terça-feira, 4 de abril de 2017

CAPÍTULO 122

CENA 1: Giovanna perde a paciência e quase joga o exame longe, mas antes disso volta a si.
-Muita calma nessa hora. Logo já vai aparecer as duas linhas... ou uma só, caso tudo isso seja só um alarme falso...
Giovanna vê as duas linhas se formarem e não acredita no que vê.
-Não é possível... eu preciso ler essa bula de novo.
Giovanna, ainda incrédula, lê novamente a bula e confirma definitivamente que está grávida.
-Eu tou grávida! Grávida! Meu corpo pode ficar destruído, mas esse é o maior trunfo que eu podia ter nas mãos por toda uma vida! Eu sou foda, eu sou incrível, eu sou genial! Quem diria que naquela noite da recaída eu ia engravidar do Hugo? Nem eu contava com essa sorte, nem eu!
Giovanna gargalha.
-Ai, ai! Eu devia ligar agora mesmo pro Hugo e contar a novidade que ele vai ser papai de uma vez...
Giovanna chega a pegar o celular, mas acaba desistindo ao reconsiderar sua ideia de ligar para Hugo.
-Melhor esquecer disso. Não é hora nem momento de meter os pés pelas mãos. Eu preciso estar de cabeça bem fria, com tudo planejado nos mínimos detalhes. Cada movimento deve ser friamente calculado, pra que nada dê errado. Pra que a tonta da mineirinha se decepcione ainda mais com o Hugo e nunca mais queira nem olhar pra cara dele. Eu preciso fazer com que essa criança seja o que vai separar a mineirinha e o Hugo pra sempre. Pra sempre!
Giovanna alisa a barriga e sorri.
-É, seu alienzinho que vai me deformar... eu não sei se eu vou saber te amar... porque provavelmente cê vai acabar com esse corpinho maravilhoso que eu ostento até hoje... mas quer saber? Tudo isso vai valer a pena. Quem sabe eu até pague uma plástica pra consertar alguma coisa que estragar aqui. O que eu não posso é ficar de mãos abanando com esse trunfo inédito nas minhas mãos...
Giovanna anda pela casa, ansiosa.
-Mas como é que eu vou segurar essa ansiedade toda? Eu quero gritar pro mundo que eu tou grávida. E que essa criança que eu tou carregando aqui dentro de mim é filha do Hugo sim! Imagina a cara que todo mundo vai fazer? E a Glória, que ficou toda amiguinha da Valéria? Ai, vai ser impagável, ver a nova amiguinha de infância da mineirinha com aquele olhar de pena... e a cara de humilhação da Valéria, que pode até ter um filho, mas quem vai dar um filho biológico pro Hugo sou eu! Eu! Quem mais poderia ser?
Giovanna se empolga e vai até seu quarto, se olhando no espelho.
-Ai, gente... tenho que cuidar a alimentação. Deus me livre de chegar quase aos cem quilos como foi na minha adolescência. Não posso descuidar que senão esse alien parasita me engorda todinha!
Giovanna alisa a barriga e puxa o ar para aumentar.
-Se bem que eu vou acabar ficando uma grávida gata pra caramba, hein? Olha isso, gente! Se eu cuidar bem do shape, a barriga fica bem marcadinha, bem durinha e eu ainda volto desse tormento mais enxuta que a tonta da Valéria! Qual homem não vai me querer? Eu sou a mulher que qualquer homem em sã consciência mataria e morreria pra ter na cama...
Giovanna se admira no espelho. CORTA A CENA.

CENA 2: Fábio se assusta com afirmação de Cristina.
-Explica isso direito, amor... que história é essa de ficar com medo de perder o controle das coisas? Tá tudo sob controle, não tem nada que possa dar errado, vê se confia nisso... - fala Fábio.
-É, filha... escuta o Fábio. O que é que pode dar de errado, Cristina? Nossa vida anda numa ótima, eu sinceramente não consigo visualizar como isso possa vir a se tornar uma coisa negativa... - fala Nicole.
-Vocês não conseguem entender porque eu sinto tudo isso, né? - fala Cristina.
-Sinceramente? Não. - fala Fábio.
-Nem eu que sou sua mãe consegui entender ainda... - complementa Nicole.
-Eu explico, gente... eu tenho uma bomba relógio dentro de mim. Que pode estourar a qualquer momento. Eu posso perder a visão a qualquer momento, nada garante que esse transplante vá funcionar pro resto da vida. Depois que eu lidei com a possibilidade real de ficar cega e depois inclusive de resistir a fazer o transplante num primeiro momento, ainda mais por saber da complexidade do meu caso e do quão experimental é todo o procedimento, tudo se modificou dentro de mim. As minhas estruturas mudaram. As minhas bases que antes eram fortes, saíram abaladas disso. Me percebi humana, numa dimensão que eu não havia percebido antes. Quando me formei médica, eu pensei que era invencível. Que tinha mais que ninguém o dever de ser saudável, pra poder zelar pela saúde alheia. E me perceber doente, sabendo que meu próprio organismo me sabotou e lutou contra si mesmo, mudou tudo dentro de mim. De uma maneira definitiva, irreversível. Me vi diante de inseguranças reais, muito distantes do universo caprichoso de qualquer pessoa fútil que só pensa em desencalhar... - desabafa Cristina.
-Filha... eu te entendo. Mas será que a sua doença é motivo pra tanto medo? Que controle que se pode perder? Digamos que aconteça o pior e você fique cega outra vez, o que eu duvido... cego é inútil? Não. Você continuaria tendo a sua vida ativa depois de passar pela adaptação, não? - fala Nicole.
-Sua mãe tem razão, amor... fica tranquila. Não importa o que aconteça, do seu lado a gente nunca vai sair... sozinha nessa vida é algo que não tem como você ficar. - fala Fábio.
-Gente... vocês não entendem... é mais forte que eu. Maior que eu. Maior que tudo o que me rodeia. Maior que o amor que eu sinto por vocês e o amor que vocês sentem por mim. É um medo que me consome todos os dias, em silêncio, como se fosse um câncer maligno, roubando a minha energia pouco a pouco... - segue Cristina, desabafando.
-Amor... já parou pra pensar que isso pode ser depressão? Até uma depressão pós parto que só se manifestou agora isso pode ser... - observa Fábio.
-Isso, filha... ou algum transtorno, como aquele que eu até esqueci o nome, espera aí... deixa ver se eu lembro... acho que é ansiedade generalizada que chama, o transtorno. - fala Nicole.
-Será, mãe? Nunca pensei, mas bem que ando estranhando essas sensações confusas que ando experimentando... - fala Cristina.
-Médicos também são humanos, amor... vê se não esquece disso e cuida da sua saúde. Mental, inclusive... - fala Fábio.
-Bem, queridos... eu tou exausta e vou dormir. Filha, tenta se tranquilizar, pensar coisas positivas... essas coisas todas vão passar, eu tenho certeza. Durmam bem, meus queridos... - fala Nicole, beijando os dois e indo ao seu quarto.
Fábio afaga Cristina, buscando tranquilizá-la.
-Ei, amor... tenta sossegar o coração e a mente dessas coisas negativas, viu? Tá tudo certo...
CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, durante horário de almoço, Ricardo conversa com Glória sobre estranho comportamento de Giovanna.
-Glória, que Deus me perdoe pelo que eu vou dizer, mas sei que em você eu posso confiar.
-Isso é mais que óbvio, Ricardo. Eu sempre vou entender você, meu amigo. Sempre. Pode falar, seja o que for...
-É sobre a Giovanna...
-Ah, não! Não vai me dizer que tá pensando em um revival com ela...
-Não, não é nada disso, Glória! Eu tenho amor próprio...
-Ai, menos mal... por um momento eu pensei que você ainda tinha alguma esperança de voltar com ela.
-Prefiro ser atacado por mil formigas saúvas...
-Então me fala qual é a temática do assunto envolvendo essa falsiane...
-Ela anda estranha. Agindo de uma forma esquisita desde ontem.
-Ah, você notou também?
-Sim...
-Pois é, meu amigo... eu conheço aquela demônia e sei quando ela tá tramando alguma coisa...
-E cê acha que ela tá tramando alguma coisa?
-Não tenho a mínima dúvida. Ela tá com umas caras enigmáticas demais. Misteriosa e evasiva além do normal.
-Foi exatamente isso que notei.
-Pois então se prepara, Ricardo... cedo ou tarde ela vai colocar essas garras que tá afiando de fora.
-Você acha que é com a gente?
-Não, bobo... relaxa. Nós não interessamos pra ela. Somos café pequeno. Ela quer mesmo é dar um jeito de fisgar o Hugo outra vez, vai vendo...
-Mas ele é um cara legal, não merece isso...
-Deixa que a vida cuida, Ricardo... gente como a Giovanna se acha acima de tudo, mas acaba não indo muito longe...
-Espero muito que cê esteja certa...
CORTA A CENA.

CENA 4: Flavinho aproveita o dia de folga e tenta se distrair lendo um livro, mas acaba relembrando os momentos que viveu ao lado de Gustavo.
-Ai não... será que eu não vou conseguir desligar meu pensamento do Gustavo nem mesmo no dia da minha folga extra? Caramba! Já cortei um dobrado pra chegar onde eu cheguei pra isso? Poxa...
Flavinho tenta se concentrar novamente na leitura do livro, mas logo acaba se distraindo outra vez.
-Não posso me apaixonar por ele. Não posso. Não é certo me sujeitar a tudo isso e fatalmente sofrer com a possibilidade dele me trocar no primeiro momento por uma mulher. Depois, eu já conversei com a Daniella... dei a minha palavra e não posso voltar atrás. O caminho precisa continuar aberto pra ela, por mais que tenha me arrependido disso... não importa mais, porque eu dei a minha palavra. E a minha palavra, essa é uma só.
Flavinho desiste de ler o livro e tenta assistir televisão, mas novamente acaba se distraindo.
-Ai, caramba! Será possível que você não vai sair da minha cabeça, Gustavo?
CORTA A CENA.

CENA 5: William vai buscar Mauro, que recebe alta, no hospital.
-Vem, pai. Acabou o seu período sabático.
-Só ocê mesmo pra fazer piada disso, filho...
-Uai, queria que eu te tratasse como um doentinho? Eu sei que ocê detesta isso, pai...
-Eita que eu criei bem esse meu filho!
-Vem, pai... tá na hora de dar no pé.
-Tá mesmo confirmada a minha alta?
-Uai, o doutor não veio te dizer que ocê tá de alta, não?
-Não...
-Ele me ligou mais cedo, confirmando. Eu confirmei na hora que vinha te buscar.
-Ah, foi por isso, então...
-Então faz favor de se arrumar de uma vez que é hoje mesmo que ocê volta pra casa e com direito a regalias!
-Regalias? Mas filho, eu não posso pegar pesado na alimentação...
-Alguém aqui falou de comida? Não. Na verdade eu tou falando do que eu preparei pra você.
-Como assim?
-Tem até esteira que eu comprei pro senhor fazer exercícios em casa, começando aos poucos. Conversei com o médico antes, então fica tranquilo.
-Que maravilha! Vou detestar no começo, mas é pro meu bem, né?
-Exatamente. Então se arruma aí que eu te espero lá fora.
Instantes depois, Mauro já está com suas rouás habituais e William o leva de carona.
-Coisa boa respirar o ar da rua, filho... é impressionante como a gente não costuma valorizar essas pequenas coisas...
-É... e ocê perdendo paz e saúde vivendo pela fortuna que acumulou por esses anos todos...
-Filho, tudo isso foi necessário e eu sinceramente não me arrependo de nada. É graças à força do meu trabalho que temos as condições de vida que podemos usufruir hoje...
-Tá certo.
-Falando em qualidade de vida... já te dei bastante tempo pra pensar. Queria saber se ocê já tem uma resposta sobre a proposta que eu fiz, filho...
-Sim, pai... eu já tenho uma decisão a respeito de tudo...
-E eu posso saber qual é?
-Pode.
-Então fala...
-Agora não. Eu vou fazer um comunicado na hora do jantar... aproveitar que a Valéria vai estar em casa e já falar pra vocês dois sobre qual é, afinal de contas, a minha decisão.
-Pra que essa enrolação? Isso significa um sim?
-Seu Mauro, eu te conheço. Ocê não vai arrancar a informação antes de mim antes da hora, melhor nem tentar...
-Que desagradável, você... depois eu infarto de nervoso e ocê fica se sentindo culpado...
-Nem comece com uma chantagem barata dessas que nem combina com você... ei, eu tou feliz que terminou tudo bem, sabia?
-Eu também tou... aliviado, acima de tudo.
-Então bora pensar no agora que depois a gente vê como vai ser?
-Ocê é tão cabeça dura quanto eu... só resta aceitar.
-Exatamente.
CORTA A CENA.

CENA 6: Leopoldo desabafa com Bernadete sobre situação financeira.
-É, Bernadete... se eu tivesse sido mais prudente... tudo podia ser diferente agora.
-Ai, Leopoldo... será mesmo que vale a pena você ficar insistindo em se maltratar justo agora? O que não tem remédio, remediado está...
-Mas eu errei demais. Olha o que eu fiz com o nosso patrimônio! Olha o que eu fiz com a Natural High, com a revista, com tudo!
-Querido... não adianta lamentar sobre nada disso. Chorar sobre o leite derramando não nos resolve de nada. A gente precisa manter a esperança num amanhã melhor, isso sim...
-Como? Eu nem sei se um dia vou conseguir retomar pra nós tudo o que nos é de direito...
-Mesmo que não consiga... pelo menos a esperança é um ato de resistência.
-Resistir a que?
-A esse tempo difícil...
-Cê fala isso, mas quer a separação.
-Uma coisa não tem nada a ver com a outra, querido. Somos amigos antes de mais nada.
-Essa situação toda é demais pra mim, Bernadete.
-Sentimento de culpa?
-Muito mais extenso que cê possa imaginar.
-É compreensível, depois de tantos passos errados que você deu...
-Me sinto sufocado por mim mesmo. Isso é desesperador...
Bernadete afaga Leopoldo. CORTA A CENA.

CENA 7: Giovanna decide ligar para Hugo, que estranha ao reconhecer número de Giovanna.
-Que que é?
-Isso são modos de falar comigo, Hugo?
-Eu nem devia dar papo pra você depois de tudo o que cê aprontou comigo.
-Ah, tá queridinho! E eu transei sozinha, né? Me poupe desse seu moralismo hipócrita, Hugo...
-Quer me dizer por que me ligou? Porque se for pra me falar merda, eu desligo agora!
-Nossa, que impaciente, você!
-Tenho meus motivos.
-Pois trata de esquecer disso. Pelo menos agora, pelo menos por esses dias.
-Como assim?
-A gente precisa se ver o quanto antes.
-Com que propósito?
-Preciso ter uma conversa séria com você. Não é nada do que cê possa ter imaginado...
-Sei. Tanto faz o que eu acredito ou imagino. Minha resposta é não.
-Mas...
-Não tem conversa, Giovanna. A gente não tem mais nada. Eu espero nunca mais ter que olhar na sua cara ou lhe dirigir a palavra.
-Você não era assim.
-Tem razão, eu não era. Você me tornou essa pessoa. Parabéns, dona das verdades do mundo. Você conseguiu acabar com o pouco que me restava de dignidade. Adeus!
Hugo desliga, deixando Giovanna perplexa. CORTA A CENA.

CENA 8: Nicole aproveita que Fábio saiu para fazer compras e conversa com Cristina.
-Filha... quando que a Letinha vai estar liberada pra viajar?
-Eu hein, mãe... que pergunta! Minha filha mal nasceu e você já quer colocar a cara dela no mundo?
-Sabe o que é, filha?
-O que?
-É que você anda tão estressada que eu pensei que uma boa alternativa pra vocês podia ser uma viagem...
-Gente... eu amo viajar, mas não sei quando vou ter liberdade pra viajar assim...
-Não tem liberação ainda?
-Não sei... eu tenho medo que a Arlete pegue alguma doença, sabe? Ela ainda é tão pequena...
-Deixa de bobeira... olha o tanto de estresse que cê andou passando nesses últimos tempos! Tem um ano que a sua vida anda cheia de preocupação... tá na hora de relaxar.
-E deixar a Dani no meu lugar por mais tempo anda? E passar por cima do sonho dela? Não dá, mãe...
CORTA A CENA.

CENA 9: Glória conversa com Valéria.
-Muito ocupada, querida?
-Magina, Glória... p'rocê eu sempre tenho um tempinho...
-Então... eu queria te falar pra você abrir o olho com a Giovanna... toma cuidado.
-Cuidado com o que? Todo o estrago que ela podia ter feito na minha vida ela já fez. Não tem mais nada que ela possa fazer pra me atingir.
-Eu não teria tanta certeza disso.
-Uai, por que?
-Ela anda estranha. Eu conheço a Giovanna há mais tempo e melhor do que você.
-Então ocê acha que ela pode estar tramando alguma coisa que possa acabar me prejudicando?
-Acho sim. Melhor ficar de olho bem vivo nessa doida. Afinal de contas, você trabalha aqui... sabe-se lá o que ela pode querer fazer.
-Obrigada, querida. Pode deixar que vou ficar alerta com essa Giovanna...
-Melhor assim. Espero estar enganada, mas tinha o dever de te alertar.
-Obrigada.
CORTA A CENA.

CENA 10: Durante jantar, Mauro é recebido por Valéria, que chega em casa naquele momento.
-Seu Mauro! Desculpa a demora! Que bom que o senhor tá de volta! - fala Valéria abraçando Mauro.
William se incomoda.
-Ei, e meu abraço? - fala William, enciumado.
Valéria abraça William e senta-se à mesa. Nesse momento, William se levanta.
-Bem... eu estava esperando esse momento da Valéria chegar para falar sobre uma importante decisão que eu tomei, com base nos últimos acontecimentos e a necessidade de readequat tudo. Pai, você tá demitido! - fala William, olhando com cumplicidade para Mauro.
-Como é que é? O seu pai quase infarta, passar dias no hospital e ocê demite ele sumariamente? - espanta-se Valéria?
Valéria olha com indignação para William. FIM DO CAPÍTULO 122.

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