CENA 1: Valéria insiste em interromper conversa de Hugo e Hugo decide avisar Giovanna.
-Giovanna... só um momento. Tem umas coisinhas aqui pra eu resolver. Não precisa desligar, tá? Segura na linha... - fala Hugo, tapando a saída de som do celular.
-O que foi, Valéria?
-É a Giovanna, é isso mesmo que entendi?
-Foi o nome dela que eu disse, não foi?
-Olha lá o que ocê vai falar com essa mulher, Hugo... olha lá...
-Me poupe, Valéria. Ela tá lá na Finlândia, sabe?
-Sim, mas ela volta logo. E a gente, como fica?
-Não viaja. Deixa eu falar com ela, por favor?
-Tá... fala com ela. Mas pres'tenção no que ocê vai dizer...
Hugo volta a falar com Giovanna.
-Voltei... tava resolvendo umas pequenas questões aqui. Como vão as coisas aí na Finlândia?
-Frias. Congelantes, pra ser mais sincera. Mas as pessoas daqui são ótimas. E tem cada bazar maravilhoso que só vendo pra crer...
-Imagino que você deva estar sentindo falta do calor aqui do Rio.
-Do calor? Jamais! Do Rio, sim! Mas detesto calor, você sabe o quanto sempre detestei. Mas me diz, como anda você? Já encontrou alguém e me esqueceu?
-Não fala assim, Giovanna, cê sabe que a gente teve uma história.
-Você fala isso no passado. Certamente já achou alguém e só não quer me dizer.
-E se eu tiver achado? Qual o problema?
-Problema nenhum, só esperava que não fosse tão rápido...
-Giovanna, você precisa entender que...
Valéria interrompe novamente.
-Hugo, desliga agora que ocê quase falou de nós pra Giovanna...
Hugo obedecer ao alerta de Valéria.
-Giovanna... vou precisar desligar, Tenho muito o que resolver por aqui, agora. Beijo!
Hugo desliga e confronta Valéria.
-Valéria, se eu decidisse contar sobre a gente, o que é que tem?
-Ai, Hugo... francamente! Você esquece por acaso quem é a Giovanna? Essa mulher não brinca em serviço.
-Justamente por isso. Em vez de deixar ela desconfiada de alguma coisa, não seria melhor esclarecer toda a verdade?
-Seria. Mas olha a nossa situação. Eu esperando um filho de um cara que me chamou de golpista pra baixo. Eu presa nesse mal entendido que seu pai fez questão de alimentar. Qualquer investigação mais apurada no meu passado chega nisso. E eu sou quem mais perde se o ódio da Giovanna se voltar contra mim. Será que agora você tem a dimensão de tudo?
-Tá, amor... eu sei que cê tem seus motivos pra ter medo... não é pra menos. Mas vem cá, isso não é um pouco de exagero?
-Ah, meu querido... quando se trata da Giovanna, nunca penso que é exagero. Eu vi a chama do ódio ardendo naqueles olhos. E posso te dizer que eu vi um vulcão ali. No pior sentido.
-Valéria... eu conheço a Giovanna há quase treze anos, não acho que ela seja esse monstro que cê anda pintando...
-Até outro dia, ocê jamais ia pensar que ela ia aprontar aquela pataquada diante da Cristina, né? Hugo... se aquilo ali não foi descontrole, eu não sei mais o que é... e do mesmo jeito que ela perdeu a linha ao perceber que não podia obrigar você e a Cris a se casarem, ela pode continuar se descontrolando por outras coisas, toda vez que perceber que não tem o controle de algo... ou alguém. Como você, por exemplo...
-Mas e se ela não se descontrolar?
-Amor... ela se descontrolou por perder o controle sobre o casamento que ela pensava que tinha arranjado p'rocê... só pensa no que ela pode fazer quando ela souber que perdeu completamente o domínio que pensava que tinha...
-É... boa que essa reação não vai ser.
-Ocê sabe que eu tou certa. E sabe que é melhor manter silêncio por enquanto. Pelo menos até o bebê nascer e a gente oficializar nossa união...
-Ainda falta tanto...
-Mas não tem outro jeito, Hugo. Arriscar não é uma opção.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã seguinte, Bernadete observa Flavinho fazendo o desjejum durante o café da manhã e vai até ele.
-Dormiu bem, querido?
-Muito bem... e você?
-Cada vez melhor. Impressionante como todo dia eu sinto que tenho mais fôlego e disposição!
-Que bom, Bernadete... fico tão feliz de te ver recuperada!
-E eu mais feliz ainda de poder ter essa oportunidade. Acima de tudo, pela possibilidade de ver a vida sob uma nova perspectiva... senão nova, pelo menos diferente.
-Diferente?
-Deixa pra lá, querido... às vezes eu devaneio e vou longe com as coisas que falo nessas divagações...
-Eu adoro essas coisas, Bernadete... pode falar essas divagações que eu adoro!
-Engraçado... por um momento me lembrou o Leo...
-Oi? Como assim?
-O seu jeito... a sua reação. Ele amava quando eu começava a filosofar aleatoriamente. Sempre pedia pra eu continuar até não poder mais... e você me lembrou ele, agora.
-Ah, mas é bom ouvir essas coisas, pensar nas coisas...
-Não é só por isso, Flavinho...
-E é o que?
-Seus gestos. Seu jeito de espalhar a margarina no pão, sempre começando pelos lados pra só depois chegar ao centro.
-Deve ser coincidência. Sei que não é uma forma convencional, mas deve ter mais gente que faz...
-Até seu jeito de se justificar lembra ele.
-Nossa... é pra tanto?
-Vocês eram amigos, né? Devem ter convivido um bocado.
-Sim, dividíamos a mesma casa.
-Deve ser por isso que me sinto tão afeiçoada a você. Você devia ser muito próximo dele... eu sinto isso.
-E eu era. Não foi fácil aceitar que ele morreu... mas a gente segue.
-Te deixei sem graça?
-Acho que me deixou um pouco, sim...
-Sem problemas, mudamos o assunto. Mas antes, me passa a geleia de pimenta, por favor?
CORTA A CENA.
CENA 3: José é surpreendido por Idina lhe servindo café na cama.
-Bom dia, meu querido!
-Bom dia, amor... isso nem é justo! Eu que deveria fazer isso por você...
-Ah, José... quer deixar eu mimar meu namorado de vez em quando, faz favor?
-Só não quero ficar mal acostumado.
-Não vai ficar. Sabe por que?
-Por que?
-Você tem consciência das coisas. Sabe muito mais do que pensa que sabe. E ainda vai descobrir isso.
-Nossa... esses damascos desidratados estão deliciosos! Não quer uns?
-Eu comprei porque sei que você gosta. Eles são todos seus.
-Depois não quer que eu fique mal acostumado, Idina...
-Sei que não vai. Sabe, amor... eu tou realmente admirada com o seu crescimento em tão pouco tempo.
-Como assim? Não entendi.
-Em tudo. Na sua disposição a desconstruir não só o racismo, mas todos os preconceitos que existiam e ainda existem aí...
-Ah, amor... não é mais que minha obrigação. Tenho que aproveitar enquanto sou jovem, ainda... quer dizer, nem tão jovem assim.
-Você fala como se ter trinta e quatro anos fosse o fim do mundo.
-Trinta e cinco mês que vem, esqueceu? Não é o fim do mundo, mas...
-Amor, eu sei que você não gostou quando falei disso antes, mas continuo achando que você leva muito jeito pra entra na política. A sua consciência social pode fazer uma diferença imensa nos dias de hoje nesse país...
-Sabe, quando eu era mais jovem eu cheguei a me envolver com movimentos sociais, de esquerda. Eu sempre fui e sempre vou ser de esquerda, mas... daí a encarar a vida pública? Há uma distância...
-Se você decidir pela vida pública, saiba que eu vou estar te apoiando sempre. E que isso não é apenas restrito a mim como namorada, noiva ou esposa: meus serviços de advogada e socióloga estarão completamente voltados pra isso...
-Desse jeito você me deixa até pensativo...
-Pois pense. Uma hora vai ser preciso deixar de hesitar...
CORTA A CENA.
CENA 4: Hugo acompanha Valéria em consulta pré-natal.
-Amor, não vai ser ruim pra agência ocê se atrasar assim?
-Por você eu nem iria se fosse necessário. Já avisei o pessoal. Eles dão conta tranquilamente, confia em mim que eu sei bem o que tou falando e com quem tou lidando...
-Bem, se você diz... ai, Hugo... eu tou com uma sensação de que hoje vai dar pra saber com certeza o sexo do meu filho... imagina só que lindo se a gente já tiver certeza e poder ir pensando num nome?
-Vai ser ótimo... e eu tou torcendo muito pra que a gente já saiba...
-Vamos torcer...
A médica se aproxima.
-Valéria Varela de Andrade, por favor... - fala a médica.
-Oh, me distraí aqui, desculpe doutora Laura... - fala Valéria.
Hugo acompanha as duas. A médica fica curiosa enquanto inicia o exame.
-É seu marido? - pergunta a médica.
-Namorado. A gente tá planejando casar... - esclarece Valéria.
A médica segue com o exame. Hugo e Valéria observam a tudo com expectativa.
-Então, doutora? Já dá pra saber o sexo do bebê? - pergunta Hugo.
-Sim. É um menino. Vocês conseguem ver? Eu vou destacar aqui pra vocês enxergarem com clareza... - fala a médica, indicando.
Valéria e Hugo se emocionam.
-Eu sempre soube... sempre senti que era um menino! Agora só falta pensar no nome dele... - emociona-se Valéria.
-A gente ainda vai ter tempo, amor... tem mais de cinco meses pela frente, ainda... - fala Hugo.
-Seu namorado tem razão, viu? Às vezes eu vejo os casais com uma pressa imensa de dar um nome aos filhos e sempre penso que a pressa pode gerar arrependimentos depois... - fala a médica.
-Verdade, doutora Laura... no mais, como vai a saúde do bebê? - pergunta Valéria.
-Tudo na mais perfeita ordem. Batimentos em conformidade com o que se espera pra esse estágio do desenvolvimento do feto, tamanho e peso dentro da normalidade também... tá tudo perfeito, não se preocupem! - fala a médica.
Valéria e Hugo seguem conversando com a médica. CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Valéria chega em casa e vai contar a novidade para Bernadete.
-Bernadete, ótimas notícias. O bebê não apenas tá ótimo como já deu pra confirmar o sexo!
-Não brinca... é mesmo? E o Hugo não deveria ter voltado com você?
-Nada! Falei pra ele se mandar pra agência que ia ser melhor. Mas ele ficou tão feliz, ocê tinha que ver...
-Fala logo, menina! É menino ou menina?
-Vai ser menino, Bernadete! Como eu sempre sonhei!
-Que lindo! Ai, me dá um abraço, vai!
Leopoldo chega nesse momento e estranha.
-Nossa, aconteceu algo de extraordinário pra esse momento ternura? - pergunta Leopoldo.
-Você podia pelo menos tentar ser mais agradável, Leopoldo... a Valéria tá esperando um menino e isso foi confirmado, sabia? Seu neto vai ser um meninão! - vibra Bernadete.
-Que ótimo! Quer dizer que vem mais um menino pra família... - fala Leopoldo.
-Nossa, amor! Cê podia ser mais empolgado com isso, não? Eu vou subir pra tentar arrumar uma câmera antiga minha, você trate de não ser grosso com a Valéria, viu? - fala Bernadete, subindo.
Leopoldo encara Valéria, aflito. Valéria estranha.
-Que aflição é essa na sua cara, seu Leopoldo?
-Medo que toda a farsa acabe sendo desmascarada.
-Não vejo porque disso acontecer agora. E não fui eu quem alimentou tudo isso. Agora, se ocê me dá licença, quem vai subir sou eu, porque quero tirar uma soneca.
CORTA A CENA.
CENA 6: Durante almoço, Gustavo percebe Flavinho triste.
-Ei, Flavinho... o que te deu? Cê mal tocou na comida...
-Memórias, Gustavo... aquelas que a gente não consegue evitar.
-Tem a ver com o Leonardo?
-Tudo a ver. Sabe... a minha vida era outra até cinco, seis meses atrás. Eu tinha tudo... um amor que eu sabia que podia ser pra vida toda, uma casa, planos pro futuro... de repente eu não tenho mais nada disso...
-Mas tem uma nova família, não?
-Eu sei que tenho. E sou muito grato por isso. Mas é difícil não poder desabafar com a Bernadete... fica a sensação de que tou sempre pisando em ovos, sabe?
-Será que ocê não tá se cercando de cuidados demais?
-Cuidados demais, Gustavo? A Bernadete nem sonha que o filho era gay! E a culpa dessa alienação foi do seu Leopoldo...
-Bem, justamente por isso, né! Ela não tem culpa... nem você, muito menos o Leonardo, que Deus o tenha...
-Mas tudo isso me consome, Gustavo... dificulta demais as coisas. Me suga as energias, me rouba a alegria de viver, muitas vezes...
-Cê não acha que tá focando as energias no lado errado?
-Fica difícil não pensar em tudo isso... eu mal tive tempo de viver meu luto pela perda do Leo. Eu choro escondido... com medo de acabar sendo flagrado por alguém. Eu controlo as coisas que converso com sua irmã sempre com medo de que a Bernadete escute demais e isso resulte em um grande trauma pra todos... entende agora?
-Entendo... mas talvez ocê não esteja enxergando as coisas com clareza. E se ela reagir bem ao saber que o filho era gay e que você era o grande amor dele?
-Eu queria que as coisas fossem assim, meu amigo... eu queria! Mas sei que, na prática, pode ser bem diferente. A Bernadete foi alienada e manipulada por anos a fio pelo próprio marido. É difícil romper essas barreiras. Eu queria poder ser sincero e honesto e falar sobre o amor lindo que eu vivi com o Leo... mas sei que não posso. E esse condicionamento me aprisiona...
CORTA A CENA.
CENA 7: Mônica elogia Alexandre após eles voltarem de mais um ensaio fotográfico.
-Rapaz, cê tá me saindo muito melhor que a encomenda, sabia?
-Ah, Mônica... eu só faço o que posso, mas no fundo ainda sou tri inseguro...
-Pois não devia, sabia? Você tem talento... mas é mais que um simples talento... é um jogo de cintura... é uma vocação pra estar ali, diante das câmeras ou desfilando. É como se você já tivesse nascido sabendo disso.
-Não exagera. Não é pra tanto. Com um pouco de foco, qualquer um pode fazer o que eu faço.
-Mas não com a sua maestria. Não com a sua desenvoltura. Isso é coisa de quem nasceu pra coisa. E não é pra qualquer um. O Bruno, por exemplo, ele tem um talento incrível e também nasceu pra coisa, problema é que não se foca o suficiente e acaba culpando fatores externos...
Bruno escuta a conversa e se incomoda.
-Ei, eu tou ouvindo essa conversa, viu? Eu sei que eu posso não ser o próximo supermodelo do Brasil, mas não é pra me esculhambar desse jeito, viu? - fala Bruno, indo da sala ao quarto.
Raphaela o segue.
-Ei, dava pra disfarçar melhor a inveja que cê sentiu do Alexandre?
-Ah, que foi agora, Raphaela? Eu tenho que engolir a Mônica babando ovo pro gauchinho e fingir que não tou sendo colocado pra escanteio? Francamente, pô!
-Invejosos acabam sendo esquecidos no mundo da moda. Com os seus anos de estrada, você devia saber disso, meu querido...
-Vai ver se eu tou na esquina e para de me encher de liçãozinha barata de moral, vai...
Raphaela deixa o quarto. CORTA A CENA.
CENA 8: Daniella almoça com Cristina e Cristina lhe questiona sobre relacionamento com Gustavo.
-Olha, mana... eu sei que não sou ninguém pra me meter na sua vida, mas...
-Como assim, ninguém? Cris, cê pode se meter o quanto quiser... eu sempre te dei essa liberdade.
-Eu andei pensando nessas idas e vindas suas com o Gustavo.
-Ah, mana... é difícil pra mim também. Eu sei que eu amo. Mas sei que não quero um compromisso agora...
-Mas assumiu esse compromisso antes. E agora diz que não quer mais.
-Sim, eu assumi esse compromisso. Mas foi algo de impulso, que eu deveria ter refletido melhor.
-Posso saber por que?
-Porque eu sempre tive claro pra mim que não ia me prender a homem nenhum nem modificar minha vida e meus planos por macho...
-Sim, isso é louvável. Mas em que momento isso impede um relacionamento?
-Ah... é que...
-Mana... se liga... cê pode estar perdendo a chance de estar do lado do amor da sua vida...
-Olha quem fala...
-Ah, é assim? Passa esse seu quiche agora que me deu desejo!
As duas riem. CORTA A CENA.
CENA 9: Horas depois, Gustavo procura Flavinho.
-Ei... tá ocupado agora?
-Não... acabei de trocar o medicamento da Virgínia.
-Ótimo... sabe o que é? Andei pensando num jeito de te deixar mais animado.
-Oi? Como assim, Gustavo?
-Pensei que a gente podia dar uma esticada, depois do trabalho. Beber alguma coisa, sabe?
-Nossa... faz tanto tempo que não bebo que tenho até medo de pagar mico.
-Aceita, vai! Sou eu, esqueceu? Não tem nada seu que eu já não tenha visto.
-Nem precisa lembrar. Intimidade às vezes é uma bosta, né?
-Aceita dar uma esticada comigo?
-Tá, eu aceito!
CORTA A CENA.
CENA 10: Horas depois, na saída do bar, Flavinho começa a passar mal e Gustavo o acode. Flavinho se envergonha.
-Viu? Eu disse que ia acabar pagando mico.
-Relaxa, Flavinho... quem nunca tomou porre que atire a primeira pedra...
-Eu preciso chamar um táxi.
-Nesse estado? Negativo. Cê vai pra minha casa e não se fala mais nisso!
-Mas e a Bernadete?
-Deixa que eu aviso todo mundo lá na sua casa.
-Isso é sério?
-E por que não haveria de ser? Nesse seu estado, você não consegue nem subir pro seu quarto.
Flavinho sente uma tontura e quase desmaia. Gustavo o segura e Flavinho sente atração por ele.
FIM DO CAPÍTULO 67.
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