CENA 1: Giovanna estranha reação atônita de Hugo.
-Tem alguma coisa que cê tá escondendo de mim, Hugo?
-Bem... não é bem escondendo. Na verdade eu nem sei como dizer...
-Já entendi tudo. Eu fui burra de pensar que a gente podia ainda ficar junto, não é? Culpa minha...
-Giovanna, eu nunca prometi nada. As minhas responsabilidades eu sou capaz de assumir.
-Pelo menos isso me deixa mais aliviada. Não é nem perto do que eu queria. Eu te amo, sabia?
-Mas eu não te amo.
-Você não era tão direto assim antes, nem parece libriano...
-Eu mudei.
-Desde que aquela Valéria apareceu. Afinal de contas, você foi capaz de assumir um filho que você sabe que não é seu...
-Fiz e faria outra vez. Não tem comparação.
-Como que não tem comparação, cara? Eu tou grávida de um filho seu, Hugo! Tem todas as comparações possíveis!
-Não tem comparação, Giovanna. Você não entende.
-Tem razão, eu não entendo nada disso mesmo. Porque é um filho seu que eu carrego aqui dentro, mas aparentemente nada disso parece te importar. Ou você acha que a Valéria vai voltar pra você depois de tudo?
-Giovanna... não entra nesse assunto, não era disso que a gente tava falando.
-Desculpa.
-Olha, Giovanna... não tenta dificultar as coisas. Elas já são suficientemente difíceis...
-Você fala de um jeito... parece que me esconde algo.
Hugo titubeia. Giovanna percebe.
-Tem alguma coisa que cê tá me escondendo, Hugo...
-Não tem nada, Giovanna. Vai descansar um pouco.
Hugo sai dali, apreensivo. CORTA A CENA.
CENA 2: Ao final do expediente e fechando a clínica, Gustavo vai atrás de Flavinho.
-Eu acho que a gente precisa conversar.
-Ah, agora quer conversar? Já sei: é porque não tem mais ninguém olhando, não é? Impressionante!
-Detesto quando ocê começa com essas ironias, Flavinho...
-E eu detesto a sua covardia.
-Para com isso que ocê sabe que não é assim. Não seja infantil.
-Ah, tá... engraçado isso. Quando são as minhas reclamações, vira infantilidade. Falou o mais maduro dos maduros. Pra cima de mim, Gustavo? Me poupe, se poupe, nos poupe disso.
-Flavinho... facilita as coisas. Entende que isso aqui é ambiente de trabalho.
-E nós estamos em dois mil e dezessete! Mais um pouco e já é dois mil e dezoito! Sabe o que isso me faz pensar?
-O que?
-Que ocê é um gay enrustido.
-Eu não sou gay, muito menos enrustido. Eu nunca estive no armário. Sempre assumi minha bissexualidade.
-Isso pra mim é desculpa pra sua indecisão. Passar bem!
-Pera, volta aqui! Ocê não vai falar essas coisas e sair andando!
-Até amanhã, Gustavo!
Flavinho sai andando e deixa Gustavo fervendo de raiva. CORTA A CENA.
CENA 3: Hugo vê que Leopoldo está acordado ainda e vai conversar com o pai.
-Sem sono também?
-Sim, filho. Pensando em tudo aqui... na sua mãe. Em tudo.
-Não tem mais jeito cês dois mesmo, né?
-É... a separação é o único jeito. Pelo menos não vou embora daqui.
-Cês já estão separados na prática. Melhor oficializar logo...
-Sim... que situação, essa nossa...
-Como assim?
-Você tendo de lidar com as maluquices dessa Giovanna.
-Nem fale. Não sei como preparar ela pra saber que não existe bebê nenhum.
-A hora dela saber tá chegando. E precisa ser logo, filho...
CORTA A CENA.
CENA 4: Flavinho chega chorando em casa e antes de se trancar em seu quarto, é surpreendido por Bernadete.
-O que foi, filho?
-Ah, Bernadete... eu tou arrasado!
-Com o que, querido?
-O Gustavo.
-O irmão da Valéria? Ele é um bom rapaz. Achei que vocês estavam se acertando.
-Eu também pensei, mas fui burro de achar que um bissexual ia assumir um homem.
-Que? Mas querido, de onde você tirou uma ideia dessas?
-Da vida. Do que eu aprendi com meus outros amigos gays.
-Estranho. Não esperava um preconceito seu assim.
-Quem disse que é preconceito?
-Querido, você não vê o quanto tudo isso é problemático?
-Problemático é eu aceitar migalhas.
-Do que cê tá falando?
-Melhor eu ir dormir... não tou legal.
-Qualquer coisa me chama, viu querido? Tou sempre por perto...
Bernadete deixa Flavinho, que chora desconsolado. CORTA A CENA.
CENA 5: Guilherme deixa Érico em casa e Érico se queixa.
-Eu pensei que você ia ficar aqui comigo hoje.
-Por acaso eu prometi isso, Érico?
-Não, não prometeu, mas é que... cê sabe.
-Não, eu não sei.
-Eu achei que depois de tudo cê ia ter mais consideração por mim, mais cuidado, entende?
-Mais cuidado que eu tenho? Mais consideração que eu busco ter?
-Ah, sim... claro! Grande cuidado, grande consideração. A gente namora e você simplesmente esquece de ser romântico comigo!
-Amor... namoro, relacionamento, amor... tudo isso é mais que romance. E romance é armadilha.
-Essa é a sua visão. Nunca vai ser a minha.
-Tem razão, pensamos diferente. Diferente até demais.
-Onde cê quer chegar?
-A gente tá chegando num nível preocupante de desgaste. É melhor a gente dar um tempo.
-Sai daqui. Sai daqui agora.
-Érico, para de infantilidade, pelo amor de Deus!
-Eu já falei pra sair daqui. Vai embora. Agora!
Guilherme sai perplexo com reação de Érico. CORTA A CENA.
CENA 6: Poucas horas depois, Érico acaba esbarrando em Flavinho na rua.
-Não olha por onde anda não, seu grosso?
-Desculpe. Eu realmente tou distraído...
-Tá desculpado. Ocê tá com uma cara triste.
-E você não é daqui, não é? Bem... se eu te contasse o que tá me deixando triste, talvez cê nem olhe mais na minha cara... sou Érico, qual seu nome?
-Sou Flávio. Mas todo mundo me chama de Flavinho. Sou de Belo Horizonte, dá pra notar?
-Sim.
-Fala do que te deixou triste. Eu também não tive um dia bom. Podemos nos ajudar.
-Meu namorado me pediu um tempo. E eu acho que a culpa foi minha.
-Estamos no mesmo barco.
-Como assim? Você é gay?
-Sim. Mas não tou namorando. Tou ficando com um amigo que conheço faz uma vida toda... e não sei lidar com a bissexualidade dele. Acho até que tou sendo ignorante, mas não consigo vencer essas coisas...
-Ei, se você tiver alguma grana aí a gente podia ir no Cantinho Francês beber alguma coisa. Gostei de você.
-Acho uma ótima ideia. É sempre bom poder botar as coisas pra fora...
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, Bernadete recebe uma ligação em seu celular e atende.
-Oi, Flavinho! Ainda na rua?
-Sim. Tou no Cantinho Francês e daqui eu vou pra casa do amigo que tá comigo.
-Que amigo?
-Érico, o nome dele.
-Não lembro de nenhum...
-Conheci ele hoje.
-E já chama de amigo? Toma cuidado, filho...
-Confia em mim. Eu sei quando alguém é gente boa.
-Então cê só volta amanhã?
-Isso. Antes do final da manhã. Vou aproveitar que vai ser domingo e descansar um pouco.
-Você que sabe. Mas vê se não bebe demais e não faz besteira.
-Pode deixar, Bernadete. Eu me cuido direitinho.
-Mas se cuida mesmo, viu? Não quero saber de nada de errado acontecendo com você...
-Fica fria que tá tudo certo. Te amo. Beijo.
-Também te amo, filho. Se cuida. Até amanhã.
-Até.
Bernadete desliga e pensa em voz alta.
-Será que ele já desistiu do irmão da Valéria?
CORTA A CENA.
CENA 8: Na manhã seguinte, Flavinho toma café da manhã na casa de Érico e Margarida se encanta por ele.
-Quer mais um pouco de torrada, querido? - pergunta Margarida.
-Na verdade não, obrigado. Posso usar o banheiro um instantinho só? - pergunta Flavinho.
-Claro, querido. Vai lá. - fala Margarida.
-Com licença...
Flavinho vai ao banheiro e Margarida se volta para o filho.
-Érico, meu filho... o menino é um amor de pessoa, mas cê acha certo isso que cê tá fazendo?
-Isso o que, mãe? Ele é só um amigo que eu fiz...
-Filho, eu te conheço. Você tá ferido. Cuidado pra não ferir quem não tem nada a ver com isso...
-A gente tá se apoiando. Ele também tá ferido. Não tem nada além disso.
-Eu te conheço. Filho, cuidado pra não confundir as coisas... cuidado, por favor.
CORTA A CENA.
CENA 9: Margarete conversa com Cristina sobre hábitos dos pais de Vitório.
-Então, Cristina... os pais do Vitório vem aqui praticamente todas as segundas feiras...
-Isso significa que eles vem aqui amanhã?
-Certamente. Na semana passada, o Vitório tava lá no Brasil. Essa semana é uma semana que eles vão fazer questão de vir.
-Cê tá me dizendo isso pra que a gente possa bolar um plano ou eu tou imaginando coisa?
-Não, boba... é exatamente isso, cê tá certa.
-Alguma ideia?
-Ainda não. E você?
-Tou matutando aqui. Você disse que tudo é cercado por aqui, certo?
-Sim.
-Então não vai ser de uma maneira corriqueira que a gente vai furar esse bloqueio...
As duas seguem conversando sobre plano. CORTA A CENA.
CENA 10: Ao final da manhã, Flavinho, já de volta em casa, conversa com Hugo e Bernadete na mesa posta no pátio, a respeito da situação de Giovanna.
-Então, gente... como é que tá indo a situação da Giovanna? - pergunta Flavinho.
-Complicada, cara... simplesmente não sei como chegar nela e dizer o que tem que ser dito... - fala Hugo.
-Queridos... não é pra dizer. Ela precisa ser preparada lentamente. Um processo psicológico desses prova que ela não anda bem da cabeça. Ela precisa perceber sozinha. - pondera Bernadete.
-Perceber sozinha? Será que ela não percebeu já e tá em negação? Alguém precisa chegar na Giovanna e dizer “queridinha, você não está grávida coisa nenhuma”, caramba! - fala Flavinho.
Giovanna nesse momento chega e ouve o que Flavinho disse, ficando chocada.
-Como é que é? Eu não tou grávida? Eu perdi mesmo o meu bebê naquele acidente? - questiona Giovanna.
FIM DO CAPÍTULO 138.
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