CENA 1: Antes que Cristina possa explicar qualquer coisa a Fábio, que segue intrigado com expressão dela, Vitório interrompe intempestivamente.
-Quer dizer que é assim então, né Cristina? Me abandona, volta atrás, acaba fazendo o transplante e ainda faz filho com outro? - fala Vitório, enfrentando Cristina.
Fábio se impacienta.
-Oi, tudo bem? Eu sou o Fábio, noivo e futuro esposo da Cristina. Essa criança aqui é a Arlete, nossa filha. Você é quem? - fala Fábio, tentando se manter calmo.
Cristina resolve reagir.
-Com que direito você me toma desse jeito, Vitório? Depois de tudo o que me fez passar, ainda acha que pode ter o direito de chegar assim, do nada, onde eu estou passando férias com meu marido? Depois de tudo o que você me fez passar? Não aceito. Nunca vou aceitar que você chegue assim, dono da verdade, achando que tem algum poder sobre mim. Porque nunca teve. Homem nenhum nunca vai ter.
Vitório se arrepende da forma como agiu.
-Eu peço desculpas, Cristina. A você também, Fábio. Eu agi por impulso... sem pensar. Me perdoem. - fala Vitório.
-Tá tudo certo, cara... - fala Fábio.
-Não, não tá nada certo. A besteira já tá feita. Não te desculpo... - fala Cristina.
-Eu só queria a oportunidade da gente conversar. Feito adultos civilizados que somos... - fala Vitório.
-Ah tá! Até agora você mesmo tava agindo feito um adolescente irracional e quer falar que somos adultos civilizados? Santa hipocrisia, Vitório... santa hipocrisia! - reage Cristina.
-Amor... quem sabe não é melhor vocês conversarem a sós? Eu fico aqui com a nossa filha, esperando. Sei que vocês precisam de uma conversa. E não vou impedir que ela aconteça... - fala Fábio.
-Bem, se você acha... eu converso com o Vitório. Mas deixando claro que não sou de cair fácil na primeira justificativa barata. E é bom que você me explique como veio parar aqui! - fala Cristina.
CORTA A CENA.
CENA 2: Flavinho se acorda bem disposto e animado. Bernadete percebe.
-Nossa, querido... parece que a animação voltou pra ficar, né?
-Sim, Bernadete. Eu não quero mais sofrer.
-Mas é seu direito, filho... é tudo muito recente.
-A dor vai continuar. Mas a vida não vai esperar por mim enquanto eu me arrasto pelos cantos.
-Inesperado te ver assim. Mas fico aliviada.
-Sabe, Bernadete... percebi que não adianta perder tempo.
-Vai se abrir pro amor? Já era tempo.
-Isso ainda não. Mas vou me abrir.
-Então é o que?
-Eu vou voltar ao trabalho. Hoje mesmo. Vou chegar de surpresa lá na clínica. Parado eu não posso ficar. Nem quero.
-Acho maravilhoso. Mas tem como voltar assim? Será que não vai haver desconto pelas horas não trabalhadas?
-Que se dane o dinheiro. Eu preciso voltar a me movimentar. A me sentir vivo.
-Tá mais que certo. Quer que eu faça mais um café pra reforçar seu ânimo?
-Por favor...
CORTA A CENA.
CENA 3: Hugo encontra Giovanna encolhida na cama do quarto de hóspedes, tremendo de medo.
-Tá tudo certo, Giovanna?
-Não tá nada certo. A praga da Valéria vai me pegar. Eu sei disso, eu sinto!
-Esquece isso, sério.
-Não tem como esquecer. A voz dela fica ecoando aqui dentro. Eu posso ouvir ela dizer que eu nunca vou ter paz.
-Giovanna... isso tudo só tá te atingindo porque você tá permitindo que isso te atinja...
-É mais forte que eu. Desde que eu descobri que tou esperando um bebê, eu percebi que sou vulnerável. Não tou sabendo lidar com isso.
-Vem comigo. Se não quiser café, eu mesmo faço um chá. Você precisa se alimentar.
-Desculpa o trabalho todo que eu tou dando... não é minha intenção.
-Não precisa pedir desculpa. Mas tente ficar bem...
-Eu prometo que pelo menos tentar eu vou...
CORTA A CENA.
CENA 4: Cristina vai ao encontro de Fábio e Arlete.
-E então, amor? Como foi a conversa com o seu ex?
-Melhor que eu imaginava. Mas fiquei muito envergonhada pela cena ridícula que ele aprontou...
-Achei meio fora de si, ele. Exagerado, também.
-Outro sagitariano, queria o que? Ele é o meu amor do passado. Aquele que sumiu por anos e voltou do nada da Itália, antes da minha doença manifestar.
-Entendi. Mas a conversa foi esclarecedora?
-Em certo ponto foi. Mas ainda não engoli a desculpa esfarrapada que ele deu pra ter aparecido logo aqui em Fernando de Noronha.
-Não precisa entrar nesses detalhes, Cris... todo mundo tem um passado e eu entendo isso.
-Fábio, eu sinto que a coisa certa a fazer com você é jogar limpo. Eu preciso te explicar tudo isso pra não deixar pairar nenhuma dúvida de que meu único amor nessa vida é você...
-Bem, se você sente essa necessidade...
-Não me desceu ele ter vindo parar logo aqui, com um Brasil tão imenso pra ele explorar...
-Pode ter sido uma coincidência...
-Cê não conhece o Vitório, Fábio... aquele ali nunca deu ponto sem nó... eu sei muito bem do que tou falando...
CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella é surpreendida em sua sala pela presença de Flavinho.
-Eita, Flavinho. Nem avisou que vinha me visitar...
-Eu não vim visitar, Dani. Vou voltar ao trabalho agora mesmo.
-Querido, cê tá liberado até onde quiser. Perder a mãe não é uma coisa fácil. Não precisa mesmo.
-Pois pra mim precisa. Cansei de ficar parado me lamentando, sabe?
-Mas ainda é tudo muito recente... e você ainda passou pelo luto de perder um grande amor há pouco menos de um ano... não precisa ter essa pressa, Flavinho.
-Vai me fazer bem voltar ao trabalho.
-Tem certeza?
-Tenho.
-Então seja bem vindo de volta. Gustavo vai ficar muito feliz de te ter de volta por aqui. Ele andou triste também, sabia?
-Uai gente, por que?
-Andou pensando que não lembra da sensação de ter uma mãe. Os últimos acontecimentos também mexeram com ele...
-Que coisa, gente...
-Mas vamos trabalhar, não é isso que você quer?
-Claro!
-Então bora!
CORTA A CENA.
CENA 6: José conversa com Idina sobre suas decisões.
-Amor... eu andei pensando e repensando em tudo o que a gente falou.
-É sobre a possibilidade de você entrar de cabeça nas militâncias e na política?
-Exatamente. Eu pensei bastante e quero sim me juntar a tudo isso, me filiar a um partido.
-Maravilha, querido! Nem preciso perguntar: é de esquerda, não é?
-Sempre!
-Ótimo... então eu vou falar diretamente com a Larissa Gama.
-A presidente nacional daquele partido socialista?
-A própria. É uma velha conhecida minha. Grande ser humano.
-Excelente. Sempre admirei demais tanto ela quanto o partido.
-Então você concorda em se filiar?
-Nem precisa perguntar duas vezes. Se tem um partido alinhado com tudo o que defendo e acredito, certamente é o partido da Larissa!
-Eu vou ver se consigo marcar um encontro dela com a gente. Pra essa semana ainda. De acordo?
-Com certeza!
CORTA A CENA.
CENA 7: Érico reclama com Guilherme quando os dois se encontram.
-Poxa, Gui... eu pensei que as coisas iam mudar.
-Mudar onde? A gente não tá namorando?
-Não é o que parece.
-Amor... eu avisei que nada ia mudar além do que eu já vinha me esforçando...
-Mas eu pensei que você ia se esforçar um bocadinho a mais pra tentar pelo menos ser romântico, sabe?
-Érico... amor não é romantismo. E tem mais uma coisa: o romantismo das ficções, quase sempre tá relacionado a situações abusivas que são naturalizadas. É esse tipo de coisa que você espera de mim?
-Não, claro que não...
-Então eu sinceramente não entendo sua reclamação. Se fosse pra reivindicar algo válido...
-Eu queria que você fosse mais presente.
-Mais do que eu já sou? Tou sempre por perto, Érico...
-Às vezes seu corpo tá aqui. Mas seu coração não. Eu não sinto o seu amor.
-Não sente porque espera outro amor da minha parte. Não significa que eu não te ame.
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 8: Guilherme desabafa com os pais.
-Foi isso, gente... eu me esforço pra caramba pra ser tudo o que o Érico merece. Eu curto namorar com ele... mas ele não para de cobrar de mim, sabe? Parece que nada nunca vai ser suficiente... nada que eu fizer tá bom. Parece sempre pouco... - fala Guilherme.
-Filho... será que esse menino não tá pedindo um pouco mais de carinho e atenção? - questiona Armênia.
-Mais carinho e atenção que eu dou, mãe? Não sei mais o que posso fazer... - fala Guilherme.
-De repente ele tá com medo de te perder. Procura entender ele... - contemporiza Humberto.
-É fácil vocês falarem pra eu entender ele. Mas ele tem se esforçado pra me entender? Ele se coloca no meu lugar? Ele cria os problemas e os dramas na cabeça dele e joga a responsabilidade, que é dele em cima de mim. No final das contas, o que podia ser algo leve tá ficando denso... pesado, tóxico. E ele não percebe que o problema criado é só dele. Mas que tudo isso pesa de um jeito absurdo na nossa relação... - prossegue Guilherme.
-A gente entende, meu filho... mas relações são isso. Altos e baixos... ninguém é perfeito. Tem horas que a gente tá em terreno firme, mas tem horas que a gente se equilibra na corda bamba... faz parte. - fala Armênia.
Os três seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 9: Ainda em sua antiga casa, Nicole prepara algo para comer durante almoço e se flagra pensando em Cristina.
-Ah, filha... quem diria que depois de tanto perrengue nesse último ano cê ia estar agora lá em Fernando de Noronha, numa boa com a minha neta e com o seu amor... cê merece, Cristina...
De repente, Nicole sente um arrepio sinistro e se assusta.
-Credo, gente... que sensação bem horrorosa. Espero que isso não seja o que eu tou pensando... melhor nem falar pra não atrair azar.
Nicole tenta se tranquilizar enquanto prepara sua comida, mas acaba não conseguindo esquecer de sua preocupação.
-Deus proteja a minha filha... se Deus quiser, tudo isso não passa de uma besteira da minha cabeça...
CORTA A CENA.
CENA 10: Bernadete e Leopoldo apreciam do quintal o começo da tarde ensolarada e conversam.
-Quem diria que o menino Flávio ia ter essa fibra toda de voltar logo hoje ao trabalho, hein?
-É, Leopoldo... eu tenho muito orgulho desse filho que a vida me deu.
-Que bom que as coisas estão voltando à santa paz...
-Verdade. É reconfortante saber que tá tudo voltando pro lugar.
-Ainda bem.
-Sabe... é justamente por isso que eu acho que nós precisamos conversar, Leopoldo.
-Sobre o que?
-Sobre aquilo que não dá mais pra adiar: nosso divórcio. Acho que já tá tudo suficientemente bem pra gente tocar a nossa separação.
Leopoldo paralisa. FIM DO CAPÍTULO 131.
Nenhum comentário:
Postar um comentário