CENA 1: Giovanna começa a chorar mais ainda e acaba se agarrando às pernas de Valéria.
-Eu te imploro, por tudo o que existe de mais sagrado nesse Universo! Me perdoa, Valéria...
Valéria, perplexa e assustada com descontrole de Giovanna, procura manter a calma.
-Eu não sei porque, mas te perdoo sim. Fica tranquila. Agora quer soltar as minhas pernas e se levantar, por favor?
Giovanna, aliviada, senta-se no sofá.
-Eu fico muito aliviada pelo seu perdão.
-Que bom. Mas precisava tudo isso, mulher? Sair lá de casa desembestada só pra me pedir perdão?
-Sabe o que é? Eu fiz muita coisa errada com você.
-Já passou. Esquece isso, pro seu bem e pro bem dessa criança que ocê tá esperando...
-É justamente por esse bebê. Ser mãe tá me transformando, antes mesmo desse bebê nascer. A proximidade com a maternidade efetiva me fez reavaliar minhas atitudes. Inclusive o que eu fiz ao seu filho.
-Como assim, ao meu filho? Que história é essa?
-Eu nem sem como começar a explicar.
-Pelo começo. Anda, desembucha!
-Lembra aquela noite que eu vim com o Ricardo jantar com vocês e o Leonardo acabou ficando doentinho, com problema no ouvido?
-Sei. Ele teve uma otite.
-Não foi uma otite. Foi causado por mim. Não percebeu como ele sarou rápido? Eu pinguei água no ouvido dele. Queria dar um susto em você. Eu não aceitava seu relacionamento com o Hugo. Se você soubesse como me arrependo de tudo isso...
Valéria, enfurecida, estapeia Giovanna.
-Fora daqui.
-Mas você não tinha me perdoado?
-Esquece o meu perdão! Por sua causa meu filho podia ter tido até mesmo algo mais grave. E agora vem bancar a arrependida? Ocê não tem coração! Coitado desse seu filho, merecia uma sorte melhor do que ser filho de uma mãe sem alma feito ocê. Sabe o que ocê merecia, de verdade? Morrer seca. Sem raízes. Sem nada. Fora daqui!
Giovanna sai atordoada. CORTA A CENA.
CENA 2: Encostada em seu carro, sem abrir a porta, Giovanna chora desconsolada.
-Eu sou um monstro! Foi isso que eu me tornei! Eu mereci o tapa que a Valéria me deu! Como eu fui burra de achar que ela me perdoaria por isso... ela é mãe... eu entendo ela. Eu fui uma monstra! Uma monstra!
Giovanna tenta se controlar e entra em seu carro.
-Vamos, Giovanna... respira fundo que cê tem que voltar ainda pra casa. Relaxa, pensa em alguma coisa positiva... vamos... relaxa...
Giovanna considera estar mais relaxada, coloca a chave na ignição e música para tocar enquanto arranca o carro e sai dali.
-Ah, Diana Krall... eu adoro essa dela. Impressionante como me identifico!
Giovanna tenta se concentrar na canção, mas acaba relembrando as palavras de Valéria, que ecoam em sua mente, perturbando-a.
“Esquece o meu perdão! Por sua causa meu filho podia ter tido até mesmo algo mais grave. E agora vem bancar a arrependida? Ocê não tem coração! Coitado desse seu filho, merecia uma sorte melhor do que ser filho de uma mãe sem alma feito ocê. Sabe o que ocê merecia, de verdade? Morrer seca. Sem raízes. Sem nada. Fora daqui!”
Giovanna chora e acaba perdendo o controle do carro, colidindo em uma mureta. CORTA A CENA.
CENA 3: Bernadete flagra Hugo andando inquieto pela sala.
-Eita, filho. Tá nervoso?
-Não engoli essa saída da Giovanna. Tem alguma coisa cheirando mal aí.
-Besteira. Sorte a nossa de ter um pouco de folga dos delírios dela...
-Não, mãe... eu tenho medo do que ela foi fazer.
-Acha que ela pode fazer algo contra a Valéria?
-Não. Mas acho que ela pode acabar fazendo algo contra ela mesma.
-Tenta não pensar nisso, filho. Esse tipo de coisa pode acabar sendo atraída pelo pensamento...
-O que o Flavinho acha de tudo isso, mãe?
-Ah, ele me falou que acha que pela primeira vez, a Giovanna possa estar totalmente descontrolada.
-Tá vendo? E ele não costuma errar. Presta mais atenção, mãe...
CORTA A CENA.
CENA 4: Giovanna acorda assustada da batida enquanto é resgatada por uma equipe de médicos.
-Por favor... não deixem meu bebê morrer! - fala Giovanna.
-A senhora tá levando seu filho sem segurança adequada? - questiona um médico.
-Não. Eu tou grávida. Por favor, não deixem eu perder essa criança!
O médico percebe que Giovanna está muito nervosa.
-Primeiro se acalme e tente respirar fundo. Tem algum contato que você queira que a gente avise? - questiona o médico.
-Sim. Pega esse número que eu vou passar e fale com Hugo, por favor. Ele é o pai do meu filho...
Giovanna indica o número pelo celular, ainda tremendo.
-Não deixem que eu perca meu filho... ele é tudo o que eu tenho!
CORTA A CENA.
CENA 5: Hugo recebe uma ligação do celular de Giovanna e atende pensando se tratar dela.
-Fala, Giovanna.
-Alô... aqui não é Giovanna, é Francis. Sou médico e estou entrando em contato com você por indicação da Giovanna.
-O que está acontecendo?
-Não se assuste. Sua companheira sofreu um acidente de carro que não parece ter gerado lesões graves, porém ela está bastante nervosa e fica repetindo a todo tempo pra que não deixemos ela perder o bebê. Estou ligando pra te avisar e pra saber se você pode vir fazer companhia a ela, pra que ela fique mais calma.
-Claro que posso! Mas tem certeza que não foi um acidente grave?
-Certeza só vamos ter depois de efetuar uma bateria de exames.
-Está certo. Qual é o hospital que ela está sendo levada?
-Anote aí, por favor.
Hugo anota as informações passadas pelo médico.
-Perfeito. Estou indo agora mesmo!
Hugo desliga, apreensivo. CORTA A CENA.
CENA 6: Antes de dormir, William critica atitude de Valéria.
-Não precisava ter falado daquele jeito com a Giovanna.
-Ah tá, vai bancar o virginiano cri cri de novo? Engraçado que ocê não lembrou de medir as palavras quando me chamou de vários nomes aquela vez...
-Caramba, quer mesmo comparar uma coisa com a outra?
-Não. Mas não faz sentido também defender a Giovanna.
-Tá certo. Ela é uma mau caráter, mas tá doente.
-Sim, tá ruim da cabeça. Isso é um fato. Só que ela confessou algo grave sobre o nosso filho. Ela podia ter feito coisa pior com o nosso filho e ocê ainda defende essa maluca? Não entendo...
-Valéria, não tou defendendo. Só acho que o tapa que ocê deu foi demais.
-Demais? Achei foi pouco.
-Já te passou pela cabeça que ela já tava desequilibrada naquela época?
-E daí? Justifica a maldade que ela fez?
-Não, claro que não justifica...
-Então qual é o sentido de criticar a minha atitude de ter dado um tabefe na cara daquela safada?
-Porque ela tá desequilibrada, caramba! Gente maluca pode ser perigosa! Não viu o caso da ex do seu irmão esfaqueando o Flavinho, não?
-A Patrícia tem um grande diferencial: é uma boa pessoa, que tava tomada pelo transtorno. A Giovanna estando ou não maluca, é erva daninha, mas não é burra. Ela não colocaria tudo a perder por besteira.
-Ocê não sente medo?
-Sinto. Mas não é esse medo que vai me paralisar. Alguém precisa parar essa mulher. Se tiver de ser eu, então que seja.
CORTA A CENA.
CENA 7: Giovanna, ainda muito nervosa, é examinada por um obstetra.
-E aí, doutor? Como está meu bebê?
O obstetra olha para o médico que acompanhou Giovanna.
-Francis, pode vir aqui comigo, um instante?
-Claro.
Giovanna fica apreensiva.
-Tá tudo certo com meu filho? - pergunta Giovanna.
-Sim, dona Giovanna. Fique sossegada. - fala o obstetra, saindo do ambiente para falar com o médico.
-O que foi, doutor Otávio?
-Francis... essa moça não está grávida. Você não fez se quer um exame de toque antes de encaminhar pra cá?
-Não julguei necessário. Ela parece preocupada demais com perder essa criança. Uma pena que tenha perdido.
-Francis... ela não perdeu criança alguma. Ela simplesmente nunca engravidou. Está sim com sintomas que dão a entender que se trata de uma gravidez psicológica.
-E agora, o que você vai fazer?
-O certo. Falar primeiro com familiares ou esposo, pra esclarecer a situação de uma vez por todas.
CORTA A CENA.
CENA 8: Hugo segue doutor Otávio até uma sala.
-Não entendi porque não podia falar perto dos meus pais e do meu irmão, doutor...
-Hugo, o assunto que tenho a tratar com você é sério e um tanto espinhoso. Como você seria o pai da criança, é com você que preciso falar em primeiro lugar.
-Como assim? A Giovanna perdeu o bebê no acidente?
-Ela não está grávida.
-Como assim?
-Nunca esteve. Mas acredita estar. Deve ter feito um exame de farmácia que deu positivo. A sua companheira está com gravidez psicológica. Tem todos os sintomas, acúmulo de gases, retenção de líquidos... os peitos chegam a estar inchados. Mas não há gravidez alguma. Nunca houve.
-Meu Deus! Como é que funciona essa coisa da gravidez psicológica?
-Pode acontecer com qualquer mulher. Basta estar desejando a gravidez ou estar num estado de desequilíbrio emocional ou psíquico.
-E agora, como vamos preparar a Giovanna pra notícia?
-Não recomendo que isso seja feito agora. É preciso calma. Quem sabe, conversar com psicólogos antes.
CORTA A CENA.
CENA 9: Valéria se espanta com ligação de Hugo e vai atender fora do quarto.
-Isso são hora de ligar, cara?
-Valéria... eu preciso te contar algo bombástico sobre a Giovanna.
-Ah, essa maluca? Sabia que ela veio mais cedo aqui, toda desarvorada, me pedindo perdão e confessando que causou a inflamação no ouvido do Leozinho?
-Ah, então foi isso que causou o desequilíbrio. Bem, ela se acidentou de carro. E descobrimos que ela nunca esteve grávida.
-Que? Ela mentiu?
-Não mentiu. A gravidez é psicológica.
-Meu Deus! Não sei nem o que dizer. Acho que pela primeira vez na vida, senti pena dela, agora... ela precisa ser preparada pra essa notícia, aos poucos.
-Sim, Valéria... tá duro de resolver. Preciso desligar agora que meus pais tão chamando pra ir ver a Giovanna no quarto. Beijo.
CORTA A CENA.
CENA 10: Hugo acaba ficando a sós com Giovanna no quarto onde ela se recupera das lesões do acidente.
-Que susto que você deu na gente, hein?
-Não foi maior que o meu susto. Hugo.
-Já passou. O médico disse que você pode voltar pra casa pela manhã.
-Menos mal. Tive tanto medo, sabe?
-Tá tudo certo, Giovanna.
-O que importa mesmo é que tá tudo certo com o nosso filho. Eu realmente não sei o que ia ser de mim sem ele.
Hugo fica com a expressão lívida quando Giovanna fala da criança. Giovanna percebe.
-Peraí, Hugo... você tá me escondendo alguma coisa?
-Não, que ideia...
-Então que cara é essa? Eu perdi o meu filho e ninguém quer me dizer?
Hugo fica sem ação. FIM DO CAPÍTULO 135.
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