quinta-feira, 6 de abril de 2017

CAPÍTULO 124

CENA 1: William segue incrédulo diante de exigência feita por Valéria.
-De onde foi que ocê tirou isso, Valéria? Que faceta mercenária é essa sua que eu nunca vi?
-Mercenária, eu? William, se olha no espelho antes de falar qualquer coisa a meu respeito! Quem é que tá querendo se apossar indevidamente de tudo o que pertence ao seu pai, aqui?
-Valéria... eu nem consegui explicar isso. Ocê não deixou...
-Precisa? Eu entendi o suficiente.
-Não, não entendeu.
-Tá me chamando de burra, William? Depois de tudo o que ocê e o seu pai me fizeram passar ocê ainda tem a pachorra de me chamar de burra na minha cara? Francamente!
-Não, Valéria. Eu tou dizendo... ocê não conhece meu pai, Não sabe do que o seu Mauro é capaz.
-Eu sei que pilantra envelhece. Mas eu gosto do seu pai, mesmo tendo mais motivos pra não gostar. No fundo tem boas intenções ali.
-Valéria... não é bem assim. Ele não é inocente.
-Justifica sua postura com ele? Quero ver no dia que ocê envelhecer, como vai ser. Imagina se o Leonardo ou qualquer outro filho que ocê venha a ter fizer esses trens contigo? Como é que vai ser, me fala?
-Tá certo. Você venceu. O que você quer de mim?
-O mínimo.
-Ah, quer dizer que o mínimo p'rocê é poderes irrestritos na revista?
-Claro! Eu sou o principal nome ali. A minha coluna salvou aquela revista. E é por isso que eu exijo plenos e irrestritos poderes ali dentro. Ah, tem mais uma coisa: a Mônica tem que ser recontratada como editora-chefe da revista. Tou bem ciente que a revista só fez andar pra trás depois que ela foi dispensada da função.
-Mas Valéria, isso já é demais!
-Ocê quer que eu fique ainda nessa casa, não quer?
-Claro que quero! Quero provar que mudei...
-Pois então vai ter que aceitar as condições que eu coloquei pra continuar nessa casa. É pegar ou largar. Porque guarda bem o que eu vou te dizer: se não for assim, eu entro na justiça e provo que fui vítima de uma chantagem, aliás não apenas eu, mas toda a minha família!
-Ocê enche a sua boca pra dizer que os di Fiori são sua família. Eles nem tem seu sangue!
-Muito menos vocês! O único elo que nós temos é o Leonardo.
-Então pensa nele antes de exigir esse monte de coisa!
-Pensasse ocê antes no seu filho! Onde já se viu tratar o seu pai daquele jeito? Caramba, William! Se esqueceu que ocê é pai também?
-Não...
-Então vai ter que ser assim. Eu quero plenos poderes na revista.
-Mas, Valéria...
-É isso, ou eu vou embora e meto um belo processo em vocês... e ainda volto pra minha casa, vou-me embora com meu filho pra onde eu sempre deveria estar, o meu lar!
-Seu lar é em BH...
-Não fala besteira, William. A minha vida tá toda aqui, agora. Anda, cara... e aí? Vai ou não vai me conceder plenos poderes na revista?
-Tá certo. Faça o que quiser. Recontrate a Mônica, inaugure um curso de pole dance se quiser...
-Bom menino...
Valéria fecha a porta na cara de William. CORTA A CENA.

CENA 2: Daniella e Patrícia chegam em casa e Patrícia torna a falar sobre sua experiência animando as crianças com câncer.
-Ai, Dani... não vai me achar chata se eu falar de novo sobre o dia de hoje?
-Claro que não, boba! Eu vi que cê ficou feliz!
-Feliz é pouco. Parece que um pedaço solto em mim se encaixou...
-Nossa, amiga... profundo, isso.
-E é exatamente dessa forma que me sinto, Dani... é como se eu estivesse acordando pra vocações que eu nem sabia que tinha. Mas que estão aqui... esperando para serem vividas.
-Isso é lindo. Pati! Mas você já pensou como pode direcionar essa sua vocação recém-descoberta?
-Sabe que não? Acho que nem sei por onde começar...
-Pois eu acho que eu sei, amiga...
-Sério, Dani?
-Sim. Você não se sentiu maravilhosa podendo ajudar as crianças?
-Claro!
-Se sentiria bem fazendo algo por outras pessoas, mesmo que não sejam crianças?
-Evidente que sim! Tenho certeza disso!
-Então eu tenho uma ideia que você pode amar.
-Que ideia?
-Já pensou em fazer curso de enfermagem?
-Ai, Dani... será?
-Por que não?
-Por que sim?
-Ai, não sei... até hoje eu nunca pensei em nada disso. Nunca considerei nem em vaga ideia a possibilidade de um dia ser enfermeira.
-Mas Patrícia... pensa comigo: até hoje cê nunca tinha parado pra pensar que leva um jeito incrível com pacientes de hospítal...
-É, mas eu tava lidando com crianças, não é mais fácil?
-Vish, Pati... criança que é mais difícil, por incrível que pareça. Se você tirou isso de letra, já é mais que meio caminho andado!
-Ai... eu nunca pensei. Mas levando em conta que até hoje eu nunca tinha pensado que ia me dar tão bem fazendo aqueles anjinhos sorrirem e esquecerem de todos os problemas do tratamento...
-Tá vendo? É algo a se considerar e a se pensar com carinho.
-Ai, dá até empolgação de pensar no tanto que já evoluí desde que comecei o tratamento.
-Viu só? E você resistindo lá no começo de tudo... duvido que fosse conhecer tão bem a si mesma como tem conhecido agora...
-Não ia mesmo. Eu vou pensar nisso tudo. Mas vamos pedir uma pizza que eu tou morta de fome e não vejo a hora de dormir?
-Ai, tava pensando nisso mesmo. Quatro queijos?
-Adoro!
CORTA A CENA.

CENA 3: William circula inquieto pela casa e, ao chegar no quintal, ao acender um cigarro, é surpreendido por Mauro.
-Caramba, pai! Achei que ocê tava dormindo.
-Eu tava quase indo dormir quando a Valéria chegou e vocês começaram aquela discussão.
-Ah, não... não vai me dizer que ouviu tudo!
-Ouvi sim. A casa ainda é minha e eu quero saber de tudo o que tá acontecendo aqui dentro...
-Pai... mas isso já é demais. A privacidade dela e a minha estão sendo invadidas!
-Não seja ingrato, meu filho. Tudo saiu como planejado.
-Como ocê planejou. Eu, por mim, não planejava era nada, viu?
-E ia deixar a Valéria correr pros braços do Hugo?
-Se for a vontade dela? O que eu posso fazer pra impedir, me diz?
-Não seja fraco. Lute pelo que é seu, meu filho.
-Só que pessoas não são objetos!
-Lá vem as suas teorias pós modernas... me poupe.
-Me poupe o senhor! Olha tudo o que tá acontecendo! A Valéria tá me odiando por causa do seu plano brilhante!
-O ódio faz parte do processo. Mantém a chama da paixão viva, meu filho. Será que não percebe isso?
-Maneira pouco ortodoxa, essa sua.
-Sempre funcionou pra mim.
-É mesmo? Então por que nenhuma mulher ficou com você?
-Eu não quis...
-Tá bom, pai... essa conversa não vai dar em nada, mesmo... eu vou ver se descanso um pouco porque já tou de saco cheio de tudo isso.
William se retira. CORTA A CENA.

CENA 4: Na manhã do dia seguinte, Flavinho está esperando por seu ônibus para ir ao trabalho quando é surpreendido por Madame Marie na parada de ônibus, reconhecendo-a aos poucos.
-Ei... eu conheço a senhora, não conheço? Não sabia que se levantava tão cedo nem que morava perto daqui...
-Olá, Flávio. Sou a Madame Marie... sim, nós já nos conhecemos. Mas eu não moro aqui perto nem costumo me levantar tão cedo. Vim aqui porque preciso ter uma conversa rápida com você...
-Ai... eu tou lembrando... ocê faz aquelas previsões assustadoramente acertadas. Sempre acerta.
-Não tenha medo, Flávio. Tudo o que acontece nessa vida tem a permissão dos mestres superiores. Eu só sei das coisas com alguma antecedência porque eles resolvem se comunicar comigo...
-Sei... mas dá pra ser rápida? Meu ônibus pode chegar a qualquer momento...
-Vai dar tempo. Vou ser breve.
-Ai...
-Fica tranquilo, querido. Eu vim te avisar que seu sofrimento tá perto de ter um fim.
-Que sofrimento?
-Todo ele. Desde o afastamento da Bernadete até mesmo sua fuga do Gustavo. Mas antes você vai precisar passar por uma perda.
-Perda? Mais uma? Eu não aguento mais, Madame Marie! Já tive muita perda nessa vida!
-Querido... as coisas precisam ir pro seu devido lugar. As peças precisam se encaixar.
-Você fala de um jeito tão simples...
-E é simples, meu querido! Você é um menino bom, mas ainda tem muita coisa pra aprender, pra se tornar uma pessoa melhor ainda.
-Bem, se é ocê que diz... eu confio.
-Confie em si mesmo. Sua capacidade de resiliência é muito maior do que você possa imaginar.
-Às vezes cansa me fazer de forte o tempo todo.
-Mas você é forte, Flávio. E vai ter uma grande prova disso em breve. A vida vai te tirar alguém muito especial. Mas vai te devolver na mesma proporção. Confie...
-Eu preciso confiar... minha vida só tem feito andar pra trás.
-Mas o seu ônibus anda pra frente e tá chegando. Eu me vou embora. Fique com Deus.
Madame Marie vai embora. Flavinho fica pensativo enquanto embarca no ônibus. CORTA A CENA.

CENA 5: Cristina conta a Fábio que está pesquisando lugares e hoteis para ficar em Fernando de Noronha.
-Amor... eu andei pesquisando e ainda não encontrei nenhum lugar ou hotel que batesse aquela identificação, lá em Fernando de Noronha.
-Eita que nem eu sabia que cê ia ficar tão empolgada assim! Isso é maravilhoso!
-Ah... eu andei pensando em tudo... e percebi que ando precisando relaxar, dar um tempo dessa correria do Rio de Janeiro...
-Até que enfim!
-Eu só queria ter certo o dia que a gente vai...
-Que tal semana que vem?
-Ai, eu ia adorar! Vai ser uma maravilha! Depois, a gente podia passar umas duas semanas lá, o que cê acha?
-Perfeito, Cristina! Até porque existe um pouco de licença maternidade ainda pra você curtir.
-Foi pensando nisso que eu achei que seria uma boa ideia a gente dar uma esticada.
-E a sua mãe?
-Já conversei com ela. Ela disse que fica aqui, cuidando do apê...
-Será que ela não vai se sentir muito sozinha?
-Tá tranquilo, Fábio... eu acho que a mãe anda mesmo precisando de um tempo em contato com ela mesma, sabe?
-Bem, se é você que tá dizendo... deve conhecer bem a dona Nicole.
-Vai por mim...
-Certo, então...
-Só tou com essa dificuldade monstra de achar um lugar pra gente ficar. Tem que ter uma infraestrutura boa, pra nossa filha ficar bem confortável...
-Ah, isso é verdade.
-Mas nenhum dos lugares que procurei ainda fez eu sentir aquela identificação, sabe?
-Ei, não quer que eu procure com você? Quem sabe ajude...
-Sim, por favor.
-Então a primeira coisa que a gente precisa pensar é em boas pousadas. Nada de procurar por hoteis...
-Certo...
CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, Cristina visita Daniella na clínica.
-Eita! Nem avisou que vinha, mana! Já tá querendo voltar pra trabalhar e assumir seu posto?
-Ainda não, pimentinha... na verdade eu vim comunicar que eu e o Fábio estamos viajando pra Fernando de Noronha semana que vem.
-Que? Cristina, cê ficou louca?
-Louca por que? Eu ando mesmo precisando espairecer...
-E eu, como fico nessa coisa toda?
-Daniella, pelo amor de Deus, vê se entende que eu ainda tou de licença maternidade...
-E pelo visto se aproveita muito bem disso pra se abusar de mim.
-Não distorce as coisas, mana. Não seja injusta comigo.
-E por acaso você tem sido justa comigo? E os meus ensaios? E a minha carreira de atriz e dançarina, fica como?
-Daniella, eu te amarrei?
-Não, mas é que...
-Então para de dar chiliquinho histriônico que cê vai me ouvir! Aceitou ficar no meu lugar porque quis. Estava ciente de tudo, da minha licença. Eu podia antecipar minha volta? Podia. Mas não quero. Se coloque você no meu lugar de vez em quando em vez de pedir por empatia de mão única.
Daniella fica impactada.
-Nossa, mana... desculpa.
-É um saco isso, sabe? Faz a merda pra depois pedir desculpa. Eu te desculpo, pimentinha... eu te amo, sua boba. Mas vê se entende: eu preciso dessa viagem, tá?
-Eu sei, Cristina... às vezes não consigo ver o seu lado... e faz mais de um ano que cê anda precisando de um descanso urgente de tudo isso...
-Mas não é, menina?
As duas seguem conversando calmamente. CORTA A CENA.

CENA 7: Gustavo conta a Elisângela sobre o que ouviu um médico dizer a respeito de uma paciente terminal.
-Elisângela, tá podendo me ouvir?
-Sempre, querido.
-Eu ouvi um trem sério...
-Vish, pela sua cara, foi sério mesmo.
-Sabe o doutor Edmundo?
-Sei. Ele é um dos poucos daqui que entende a gente, mas precisa ficar sempre na surdina...
-Eu ouvi ele comentando com o doutor Lauro que aquela paciente terminal, a Cleusa, não passa da semana que vem.
-Gente, que pecado! Uma mulher tão boa!
-Sim. Eu queria saber se ocê já localizou algum familiar dela.
-Nada até agora, Gustavo. Ei, por que ocê não vai falar com ela? Eu sei que ocê leva jeito com pacientes cheios de dor... de repente ela pode te dizer alguma coisa, dar uma luz sobre algum familiar...
-Sabe que é uma boa ideia?
-É a única possível. Essa mulher não tem tempo nenhum a perder...
-Verdade...
CORTA A CENA.

CENA 8: Mônica almoça com Sérgio e lhe conta, ainda surpresa, sobre as novidades da revista.
-Então basicamente foi isso, meu amigo...
-Caramba... que virada de jogo, hein?
-Tou sem fôlego até agora! Só de imaginar que eu estou a um passo de me tornar editora chefe outra vez... meu coração chega a disparar e palpitar, de nervoso, até um pouco de medo...
-Ué, mas não é o que você quer?
-É, mas a maneira que tudo isso tá se desenhando me deixa receosa. Eu confio na Valéria, ela já provou que tem visão pras coisas. Mas eu sei que a Giovanna pode querer prejudicar a revista por pura birra infantil com ela...
-Duvido. Ali vocês são todas profissionais. Se ela derruba a revista, derruba a agência junto.
-Bem, olhando por esse lado... todos perderiam se a revista fechasse, realmente...
-Tá vendo? Tá bem claro que você deve aceitar ser editora chefe de novo.
-Só você pra me fazer enxergar as coisas assim, tão rapidamente, nos meus momentos de indecisão...
CORTA A CENA.

CENA 9: Sozinha em sua sala na agência, Giovanna planeja em voz alta próximos passos...
-Anda, Giovanna... você precisa pensar numa maneira de fazer o anúncio dessa gravidez ser algo grandioso, apoteótico, de preferência até mesmo escandaloso! Pra esfregar na cara daquela mineirinha que a mãe do filho legítimo do Hugo vou ser eu! Ai, ai... vai ser uma delícia!
Giovanna segue pensativa.
-Mas pra fazer o estrago que pode ser feito, eu vou precisar estar na hora certa e no lugar certo. Não pode ser algo pensado com pressa... não posso me dar ao luxo de meter os pés pelas mãos. Eu tenho que calar, contemplar, observar... aproveitar o melhor momento. E o melhor momento é quando a Valéria estiver junto do Hugo. Taí... até que tá sendo útil essa amizade dela com o Hugo ter continuado mesmo depois de tudo. Não vai demorar pra eu encontrar a deixa perfeita... pelo menos, eu espero que não demore...
Giovanna sorri maliciosamente. CORTA A CENA.

CENA 10: Gustavo consegue tranquilizar paciente terminal, que sente ainda muita dor.
-Então... tá mais calma?
-Sim... ocê é mesmo um anjo, Gustavo.
-Deixa disso, dona Cleusa... mas, ei! Peraí... como é que a senhora sabe o meu nome se eu nem falei e não tem no meu jaleco?
-Eu te conheço desde moleque, seu bobo.
-Como?
-Não tá me reconhecendo, não?
-Desculpa a sinceridade, mas não...
-Eu sei que eu mudei um bocado. O câncer me destruiu. Perdi muito peso, minha beleza se foi...
-Não fique assim, dona Cleusa... tá tudo certo. Só quero saber de onde a senhora me conhece.
-Eu sou a mãe do Flavinho, seu amigo.
Gustavo fica chocado ao perceber estado de mãe de Flavinho. FIM DO CAPÍTULO 124.

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