quinta-feira, 18 de maio de 2017

CAPÍTULO 160

CENA 1: Leopoldo segue encarando Mauro com firmeza e raiva.
-Além de velho, deu pra ficar surdo agora, Mauro? Eu disse que eu exijo que você devolva as minhas ações. Todas elas, da agência e da revista!
Mauro começa a gargalhar. Leopoldo se impacienta.
-Dispenso o seu deboche.
-Você pede pra que a gente deboche, Leopoldo. Não percebeu que esse seu peito estufado e essa voz grossa são completamente inúteis?
-Vamos ver se vai ser inútil quando eu te colocar na justiça.
-Não perca o seu tempo. Tudo isso foi feito inteiramente dentro da legalidade. A única forma de ocê conseguir suas amadas ações de volta é me pagando todo o dinheiro que me deve. E se eu fosse ocê, Leopoldo, levantava as mãos pro céu por eu não ter demitido a Valéria. Ela que é a garantia da recuperação das suas finanças, a sua galinha dos ovos de ouro!
-Ao contrário de você, felizmente eu não trato as pessoas como objeto ou moeda de troca. É verdade, já estive perto disso na vida, mas caí em mim a tempo.
-Nossa, que bonito, isso. Aprendeu essa lição de moral indo à missa, foi?
-Não. Certas coisas são questão de caráter.
-Caráter não é garantia de nada. Veja onde ocê tá agora... por inconsequência sua. Adiantou ser bem intencionado? Não. A lei me ampara, Leopoldo. Desista.
-Desistir é a única palavra que não existe no meu vocaublário.
-Pois devia, viu? Vai perder seu tempo tentando me dissuadir do que eu já decidi. Não tenho medo de cara feia nem de gente descontrolada. Ponha-se daqui para fora.
-Eu vou. Mas saiba que eu vou contatar um advogado e me informar sobre tudo. Está claro que você agiu de má-fé desde o começo.
-O duro vai ser provar. Eu tenho mais dinheiro e ocê sabe como funcionam as coisas nesse país. Manda quem tem grana. Agora fora da minha casa.
-Já vou embora. Mas não pense que vai ter descanso, velhote.
-Ui, eu estou tremendo de medo!
-Deveria.
-Você é patético Leopoldo.
-Não mais que você. Cuidado, viu? A velha canção já dizia: “mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco...”. Então se prepara, porque a hora do tombo chega.
Leopoldo parte, deixando Mauro pensativo. CORTA A CENA.

CENA 2: Gustavo vai dormir na casa de Daniella e conversa com ela no quarto.
-Foi isso, Dani... o Flavinho fez aquela pose de durão que ele costuma fazer, como bom taurino que é, mas eu notei que ele ficou abalado.
-Bem, a gente meio que já esperava por isso. Afinal de contas, é natural que ele sinta uma ponta de arrependimeto pelo que podia ter feito e não fez por puro preconceito, por pura bifobia.
-É, mas doeu ver ele daquele jeito.
-Ué, como assim doeu? Não tou te entendendo...
-Eu sei que ele ficou chateado.
-E o problema é de quem, se ele realmente ficou chateado?
-Ah, não é bem assim...
-É assim sim, Gustavo. Não sei porque você fica se abalando diante disso. Deveria estar numa boa. O noivado é comigo, não com ele!
-Nossa, não é pra tanto!
-Claro que é. Será que você não vê? Dessa forma o coitado do Flavinho, sem culpa direta, acaba se tornando uma sombra entre a gente...
-Mas eu não me abalei!
-Não?
-Não!
-Então não se fala mais nisso, combinado?
-Combinado.
CORTA A CENA.

CENA 3: Nicole, Bernadete e Sérgio escutam desabafo de Leopoldo a respeito de Mauro.
-Então é isso, gente: aquele velho decrépito sabe que tem poder e influência por causa do dinheiro, vai dificultar a nossa vida até onde puder. Ele sabe que eu não disponho desse dinheiro todo... - fala Leopoldo.
Nesse momento, Valéria passa por eles e escuta a conversa.
-Gente, desculpa me meter, mas eu ouvi a conversa e só digo uma coisa: o velho não é doido de mexer em time que tá ganhando. Eu saí da casa, mas continuo na editora e com plenos poderes. Ele sabe que eu levantei tudo aquilo praticamente sozinha e não me descartaria, porque valio ouro pra ele. E sei disso. Se precisar, eu mesma arranco dinheiro daquele mau caráter e dou pra vocês! - fala Valéria.
-Não vai ser preciso... - fala Sérgio.
-Não vai mesmo. Eu e o Sérgio guardávamos umas economias, de quando éramos casados e desde que o plano real foi implantado. Em resumo: são vinte e três anos de economias. Sabemos que esse dinheiro vai ser bem aplicado ajudando vocês... - determina Nicole.
Bernadete e Leopoldo se surpreendem. CORTA A CENA.

CENA 4: No dia seguinte, ao final da consulta, a psicóloga de Elisabete chama Maria Susana para uma conversa com as duas.
-Então, doutora Rosângela... o que você tem a dizer? - pergunta Maria Susana.
-Em primeiro lugar, que você tem agido certo desde que recomendou que sua esposa viesse fazer acompanhamento psicológico. Andei repassando o caso tanto pro meu psicanalista quanto para psiquiatras e todos eles foram categóricos ao afirmar que o caso de Elisabete não é depressão crônica. Ela teve picos depressivos sim, mas tudo isso foi uma maneira dela se fazer notada, se fazer vista. A verdade é que Elisabete se condicionou a isso, de certa forma: se colocou em segundo lugar na própria vida e a partir disso, passou a crer que todo mundo nessa vida sempre a enxergaria como segunda opção. Não é que ela não saiba receber o seu amor, Maria Susana: ela não consegue ver amor em tudo, somente. Tem medo de perder. - fala a psicóloga.
Elisabete chora e Maria Susana, contendo a emoção, segura a sua mão.
-Eu estou sempre ao lado dela. Vamos enfrentar essas dificuldades juntas. O que importa é que haja esse reconhecimento. No processo todo, eu ajudo como puder... - finaliza Maria Susana.
CORTA A CENA.

CENA 5: Cristina circula pela clínica e Flavinho a vê se segurar, aparentemente tonta. Flavinho a acode.
-Tá tudo certo?
-Não. Que bom que cê apareceu, Flavinho.
-Tontura da gravidez?
-Antes fosse... na verdade eu tou com medo de ficar cega de novo, isso sim.
-Nem brinca com uma coisa dessas, chefinha...
-Tou falando sério... eu senti a minha visão turvar de um jeito que eu não sentia há muito tempo...
-Já parou pra pensar que isso pode ser mais decorrente do estresse?
-Com o histórico que eu tenho, Flavinho, eu não contaria com isso. Eu tenho uma doença degenerativa, esqueceu?
-Tinha. Mas fez o transplante.
-Que é experimental e não tem garantia nenhuma de eficácia.
-Procura pensar positivo...
-É o que me resta, querido... é só o que me resta.
-Tá enxergando melhor agora?
-Sim. Obrigada pela ajuda. Já posso voltar tranquila pra minha sala.
CORTA A CENA.

CENA 6: Nicole, Sérgio e Bernadete tentam animar Leopoldo.
-Querido, eu acho que passou da hora de você bater de frente com o Mauro... - fala Nicole.
-A Marilu tá certa. Esse cara precisa ser detido, de uma forma ou de outra... - fala Bernadete.
-Cês dizem isso, mas eu não conto com isso. Quem garante que ele vai aceitar? Não é só pelo dinheiro. É pelo poder. Esse cara é obsessivo pelo poder, isso sim! - desabafa Leopoldo.
-Independente disso, cara... a quantidade em dinheito que cê pode oferecer pra ele pode calar a boca dele bonito... - estmula Sérgio.
-Sei não, gente... o Leopoldo tá certo. Aquele Mauro é raposa velha. Bem capaz de recusar qualquer quantia exorbitante se isso for significar perder poder e prestígio, na cabeça dele. - considera Bernadete.
-Ai caramba, Dete! Mesmo depois de tudo o que cê passou nessa vida, consegue ainda ser pessmista? - espanta-se Nicole.
-Amor, ela tá sendo realista, isso não tem nada a ver com pessimismo. Essa raposa é difícil mesmo de se persuadir... - conclui Leopoldo.
-Pelo menos a gente tem uma carta na manga... - fala Sérgio.
-Meu receio é que essa carta na manga não nos sirva pra nada. Pior que isso: a gente ainda corre risco real de perder essa casa. Nem me preocupo por nós, a gente se arranja onde der, mas e o Flavinho? Esse menino é um filho pra mim... e a própria Valéria... virou família, não adianta... - preocupa-se Bernadete.
CORTA A CENA.

CENA 7: Gustavo percebe que Flavinho se esquiva dele nos corredores da clínica e vai atrás dele. Flavinho se impacienta.
-O que é que ocê quer?
-Credo, que grosseria!
-Gustavo, eu tou cheio de coisa pra fazer hoje, não é nada contigo. Fala logo que eu ainda tenho que verificar como está a distribuição dos medicamentos no trezentos e sete.
-Eu queria saber porque ocê tá estranho comigo.
-Cara, eu tou normal. A gente tá em ambiente de trabalho, esqueceu?
-Não esqueci, mas faz dias que ocê nem lembra de ajudar as crianças a rir.
-Pra que eu vou fazer isso? É tarefa sua e ocê faz muito bem, por sinal. Acho que não tenho mesmo vocação pra colocar nariz vermelho de palhaço.
-Depois me diz que não tá diferente comigo. Tá exalando fel...
-Isso é percepção sua. Questão de perspectiva. Não sou responsável pelo que ocê entende a meu respeito.
Gustavo se irrita.
-Quer saber? Que se foda. Tá insuportável tentar manter um diálogo decente com você. Fica bem aí...
CORTA A CENA.

CENA 8: Hugo almoça mais uma vez com Giovanna.
-Que bom que cê veio.
-Aproveitei que meu pai foi com com a Valéria atrás do seu amigo...
-Quero nem ver. Sou amiga do Mauro, mas sei que ele é uma raposa velha que não larga o osso tão fácil. Enquanto ele puder usar a agência e a revista como trunfos, ele vai usar...
-Exatamente. É sobre isso que eles estão indo tratar.
-Desejo boa sorte a todos, porque eles vão precisar de muita sorte, lidando com o Mauro...
-Você tá mesmo mudada... em outros tempos, provavelmente se associaria a ele.
-Não vou mentir: me associaria sim. Eu sempre quis tirar vantagem das situações. Não faço segredo disso... mas quero fazer diferente agora. Melhor ainda: quero poder fazer algo por você e pela Valéria. Sinto que devo isso a vocês, como um pedido de desculpas, sabe?
-Não precisa disso.
-Precisa sim. Só me dizer o que eu posso fazer que eu não penso duas vezes. Só não me jogo nos trilhos do metrô!
Hugo ri.
-Boba. Não precisa fazer nada. Seja apenas você mesma que tá de bom tamanho.
CORTA A CENA.

CENA 9: Leopoldo e Valéria chegam à casa de Mauro, que ri ao se deparar com os dois.
-Vocês são mesmo previsíveis. Tinha certeza que vinham me procurar. - fala Mauro.
-Ainda bem que sabe. A gente veio aqui colocar todas as cartas na mesa. Jogo limpo. - fala Valéria.
-É isso mesmo. Tenho o dinheiro para comprar todas as ações de volta. - fala Leopoldo.
Mauro encara os dois, incrédulo. CORTA A CENA.

CENA 10: Aproveitando o horário de descanso e almoço, Gustavo corre até a cantina e vê que Flavinho já está ali.
-Oi, Flavinho. Posso sentar aqui?
-Não.
-Nossa, eu achei que podia.
-Gustavo, eu já falei que tou com a cabeça cheia de coisa hoje.
-Não acredito.
-Problema é seu.
-Olha aqui, garoto: eu te conheço faz uma vida toda e eu não vou aceitar nem admitir que ocê me trate desse jeito só porque enfiou meia dúzia de besteira na cabeça. A gente vai conversar sim!
FIM DO CAPÍTULO 160.

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