CENA 1: Leopoldo segue incrédulo diante de Bernadete.
-Não pode ser. Eu pensei que cê tinha desistido da ideia da separação...
-Querido... não é porque eu não falei sobre o assunto nesses últimos dias que alguma coisa mudou. Eu continuo firme na minha decisão de me separar de você e acho que agora é o momento certo pra gente já começar a pensar em como vai ser o nosso divórcio.
-Agora que a coisa chegou eu não sei como lidar. Não fui ensinado a nada disso Meus valores são cristãos. Casamento foi feito pra durar toda a vida.
-Sabe o que eu questiono nisso tudo?
-O que?
-A aplicabilidade desses seus conceitos cristãos. Porque quando foi pra você mentir e me enganar, esqueceu que era cristão.
-Agora eu entendi tudo... cê não me perdoou pelas coisas todas que eu fiz, não é?
-Sim, eu te perdoei. Só que a minha decisão de querera separação vem de antes disso.
-Não é o que parece. Faz parecer que você quer me punir.
-Esquece isso. Esse foi só mais um de vários fatores que se acumularam nesses mais de trinta anos. Eu quero continuar sendo sua amiga. E não pretendo pedir que você vá procurar outro lugar pra morar. Sabe por que?
-Por que?
-Porque por mais que essa casa seja minha de direito, eu sinto que ela também é sua. E sei que você tem um apego a ela. Jamais te colocaria pra fora. Muito menos penso em deixar de ser sua amiga.
-Então por que a gente não continua casado?
-Porque essa decisão é irrevogável. Vai ser melhor pra nós dois. Eu tenho certeza de que vai ser um livramento pra você também e logo você vai estar mais feliz por estar livre...
-Queria ter esse seu otimismo.
-Querido, eu sou prova de que nunca é tarde pra recomeçar. Enquanto há vida, há tempo.
-Eu sofro com isso...
-Aceite o sofrimento. Sinta tudo até o fim. Vai ser melhor depois dessa pequena tempestade.
-Tá certo... eu concordo com o divórcio.
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.
CENA 2: Cristina desliga seu celular, incomodada. Fábio percebe.
-Precisava se perturbar tanto assim só porque seu ex ligou?
-Fábio... só eu sei o que eu passei na mão desse sujeito.
-Já passou. Você tá comigo.
-Sim, já passou. Mas você acredita que ele teve a ousadia de propor que a gente se encontrasse mais tarde?
-E daí?
-Você ainda pergunta?
-Não vi nada demais.
-Pois devia. A gente vai se casar e você não fica nem um pouco incomodado com o meu ex me convidando pra gente se ver?
-Deveria? Cristina, eu acho uma infantilidade absurda você fugir dessa forma.
-Ah tá, falou o quase cinquentão que sabe tudo da vida. Eu esperava mais compreensão da sua parte, Fábio.
-Eu sou compreensivo. E não vejo razão pra você fugir desse encontro. É preciso acertar os ponteiros.
-Isso que é confiança, hein?
-Eu confio em você.
-Não sei se é uma boa ideia conversar com o Vitório... ainda tem muita mágoa acumulada.
-É uma oportunidade pra zerar essa conta...
-Pensando por esse lado...
CORTA A CENA.
CENA 3: Daniella conversa com Flavinho.
-Sabe, eu conversei com o Gustavo e queria te fazer uma proposta.
-Ih, lá vem um plano mirabolante seu.
-Larga a defensiva, taurino teimoso. Não tem nada de tramoia ou plano mirabolante... na verdade eu pensei que a gente podia passar o fim de semana junto. Aproveitar que você voltou ao trabalho cheio de gás e já dar uma esticada pro fim de semana.
-Onde seria isso?
-No apê do Gustavo, lógico. Eu até pensei que podia ser na minha casa, mas daí lembrei que minha mãe tá passando esses dias lá enquanto a Cris tá naquela quase lua-de-mel com o Fábio.
-Quer saber? Ando mesmo precisando espairecer. Eu topo.
-Ai, que delícia! Vou avisar o Gustavo!
CORTA A CENA.
CENA 4: Bernadete e Leopoldo chamam Hugo pra conversar.
-E aí, filho... a Giovanna sossegou? - questiona Leopoldo.
-Sim. Tomou um chá e acabou capotando outra vez. Melhor assim. - fala Hugo.
-Ótimo. Eu e seu pai temos uma coisa pra contar pra você e é melhor que a Giovanna não se meta nessa conversa. - fala Bernadete.
-Eita... o que é, gente? - questiona Hugo.
-Nós decidimos nos divorciar. - fala Leopoldo, triste.
-Mas foi uma decisão que discutimos bastante, durante algum tempo. Não brigamos. Não nos odiamos. Seu pai não vai embora dessa casa. Apenas decidimos que é melhor seguirmos nossos rumos sem estarmos presos um ao outro. - argumenta Bernadete.
-Eu fiz de tudo pra manter e salvar esse casamento. Mas a sua mãe tá coberta de razão quando diz que não seria saudável pra gente. Então me restou aceitar, mesmo triste. - explica Leopoldo.
-É assim que vocês se sentem bem? Então tá tudo certo. Não ia ser legal pra vocês manter um casamento por conveniência. Até porque a vida não acabou e vocês ainda tem muita história pra viver... eu apoio a decisão de vocês. - fala Hugo, compreensivo.
Bernadete e Leopoldo abraçam Hugo, agradecidos. CORTA A CENA.
CENA 5: William estranha distanciamento de Valéria.
-Não entendi ainda o que eu te fiz...
-Ocê ainda não me fez nada, William.
-Ainda?
-Sim, ainda. Porque se continuar insistindo, grudando em mim desse jeito, vai ter me saturado.
-Não entendo essa sua súbita mudança comigo.
-William, quer fazer favor de ser mais compreensivo? Não é só pelo meu trabalho na revista, é por tudo o que aconteceu nessas últimas semanas. É coisa demais. É o Flavinho perdendo a mãe, é a gravidez da Giovanna. É ela perdendo as estribeiras e a sanidade numa tacada só e no meio disso ainda o resto de mágoa que tenho pela traição do Hugo. É muita coisa.
-Eu pensei que a gente tava começando a ter um lance.
-E tava. Mas eu ainda não engoli sua atitude com seu pai. Além de tudo o que já anda me deixando suficientemente ocupada.
-Dava tudo pra você me perdoar.
-Ocê não precisa de perdão. Precisa reavaliar suas atitudes. Perceber que o seu pai não vai durar pra sempre, ainda mais que ocê é pai também.
-Já te falei... ocê não sabe quem é meu pai...
-Independente disso. Sua atitude podia ser diferente.
-Um dia ocê vai entender tudo.
CORTA A CENA.
CENA 6: Hugo bate na casa de Mauro e Valéria o atende.
-Mal acreditei quando ocê me mandou mensagem dizendo que vinha. O que te trouxe aqui?
-Necessidade de conversar e desabafar. A Giovanna tá me sugando as energias.
-Eu posso imaginar. Mas ela está precisando de cuidados, apesar de ser uma mau caráter.
-Sinto sua falta, sabia? Falta de nós dois.
-Vou mentir se disser que não sinto também. Mas as coisas tomaram uma proporção gigantesca. Não tem como nós dois dar certo. Não depois da gravidez da Giovanna. Ela precisa de cuidados.
-Mas uma gravidez não é obrigação de união.
-Nem eu disse isso. Mas nesse caso específico, é preciso que ela esteja bem amparada. Por mais que eu deteste essa sujeita.
-Queria ter essa sua magnanimidade.
-Não tem nada de magnânimo nisso, Hugo. É só meu jeito de te dizer que nós não vamos voltar.
CORTA A CENA.
CENA 7: Cristina toma uma decisão a respeito de seu possível encontro com Vitório.
-Eu pensei em tudo o que a gente conversou, Fábio.
-E o que cê decidiu, amor?
-Decidi pela coisa certa.
-Vai conversar com ele?
-Vou. É melhor esclarecer tudo de uma vez por todas, em vez de fugir do que ficou pendente.
-Eu tenho uma ideia.
-Que ideia?
-Você pode chamar pra ele vir aqui.
-Como assim?
-Simples: eu vou dar uma volta e levo a nossa filha junto. Daí vocês ficam tranquilos pra conversar e acertar os ponteiros sem se sentir incomodados.
-Tem certeza que você existe, Fábio? Você é o cara mais incrível que já conheci na vida, meu amor...
-Deixa disso. Só tou fazendo o que acho certo...
CORTA A CENA.
CENA 8: Fábio anda pela beira da praia com a filha no colo e conversa com Arlete como se ela já fosse capaz de compreendê-lo.
-É, minha filha... a sua mãe precisa resolver essa questão de uma vez por todas.
Fábio olha para o mar, pensativo. Segue seu diálogo com Arlete.
-Meu medo é que ela descubra que ainda gosta daquele Vitório. Mas isso é um segredinho nosso, viu filha? Eu entendo que acima dos meus medos, das minhas inseguranças e meus caprichos, tá o amor. Incondicional. É por isso, filha... é por isso que eu insisti pra ela resolver tudo logo com aquele cara. Pra não me sentir mal depois por cercear qualquer liberdade da sua mãe. Você entende, né filha?
Fábio olha para a filha, que sorri para ele.
-Que bobo sou eu... conversando com a minha filha bebê...
Fábio sorri de volta para Arlete.
-Sabe, filha... eu espero não me arrepender de ter sugerido que ela encontrasse esse tal Vitório lá na pousada. Mas eu acho que eu me arrependeria mais se impedisse isso de alguma forma...
CORTA A CENA.
CENA 9: Giovanna se vê num quarto claro.
-Gente, que doideira. Quem é que foi que mudou tudo nesse quarto?
Giovanna percebe então que existe um berço nele. Olha à sua volta e para sua barriga.
-Eita. Será que meu filho já nasceu e eu esqueci? Que dia é hoje?
Giovanna consulta o calendário de seu celular.
-Ah, sim... já passou todo esse tempo. Mas que engraçado... eu não consigo lembrar de parir o meu próprio filho! Como é que pode uma coisa dessas? Como é que eu não senti esse tempo todo passar?
Giovanna apalpa a própria barriga.
-Estranho. Tá chapada. Parece que nem passei por uma gravidez!
Giovanna toma coragem e vai até o berço e o percebe vazio. Giovanna entra em desespero e acaba despertando, ofegante.
-Caramba... isso foi um pesadelo real demais. Socorro!
Giovanna recupera o fôlego.
-Tomara que a praga da Valéria não faça eu perder meu bebê...
CORTA A CENA.
CENA 10: Fábio chega, horas depois, à pousada e estranha não encontrar Cristina ali. Fábio coloca Arlete para dormir e estranha ausência de Cristina.
-Será que ela saiu pra conversar com o tal do Vitório em outro lugar e nem me avisou?
Fábio olha seu celular.
-Mensagem nenhuma, nada...
Fábio circula pela casa, preocupado.
-Já tá muito tarde pra andar na rua, até mesmo aqui em Fernando de Noronha...
Fábio encontra um bilhete sobre a mesa, escrito por Cristina e o lê em silêncio.
“Fábio... me perdoa. Mas eu me enganei esse tempo todo. Não pense que eu enganei você... foi a mim mesma que enganei, pensando que tinha deixado de amar o Vitório. Hoje eu percebi que não. E sinto muito por ter te feito acreditar que podíamos nos casar. Agradeço por ter me dado a nossa filha... mas preciso ir embora com meu grande amor. Adeus.
Cristina.”
Fábio fica perplexo. FIM DO CAPÍTULO 132.
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