CENA 1: Vitório olha apreensivo para Cristina, que percebe que ele treme de nervoso.
-Se acalma primeiro, cara. Entra e senta aqui no sofá. Tá melhor?
-Só quero saber se eu tenho o seu perdão.
-Vitório, cê acha que eu deixaria você entrar e se sentar se eu não tivesse te perdoado?
-Você não faz ideia do quanto isso me alivia. Me abraça?
-Ei, calma aí, rapaz! Muita calma nessa hora. A gente precisa colocar os pingos nos is. Te perdoei sim, mas não tou boa pra abracinho. Não relevei nada do que você fez, muito menos o sequestro. Tou satisfeita de te ver em liberdade e arrependido, te perdoei sim. Mas perdoar e relevar não são sinônimos. Pensei que você soubesse disso.
-Eu sei. Agradeço de coração pelo seu perdão. Sabe, Cristina... eu tenho reavaliado muita coisa na vida...
-Fico feliz que esse momento tenha chegado. Pena que você tenha que ter chegado a tal ponto pra começar a aprender...
-Nunca é tarde. Acreditei que as relações eram norteadas por poder, dinheiro, prestígio...
-Pelo menos compreendeu que tudo isso era totalmente errado e vazio, ainda que tenha sido a duras penas. Ainda que tenha me sujeitado ao pior do seu descontrole...
-Se arrependimento matasse...
-Ainda bem que não mata. É a oportunidade de crescer e aprender de verdade através disso tudo...
-Você parece triste...
-Longa história. Você deve saber a razão.
-Não queria tocar nesse assunto... sinto que tenho culpa.
-Nisso não tem. O Fábio questionou a paternidade desse bebê que eu espero por machismo próprio. Não é sua culpa. Vitório, sem querer te dizer nada, mas já vai ser uma da manhã. Com cê vai fazer pra voltar pro seu apê?
-Eu precisava vir aqui. Agora tá ruim pra ir embora. Seria muito incômodo se eu dormisse aqui?
-Eu tava mesmo pensando em sugerir isso. Mas que fique clara uma coisa: você é só meu amigo. E disso nunca mais nessa vida vai passar. Nunca mesmo! Então é cada um no seu quadrado...
CORTA A CENA.
CENA 2: Érico recebe ligação inesperada de Guilherme e atende estranhando.
-Fala, Gui...
-Tá bem acordado ainda?
-Sim.
-Então abre pra mim que eu tou na frente da sua casa.
Érico se espanta e abre para Guilherme.
-O que te deu, cara?
-Vontade de ir no pé sujo do seu Josivaldo. Vamos beber alguma coisa?
-Nossa, parece que cê tava adivinhando. Tou mesmo precisando de uma cerveja bem gelada.
-Então vamos?
-Claro! Só espera eu pegar minha jaqueta.
Instantes depois, os dois bebem e Érico desabafa com Guilherme.
-Então foi isso, Gui: o Flavinho achou melhor me pedir um tempo. E ainda foi pelo celular, acredita?
-Gente... eu pensei que cês tivessem numa boa.
-Acho que nunca foi completamente numa boa.
-Como assim?
-Você não entenderia...
Guilherme se enche de esperança de reconquistar Érico, mas disfarça diante dele. CORTA A CENA.
CENA 3: Cristina acaba desabafando com Vitório enquanto arruma as acomodações dele.
-Pode desabafar sem medo, Cristina.
-É estranho olhar pra você, saber de tudo e te ver assim, disposto a me ouvir.
-Tou vendo que você precisa botar pra fora. Tá doendo separar do Fábio, não?
-Sim. Tá. Principalmente porque ele mesmo causou esse nosso fim
-Talvez não seja o fim. Você tá grávida dele outra vez.
-Desde quando filho é garantia de alguma coisa? Crianças são vidas, meu amigo. Vidas não são moeda de troca.
-Mas tá na cara que cê tá sofrendo...
-Tenho meus motivos e você sabe bem quais são. Não consegui suportar, me senti ultrajada pela desconfiança dele.
-Quer que eu converse com ele?
-Ficou maluco? De nada adiantaria. Depois, ele devia acreditar em mim desde o começo. Bem, eu vou voltar pro meu quarto. Espero que você se acomode bem aí. Boa noite.
CORTA A CENA.
CENA 4: Guilherme acaba bebendo demais e Érico percebe que ele está completamente bêbado.
-Cara, cê tá legal?
-Tou meio tonto...
-Meio tonto? Quantas cervejas você bebeu? Perdi a conta...
-Vish... eu nem lembro. Acho que preciso voltar pra casa...
-Nesse estado e sozinho? Você vai acordar o seu Humberto e a dona Armênia, isso sim!
-E o que você sugere?
-Eu te levo. Vem comigo e colabora pra não chegar quebrando tudo, né?
Quando Érico começa a carregar Guilherme em seus braços, Guilherme aproxima sua boca da boca de Érico, que se esquiva.
-Cara... cê tá fora de si. Vamos pra sua casa. Colabora, vai!
CORTA A CENA.
CENA 5: Na manhã seguinte, Vitório conversa com Cristina ao servir seu café.
-Cris... o que vai ser de você e mais essa criança?
-Ué, vai ser o mesmo que sou eu e a Arlete. Mãe e filho.
-Sim, mas como vai ser com o Fábio?
-Ele é pai. Da mesma forma que ele passa uns períodos com a Arlete, vai passar um tempo com o meu filho...
-Sim, mas cê não acha que isso é insuficiente?
-Acho. Mas eu me viro do jeito que eu puder me virar. Simples.
-Eu acho que tenho uma solução.
-Que solução logo você pode ter, cara?
-Assumir as crianças. Ou pelo menos esse bebê que cê tá esperando.
-Ficou maluco, Vitório? Isso é uma insanidade, uma completa loucura! Depois, você ainda responde a processo criminal. Pode acabar preso outra vez.
-Você não entendeu. Isso seria a chance perfeita pro Fábio perceber que errou. E fazer o possível pra consertar o erro que cometeu contigo.
-Continua sendo uma loucura, mesmo que seja uma fachada. Depois, ele devia ter percebido por conta própria. De qualquer forma, ele já perdeu o tempo.
-Eu sou prova que há sempre tempo enquanto houver vida...
-Vitório, eu agradeço pela intenção, mas se você quer realmente ajudar, então não atrapalha...
CORTA A CENA.
CENA 6: Horas depois, Flavinho percebe que Cristina circula pela clínica com expressão distraída e vai atrás dela.
-Tá tudo certo, chefinha?
-Tá sim, Flavinho. Por que a pergunta?
-Porque cê tá com uma cara de quem tá com a cabeça longe...
-E tou mesmo, viu?
-Desculpa a indiscrição, mas por que?
-Se eu te contar, cê vai me julgar. Não é nada pessoal, Flavinho. Além de meu funcionário, você é meu amigo. Mas é que agora, nesse momento, eu prefiro não dizer.
-Já sabe, né? A hora que quiser...
-Eu sei, querido. Agradeço por isso. Tudo o que posso te dizer agora é que tem a ver com uma proposta inusitada que eu recebi.
-Nossa... sério?
-Sim. Mas não tem nada a ver com nada aqui da clínica. Fica tranquilo.
-Eu tou tranquilo. Você é quem não tá lá muito tranquila...
-Não tou mesmo... você pede pra Edileusa preparar aquele chá que só ela sabe fazer?
-Peço sim...
CORTA A CENA.
CENA 7: Daniella e Patrícia embarcam em avião rumo à Bahia e conversam assim que avião decola.
-Dani, ocê não acha meio tiro no pé isso tudo aqui?
-Ué, Pati... não tou te entendendo... não foi você que ficou toda feliz e empolgada de ir visitar a Bahia pela primeira vez na vida?
-Sim, mas não tou pensando em mim...
-Devia, boba. A gente vai aproveitar esses dias, conhecer Salvador, Santana do Agreste... todos os lugares que a gente quiser.
-Eu sei, amiga... mas tou falando que pode ser um tiro no pé no sentido de esfriar a sua relação com o Gustavo.
-Se esfriar, a gente vê...
-E ocê fala isso com essa calma?
-Queria que eu falasse como? Não seja boba... não se esqueça que na vida a gente não controla ninguém. Não pertencemos uns aos outros. Somente a nós mesmos... depois, eu prefiro correr esse risco.
-Sério?
-Sério. Antes correr esse risco e esgotar todas as possibilidades antes de tomar qualquer decisão. Esqueceu que ele inventou que queria casar? Esse tempo longe pode ajudar a repensar...
-Bem, olhando por esse lado...
CORTA A CENA.
CENA 8: Nicole ouve desabafo de Nicole a respeito de Flavinho.
-Sabe, Marilu... eu queria poder decidir o rumo da vida do Flavinho...
-Ué, não entendi. Pensei que cê tivesse de boa com ele ser gay.
-Não é isso. Ele não tem meu sangue, mas é meu filho. Tou mesmo preocupada é com o rumo que ele anda dando pro coração.
-Cê acha que o namorado dele tem algo de errado?
-Não. Quer dizer... sim. Não o rapaz, mas esse relacionamento. Tá fora do lugar, eu posso perceber. E tenho medo que o Flavinho sofra por isso.
-Se ele sofrer, é normal...
-Mas queria evitar, Marilu...
-Amiga... tem horas na vida que a gente precisa aprender a deixar de ser mãe... nossos filhos vão sofrer. Vão fazer besteira. A gente faz besteira até hoje, não faz?
-Sim, mas...
-Deixa eles fazerem as deles. Eu deixo a Cris e a Dani fazerem as besteiras que elas quiserem. Deixa o Flavinho sofrer. Deixa ele chorar... ele vai saber se levantar.
CORTA A CENA.
CENA 9: Horas depois, já de noite, Flavinho estranha pressa de Cristina em fechar a clínica.
-Não entendi, Cris...
-Não entendeu o que?
-Ocê mandar todo mundo mais cedo pra casa e fechar mais cedo em plena segunda-feira...
-Sabe o que é?
-O que?
-Ando enjoando um bocado com essa gravidez. Acho que tou pagando meus pecados, tá bem pior do que quando eu tava grávida da Arlete...
-Engraçado que ocê não parece enjoada...
-Mas tá horrível. Então eu achei melhor fechar a clínica por hoje, já que tava tudo tão tranquilo. Aproveita, bobo... aproveita e vai ver seu namorado!
-Nós estamos dando um tempo...
-Ah, desculpe. Bem, de qualquer forma, até amanhã.
CORTA A CENA.
CENA 10: Vitório assiste TV em seu apartamento quando ouve a campainha tocar.
-Ah não... será que a mamma voltou pro Rio e não me avisou? Detesto essas surpresas... - esbraveja Vitório.
A campainha continua tocando e ele se impacienta.
-Já vai, caspita!
Vitório abre a porta e se depara com Cristina.
-C... Cristina? Por que veio me ver?
-Acho que a gente precisa ter uma conversa. Antes que você pense besteira, não tem nada sexual aqui. Mas eu andei pensando em tudo, repensando...
-Repensando o que?
-A sua proposta. Eu tenho uma resposta.
Vitório se espanta e fica apreensivo. FIM DO CAPÍTULO 163.
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