CENA 1: Giovanna insiste com Hugo, que considera falar a verdade para ela.
-Bem, Giovanna... um acidente de carro nunca é uma coisa fácil, né?
O médico percebe que Hugo está prestes a falar e apazigua a situação.
-Mas mesmo assim, não aconteceu nada com o bebê, Giovanna. Fique sossegada. Eu vou precisar conversar com seu companheiro e já volto aqui. - fala o médico.
Hugo estranha.
-Não entendi, doutor Francis. Eu sei que precisa cuidado, mas tudo isso?
-Hugo, talvez você não tenha tido a dimensão disso tudo ainda.
-Sim, eu tenho. Ela realmente acredita que tá grávida. Mas precisa entender que não tá.
-Você precisa agir com cautela, rapaz. Não é fácil nem rápido do jeito que parece.
-Quanto tempo vai levar pra gente contar?
-O ideal não é contar. É ir dando indícios, pouco a pouco. Pra que ela possa perceber por conta própria que não existe efetivamente uma gravidez ali. Eu conversei com a psicóloga daqui que cuida desses casos e ela já vem verificar como é a situação da Giovanna.
-Mas até lá, como fica tudo?
-Do mesmo jeito de antes. Ela não entrou conscientemente nessa fantasia. E por se tratar de um processo inconsciente, é preciso cuidado. Ela realmente manifesta os sintomas de gravidez. Em pouco tempo a barriga pode começar a expandir e ela pode sentir até mesmo o bebê mexer ali dentro.
-Como isso é possível?
-Pela movimentação dos gases retidos. Pode ser que ela não chegue a tanto.
-Eu espero que não. Ela tá completamente desequlibrada, doutor. Você não faz ideia do quanto...
-Vá lá outra vez. Procure tranquilizá-la. Minta que tá tudo certo com o bebê. Só depois de uma avaliação mais aprofundada da psicóloga é que vamos saber como você deve proceder.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã seguinte, Hugo observa Giovanna adormecer após chegar em casa.
-Gente, essa mulher não dormiu no hospital, não? - questiona Flavinho.
-Nada, Flavinho. Passou a noite em claro, me contou. Veio exausta pra cá.
-Menino, eu ainda tou passado com esse trem da gravidez psicológica. Como é que pode uma coisa dessas?
-Nem eu sei como pode. Mas aconteceu. Ela entrou nessa fantasia.
-Mas vai precisar sair dessa fantasia antes que seja mais sofrido ainda pra ela. Eu não vou com a cara dela, mas até fiquei com pena.
-Verdade. Mas não sei como é que eu vou contar a verdade pra ela.
-Contando, uai. Ela vai precisar entender cedo ou tarde que não tem bebê nenhum crescendo ali.
-Não é simples como parece, Flavinho.
-Como que não? Hugo, eu entendo que ela esteja meio fora de si, mas e vocês? Ela tá aqui nessa casa por causa de uma gravidez que ela pensa que existe, mas não existe. Ela tem o apartamento dela. A vida dela. Será que não é melhor acabar com tudo isso de uma vez?
-Ela não tá em condições psicológicas ainda...
-Será? Até quando isso vai servir de desculpa? Ela precisa encarar a realidade. Entender que tá pagando pelas merdas que já fez na vida.
-É justo. Mas tem que ser na hora certa.
-Ocê pode fazer a hora, se quiser, Hugo.
CORTA A CENA.
CENA 3: Cristina demonstra revolta e se recusa a comer. Vitório se preocupa.
-Anda, Cristina... come alguma coisa. Saco vazio não para em pé.
-Comer pra que? Pra você me manter por mais tempo ainda encarcerada nesse inferno?
-Não precisa ser um inferno.
-Como que não? Eu tou longe de casa, longe do Brasil, longe de tudo. A culpa é sua. Sua e da sua loucura.
-Há empregados à sua disposição. Eles falam português, não precisa se esforçar em falar italiano. Não precisa nem olhar na minha cara se não quiser.
-Como se isso solucionasse algum problema. Tudo aqui é a sua cara. Tem a sua presença. Não faz a mínima diferença eu olhar pra sua cara ou não.
-Você que sabe. Seus pedidos são ordens aqui.
-Mesmo? Então me deixa ir embora e voltar pro Brasil. Me deixa voltar pro Fábio e pra minha filha.
-Tudo, menos isso. Se em um mês você não me amar de novo, eu te liberto.
Vitório deixa sala e Cristina se revolta, esmurrando o sofá. CORTA A CENA.
CENA 4: Fábio faz perguntas a Idina quando os dois se encontram.
-E então? Já ficou pronta a análise grafológica?
-Sim. Ficou pronta e eu encaminhei a um investigador de polícia, que verificou o laudo comprovando que ela estava escrevendo sob pressão.
-E então? Já pode ser aberta a investigação?
-O investigador não considerou como prova contundente. Alegou que a tensão pode ser causada por inúmeros fatores, inclusive a tensão de fugir.
-Isso significa que nós voltamos à estaca zero?
-Infelizmente sim, Fábio. Sinto muito de ter de te dizer isso.
-Não sinta. Você não tem culpa e tem sido maravilhosa, Idina.
-Eu tenho uma solução pra esse caso. Ou pode pelo menos indicar a solução.
-O que?
-Você tem como voltar à pousada que vocês se hospedaram em Fernando de Noronha? De repente há testemunhas que você nem contatou no desespero...
-Será?
-Vai por mim. Não custa nada ir por essa linha...
CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella desabafa com Gustavo durante lanche sobre seus medos em relação à Cristina.
-Gustavo, cê não faz ideia do quanto esse desaparecimento da Cris tá mexendo comigo.
-Posso imaginar. É sua única irmã.
-Nem é só por isso, cara... é por uma espécie de maldição que existe na família da gente. Uma coisa meio sinistra com algumas mulheres. Por anos eu pensei que a maldição era comigo, porque eu tenho o nome da minha falecida tia.
-A que foi assassinada por aquele tal de Guilherme?
-Ela mesma. Era leonina, ainda por cima. Eu tive medo até pouco tempo atrás, porque meu pai quis homenagear a irmã morta me batizando com o nome dela. E eu sempre me senti ligada a ela. Por tudo. Pelo amor à arte, ao teatro, à dança. Mas hoje eu fico com o medo que seja a Cris que tenha levado adiante essa espécie de maldição...
-Ai, Dani... tenta não pensar nesse trem de maldição... não traz nem coisa boa buscar essas coisas...
CORTA A CENA.
CENA 6: Vitório se satisfaz de ver Cristina comendo.
-Até que enfim parou com a palhaçada da greve de fome, hein?
-Eu que não ia me foder ainda mais por causa da sua falta de caráter e da sua loucura. Não vou passar fome. Já basta o nervoso dessa situação absurda.
-Pelo menos a sua sabedoria sagitariana permanece intacta. Não esperava menos de você.
-E eu esperava um pouco mais de apreço à liberdade alheia, já que você também é um. Agora tou entendendo tudo... claro! Tudo faz sentido!
-O que?
-Você surgir em Fernando de Noronha... aquele escândalo. Apesar do seu desequilíbrio... escândalo nunca combinou com você.
-Onde cê quer chegar, exatamente?
-Na parte que você fez tudo de caso pensado. Deve ter voltado ao Brasil antes de eu viajar com o Fábio. Devia estar me seguindo. Acompanhado cada passo dado por nós... vai negar?
-Não vou negar nem afirmar nada.
-Não precisa, Vitório. O seu silêncio já é uma forma de dizer que sim, tudo isso foi de caso pensado.
-E se tiver sido? Será que isso não seria uma grande prova de amor?
-Em que mundo você vive, cara? Amor é liberdade.
-Você fala isso porque nunca teve de lutar por amor.
-Lutar por amor é uma coisa. Desde que seja jogo limpo. Sem trapaças. Sem atalhos.
-E ser trouxa? Abrir pra concorrência?
-Desisto, cara. O amor não é uma corrida, não é uma competição. Uma pena que você entenda as coisas assim.
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, com a noite já avançando, Gustavo aborda Flavinho.
-Ei... ocê foi ótimo animando as crianças hoje.
-Até parece, Gustavo... ocê que é imbatível nessa tarefa.
-Não se diminua, querido. Hoje tava maravilhoso. E foi incrível a sua capacidade de fazer aqueles pequenos sorrirem.
-Para que assim eu me envergonho.
-Ai, desculpa.
-Tudo certo.
-Ei, quer ir pro meu apê hoje?
-A Dani vai junto?
-Nada! Ela tá preocupada com a Cris, lembra?
-Ah, sim.
-E aí... topa ou não topa? Eu faço aquela lasanha de quatro queijos que ocê adora.
-Não faz assim que desse jeito o taurino pira!
-Topa, vai!
-Tá, saindo daqui a gente vai pro seu apê. Mas trate de cumprir a promessa porque eu exijo a lasanha!
Os dois riem. CORTA A CENA.
CENA 8: Vitório tenta se acertar com Cristina.
-Tenta entender, Cristina... tudo isso aqui é por você.
-Que tal se não fosse. Você só pensa em você mesmo.
-Mas você não é indiferente a mim, eu posso ver no seu olhar.
-Tem razão, Vitório. Eu realmente não sou indiferente. Tenho um sentimento por você. Sabe qual?
-Qual?
-Nojo. Eu sinto nojo de você. Do que você se tornou. Eu procuro encontrar aí o Vitório que eu conheci. Mas não enxergo. Preferia ter ficado cega a ter de testemunhar isso.
-Um dia você vai me agradecer por isso, pode apostar.
-Agradecer pelo que? Você apontou uma arma, para um bebê. Ameaçou tirar a vida da minha filha. E diz que fez isso por amor. Você tá fora de si. Se é que um dia realmente esteve.
CORTA A CENA.
CENA 9: Nicole desabafa com Sérgio, no apartamento dele.
-Ah, Sérgio... tenho tanto medo do que pode estar acontecendo à nossa filha...
-Nem fale, Nicole. Tenho medo só de imaginar.
-Cê acha que ela pode estar em perigo?
-Quero pensar que não. Mas pensei que conhecia o Vitório...
-É isso que me assusta. O sujeito foi capaz de fazer o que fez. E não deixou rastros. Eu tenho tanto medo, Sérgio!
-Não vai ajudar ter medo agora...
-Mas como que eu não vou pensar nessas coisas, Sérgio? A nossa filha pode estar correndo perigo de vida. Pode estar machucada. Sem alimentação... e longe de todos nós... como que eu não vou ter medo?
Sérgio afaga Nicole. CORTA A CENA.
CENA 10: Flavinho janta com Gustavo no apartamento dele.
-Nossa, mandou super bem na lasanha, hein? Parece a que a minha mãe fazia lá em BH...
-Ah, eu me garanto na cozinha, Flavinho. Ainda mais se for pra fazer algo que ocê gosta...
-Ai, para... desse jeito eu fico encabulado.
-Jamais quero te constranger. Durante esse tempo todo tenho tido toda a consideração do mundo por você... mas preciso te falar de uma coisa que tá presa aqui dentro...
Flavinho olha encantado para Gustavo.
-Fala...
-Eu te amo. Mas não só como um amigo. Não sei a partir de que momento a coisa mudou. Eu não percebi o momento exato que eu me apaixonei por você. Mas não quero mais fingir que não sinto o que eu sinto...
-Isso é sério, Gustavo? Vê lá... não vai me iludir...
-Uai, iludir por que?
-Porque eu também tou apaixonado por você.
Gustavo se emociona com o que Flavinho diz. FIM DO CAPÍTULO 136.
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