vez. É bonito você assumir suas responsabilidades, mas ocê precisa entender que as pessoas tem seu tempo de processar essas suas mudanças...
-Cê fala parecido com o Hugo...
-Enfim, obrigada pelo café e pelos biscoitos, preciso voltar pra redação...
CORTA A CENA.
CENA 7: Leopoldo conversa com Bernadete.
-Eita, me olhando sério desse jeito por que? Parece que tá me condenando, Leopoldo...
-Ainda não.
-Como assim?
-Acho que cê tá perdendo tempo, sabia?
-Não tou entendendo essa sua conversa, sinceramente.
-Tá sim... finge que não tá entendendo porque tem medo.
-Medo do que? Depois que eu vi a morte de perto e passei pelo luto de perder o nosso filho, meu querido, eu não tenho mais medo de nada!
-Será mesmo?
-Leopoldo, quer ser mais direto?
-Precisa?
-Precisa sim porque a minha bola de cristal anda quebrada e a Madame Marie some quando bem entende...
-Não sou eu quem vai te mostrar o caminho das pedras. Seu coração sabe.
-Eita. Não sabia dessa sua vocação pra conselheiro enigmático pós-moderno. Osho perde!
-Para de gracinha e vai correr atrás do que é seu, vai!
CORTA A CENA.
CENA 8: Ao chegar em casa e rumar ao quarto, Valéria se depara com William paparicando o filho e para ali, silenciosamente, sem ser vista, observando a interação de William com Leonardo.
-Eita, que menino agitado! Olha só o que o papai faz pro Leozinho!
William faz caretas e Leonardo ri. Valéria se encanta e segue observando.
-Ah, que coisa gostosa esse riso, meu Deus!
Valéria olha para William na tentativa de resgatar o amor que um dia sentiu por ele, mas em sua mente, vem Hugo, a quem ela vê projetado através da figura de William. Valéria fica confusa e sai dali sem ser vista.
-Ai, meu Deus... eu juro que tou tentando. Mas não tá mais dando! Eu realmente não tou conseguindo...
CORTA A CENA.
CENA 9: Sérgio recebe Mônica para um jantar e desabafa com a amiga.
-É bom que você tenha vindo, sabe?
-Por que? Tá precisando conversar sobre alguma coisa? Tem a ver com a Bernadete?
-Como é que cê sabe?
-Sua expressão se modifica quando você pensa nela.
-Sabe o que é? Eu sinto falta dela. Também sinto amor. Só que, ao mesmo tempo, eu fico com um tremendo receio de que nunca mais nessa vida eu vá viver plenamente um amor. Principalmente com ela... já passamos por tanta coisa, sabe? Nossas cicatrizes são bem visíveis.
-Amigo... vai por mim: existem coisas mais importantes nessa vida do que viver pelo amor de romance. Tudo bem se não acontecer. Mas esse seu pensamento derrotista, sinceramente, não ajuda nada...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 10: Horas mais tarde, Sérgio se prepara para dormir quando é surpreendido pela campainha tocando.
-Cristina, cê tá esperando alguém, filha? - pergunta Sérgio.
-Não, pai! Na verdade já tou quase dormindo aqui! - responde Cristina.
-Estranho, gente...
Sérgio vai atender a porta e se depara com Bernadete, ficando paralisado.
-Não vai dizer nada, Sérgio?
-É que eu realmente não esperava que você viesse me ver, ainda mais numa hora dessas...
-Sabe o que é, Sérgio? Já foi muito tempo perdido, adiando o que se podia sentir, o que eu queria dizer... eu te amo.
Sérgio se emociona. FIM DO CAPÍTULO 155.
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