CENA 1: Cristina se assusta com afirmação de Madame Marie, que procura suavizar as palavras.
-Cristina... não há motivo pra você ficar assustada desse jeito.
-Como que não, Madame Marie? Você acaba de me dizer que há uma pessoa manipulando a mim e ao Hugo e espera que eu fique como?
-Você quer saber a verdade ou prefere que eu enfeite com uma mentira bonitinha? Afinal de contas, você é ou não é uma sagitariana que gosta de tudo em pratos limpos?
-Claro que sim... só que eu não consigo crer nessa coisa de manipulação. Eu não me deixo manipular.
-Cuidado, Cristina... você se acha muito safa, muito esperta... mas às vezes as pessoas podem estar te manipulando bem debaixo do seu nariz sem que você nem mesmo perceba...
-É do Vitório que cê tá falando? Mas dele eu já me livrei...
-Não se livrou coisa nenhuma... mas não é ainda hora de falar sobre ele...
-Ai, meu Deus...
-Me escute com atenção, Cristina. Cada palavra que for dita aqui precisa ser ouvida com muita atenção.
-Está certo...
-Existe uma força poderosíssima entre você e Hugo. Só que não é o que você tá pensando. Vocês se gostam, é evidente... mas nenhum dos dois se ama. Nem mesmo ele te ama suficientemente pra encarar uma vida inteira ao seu lado. Na verdade, tanto ele quanto você estão sendo vítimas dessa força manipuladora, que é um tanto quanto sinistra. Não está agindo pelo bem de vocês, não... mas sim, em benefício próprio. Mais que isso eu não consigo ver sobre essa pessoa. Mas que há alguém entre vocês, é evidente. As cartas não mentem jamais...
-Isso ainda é um tanto quanto nebuloso pra mim... nunca parei pra pensar nisso. Sempre cultivei honestidade entre as pessoas que me rodeiam. Costumo ser amiga de todos...
-É justamente por essa sua boa fé, que inclusive é louvável que você tenha, que algumas pessoas não tão bem intencionadas assim, podem acabar te manipulando sem que você perceba. Você e o Hugo tem isso em comum: uma alma quase infantil, de tão pura. Mas no fundo, os dois são carentes e mais lá no fundo ainda, vocês só seguem a vida adiante se passarem pela aprovação de quem amam. Só que pro Hugo isso é mais claro do que pra você...
-Gente...
-Aqui aparece claramente que Hugo está passando por um lento processo de despertar pessoal. Acordando pra própria essência... o que indica que ele terá em breve mais esclarecimentos sobre si mesmo do que você. Vocês podem até casar, mas acho difícil... tende a durar pouco, Cristina...
-Como assim, Madame?
-Existem três caminhos possíveis pra você. Tudo isso está ainda em aberto na sua vida. Vai se determinar de acordo com as suas próprias escolhas. Um amor avassalador ainda vai aparecer na sua vida... quando você menos esperar. E falta pouco.
-Se for sobre o Vitório... não existe nenhuma chance de eu voltar com ele, por mais que eu ainda sinta falta dele.
-Não é Vitório. Esse daí até volta na sua vida. Novamente, quando você menos esperar... mas assim como reaparece, desaparece. É só um ciclo que, não estando completamente fechado, precisa se encerrar... esgotar a possibilidade. Mais por parte dele que sua, é verdade... definitivamente não é ele que está marcado como o amor transformador e avassalador que pode mudar sua vida pra sempre.
-Isso não faz o mínimo sentido... desculpe, Madame Marie... mas fica difícil acreditar nas suas palavras. Sei que a senhora não mente, mas...
-Aguarde e verá... antes mesmo de você juntar as peças desse quebra cabeça, o grande amor da sua vida terá aparecido. E não será de uma maneira convencional. Quer um conselho, Cristina? Julgue menos. Você tende a ser meio dona da verdade... achar que sabe tudo sobre a vida de todos... isso pode ser um problema quando seu grande amor precisar de você, da sua compreensão...
-Mas eu não conheço esse homem, então?
-Ainda não. Mas vai conhecer. Seu coração vai saber quem é... isso é tudo o que me é permitido dizer até o momento. O resto, minha querida, você terá de ver com os próprios olhos.
-Muito obrigada, Madame Marie... quanto lhe devo?
-Absolutamente nada, bobinha. Eu faço tudo isso aqui por caridade. Minha renda vem de minha pensão vitalícia por viuvez... vá na paz divina...
CORTA A CENA.
CENA 2: Durante a tarde, José desperta e Maria Susana lhe serve um café.
-Toma, Zé... vai evitar a ressaca.
-E o Miguel? Cadê nosso filho?
-Tá lá embaixo... brincando com os amiguinhos. A dona Clotilde ficou supervisionando os meninos...
-Ótimo... podemos conversar agora, Susi?
-Sim. Já esperava por essa sua iniciativa. Mesmo que você não tomasse, acho mesmo que precisamos de uma conversa definitiva... sobre tudo isso aqui.
-Em primeiro lugar eu queria te pedir perdão por ter duvidado de você por tanto tempo...
-Tá tudo certo, Zé... eu te perdoo de coração.
José se emociona.
-Sério? De verdade?
-Não tenho motivo concreto pra não te perdoar. Não faria bem a você nem a mim alimentar qualquer rancor...
-Mas você disse que nosso casamento estaria acabado...
-Querido, presta atenção numa coisa: uma coisa não tem nada a ver com a outra.
-Mas eu pensei que...
-Sim, José... eu te perdoo. De coração, de verdade. Sem mágoas... mas você precisa compreender que perdoar e relevar não são a mesma coisa. E que bem ou mal, nosso casamento foi chegando nesse beco sem saída. Não é de ontem que isso vem acontecendo... essa tensão se acumulou por seis anos. E nesses seis anos, inevitavelmente, eu e você fomos nos distanciando como marido e mulher. Ficou a amizade, o bem querer... a parceria. Mas me responda, com sinceridade: você ainda me vê como uma mulher?
-Eu não sei responder... sinceramente não sei. Foi tanto tempo nessa loucura de acreditar em algo que acabou se comprovando que nem verdade era... não sei mais o que pensar.
-Tá tudo bem, Zé... de verdade. Só quero que você me responda com sinceridade: você acha ainda que faz algum sentido a gente permanecer casado exclusivamente por causa do nosso filho?
-Não acho que faça sentido... e nem justo isso é.
-Então você concorda que a gente vai acabar separando, certo?
-Certo. Acho que tenho um bom discernimento sobre tudo isso. Mas sofro por ter sido o culpado de tudo isso...
-Não se trate dessa forma... todos fomos responsáveis por isso, de certa forma. Então tá feito: a partir de agora, vou agilizar o processo do nosso diórcio amigável, tudo bem?
-Certo. Só não esquece que sempre vou te amar...
-Eu sei disso, querido. Seguiremos nos amando... como amigos que somos.
Maria Susana beija a testa de José. CORTA A CENA.
CENA 3: Giovanna insiste em conversar com Hugo, que está concentrado em seu trabalho.
-Eu sei que você não tá muito a fim de papo hoje, Hugo... mas eu sinto que um abismo tá se criando entre nós.
-Giovanna... por favor: não tire esse tipo de conclusão. Eu só preciso de paz hoje.
-Engraçado e curioso isso, não acha? De repente pra ter paz você precisa de silêncio absoluto. Precisa mais especificamente não ouvir a minha voz. Em que momento eu passei a ser o oposto de paz pra você, Hugo?
-Qual foi a parte que você não entendeu mais cedo de “não tem nada a ver com você”?
-Entendi. Mas não acredito nisso. Sabe por que eu não acredito?
Hugo suspira, impaciente.
-Fala logo... mas me deixa trabalhar depois.
-Tá vendo? É por isso... essa sua falta de paciência súbita comigo. Essa sua vontade de fugir. Você tá aqui... mas não está. Sua cabeça tá em outro lugar. Só não sei onde.
-Digamos que eu esteja meio fora daqui. Por que você acha que tem que saber?
-Porque sempre foi assim, cara! A gente sempre contou tudo um pro outro! Não tem nada seu que eu não saiba.
-Isso pode estar mudando, sabia?
-Depois você diz que seu problema não é comigo.
-E não é, é comigo.
-Continuo sem entender essa crise. Você é jovem demais pra ter crise de meia idade.
-Isso é você quem tá concluindo.
-E o que mais posso concluir diante disso tudo, me diz?
-Não sei. Mas a coisa é comigo. É sobre quem sou.
-Como assim?
-Giovanna... eu preciso de silêncio... de paz. Pra ouvir a mim mesmo. Saber quem eu sou. O que eu quero da vida.
-Achei que isso fosse claro. Eu sempre soube o que é melhor pra você.
-Você tocou no ponto que eu queria. Você sempre sabe tudo. Deixa eu descobrir também, pode ser? Agora me deixa trabalhar...
CORTA A CENA.
CENA 4: Ricardo admira Giovanna passando por ele na agência. Glória percebe.
-Nossa, Ricardo... quer um babador? Pelo visto, anda precisando...
-Tá muito na cara que arrasto um bonde pela Giovanna?
-Tá mais explícito do que sexo em canal pago, Ricardo...
-Você viu, Glória... não tenho como evitar. Giovanna fica linda quando fica de cara fechada, meio brava por causa do volume de trabalho que a gente tem...
-Como você é tolo, Ricardo... cê acha mesmo que ela tá emburrada por causa disso?
-Ué... e por qual outro motivo seria?
-Ah, meus sais marroquinos... cê não vê um palmo diante do nariz, mesmo... não vou dizer. Você devia saber.
-A única coisa que eu sei é que você fica se mordendo de ciúmes disso.
-Tome tento, rapaz! E por qual motivo eu teria ciúme de você? Faz anos que eu e você não temos mais nada...
-É, mas você nunca me esqueceu. E sabe que tou falando a verdade.
-Ricardo... desaparece da minha frente e vai trabalhar. Não tou com saco pra lidar com seus ataques de egocentrismo hoje.
CORTA A CENA.
CENA 5: José encontra em seu bolso um cartão deixado por Idina e resolve ligar para ela de seu celular.
-Alô... boa tarde?
-Boa tarde. Quem deseja?
-Idina... aqui quem fala é José. Aquele cara que você pagou um táxi pra ir embora do seu pub em segurança. Estou ligando numa hora ruim?
-De forma alguma. Acabei de atender um caso de um cliente meu que está movendo um processo trabalhista contra a empresa da qual foi desligado. Como você está, José?
-Bem melhor. Queria te agradecer por toda a atenção que me deu e por tudo que fez por mim.
-Ah, não precisa. Vi que você precisava conversar. Só fiz minha parte. Já estou bastante acostumada a isso.
-Você devia ser psicóloga, não advogada...
Idina ri.
-Ai, ai... só você mesmo pra dizer isso. Já me disseram isso antes. Mas sou realizada com minha profissão. E a situação com sua mulher, como está se resolvendo?
-Vamos nos separar, mesmo. Conversamos mais cedo, de uma maneira bem amigável... concluímos que o divórcio é mesmo inevitável.
-Faz parte da vida, né... depois, você precisa assumir as consequências de seus erros. Aprender com eles é interessante, também.
-Verdade... levei muito tempo pra entender essas coisas.
-Mas está compreendendo, o que é um bom começo. Você já tem advogado pro processo de divórcio?
-Ainda não, por que?
-Eu posso atender o caso de vocês, se você quiser. De graça, inclusive, se for de sua preferência.
-Eu vou querer sim. Mas faço questão de pagar.
-Ótimo. Esse celular é seu contato, mesmo?
-Sim.
-Entro em contato em breve. Para falarmos mais sobre como serão os termos do divórcio.
-Está certo. Obrigado por tudo, Idina...
José desliga. CORTA A CENA.
CENA 6: Hugo chega com Giovanna ao apartamento dela.
-Você não acha meio temerário a gente matar o trabalho desse jeito?
-Ah, Huguinho... quem é que manda naquela agência?
-A gente...
-Então relaxa, cara... a gente merece esse momento de relaxamento, não merece?
Giovanna toma Hugo em seus braços e os dois se beijam. Giovanna e Hugo, cada vez mais entregues à paixão, vão ao quarto dela e tem um momento quente. Instantes se passam e Giovanna elogia Hugo.
-É... nada como uma boa tensão pra apimentar mais as coisas...
-Que tensão, Giovanna?
-Não se faça de desentendido, querido. A gente quase brigou hoje.
-Você quase brigou comigo, Giovanna. Eu só andava precisado daquele silêncio, mesmo...
-Que seja. Pelo menos tudo isso serviu pra você perceber que no final das contas, eu sempre sei o que é melhor pra você. Tá vendo como você pode sempre confiar em mim?
Hugo fica desconfortável com as palavras de Giovanna.
-Acho que a gente pode falar de outras coisas, não?
-A gente até pode. Mas primeiro você precisa me dar razão, afinal de contas, mais uma vez, como de costume, eu tava certa.
-Tá... cê tem razão. Satisfeita?
-Satisfeitíssima. Ninguém melhor que eu pra sempre deixar tudo sob controle.
-Sabe, Giovanna... às vezes isso me faz pensar que você gosta de tudo sob controle. Inclusive eu... sob o seu domínio.
-Ah, Hugo... nem começa com ideia de DR agora, pelo amor de Deus! A gente tem pouco tempo aqui, esqueceu?
-Tá... bem, eu vou tomar um café. Você quer um café ou um chá?
-Um café, por favor. Sem açúcar nem adoçante.
CORTA A CENA.
CENA 7: Cristina visita Daniella na clínica.
-E aí, Cris? Como foi lá com a Madame Marie?
-Menina... ela anda cada vez mais porreta, sabia? Antes de começar a leitura dos oráculos, ela preparou uma limpeza energética e depois um banho de repolarização de energias...
-E foi bom?
-Acho que foi a sensação mais revigorante que experimentei nos últimos anos. Sensacional!
-Que maravilha, mana... e o que mais rolou depois?
-Dani... a Madame Marie falou uns negócios que até agora tou tentando entender...
-Normal, Cris... ela sempre nos coloca a refletir sobre tudo. As respostas não são óbvias... nós precisamos concluir, por nós mesmos...
-Verdade. Só que o que ela disse é meio doido, sabe?
-Em que sentido?
-No sentido que ela disse que tenho três caminhos possíveis. Que o grande amor da minha vida sequer apareceu no meu caminho, ainda... e que tem uma pessoa manipulando a mim e ao Hugo.
-Pensei que isso fosse óbvio, Cristina. Se alguém estiver manipulando vocês, eu aposto todas as minhas fichas na Giovanna.
-Não seja injusta, Daniella. Você nunca foi com a cara dela, sempre deu um jeito de implicar.
-E se não for implicância, mana? E se for intuição que eu não percebi?
-Não, Dani... a Giovanna é uma boa amiga. É bem intencionada... isso eu garanto.
-Abre o olho, mana... de bem intencionado, o inferno já deu superlotação. Mana, você se importa de ficar aqui umas horinhas? Liberei o Gustavo mais cedo pra ele visitar a irmã e me deu vontade de ir com ele...
-Vai lá, querida...
CORTA A CENA.
CENA 8: Gustavo vai na companhia de Daniella à mansão dos di Fiori e é bem recebido por Bernadete.
-Oi, querido. Quer que eu chame sua irmã pra descer? - pergunta Bernadete.
-Se a senhora não se importar, eu prefiro subir até lá... ah, essa aqui é Daniella, minha namorada. - fala Gustavo.
-Prazer, dona Bernadete. Você é muito bonita, sabia? - fala Daniella.
-E você muito gentil, querida. Um encanto de menina! Bem, vou deixar vocês subirem. - finaliza Bernadete.
Gustavo e Daniella vão ao quarto de Valéria, que está tentando tricotar.
-Nunca pensei que ia ver essa cena na vida. Minha caçulinha tentando tricotar! - diverte-se Gustavo.
-Oi, Valéria... tudo bem com a minha cunhadinha? - fala Daniella.
Valéria se alegra de ver os dois ali.
-Mano! Que bom que você veio! Cê vê um negócio, né? Agora dei pra tricotar, vê se pode! E que bom que você veio junto, Daniella. Você é tudo o que meu irmão diz de você e um pouco mais! - fala Valéria.
-Pelo visto, o exagero é de família. Você que é uma graça, Valéria. Toda menininha, mimosa... espero que você seja forte enfrentando essa barra toda de ultimamente... - fala Daniella.
-Ah, é o jeito, né. A vida não tá me dando outra opção... - continua Valéria.
Os três seguem a conversar. CORTA A CENA.
CENA 9: Leopoldo tenta ligar para Hugo discando para agência, porém é atendido por Glória.
-Alô, Glória... você poderia chamar o Hugo, por favor?
-Seu Leopoldo... o Hugo não se encontra aqui na agência no momento.
-Mas onde ele pode estar, senão na Natural High?
-Até onde sei, ele e Giovanna foram sair para fazer alguma coisa, que pra mim não ficou muito claro. Acredito que devam estar de volta daqui mais ou menos uma hora.
-Isso é tudo que você sabe, Glória?
-Infelizmente sim, seu Leopoldo. Mas não se preocupe, eu aviso quando seu filho voltar.
-Isso tá estranho... eu precisava falar com ele sobre um assunto de família. Me avise quando ele voltar, certo?
-Pode deixar. Se me permite dizer, eu também acho essa situação estranha.
-Obrigado pelas informações, Glória. Passar bem.
Leopoldo desliga, intrigado. CORTA A CENA.
CENA 10: Após uma leve refeição, Hugo se arruma e se prepara pra sair.
-Fica um pouco mais, cara...
-Não, Giovanna. Tem trabalho me esperando. Você devia vir junto.
-Não tou com disposição agora...
-Você que sabe. Eu vou trabalhar. Não posso deixar a Natural High às moscas. Até mais tarde, Giovanna.
Hugo vai embora e Giovanna sorri, vitoriosa.
-Tolinho... se acha tão cheio de si, todo cheio das vontades e das liberdades. Mas quem fez Hugo ser o que é fui eu. É bom que ele pense que tá livre pra fazer o que quiser... mas nunca esteve. Esse cara me pertence.
Giovanna sorri maldosamente. FIM DO CAPÍTULO 27.
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