CENA 1: Hugo não consegue se desprender do abraço sufocante de Giovanna num primeiro instante.
-Giovanna... eu não sei exatamente o que tá acontecendo e o que cê tá passando, mas me solta que eu tou sufocando... - fala Hugo.
Bernadete fica perplexa diante da situação e tenta intervir. Leopoldo a impede.
-Deixa, Dete. Deixa essa maluca falar o que tem que falar... - fala Leopoldo.
-Essa mulher parece estar fora do juízo pereito, Leopoldo... - observa Bernadete.
Giovanna solta Hugo, mas ainda treme muito. Percebendo isso, Hugo a convida para entrar.
-Giovanna... senta aqui. Conta o que tá acontecendo. A gente pode te ajudar? - questiona Hugo, preocupado.
-Eu tou com medo, muito medo... percebi que não tenho ninguém nessa vida... só esse bebê, Hugo... o nosso filho aqui, crescendo dentro de mim. - fala Giovanna.
-Mas pra que isso, Giovanna? Pra que essas malas? Não tava tranquilo viver no seu apartamento? - questiona Bernadete.
-A Valéria me rogou uma praga semana passada. - fala Giovanna, tremendo de medo.
-Que? Que marmota é essa? - questiona Hugo, incrédulo.
-Ela disse que eu nunca vou ter paz. Que eu não mereço a paz depois de todas as coisas que eu fiz... e eu morro de medo que isso acabe respingando não só em mim, mas no meu bebê que nem nasceu ainda... - fala Giovanna.
-A Valéria jamais rogaria praga, Giovanna. Você entendeu errado. - fala Leopoldo.
-Sem dúvida que entendeu errado, Giovanna. Eu entendo que a gravidez mexa com os hormônio e com as emoções, mas é uma acusação grave que você acabou de fazer contra a Valéria. - fala Bernadete.
-Verdade, Giovanna... você não pode simplesmente dizer que uma pessoa te rogou praga desse jeito. Tem certeza que você não entendeu errado? - questiona Hugo.
-Ela me disse que eu não posso encontrar a paz por conta das coisas que eu já fiz. E eu sei que ela tem razão... porque eu fiz besteira. Com boa intenção, mas fiz besteira. E mereço pagar por isso. Eu não sou uma pessoa boa... e tenho medo das consequências que posso sofrer por causa das maldades que eu fiz! - fala Giovana, chorando.
-Leopoldo, querido... acompanha a Giovanna até o quintal e prepara um chá pra ela? - fala Bernadete.
Leopoldo vai com Giovanna até o quintal. Hugo fica sem entender nada.
-Eu pensei que cê ia mandar ela embora como da outra vez, mãe...
-Filho, essa mulher tá completamente desequilibrada. Eu já suspeitei disso na semana passada... essa cena de hoje que ela armou aqui só me fez ter a certeza de que ela tá fora de si.
-Eu nunca imaginei que veria a Giovanna desse jeito.
-Sim. Ela tá acuada e fragilizada. Mas tenho medo do que ela possa fazer.
-Eu também, mãe...
-É por isso que a melhor saída agora é receber ela, entende?
-Não é bom contrariar gente maluca...
-Exatamente, Hugo... você pegou o ponto certo da coisa toda, filho... ela não tá bem da cabeça... e pode fazer coisas perigosas se for contrariada.
-Que situação, mãe... em uma semana minha vida virou de cabeça pra baixo...
-O jeito é enfrentar tudo isso, filho... encarar de frente de cabeça erguida...
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã seguinte, durante café da manhã, Hugo desabafa com Bernadete, Flavinho e Leopoldo sobre súbita fragilidade e desequilíbrio de Giovanna.
-Sabe, gente... nunca nessa vida eu pensei que fosse ver a Giovanna naquele estado... - fala Hugo.
-Ela tava bastante agitada. Nem o chá deu conta. Só pegou no sono depois que eu dei um calmante... - fala Bernadete.
-É... mas me incomoda o fato dessa mulher estar dormindo aqui... - fala Leopoldo.
-Taí, Leopoldo... vou concordar contigo. Tem alguma coisa nessa história toda que não se encaixa de jeito nenhum... - fala Flavinho.
-Como assim, Flavinho? - questiona Hugo.
-Ora, Hugo! Muito me surpreende ocê não perceber que essa mulher não presta depois de todos esses anos, francamente! Quem é que conviveu mais com ela por mais de dez anos? Esqueceu toda a manipulação que ela fez pra cima de ocê? Gente como a Giovanna não se emenda, não se engane... - fala Flavinho.
-Caramba, Flavinho... um julgamento duro e fechado vindo logo de você, meu filho? Não esperava uma atitude sua assim... - fala Bernadete.
-Bernadete, eu sei que ocê gosta de acreditar que pra tudo se dá um jeito. Eu adoro pensar nisso e sou o primeiro a dar voto de confiança nas pessoas. Mas não na Giovanna. Essa mulher não dá ponto sem nó. Nunca me desceu. Ela tá se fazendo de frágil pra obter vantagem, vocês não perceberam isso ainda. Isso tudo é uma forma de se impor na vida do Hugo. Acabar com qualquer chance dele se acertar um dia com a Valéria. - continua Flavinho.
-Taí, Flavinho... eu concordo com cada palavra que você disse. Essa Giovanna de inocente não tem nada. - constata Leopoldo.
-Será, gente? Eu acho que ela tá realmente fragilizada... - fala Hugo.
-Tduo bem acreditar nisso. Mas quem garante que ela tá mesmo grávida? Ocês baixaram a guarda fácil demais, gente, se liguem! - insiste Flavinho.
Hugo, Bernadete e Leopoldo ficam pensativos. CORTA A CENA.
CENA 3: Em Fernando de Noronha, Fábio e Cristina aproveitam o amanhecer para passear com Arlete.
-Imaginar que a gente quase adiou essa viagem, hein?
-Nem fala, Fábio... mas tanto a Bernadete quanto o Flavinho foram incríveis quando conversaram sobre...
-Não entendo tanta preocupação. Apesar dessa coisa toda, a vida segue...
-É duro reconhecer que cê tá coberto de razão... mas é bom reconhecer que às vezes eu arranjo pretextos e desculpas sem o mínimo fundamento pra não me permitir viver e ser mais leve...
-Sabe o que me encanta em você, Cristina?
-O que?
-Essa sua capacidade de autoanálise. Sempre buscando se conhecer, se melhorar. Você se torna mais linda ainda por isso.
-Desse jeito você me deixa emocionada e sem graça...
-Fique só com a emoção. Você é o grande amor da minha vida. Nunca duvide disso.
-E você é o grande amor da minha. O maior dos grandes amores que já tive. Chega a dar até medo...
-Por que?
-Tanto sentimento assim, intenso e correspondido... se melhorar, estraga. Dá medo de que alguma coisa possa nos acontecer.
-Besteira, boba... nosso amor nos protege de qualquer coisa.
-É, mas nossa pequena ainda inspira cuidados...
-É mais forte que nós dois juntos, a nossa filha...
Os dois seguem passeando e empurrando o carrinho de Arlete. CORTA A CENA.
CENA 4: Bernadete vai ao quarto de Flavinho conversar com ele.
-Querido... a gente pode ter uma conversa?
-Sempre, Bernadete... pode falar.
-Eu estranhei sua postura diante dessa estadia inesperada da Giovanna por aqui... afinal de contas, você veio pra nossa família de uma maneira pouco convencional. Não pense que eu estou comparando, longe de mim, porque no meu coração você é meu filho, mas... eu esperava mais empatia da sua parte com a situação da Giovanna...
-Pela situação eu até tenho empatia. Não tenho empatia é por ela.
-Não te reconheço nessa dureza toda.
-Bernadete, essa mulher não presta. Vai por mim.
-Eu sei disso. Mas ela precisa de apoio e ajuda. E está esperando um neto meu. Essa criança, indiretamente, vai ser seu sobrinho ou sobrinha.
-Não consigo sentir isso tudo como verdade.
-Ela mostrou exames. Não são falsificados. Por que cê tá assim, querido?
-Ah, Bernadete... ainda dói a lembrança tão forte da morte da minha mãe... não me caiu a ficha completamente que ela nunca mais vai voltar.
-Eu sei que não é fácil, mas pensa que a sua mãe agora sou eu... eu sei que não posso tirar essa dor daí de dentro... mas tou aqui sempre. Não pra te dizer que vai ficar tudo bem. Nunca vai ficar tudo bem, porque temos nossas dores. Mas tou aqui pra ter ajudar a conviver com tudo isso...
Os dois se abraçam, emocionados. CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella chama Gustavo para conversar na sala.
-O que foi, Dani?
-Eu acho que a gente precisa conversar. Acho que você precisa falar comigo.
-Preciso? Não sei...
-Gustavo... eu não tou aqui como sua chefe temporária. Eu tou aqui como sua amiga. Eu sei que esses dias tem sido uma loucura.
-Não tenho tido tempo pra descansar a mente.
-Mas eu tou te sentindo triste.
-Nem tenho tempo pra pensar em tristeza...
-Será? Porque desde que a mãe do Flavinho morreu que cê tá com essa tristeza no olhar. Dá pra sentir.
-Eu pensei em tudo. Na vida que eu e a Valéria levamos lá em Minas, sabe?
-Mas a avó de vocês era feito uma mãe, não era?
-Sim. Mas eu não lembro de como é ter uma mãe. A Valéria, muito menos, porque é mais jovem... a nossa avó se foi quando eu tinha dezesseis anos. A Valéria tava com treze, sabe? Foi tudo muito difícil... e ver a mãe do Flavinho se ir daquele jeito mexeu comigo. Eu quis proteger ele. Estar por perto. Dizer que ele nunca vai passar pela solidão que eu já passei.
-Você ama o Flavinho. Não só como amigo, mas também como homem...
-Melhor deixar esse papo pra lá, né? A causa da minha tristeza é a falta que uma mãe me fez...
-Bem, se é você quem diz...
-Eu só preciso lidar com isso...
-Se quiser, eu vejo se consigo te liberar mais cedo hoje.
-Não precisa.
-Então a gente pode esticar até seu apê, não? A Pati fica com a minha mãe que tá lá em casa...
-Ocê não vai desistir até eu topar, vai?
-Não...
Os dois riem. CORTA A CENA.
CENA 6: Maria Susana e Elisabete procuram Idina e José e são recebidas por eles.
-Queridas! Que bom que vocês vieram! - alegra-se Idina.
-Entrem, por favor... - fala José.
As duas se acomodam. Elisabete começa a falar.
-Gente... nós resolvemos vir aqui primeiro pra agradecer pelo convite da Idina e pela delicadeza de oferecer uma noite só nossa no Cantinho Francês, mas... a gente não vai querer uma festa grande, não... - fala Elisabete.
-Não entendam mal, queridos... a gente aprecia demais a consideração, a amizade e tudo mais... só que a gente tá pensando em fazer uma coisa mais simples. Assinar os papeis no cartório, mesmo, em vez de deslocar um juiz de paz pra celebrar o casamento no pub. Vai poupar tempo de todos nós, inclusive de você, Idina... sua rotina já é extremamente puxada... - fala Maria Susana.
-Bem... eu entendo. Fico triste, mas compreendo que vai ser melhor assim. Mas a festa depois do casamento, vocês vão fazer? - questiona Idina.
-Sem dúvida! Não vai ser algo fechado pra gente, mas a gente faz questão de espairecer no Cantinho Francês! - afirma Elisabete.
-Tem mais uma coisa... o Fábio viajou com a Cristina. Então a gente vai ter que adiar um pouco mais. Tem como ver isso direitinho com o juiz? - questiona Maria Susana.
-É que eu não quero que meu ex marido, pai do meu filho e meu grande amigo, perca nosso casamento. E como ele foi passar uns dias em Fernando de Noronha com a Cristina, a gente considerou mais razoável esperar ele retornar... - fala Elisabete.
-É razoável essa decisão, meninas... parabéns por isso. - fala José.
-Vou dar meu jeito. Vocês fiquem sossegadas. - prossegue Idina.
Os quatro seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 7: Giovanna desabafa com Hugo.
-Tou atrapalhando sua leitura?
-Não...
-Tava precisando conversar.
-Fica à vontade.
-Sabe o que é, Hugo? Eu não ando me sentindo segura nem apta pra voltar ao trabalho.
-Mas você mal saiu de férias extras. Vai ter um tempo pra descansar. Depois daqui alguns meses ainda vai ter licença maternidade...
-Eu não sei se consigo, eu não sei se dou conta.
-Vai ter que dar. Você sempre foi uma mulher forte.
-Não sei mais se sou essa mulher forte. Ando me sentindo pequena, vulnerável... a gravidez está mexendo demais comigo. De repente me vejo tendo pensamentos e medos que eu nunca tive...
-Vamos fazer assim: se até a sua volta, você não se sentir apta pra voltar ao trabalho, eu me comprometo a passar um tempo te substituindo na Natural High.
-Mesmo? Mas você disse que nunca mais botava...
-Sim, eu disse. Mas se for preciso, nesse caso, eu quebro o seu galho.
-Tá vendo? Você é sensacional. Não sei se mereço. Desculpa pelas minhas armações, Hugo...
-Já foi. O estrago já foi feito. Precisamos aprender a lidar com isso.
CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, já no apartamento de Gustavo, Daniella prepara drinks para eles e percebe Gustavo ainda triste.
-Isso não é só cansaço, Gustavo... cê tá triste ainda.
-Não é bem triste. Eu queria que o Flavinho estivesse aqui. Sinto uma falta absurda dele. Mesmo sabendo que ele tá passando por um momento delicado...
-Sabe o que é isso? Você ama ele. Tá apaixonado.
-Eu não sei. É tudo confuso. É confuso inclusive ocê estimular isso, sendo que a gente tem uma história...
-Gustavo... eu te amo. E isso basta. Quero o seu bem. Se eu vejo que algo não vai bem com você, meu dever como sua amiga e pessoa que te ama é tentar te orientar. Independente dos meus caprichos.
-Você é incrível, Daniella. Mas o que me deixa mais confuso nisso tudo é que eu também te amo... entende?
-Quer saber? Vamos beber e deixar de pensar nessas questões, né não?
Os dois bebem seus drinks. CORTA A CENA.
CENA 9: Bernadete conversa com Flavinho antes deles dormirem.
-Meu filho... sabe de uma coisa? Eu acho que essas experiências todas que aconteceram pra gente foram importantes pra gente aprender a deixar ir. Entende? Eu sempre vou sentir dor pela morte do Leonardo, mas eu deixei a lembrança torturante dessa tragédia tomar seu rumo...
-Onde cê tá querendo chegar, Bernadete?
-Que talvez esteja na hora de você libertar seu coração. Sua vida tá acontecendo aqui no Rio de Janeiro, sabe?
-Sim, mas... isso é o que eu tou pensando?
-Se for sobre encontrar um novo amor e se permitir, é sim, meu querido. Tá na hora de você abrir esse coraçãozinho... o amor que existe aí dentro do seu coração precisa ser colocado pra fora de todas as formas...
-Não sei se consigo. Nem é pela morte da minha mãe... é pela lembrança tão presente do Leonardo... tudo ainda vive muito forte aqui.
-Não precisa morrer. O jeito é aprender a conviver com isso. Superar é ilusão. Bem, querido... eu vou dormir. Pense nisso e durma com os anjos.
CORTA A CENA.
CENA 10: No dia seguinte, Fábio e Cristina terminam café da manhã na pousada e decidem andar na beira da praia.
-Amor, não vai esquecer o protetor solar da Arlete, que daqui uma meia hora o sol vai começar a ficar forte!
-Já peguei, Cristina...
Instantes depois, Cristina e Fábio empurram carrinho de Arlete quando Cristina paralisa do nada e Fábio estranha.
-O que foi, amor?
Cristina não responde nada a Fábio. Aos poucos, a câmera revela que Vitório surgiu em sua frente, deixando a atônita.
FIM DO CAPÍTULO 130.
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