CENA 1: Leopoldo fica surpreso e começa a chorar discretamente. Nicole se assusta.
-O que foi? Falei demais?
-Não...
-Então por que esse choro?
-Não sei. É surpresa. Perplexidade... estarrecimento, talvez.
-Por que?
-É que eu nunca pensei que depois de mais de trinta anos você ainda guardasse esse sentimento por mim.
-Nunca te esqueci, Leopoldo. Esse sentimento é o que me mantém aqui, viva. É o que dá sentido a eu ainda acreditar minimamente no amor. Eu vim aqui pra te dizer que o meu amor por você é exatamente o mesmo que era quando a gente começou a namorar na adolescência.
-Não esperava por isso. Nunca pensei que você fosse guardar por tanto tempo um sentimeto. Ainda mais por mim.
-Você ainda sente alguma coisa por mim?
-Eu não sei. Tudo isso me pegou de surpresa...
-Eu sei. Mas pensei que seu coração pudesse responder...
-Faz tempo que não escuto meu coração, Nicole. A vida mudou demais a gente.
-Sim. A vida fez da gente o que a gente deixou que a vida fizesse. Mas a vida também é agora. E a gente não sabe quanto tempo nos resta.
-Verdade. Fiquei mais reflexivo sobre isso depois que o Leo se foi...
-Tem certeza que vai mesmo deixar pra amanhã o que pode fazer hoje?
-Nicole... foram mais de trinta anos separados. Eu casei com sua melhor amiga. Preciso de um tempo pra colocar a cabeça no lugar e pensar em tudo.
-Eu vou te dar esse tempo. E respeitar.
-Agradeço por isso.
-Mas pensa com carinho, tá?
Nicole vai embora. CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte, Hugo visita Giovanna e se surpreende ao encontrar calma.
-Eita Giovanna... tudo bem com você?
-Sim, tudo ótimo. Por que o espanto?
-Não esperava te ver assim tão calma.
-Ah, Hugo... eu tou reaprendendo as coisas. Aprendendo muitas coisas novas nesse tempo que tou por aqui...
-Isso me alivia. De verdade, sabia? Eu via rancor nos seus olhos antes...
-E eu tinha esse rancor, Hugo... não vou mentir, muito menos mascarar a verdade. Eu tive muita raiva sim. De você, principalmente da Valéria. Eu quis me vingar. Eu me recusei a acreditar que nunca estive grávida. Mas fui juntando as coisas, sabe? E compreendi que foi minha mente me sabotando...
-Que maravilha, Giovanna! Você não sabe o quanto tudo isso me alivia.
-Alivia mais a mim mesma, disso cê pode ter certeza. Tava pesado demais conviver com tanta negatividade dentro de mim.
-Sabe o que é isso?
-O que?
-Você tá se redescobrindo, Giovanna... isso é uma espécie de renascimento.
Giovanna, genuinamente emocionada, abraça Hugo.
-Obrigada por não desistir de mim.
CORTA A CENA.
CENA 3: Em sua casa de São Paulo, Peppino é surpreendido pela chegada de Valentina e Vitório.
-Valentina! Como você permitiu que nosso filho viesse com você? - fala Peppino, perplexo.
-Pai, fui eu que quis voltar. - esclarece Vitório.
-É loucura! A Cristina denunciou você! Com a minha ajuda! Você vai acabar preso aqui! - berra Peppino.
-Nosso filho sabe disso. E se dispõe a pagar por cada crime cometido, seja aqui ou na Itália. Ele não estaria seguro e livre de ser preso lá. Pior, a máfia localizaria ele em dois tempos. É uma questão de sobrevivência. - explica Valentina.
-É isso... vocês sabem que eu preciso pagar pelos meus crimes. A prisão não me assusta mais. Eu caí em mim e percebi que só fiz merda nesses últimos tempos... - fala Vitório.
-Me dói imaginar que meu único filho vai parar atrás das grades... - desbafa Peppino.
-É o certo. É o justo. Vai doer na gente, mas essas dores vão ser como o remédio amargo que a gente precisa. Principalmente nosso bambino... - fala Valentina.
CORTA A CENA.
CENA 4: Gustavo conversa com Flavinho e lhe faz perguntas.
-Fala aí, Flavinho... como vai o seu namoro?
-Que estranho ocê me perguntar isso, Gustavo...
-Uai, estranho por que? A gente não é amigo? Eu me importo com a sua felicidade e quero que ocê sempre esteja bem...
-Bem, sendo assim...
-Pode falar, Flavinho...
-Vai indo muito bem, obrigado.
-Que bom, de verdade.
-Acho inclusive que encontrei um grande amor nessa vida, viu? Não pensava que ia, mas até que posso ousar comparar com o Leo...
Gustavo fica abalado, mas disfarça.
-Ah, é?
-Sim. Érico é maravilhoso, sabia? Tá certo que é canceriano, cheio das carências, mas até disso eu tou gostando. Acho fofo, sabe?
-Legal...
-Ai, desculpa, tou falando demais, né?
-Não, que isso... ocê tem toda liberdade pra me falar essas coisas...
CORTA A CENA.
CENA 5: Durante horário de intervalo, Gustavo lancha na companhia de Daniella, que percebe cansaço do namorado.
-Amor, tá tudo certo com você?
-Tá sim, Dani... por que?
-Cê tá abatido...
-Ando cansado, isso sim.
-Me diz uma coisa: cê tem horas sobrando no banco de horas, certo?
-Sim, por que?
-Então por que cê não fala com a Cris sobre isso?
-Ai, amor... será? Ela mal voltou!
-E daí? O fato de ela ter estado fora por todo esse tempo modifica o fato de que você se desdobrou em mil nesse período?
-Não, mas...
-Fala com ela. Ela vai entender. Cê tá precisando descansar...
-Bem, vou ver isso... mas já pensou numa coisa?
-No que?
-A gente podia aproveitar pra viajar por aí...
Daniella fica pensativa. CORTA A CENA.
CENA 6: Cristina atende o seu celular que toca e é surpreendida por Vitório.
-Sou eu, Cristina. Vitório.
-Como é que você conseguiu meu celular de novo?
-Com mamma... eu só queria que você não desligasse e me ouvisse.
-Fala, demônio...
-Tou no Brasil. Na casa de São Paulo.
-A da Augusta?
-Isso. Eu vim pro Brasil porque eu decidi me entregar.
Cristina fica perplexa.
-Como é que é? Que santo operou esse milagre, cara?
-A minha mãe, quem mais seria?
-A dona Valentina é sensacional. Uma das minhas melhores amigas. Você não merece a mãe que tem, sabia?
-Pode pisar, eu mereço.
-Você vai acabar preso e condenado, sabia? Denunciei você por tudo.
-Eu sei disso. Tou disposto a encarar isso de cabeça erguida.
-Isso não é jogo de cena, não?
-Claro que não!
-Pago pra ver.
-Pague. Cedo ou tarde eu vou acabar preso no Rio.
CORTA A CENA.
CENA 7: Ao ver Vitório fazendo suas malas para ir ao Rio de Janeiro, Valentina tenta dissuadir o filho.
-Bambino mio... dá mais um tempo! Espera pelo menos passar uma semana...
-Pra que, mamma? Não foi a signora que me fez cair na real?
-Foi, mas as coisas não precisam ser necessariamente assim, tão à ponta de faca...
-Não tou te entendendo... eu sei que preciso me entregar e ser preso.
-Mas precisa ser assim tão rápido, Vitório? Dá mais um tempo, bambino mio...
-Pra que? Adiar o inadiável?
-Vai doer em mim.
-Não foi a signora mesma que disse que essas dores são inevitáveis?
-Foi, mas é que agora, aqui no Brasil, perto dessa realidade toda, dá uma dor no coração, sabe?
-Tem outro jeito?
-Não, mas... tem como dar uma protelada.
-A troco de que? Do risco de eu ser dado como foragido?
-Não acredito que chegue a tanto, Vitório... seriam só mais uns dias.
-Mamma... não tem mais tempo a se perder aqui. Eu preciso me entregar.
Valentina abraça Vitório, chorando.
-Por que você fez essas coisas erradas, meu filho? Per ché, bambino?
-Já foi. Eu não posso voltar atrás. Senão sou dado como foragido.
-Ah, Vitório... eu espero que você saia renovado disso tudo.
-Vou sair, mamma... pode apostar.
CORTA A CENA.
CENA 8: Ao circular pela clínica, Cristina sente uma forte tontura e é acudida por Flavinho.
-Tá tudo bem, Cris?
-Tá, querido... só senti uma tontura.
-Ocê tem se alimentado bem?
-Sim, Flavinho. Isso deve ser alguma coisa relacionada a estresse pós traumático.
-Uai, mas não foi ocê mesma que disse que tava tranquila?
-Mas eu tou muito tranquila em relação a tudo. Inclusive falei de boa com o Vitório mais cedo. Ele avisou que tá de volta ao Brasil e vai se entregar, inclusive.
-Sem querer bancar o precipitado, mas... será que ocê não tá grávida, Cristina?
-Ah, até você?
-Como assim até eu?
-A Margarete, governanta da casa do Vitório lá em Milão, me disse a mesma coisa.
-E o que é que ocê tá esperando, como médica, para verificar isso?
Cristina fica pensativa. CORTA A CENA.
CENA 9: Vitório chega à delegacia no Rio de Janeiro acompanhado de Valentina e Peppino. Valentina chora e Peppino encoraja o filho.
-É hora de chegar e encarar de frente. Coragem, meu filho... - fala Peppino.
Vitório abraça os dois e, acompanhado deles, se dirige ao delegado.
-Boa noite, você é o delegado? - pergunta Vitório.
-Sou eu mesmo. Emerson Ventura, mas pode me chamar de delegado Ventura.
-Sou Vitório Pierino Fontana e vim me entregar.
-Já esperava pela sua vinda. Tanto a polícia do Brasil quanto a da Itália estava ciente de tudo. Você sabe que vai ser responsabilizado pelos crimes de corrupção ativa e sequestro, não sabe?
-Sei sim.
-Também vai ser autuado por formação de quadrilha. E vamos precisar efetuar uma acareação com você, por conta do sequestro.
CORTA A CENA.
CENA 10: Horas mais tarde, Cristina chega, acompanhada de Fábio, à delegacia. O delegado os recebe.
-Boa noite. Vocês devem ser Cristina Blanco e Fábio Magalhães, certo? - pergunta o delegado.
-Nós mesmos, delegado Ventura. Foi comigo que você falou ao telefone. - esclarece Fábio.
-Chamei vocês aqui porque estamos fazendo uma acareação com Vitório Fontana. - explica o delegado.
Cristina e Fábio chegam à sala onde Vitório está sendo interrogado. Cristina reage com repulsa ao vê-lo. Vitório se aproxima dela.
-Me perdoa por tudo... - fala Vitório.
Cristina cospe em Vitório.
-Verme! - grita Cristina. FIM DO CAPÍTULO 149.
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