CENA 1: Fábio, ainda perplexo, caminha pela casa e acaba encontrando uma outra folha.
-Ela escreveu mais? Por Deus... é tortura que ela resolveu fazer comigo? Pra que isso?
Fábio, começando a chorar, pega a carta para ler.
“Por favor, meu querido... entenda que eu sou grata a tudo o que pudemos viver juntos. Que nós sempre vamos ter um elo indissolúvel, que é a nossa filha. Me perdoe por ir embora assim, sem avisar. Foi tudo decidido de última hora. Eu e o Vitório estamos indo para a Itália. Não me procure. Você não vai me encontrar. Estou indo para um lugar que você não conhece, antes de partir. Não me procure, deixe que eu te procure. Eu decidi deixar nossa filha com você pelos primeiros meses. Volto quando puder.
Eu sei que tudo isso deve estar doendo em você. Também dói em mim partir dessa forma... só que não tive outra alternativa. Eu não imaginava que quando o Vitório voltasse, eu sentiria as coisas que senti. A culpa é minha, não é sua. Você é um homem incrível, Fábio. Mas percebi que o único grande amor da minha vida é o Vitório. Eu sei que errei... e vou me culpar por isso até o fim dos meus dias. Só peço que você saiba me perdoar...
Te amo... mas como um amigo.
Cristina.”
Fábio entra em desespero e chora, desconsolado.
-Eu não posso acreditar que você fez uma coisa dessas comigo! A letra é claramente sua, mas as palavras não, Cristina! Não é possível que eu nunca tenha te conhecido de verdade... isso tem que ser um pesadelo! Tem que ser...
Fábio vai até Arlete, que dorme. Fábio observa a filha.
-O que vai ser da gente, minha filha? O que a sua mãe fez com a gente? Ela te desejou tanto, te amou tanto... não consigo acreditar que ela nos abandonou. Eu consigo suportar ela me deixar... mas deixar você, que não tem culpa de nada? Eu não conheço essa Cristina... definitivamente não.
Fábio tenta racionalizar a situação.
-De repente ela tá de brincadeira. Claro! Ela pode ter ido dar uma volta com o ex dela e resolveu pregar essa pegadinha, bem sagitariana... se bem que ela tem bom senso pra saber que uma coisa dessas seria pesada demais. Tem alguma coisa muito errada nisso. Essa atitude covarde de deixar um bilhete e uma carta e não me encarar de frente não combina em nada com ela. Bem ou mal ela sempre encarou tudo de frente. Será que ela foi enfeitiçada? Será que o tal do Vitório tem poder de induzir ela a fazer coisas que ela não quer? Chega, Fábio... chega. Melhor cair em si de uma vez e admitir que ela quis ir embora. Os motivos não interessam, agora.
Fábio chora, desconsolado pela partida inesperada de Cristina. Novamente olha para a filha.
-Ah, Arlete... tão bebêzinha e abandonada pela mãe. Como é que vai ser tudo agora, minha filha? Como vai ser te criar sem a sua mãe por perto? Como vai ser ir embora daqui sem ela? Meu Deus do céu... como vai ser encarar a sua avó? Como vai ser pra ela lidar com a fuga da própria filha?
Fábio tenta lidar com situação. CORTA A CENA.
CENA 2: Flavinho se diverte com Daniella no apartamento de Gustavo.
-Gente, de onde é que ocê tira tanta história, Dani? - pergunta Flavinho.
-Ocê tá achando que é só isso, Flavinho? Não sabe da missa um terço! - fala Gustavo.
-Que culpa tenho eu se apesar da pouca idade, vivi um monte de coisa? Se não fosse a minha própria vontade de perseguir meus sonhos, eu tava era bem ferrada na vida! Não financeiramente, claro, mas... sei lá. Se eu não tivesse me imposto, seria diferente. - fala Daniella.
-Que doideira, gente... eu sempre achei que as coisas eram mais fáceis pra quem já nasce praticamente rico... - fala Flavinho.
-Nem sempre, Flavinho. Meu pai hoje é um cara sensacional, super desconstruído... mas não foi sempre assim, viu? Ele já foi bem machista. E na realidade, grande parte desse machismo dele era uma forma de defesa. - fala Daniella.
-Defesa? Como assim? - questiona Flavinho.
-Deve ser alguma coisa a ver com a irmã dele. - constata Gustavo.
-Isso mesmo, Gustavo. Tem a ver com a minha tia, que tinha meu nome. Ela foi assassinada antes mesmo de eu sonhar em nascer. Foi quase dois anos antes de eu nascer, pra ser mais exata. Foi algo difícil pro meu pai... eu sei que foi. Então ele morria de medo que eu seguisse o mesmo destino dela. - explica Daniella.
-Mas se tem uma coisa que ocê é, é talentosa. O teatro tá perdendo um senhor talento pra comédia... - fala Flavinho.
-Ah, meu querido. Assim que a Cris voltar ao trabalho, é lá que eu vou me atirar de novo! Não perco essa chance por nada nesse mundo! - fala Daniella.
-E nem deve. Foi essa Daniella cheia de personalidade e sem disposição de abrir mão de tudo o que é seu que entrou na minha vida... - divaga Gustavo.
-E essa Daniella tá bem viva. Só tá esperando a chance de voar outra vez. É uma questão de tempo, meus queridos! - fala Daniella.
-Queria ter essa força, essa garra... essa determinação. Sinto que é isso que me falta... - divaga Flavinho.
Os três seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 3: No dia seguinte, Patrícia conversa com Daniella e lhe faz perguntas.
-Mas conta pra mim, Dani... foi divertido ontem com os meninos?
-Foi maravilhoso, Pati! O Flavinho é mesmo um ser humano admirável, viu? Nem ele consegue perceber o tamanho da força que possui.
-E eu não sei? A força dele tá na nobreza de não guardar ressentimentos nem rancores...
-Taí uma grande verdade. E você é a maior prova dessa grandeza dele.
-Verdade. Sabe, eu queria muito poder conviver mais com os meninos, mas depois de tudo o que eu já aprontei, não sei se isso ainda é possível.
-E por que não haveria de ser? Deixe de ser besta, Pati!
-Sinto vergonha ainda pelas coisas que eu fiz. Não só vergonha, mas também arrependimento.
-Sem necessidade. O Flavinho já não perdoou?
-É, mas tem o Gustavo...
-Deixa ele, ué. Cada um tem seu tempo. A gente não pode impor que as pessoas tratem a gente com só sorriso se elas não conseguem. Pensa pelo lado positivo, amiga: ele não te maltrata. Muito menos fala coisas chatas na sua cara. Acho que sinceramente não existe nada que te impeça de andar com a gente a não ser seus próprios medos e inseguranças...
-Quer dizer que ocê acha que basta eu querer que tá tudo certo?
-Não acho, amiga... eu tenho certeza absoluta disso.
-Bem... se é você quem diz...
-Relaxa, boba...
CORTA A CENA.
CENA 4: Cristina senta em assento do avião e Vitório se acomoda ao seu lado. Cristina pragueja contra Vitório.
-Isso que cê tá fazendo é crime, Vitório. É sequestro.
-Pra cima de mim, Cristina?
-Sim, pra cima de você. Ou você já esqueceu que eu só escrevi aquele bilhete e aquela carta pro Fábio porque tinha uma arma apontada pra minha cabeça?
-Fala baixo! Podem ouvir...
-Deviam ouvir, mesmo...
-Resolveu bancar a revoltada agora que a gente tá decolando pra Itália? Difícil te entender, hein? Se quisesse realmente escapar, tinha dado um jeito de fazer um escândalo no check in.
-Ah, com certeza! Eu faria tudo isso se você não tivesse ameaçado a vida da minha filha e do Fábio. Seus pais sabem que você se tornou um mafioso? Porque eu duvido que eles ficariam orgulhosos se soubessem o que você se tornou!
-Você conhece meus motivos.
-Que? Agora a culpa de você ter esse caráter excessivamente flexível é minha?
-Tudo mudou depois que você me deixou...
-Como se você não tivesse me deixado antes.
-Um dia cê vai entender...
-Não vou. Não quero.
-Facilita as coisas, Cristina... que eu sei que você pode voltar a me amar. É questão de tempo...
-Difícil eu amar o meu sequestrador. Bem difícil!
O avião decola rumo à Itália.
CORTA A CENA.
CENA 5: No dia seguinte, Fábio chega logo pela manhã em seu apartamento e Nicole estranha.
-Bom dia, Fábio. Achei que vocês fossem chegar só semana que vem... e num horário melhor...
Fábio acomoda Arlete em seu berço.
-Sabe o que é, Nicole? Aconteceram uns imprevistos.
-E a minha filha? Tá subindo ainda?
-A sua filha é justamente um desses imprevistos.
-Como assim, Fábio? A Cristina não veio com vocês? Não tou entendendo nada...
-Não, Nicole. Ela não veio com a gente. E nem vai voltar.
-Que espécie de pegadinha é essa, Fábio? Foi ideia dela, né? Sagitariana piadista, sempre inventando uma piada nova ou uma pegadinha.
-Não, Nicole. Não tem pegadinha nenhuma. Eu quero que você leia esse bilhete e essa carta que ela me deixou no sábado.
-No sábado? Mas hoje é segunda...
-Leia, por favor. Leia que você vai entender detalhe por detalhe do que tá acontecendo aqui.
Nicole lê o bilhete e a carta que Fábio lhe entrega. Conforme lê, vai ficando incrédula.
-Não pode ser, Fábio... a letra parece da Cristina, mas tá tremida.
-Deve estar tremida porque ela tinha pressa.
-Eu não sei mais o que pensar, Fábio. Estou decepcionada e desesperada.
-E eu digo o mesmo, Nicole...
Os dois se abraçam, entristecidos. CORTA A CENA.
CENA 6: Valéria surge ainda cedo na mansão dos di Fiori e conversa a sós com Flavinho, antes que ele vá ao trabalho.
-Mal acreditei quando a Bernadete falou que ocê veio aqui... não dormiu essa noite?
-Claro que dormi, uai... só acordei mais cedo. Acho que a gente precisa levar um papo sério.
-Sobre o que, Valéria?
-Meu irmão.
-Ah, não... até ocê, Valéria?
-Sim, Flavinho: até eu. Olha o tempão que já passou desde que o Leo se foi... vai ficar até quando se fechando?
-Do jeito que ocê fala, parece que faz dez anos. Não faz nem um ano ainda.
-Mas já é quase um ano. Até quando ocê vai ficar dando volta nessas desculpas que inventa pra não se abrir ao amor?
-E quem disse que não tou aberto? Nunca ouviu falar que o processo de luto leva dois anos?
-Quer enganar a quem? Ocê se fecha nessa desculpa preconceituosa de que não confia em bissexuais...
-Amiga... qual foi a parte do luto que ocê não entendeu? Ainda tem a minha mãe que se foi outro dia...
-Flavinho, para de tapar o sol com a peneira que ocê tá ótimo, vivendo nessa casa, com a sua família de coração. A sua mãe é a Bernadete e seu coração sabe disso. Para de fugir do Gustavo. Se ocê acha que meu irmão não sofre com isso, se engana.
-Baita sofrimento, ele se divertindo com a Daniella.
-Porque você abriu o caminho e deu o sinal verde, perdeu a memória já?
Flavinho fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 7: Bernadete estranha não ver Giovanna tomando café da manhã.
-Filho, a Giovanna tá acordada já?
-Tá sim, mãe...
-Estranho, Hugo... por que ela não desceu?
-E eu sei lá?
-Cê tem certeza que viu ela acordada?
-Sim, mãe. Ela tava indo escovar os dentes.
-Vou dar uma olhada nisso...
Bernadete sobe e vai até o quarto de Giovanna e se dá conta de que a porta está trancada. Intrigada, Bernadete bate na porta.
-Giovanna! Tá acordada?
Giovanna, tremendo de medo, hesita em responder dentro do quarto.
-Giovanna!
-Tou acordada sim, Bernadete. Mas não tem como eu sair desse quarto agora... desculpa.
-Dá pra projetar mais a voz? Quase que não consegui entender o que cê disse. Por que não pode descer?
-Porque a Valéria tá aqui. Eu não quero que ela me veja ou me ouça. Tenho medo de que a praga dela pegue...
-Pelo amor de Deus, Giovanna... isso tá passando dos limites! Ela já vai embora.
-Só saio daqui quando eu tiver certeza que tou completamente segura. Eu e o meu bebê...
Bernadete fica perplexa com descontrole de Giovanna. CORTA A CENA.
CENA 8: Nicole, amparada por Fábio, toma coragem de ligar para Daniella.
-Alô, mãe?
-Já chegou na clínica?
-Sim.
-Ah, certo... eu tou ligando porque preciso falar com você. Eu e seu pai precisamos falar com você na realidade.
-Eita, mas que tanto?
-Não dá pra explicar agora. Posso passar aí na clínica?
-Pode sim, mas tem que ser perto da hora do almoço que eu fico mais liberada das funções.
-Perfeito. Vou avisar seu pai e nós vamos mais ou menos por esse horário na clínica... beijo, filha.
-Beijo, mãe...
Daniella desliga, estranhando.
-Que doideira... o pai aparecer aqui na clínica é até se de entender, mas a mãe? Tem coisa estranha aí... muito da estranha!
CORTA A CENA.
CENA 9: Instantes depois, Fábio desabafa ao telefone com Elisabete sobre situação. Elisabete o recrimina.
-E eu posso saber o que fez você demorar dois dias pra me contar uma coisa dessas?
-Vergonha.
-Vergonha do que? Não foi você que fez nada de errado.
-Eu sei... mas tudo foi tão surreal que eu de alguma forma esperei que tudo isso fosse só um pesadelo.
-Tem alguma coisa que não se encaixa nisso. Eu sou amiga da Cristina. Conheço ela o suficiente pra saber que tem alguma coisa que não se encaixa nisso.
-Tem sim, Bete. Sou eu.
-Que?
-Sim. Eu não me encaixo na vida dela. E ela deixou bem claro isso.
Os dois seguem conversando ao telefone. CORTA A CENA.
CENA 10: Sérgio e Nicole acabam encontrando Daniella na saída da clínica.
-Oi, filha! Pegando bem o horário do almoço? - questiona Sérgio.
-Cês deram sorte. Acabei de bater o ponto.
Os três vão caminhando em direção à lanchonete. Daniella questiona os pais.
-Cês disseram que precisavam levar um papo sério comigo e eu não entendi nada. Até achei estranho você aparecer por aqui, mãe... - fala Daniella.
-Sabe o que é, filha? Eu e o seu pai precisamos que você fique mais algum tempo na clínica. - fala Nicole.
-Eu sei, Daniella... cê tá coberta de razão de ficar indignada de não voltar ao teatro ainda, mas é necessário... - fala Sérgio.
-Necessário por que? Do jeito que cês tão falando, com todo esse pesar, faz parecer que tá acontecendo algum evento inédito, algo grave, como a morte de alguém. Ou sei lá, alguma coisa muito extraordinária... e podem esquecer que eu não vou continuar na clínica. A Cristina que volte ao trabalho ou se vire pra achar substituto! - fala Daniella.
-É aí que tá... filha, a sua irmã não vai voltar. - fala Nicole.
-A Cristina fugiu com o Vitório outra vez. - dispara Sérgio.
Daniella fica perplexa. FIM DO CAPÍTULO 133.
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