sexta-feira, 31 de março de 2017

CAPÍTULO 119

CENA 1: William se desespera quando Mauro cai no chão. Valéria o acode.
-Faz alguma coisa além de ficar chorando e andando pra lá e pra cá, William? - ordena Valéria.
-Eu ainda consigo respirar, mas tá difícil... - fala Mauro.
-A gente precisa levar ele pro hospital agora mesmo! - fala William.
-Nesse estado ocê não consegue dirigir nunca nessa vida! Avisa a Cláudia pra ela ficar de olho no nosso filho que eu dirijo seu carro e a gente vai com seu pai agora mesmo pra emergência! - sentencia Valéria.
Valéria leva Mauro ao carro e William acompanha o pai na traseira do carro. Valéria assume o volante e eles partem para o hospital.
Minutos depois, Valéria ampara William na sala de espera da emergência,
-Calma, William... vai ficar tudo bem.
-Queria ter essa sua certeza.
-Vai dar tudo certo, ocê vai ver...
-Tou com medo, Valéria.
-É normal... mas a gente foi rápido... quer dizer, eu ajudei a gente a agir rápido, porque se dependesse só do seu desespero...
-Nem fala. Ainda tou tremendo todo. Não sei como ia ser...
-Calma, William. Seu pai vai sair dessa. Confia nisso, tá?
Instantes se passam e um médico se aproxima deles. William se levanta e Valéria faz perguntas ao médico.
-Doutor Luciano, como está o Mauro? - pergunta Valéria.
-Teve um princípio de infarto, mas a rapidez do atendimento foi fundamental para que ele não chegasse a infartar. Mesmo que ele tivesse infartado, ainda assim não seria um grande problema. Fiquem tranquilos. - afirma o médico.
-Muito obrigado, doutor Luciano. Quer dizer que meu pai pode voltar pra casa? - questiona William.
-Também não é assim. Ele precisa ficar em observação, além de receber uma medicação apropriada pro caso dele. Ele teve um princípio de infarto e nós precisamos diminuir a inflamação que levou ele a esse quadro. Além disso, depois disso, ele vai precisar redobrar os cuidados com a alimentação, quando receber alta. Não só com a alimentação, mas com a rotina num geral, pra evitar que o coração pregue outra peça. - esclarece o médico.
-Bem que eu avisei que ele andava comendo mal e demais. Além de se estressar demais pra idade dele com tanta coisa pra fazer... - fala William.
-Ele vai ficar mais uns dois dias internado, por precaução. Vai poder receber visitas em qualquer horário, sem restrição. Eu só preciso que você, como filho dele, confirme a baixa dele. - fala o médico.
-É aqui que eu assino? Então tá ótimo... - fala William.
William abraça Valéria enquanto o médico se afasta.
-Obrigado por tudo. Sem você, meu pai podia ter morrido...
-Deixa disso, William... seu Mauro ia se salvar de qualquer jeito...
-Mas sua rapidez não deixou ele infartar de verdade...
-Tá, pode ter sido... mas para de me abraçar que eu tou ficando sem graça!
-Tudo bem. Mas obrigado... por tudo.
Valéria sorri para William. CORTA A CENA.

CENA 2: William visita o pai, no quarto de recuperação. Valéria aguarda do lado de fora.
-Que sustão da zorra que ocê deu na gente, pai...
-E a Valéria, filho? Cadê?
-Lá fora.
-Queria agradecer ela por tudo. Sem a rapidez dela, eu poderia ter infartado.
-Deixa pra agradecer depois, quando o senhor já estiver de volta, em casa...
-Tive medo, William... nunca pensei que teria tanto medo nessa vida, meu filho...
-Eu também tive. Agora é p'rocê aprender a se cuidar, viu?
-Lá vem esse papo chato. O médico já me encheu o saco com essa coisa toda. Mudar hábitos, alimentação...
-E ele tá certo.
-Mas é chato tudo isso. Depois de velho eu não posso nem mais sentir prazer na vida?
-Que exagero, pai...
-Fácil um jovem como ocê falar que é exagero.
-Pai... colabora. Daqui em diante as coisas vão precisar mudar bastante p'rocê ficar bom e não dar risco de acontecer tudo isso aqui outra vez...
-Isso significa o que?
-Diminuir o ritmo, pai...
-Como, se eu tenho ainda tanta coisa pra tocar?
-Deixa pra eu resolver o que puder. Chega de trabalhar desse jeito. Tá sendo ruim desse jeito...
-Não tenho outra saída senão aceitar... tenho?
-Sinceramente? Não tem. É pegar ou largar...
-Fazer o que... pelo menos ocê é meu filho.
-Confia em mim. Tudo vai estar em boas mãos e sob controle...
-Assim espero, meu filho. Batalhei muito pra gente chegar onde chegou hoje...
-Esquece disso um pouco, pai. Foca na sua saúde que é melhor...
CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, William chega em casa e se surpreende ao ver Valéria acordada.
-Valéria... eu não falei p'rocê vir pra casa descansar?
-Ah William... como é que eu ia conseguir? Voltei pra casa mais pra ficar com o nosso filho do que qualquer outra coisa.
-Sim, mas uma mente sem descanso vai ficar como no trabalho?
-Agradeço a preocupação, mas eu vou ficar bem. Seu pai, como tá?
-Bem... ele vai sobreviver.
-Eu fiquei com medo que ele acabasse infartando de verdade.
-Se for pra acontecer, só depois. Não foi dessa vez.
-Ainda bem, né? Quantos dias ele ainda fica internado?
-Uns dois ou três. Doutor Luciano quer ver como ele reage ao medicamento.
-É bem mais prudente que seja assim, diga-se de passagem. Se minha mãe tivesse tido essa chance, sabe?
-Ei... pra que falar nisso?
-Às vezes bate uma saudade...
-Mas ocê não era pequeninha ainda quando ela se foi?
-Sim, mas a minha avó sempre me contava que ela só morreu porque não foi atendida a tempo.
-Entendi... se fosse num hospital privado...
-Exatamente. Eu sei na pele como a saúde pública ainda precisa melhor... mas deixa esse papo pra lá que eu ainda tenho que me arrumar pro trabalho...
CORTA A CENA.

CENA 4: Leopoldo desliga o telefone e vai até Bernadete.
-Querida, cê não sabe quem acabou de me ligar.
-Quem?
-A Valéria.
-Eita! Por que ela não quis falar comigo?
-Nada disso, Bernadete... ela ligou pra contar que o Mauro teve um princípio de infarto ontem à noite.
-Gente, que coisa! Eu não sou de acreditar e justiça divina, mas bem que ele andou precisando desse susto depois de causar tanto mal pra gente.
-Por minha culpa, né?
-Que seja... eu queria ficar mais feliz. Isso podia significar a volta da Valéria pra cá... mas nem sei se ia ter mais clima dela voltar pra cá depois da traição do nosso filho...
-Nem fale, Bernadete... nem fale. Ela não tem motivo pra querer voltar pra cá...
-É triste isso. Eu vi o amor deles acontecer, botei fé nisso tudo. Mas os erros do Hugo foram grandes e talvez isso signifique um fim da linha definitivo pros dois... mesmo que a Giovanna tenha participado disso.
-Sim, mas ela não teria conseguido nada se nosso filho tivesse resistido...
Bernadete e Leopoldo suspiram, lamentando o rumo que as coisas tomaram na vida de cada um. CORTA A CENA.

CENA 5: Daniella visita Patrícia e se surpreende ao encontrar Patrícia serena.
-Querida! Que coisa boa te ver assim, tão em paz!
-Oi, Dani... dá pra ver que eu tou plena assim, desse jeito?
-Acredite, isso transborda em você. Não pensei que viveria pra ver esse dia. Fico orgulhosa do seu esforço.
-É, mas vê se não elogia muito p'reu não ficar convencida e relaxar.
-Isso nunca, Pati! Eu posso não ser psicóloga, mas entendo um bocado do que acontece na mente de um limítrofe.
-Sim. Eu tenho consciência que vou precisar de tratamento pra sempre. E me manter vigilante.
-Pela primeira vez nesse tempo todo, eu vejo você em paz com a sua condição, com quem você é...
-E é assim que eu me sinto. Buscando tudo isso dentro de mim mesma.
-Se sente pronta pra voltar pra vida lá fora?
-Tenho até medo de dizer um trem desses, mas... tou me sentindo pronta, sim.
-Segura disso?
-Sim.
-Então eu vou me responsabilizar pela sua alta.
-Sério?
-Claro, boba! A gente é amiga pro que der e vier. Tou morando sozinha, na minha casa de sempre. Você vai morar comigo e não se fala mais nisso!
-Ocê é incrível, Dani!
Patrícia abraça Daniella.
-Tá, pode me soltar. Ainda tenho que falar com a Silvana, lembra?
CORTA A CENA.

CENA 6: Bernadete anda pela casa e lembra dos momentos que compartilhou ao lado de Flavinho.
-Eita, Flavinho... por onde será que você anda?
Bernadete sente saudades de Flavinho.
-Não importa... ele me traiu. Me escondeu a verdade. Acabou com tudo. Tirou meu filho de mim!
Triste, Bernadete caminha até o quarto que era de Leonardo. Ali, pega mais uma vez o diário de Leonardo, disposta a ler mais memórias do filho. Abre em mais um desabafo dele.
“Rio de Janeiro, 3 de maio de 2012.
A situação aqui em casa anda cada vez mais insustentável. Meu pai descobriu e confirmou de vez as suspeitas dele sobre eu ser gay. Eu pensei que ele me entenderia melhor, que me acolheria. Mas me enganei redondamente. Ele anda me pressionando, dizendo que eu tenho que dar um rumo pra minha vida, me afastar dessa casa, a minha casa, o meu lar... e ir pra longe. Eu até quero sair daqui, mas sabendo que minha mãe ainda me ama e se orgulha de mim, mesmo quando ela já souber sobre quem eu realmente sou. Eu sonho com esse dia. Sonho com o dia que eu vou ter a minha vida, minha dignidade, minha independência e, se eu tiver sorte no caminho, o meu amor. O meu namorado, meu noivo, meu marido... e poder apresentar ele à minha mãe. Até mesmo ao meu pai. Ainda tenho esperança que um dia ele entenda que eu sempre fui assim e que não existe outra maneira possível pra mim, pois eu nasci assim. Sonho com o dia que todos nós vamos estar reunidos, aqui dentro dessa casa, numa grande mesa de jantar, comemorando a vida, o amor e a felicidade de poder amar sem reservas...”
Bernadete fecha o diário, aos prantos.
-Oh, meu filho... se eu soubesse antes de tudo isso, de todo o sofrimento... talvez você estivesse aqui hoje com a gente... me perdoa, Leonardo. Me perdoa por não ter visto as suas necessidades... eu fui cega. Falhei como mãe... devia ter percebido que você pedia socorro e precisava de mim...
CORTA A CENA.

CENA 7: Hugo e Valéria conversam no horário de almoço dela, dentro da agência.
-Que correria anda a sua vida, hein?
-Nem me fala. Hugo! Ando trazendo comida lá de casa e comendo por aqui mesmo na hora do almoço, que é pra não atrasar nada...
-Eu fico feliz da gente estar se falando de novo...
-Apesar das mágoas, nós somos amigos, não somos? A gente se apoiou num momento fundamental. Isso nunca vai se apagar, Hugo...
-Fico tranquilo... mas cê sabe que eu queria mais. Ainda mais depois do infarto do seu Mauro...
-Eu cheguei a pensar em voltar pra casa. Mas já se passou algum tempo. Eu não sei bem o que tá acontecendo agora, Hugo...
-Faz parecer que cê tá balançada pelo William...
-Eu não sei dizer, sinceramente. Ainda me machuca saber da sua fraqueza, da sua traição. Mas eu sei que ainda te amo. Não consigo mesmo é definir o que o William me desperta.
-Podia ser indiferença...
-Mas não é... e é isso que me desafia...
-Desafia?
-Sim, afinal de contas, não tem sido fácil lidar com as lembranças do passado...
Giovanna escuta conversa deles, escondida. CORTA A CENA.

CENA 8: Cristina estranha falta de apetite de sua mãe.
-Ei, dona Nicole... o que tá acontecendo?
-Ah, filha... ando meio desgostosa com o rumo que dei pra minha vida, sabe?
-Notei pela sua falta de apetite. Quer falar sobre isso?
-Não sei se você me entenderia. São coisas que vem de um tempo bem distante, antes mesmo de você nascer...
-Por isso mesmo, mãe! Se são coisas que te atormentam de certa forma por todo esse tempo, por mais de trinta anos, é justo que você possa se abrir em relação a isso... que coloque pra fora.
-Não, Cristina... as coisas não são simples assim. Envolvem um grande amor do meu passado.
-E o que é que isso tem demais? Você e o pai são livres e desimpedidos depois da separação. Inclusive o pai já teve uma namorada depois do divórcio. O que cê tá esperando pra se jogar, mãe?
-Não é simples como parece. E acredite: é por motivo parecido que seu pai não foi longe com a Mônica...
-Não entendi...
-Outra hora te explico melhor, filha... agora definitivamente não é a hora...
-Você que sabe, mãe... querendo desabafar, tou aqui...
CORTA A CENA.

CENA 9: Flavinho se distrai pensando em Gustavo enquanto Júlia lhe passa informações e instruções.
-Ei, Flávio!
-Ah, desculpe, Júlia... acho que me distraí.
-Cê acha? Flávio, a sua cara tava numa expressão de quem tava quase entrando em nirvana!
-Nada... só fiquei preocupado com o Gustavo, sabe? Ele lá em BH, nem sabe que eu saí do apê dele e aluguei um...
-Vish, não vai dar mesmo pra te passar nada na ausência da Daniella. Cê tá apaixonado, sabia? Se não sabia, “teje” sabendo agora...
-Ocê acha, Júlia?
-Ah, por favor, Flávio! Vira e mexe cê fala no Gustavo, tudo vira pretexto...
Flavinho fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 10: William visita o pai no hospital.
-Oi, pai! Eu disse que voltava.
-Foi rápido, hein?
-Deu pra descansar? Como tá se sentindo?
-Melhor, meu filho... ainda bem!
-Que bom... e os médicos estão otimistas?
-Pelo menos na minha frente sim, mas ocê sabe como eles gostam de enganar idoso... enfim, filho. Eu tomei uma decisão e foi bom que ocê tenha vindo aqui me ver, porque assim eu te falo agora.
-Que decisão?
-Eu quero me demitir de tudo. E quero que você assuma definitivamente o meu lugar. De uma vez por todas.
William se assusta. FIM DO CAPÍTULO 119.

quinta-feira, 30 de março de 2017

CAPÍTULO 118

CENA 1: Cristina segue gritando, sem perceber que estava em um pesadelo, até que Fábio a afaga.
-Calma, amor... foi só um sonho ruim. Seja lá o que for, já passou. Eu tou aqui, fica tranquila.
Cristina chora abraçada a Fábio, que se preocupa.
-Ei... pra que isso, amor?
-Foi horrível, Fábio. Fazia muito tempo que eu não tinha um pesadelo, ainda mais do jeito que foi esse...
-Nossa, Cris... amor, cê tá tremendo ainda!
-Esse quarto tá me sufocando.
-Eu vou com você até a cozinha e faço um chá pra você.
-Desculpa o transtorno, amor... eu não queria te incomodar com nada disso...
-Deixa disso, sua boba. A gente vai casar, esqueceu? Eu cuido de você quando você precisar e você cuida de mim quando eu precisar. Agora tenta ficar tranquila, respira bem fundo e vem comigo, sim?
Cristina se levanta e acompanha Fábio, que lhe prepara um chá e a serve. Cristina toma o chá e começa a desabafar.
-Ai, amor... foi uma sensação horrorosa.
-Quer mesmo falar sobre esse pesadelo?
-Preciso, Fábio... preciso colocar pra fora pra poder me traquilizar logo de uma vez, sabe?
-Se é assim... então fala.
-Foi horrível. Eu tava na minha antiga casa. Só que ela tava escura, um ambiente meio sinistro. Eu via um vulto.
-Que vulto era esse?
-Não faço ideia, Fábio... só sei que parecia ser de um homem bem alto.
-E o que esse vulto fazia?
-Andava aleatoriamente pela casa. Eu perdia ele de vista. Aquilo me intrigava e me assustava...
-E o que mais acontecia?
-Eu escutava o choro da nossa filha.
-Gente, que loucura. Mas em que quarto ela estava?
-Era pra estar no quarto que era meu quando eu morava lá. Eu escutei o choro que vinha de lá. O vulto ia naquela mesma direção.
-E daí?
-Eu ia atrás da nossa filha. O vulto sumia, mas em vez de me aliviar, aquilo me desesperava. Quando eu chegava no quarto, o berço tava vazio e nele um bilhete escrito a mão dizendo que você tava longe também, ou coisa parecida... já me esqueci. Eu procurava por você pela casa, tudo era vazio, escuro, um deserto absoluto. Foi por isso que me assustei tanto.
-Que horrível, amor...
-Entende agora o pavor que eu senti? Demorei pra voltar a mim.
-Tenta esquecer disso agora, Cristina... por mais terrível que tudo isso tenha sido, foi só um pesadelo, um sonho ruim...
-Ainda bem... mas sinto medo.
-Medo do que, amor?
-Não sei dizer, Fábio... é maior que eu. Tanta coisa passa pela minha cabeça e ao mesmo tempo nada faz sentido, sabe?
-Não é hora pra matutar sobre isso, querida... quer que eu coloque aqueles vídeos de meditação pra gente assistir na sala até você ficar serena?
-Vou querer, sim...
-Então vem comigo.
CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Nicole visita Bernadete e as duas conversam sobre seus filhos.
-Poxa, Dete... que chata essa situação com o Hugo. Achava tão bonitinho ele e a Valéria juntos, pensei que ia dar casamento...
-Nem fala, Marilu... mas quer saber de uma coisa? Ele fez por merecer.
-Gente, como assim? O que aconteceu de grave?
-Ele teve uma recaída com a pilantra da Giovanna, acredita numa coisa dessas?
-Caramba, Dete... ele podia ter pensado melhor antes de fazer essa besteira, hein? Ainda mais depois de tudo o que essa maluca já aprontou pra cima dele.
-E não é?
-Pois... fiquei passada!
-Agora cê entende porque eu não tenho como passar a mão na cabeça do Hugo, né...
-Nem deve, amiga... nem deve!
-Mas me fala o que tá deixando você com essa ruga de preocupação na testa, querida...
-Ai, Dete... a Cristina. Ando preocupada com ela.
-Mas preocupada com o que, boba? Ela não vai casar com o amor da vida dela e os dois não estão mais que felizes com a filhinha?
-Sim, tá tudo indo maravilhosamente bem.
-Então pra que essa preocupação, Marilu?
-Amiga, ela desabafou comigo algo sobre um pesadelo que ela teve essa noite... uma coisa que ela não conseguiu falar nem pro Fábio.
-Eita, misericórdia... o que foi que ela desabafou?
-Que ela tá com medo que o passado dela assombre ela outra vez.
-Mas que passado? Marilu, se de alguma forma cê tá pensando que o Hugo ainda possa querer alguma coisa com ela, eu sinceramente duvido e muito! Apesar da burrada que ele cometeu, o grande amor da vida dele é mesmo a Valéria.
-Não, não tem absolutamente nada a ver com ele, Dete... pode ficar bem relaxada sobre isso.
-Seria sobre o que?
-Vitório.
-Ah, aquele namorado ou noivo que ela teve no passado e que gerou aquele desconforto todo pra gente ano passado quando ela ficou doente e tal?
-Exatamente.
-Mas por que ela tá com esse medo?
-Ela teve um pesadelo, como eu já disse.
-Sim...
-Daí que ela ficou com a nítida sensação de que o vulto que ela viu nesse pesadelo, roubando a Arlete e o Fábio dela, podia ser o Vitório, entendeu?
-Mas gente... de onde ela tirou isso?
-Medo, intuição, sei lá... só sei que eu como mãe fiquei preocupada.
-Posso imaginar.
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Flavinho segue desanimado e Daniella tenta estimular o amigo.
-Flavinho, vem cá um instante... vem comigo.
-O que foi, Dani? Fiz algo de errado? Deixei alguma coisa pendente?
-Nada disso, bobo. Você é um dos melhores daqui. Só queria saber porque você continua assim...
-Assim como?
-Com essa cara de quem anda se arrastando pelos cantos, desanimado com tudo.
-Ai, Dani... não é bem desanimado. É triste pelas besteiras que eu fiz.
-Eu tenho uma ótima solução pra isso. Vem comigo.
Daniella leva Flavinho até crianças.
-Ai, Dani... não sei se tou no clima de animar elas.
-Por que não tenta?
-Tenho medo de não conseguir dar conta.
-Deixa de besteira, viado... é melhor do que ficar parado, não acha?
-Mas não vou ficar parado.
-Flavinho, me poupe, se poupe, nos poupe. Cê entendeu direitinho o que eu quis dizer que eu sei.
-Não acha que é contraproducente?
-Nem um pouco. É complemento ao trabalho desempenhado por você aqui dentro da clínica, não é?
-É, mas dessa vez não tem o Gustavo aqui pra me ajudar.
-Credo, Flavinho, que baixo astral esse seu comentário! Em primeiro lugar, você não nasceu grudado com ele. Em segundo lugar, ele vai voltar logo. Do jeito que cê fala, faz parecer que ele voltou de vez pra Minas, eu hein...
-Cê tem razão...
-Não é que tenho?
-É que eu tenho medo de não divertir os pequenos.
-Quer parar de besteira? As crianças daqui te amam tanto quanto amam o Gustavo, então pare de se nivelar por baixo, faz favor?
-É... eu devo confiar mais no meu taco.
-Ainda duvida disso? Não perde tempo e vai se divertir com os pequenos que você sai ganhando com isso também!
-Ai, eu vou mesmo.
-Então vai agora, pra sumir da minha frente com essa cara de coitadinho que eu tenho pavor de genmte coitadinha!
Flavinho ri. CORTA A CENA.

CENA 4: Patrícia, na casa de repouso, se reúne com outros pacientes em um grupo de apoio. Patrícia escuta com atenção aos relatos de cada um ali presente. O primeiro a falar é um rapaz.
-Oi gente. Eu sou o Emerson e vim pra esse lugar pra tentar superar com mais tranquilidade minhas crises depressivas. Eu sou bipolar. Atentei contra a minha própria vida algumas vezes, antes de meus pais tomarem a decisão de me mandar pra cá. Eu não vim forçado, nós conversamos muito a respeito de tudo. Minha psiquiatra endossou tudo. E agora estou aqui, vai fazer cinco meses, mas me sinto cada vez mais confiante de que esse período tem sido enriquecedor para mim, para as experiências que venho adquirindo, encarando de frente meus problemas, sem a desculpa de estar ocupado demais. Aqui sou eu comigo mesmo, conhecendo realidades completamente diferentes da minha e aprendendo a exercitar a empatia. - fala o rapaz.
-Bem... eu sou a Doriana. Sim, gente, esse é meu nome e eu sofria muito bullying na infância por causa disso. Não sei se foi por conta desses traumas, mas eu com o tempo acabei criando uma outra vida, um outro nome, uma realidade paralela. Nela eu me chamava Yasmin e tinha autoconfiança e tudo ia sempre bem. Menos quando me contrariavam, quando não faziam o que eu queria. Ali, a minha vida se tornava o maior dos dramas. Eu comecei a mentir rotineiramente. Virou um vício. Eu não aceitava estar em segundo plano jamais... então precisava sempre puxar todas as atenções possíveis pra mim. Fui diagnosticada como histriônica com traços clássicos de mitomania. Vim pra cá depois de ter sido desmascarada nas redes sociais. Ali eu percebi que eu estava difamando pessoas, fazendo fofocas sobre elas, tudo porque eu não aceitava que houvesse gente que não entrasse no meu jogo ou que descobrisse quem eu realmente sou. Eu não sou suicida, mas fiz as pessoas acreditarem que eu era.
A garota segue o relato enquanto Patrícia escuta, impressionada com a diversidade de transtornos. CORTA A CENA.

CENA 5: Gustavo aproveita folga que conseguiu no dia e, em Belo Horizonte, toma uma decisão e comunica Valéria a respeito, ligando para a irmã.
-Oi, mana. Tá podendo falar?
-Tou com tudo adiantado aqui na revista, mano... fala.
-Eu andei pensando numa coisa. Hoje eu consegui uma folguinha.
-Sei. No que ocê pensou?
-Em ir atrás da mãe do Flavinho.
-Super apoio, mano! Tá mais que na hora do Flavinho reencontrar a dona Cleusa. Faz quase dez anos já, gente... é tempo demais da conta!
-Liguei pra te avisar disso. Tou indo pra lá agora.
-Boa sorte, mano. Beijo!
Gustavo desliga.
Minutos depois, Gustavo chega ao bairro em que morou na infância e reconhece de imediato a casa de Cleusa, mãe de Flavinho. Ao chegar ali, bate palmas.
-Dona Cleusa! Dona Cleusa!
Gustavo segue batendo palmas, porém ninguém atende.
-Uai gente... que esquisito. Dona Cleusa sempre foi de passar o dia enfurnada em casa enquanto aquele inútil do marido dela tava fazendo besteira pela rua... será que ela reconheceu a miha voz e não quer me atender porque não quer saber do Flavinho? Não pode um trem desses, gente... não pode...
Uma senhora vê Gustavo falando sozinho na frente da casa de Cleusa e o aborda.
-Querido... se ocê tá procurando a Cleusa, faz mais de mês que ela e aquele traste do marido dela saíram da casa.
-De mudança, senhora?
-Isso eu não sei, mas não voltaram mais.
-Obrigado... qual seu nome?
-Alzira.
-Obrigado, dona Alzira...
-Vai com Deus, querido...
Gustavo sai intrigado dali. CORTA A CENA.

CENA 6: Sérgio estranha quando vê Mônica circulando pelo prédio.
-Eita! Chegou cedo do trabalho hoje, hein?
-Nada, seu bobo! Vim a trabalho, cê acredita?
-Como assim?
-O pessoal da agência avisou de última hora que precisava de dois meninos e duas meninas pra uma sessão de fotos, então eu vim falar com meus pupilos e saber se eles topam esse trabalho.
-Caramba, que enrosco!
-É a coisa mais normal do mundo, bobo. Achei que você estivesse acostumado com isso.
-Até hoje me espanto...
-Ei... tou te notando meio pra baixo. O que foi?
-Nada demais... mais fácil me perguntar o que não foi.
-Vish... lamúria com um dia lindo desses? Nem vem, meu querido. Nem vem! Aliás... sabe o que eu pensei?
-O que?
-De repente seria uma boa ideia você me acompanhar.
-Acompanhar onde? Cê não tá trabalhando?
-E quem disse que eu não me divirto enquanto trabalho?
-Não entendi...
-Você nunca viu uma sessão de fotos de modelos, né?
-Não, mas... cê acha uma boa ideia?
-Por que não, Sérgio? Vai servir pra você se distrair um pouco. Esquecer dos problemas...
-Eu topo.
-Então vem comigo que a coisa vai longe hoje!
CORTA A CENA.

CENA 7: Giovanna se assusta ao entrar em sua sala e se deparar com Ricardo sentado em sua mesa.
-Que isso, cara! Quer me matar do coração? Errou o caminho, foi? Aqui não é mais a sua sala e foi você quem optou por isso, eu hein...
-Eu não errei o caminho de nada. Quem parece estar errando é você.
-Quer fazer o favor de ser direto?
-Não precisa pedir duas vezes. Me diz, Giovanna: o que é que cê anda aprontando ou planejando pro lado do Hugo?
-Vish! A fofoqueira da Glória já foi encher os seus ouvidos de besteira, não foi?
-A Glória é qualquer coisa nessa vida, Giovanna... mas fofoqueira, ela nunca foi. E não tem nada a ver com ela. Tem a ver com eu saber exatamente a alma podre que você é.
-Nossa, como isso me ofende! Cê acha que eu tenho medo de cara feia, Ricardo? Vá catar o que fazer, pelo amor de Deus...
-Se eu souber de alguma coisa...
-Vai fazer o que, seu merda? Não tenho saco pra esse tipo idiota de bravata. A gente não é mais casado.
-Graças a Deus.
-Então cuide da sua vida.
-Eu cuido. Você devia cuidar da sua e deixar o Hugo em paz.
-Sai daqui, Ricardo.
Ricardo se retira. CORTA A CENA.

CENA 8: Após sessão de fotos, Sérgio percebe que Mônica está com expressão desgostosa.
-Fiz alguma coisa de errado, Mônica?
-Nada! Você foi ótimo e ainda interagiu com o pessoal, divertiu até o Bruno que não ia com a sua cara...
-Então o que significa essa sua cara de quem perdeu um ursinho de pelúcia?
-Eita, que avaliação que cê faz de mim, hein?
-Só me preocupo, minha amiga...
-Sabe o que é? A situação da agência e da revista... tudo isso me entristece demais, sabia?
-Por que?
-Por tudo. Pelo desmonte que tudo vem sofrendo nesses últimos tempos... pela demissão de tanta gente, pela diminuição dos quadros... sinto falta do tempo que eu fui editora chefe.
-É mesmo difícil, tudo isso...
-Você não faz ideia do quanto. Se não fosse a Valéria assumir a coluna de comportamento, a revista da Natural High já teria sido descontinuada.
-A coisa andava tão séria assim?
-Terrível. A gente mandava pra gráfica uma ordem de tiragem mínima de seis mil exemplares. Não estava saindo nem um sexto disso e os prejuízos só aumentando...
-Ainda bem que a Valéria mudou isso...
-Ainda bem, meu amigo. Ainda bem!
CORTA A CENA.

CENA 9: Horas depois, já em casa, Valéria observa William cuidando de Leonardo.
-Que coisa linda ver ocê assim, William...
-Assim como?
-Cuidando do nosso filho desse jeito... com tanto amor, tanto carinho e empenho, sabe?
-É o mínimo que posso fazer. Afinal de contas eu não vi ele nascer...
-Já passou. Ocê tem se saído um excelente pai, sabia?
-É o que eu tento ser.
-Eu fico feliz por isso... por saber que aquele William que eu conheci lá em BH existe aí dentro.
-Sempre existiu... ocê que não queria ver.
-Tive meus motivos, William. Sabemos o motivo. Mas uma nova afeição tá surgindo aqui...
-Fico feliz de ouvir isso...
-Vamos descer... a Cláudia disse que seu pai tá que não se aguenta de fome.
CORTA A CENA.

CENA 10: Após jantar, Mauro começa a suar muito e William estranha.
-Eita, pai! Te falei que não era pra comer com tanta pressa! - fala William
-Ah, William, vê se não enche! Eu sempre como nessa velocidade! - retruca Mauro.
-O seu filho tá certo, seu Mauro. Ainda mais numa hora dessas, não precisava comer tanto... - prossegue Valéria.
-Nossa, ocês se combinaram pra patrulhar o que eu posso ou não? Vou eu mesmo até a cozinha pegar a sobremesa, porque se eu for esperar a Cláudia... eu morro antes. - fala Mauro, se levantando.
Ao se levantar, Mauro sente uma forte dor no peito.
-Ai! Ajuda, William! Meu filho, me ajuda! Eu acho que vou morrer! - desespera-se Mauro.
-O que tá acontecendo? - pergunta William.
-Seu pai tá tendo um infarto, não tá vendo? - fala Valéria.
FIM DO CAPÍTULO 118.