CENA 1: Fábio tenta entender o que acabou de ouvir. Maurício, também assustado com a explosão de sua mãe, procura esclarecer as coisas.
-Mãe... espera aí... você não tinha superado a separação com o pai? Não percebe que sua reação tá um tanto quanto exagerada? - observa Maurício.
-É claro que eu superei a separação. Seu pai é um grande amigo meu... e eu tou vendo que ele não pode simplesmente tomar uma decisão de cabeça quente, será possível? Alguém sempre precisa levantar a voz pra ele entender direito. Maldita passividade libriana, pelo amor de Deus! Não tem nada a ver com eu ser egoísta... tem a ver com saber há anos que o Fábio precisa de alguém que coloque a cabeça dele no lugar quando ele fica decepcionado com alguma coisa... - esclarece Elisabete.
-Gente... calma, em primeiro lugar. Eu agradeço pela preocupação, Bete... sei que você faz isso por zelo. Mas não tá sendo fácil pra mim. Se estivesse sendo fácil, eu não teria tomado as decisões e atitudes que tomei pra dar um tempo de tudo isso... - fala Fábio.
-Peraí, pai... cê tá dizendo que tomou decisões e atitudes... se eu entendi isso direito, significa que você já levou mais longe essa coisa toda... - conclui Maurício.
-Pois pode ter certeza que você concluiu certo, filho... o seu pai não fala nada que não seja cem por cento garantido. É aí que eu te pergunto, Fábio: onde você tá com a cabeça? Você já tem quarenta e seis anos, caramba! Em outubro já é quarenta e sete? Vai ficar brincando de adolescente? Ou vai atribuir à crise da meia idade? - confronta Elisabete.
-Mãe, pega leve, pô! Deixa o pai falar! - intervém Maurício.
-Eu já comprei as passagens pro exterior... - confessa Fábio.
-Meu Deus! Pra onde, dessa vez? - pergunta Elisabete.
-Pra Inglaterra... o voo sai amanhã de tarde.
Maurício faz menção de se retirar.
-Gente... acho melhor deixar vocês dois conversando a sós... não tem nada que eu possa contribuir agora. Vou pro meu quarto...
Maurício vai ao seu quarto. Fábio olha para Elisabete, como que a implorar por compreensão.
-Eu sei. Fábio... seus olhos me pedem isso claramente. Você só pede que eu entenda... que não te julgue, não é isso?
-Sim... Bete... nós já passamos por tanta coisa... superamos tantas outras! Se eu não der esse tempo de tudo, eu não sei como eu vou aguentar.
-Tou vendo que a origem desse problema não tem nada a ver comigo... nem com o Maurício.
-Claro que não, querida... eu nunca disse isso, Bete...
-Tem a ver com a Cristina...
-Não só com ela... tem a ver com a morte trágica da Arlete... do pouco tempo que tive pra me refazer disso porque não podia deixar a peteca cair...
-Eu senti muito e ainda sinto a morte dela... queria ter perdoado ela e retomado nossa amizade, se soubesse que ela iria embora...
-Já foi, Bete... não dá pra gente passar a vida tergiversando sobre o que poderia ter sido e não foi. O fato é que eu não sei exatamente qual é a natureza do meu sentimento pela Cristina... e tou sendo sincero demais quando digo isso.
-Mas não é amor? Eu pensei que você tinha certeza disso...
-Que é amor eu sei... só não sei porque é amor.
-No fundo você tem medo de ter se apaixonado por ela por ter gravado na sua mente que ela tem parte dos olhos da Arlete com ela, pro resto da vida... não é isso?
-Exatamente, Bete... entende por que eu preciso dar um tempo de tudo?
-Porque você precisa entender... avaliar o que realmente sente por ela, não é?
-Sim. Só assim eu vou saber como tentar reconstruir o que se perdeu.
-Fábio... é bom você focar essa viagem para si mesmo. Não conte com a espera dela. Ela é uma mulher cheia de personalidade... e nesse momento, ela está profundamente decepcionada com você... é como se o herói dela, que ela construiu na cabeça dela, tivesse caído.
-Mas as coisas podem mudar quando a cabeça dela esfriar...
-Pro bem e pro mal... esteja preparado pra qualquer coisa, quando você voltar...
-Me dá um abraço, Bete? Preciso tanto...
-Sempre, meu amigo... sempre que precisar...
Elisabete abraça Fábio, que chora. CORTA A CENA.
CENA 2: Valéria conversa com Flavinho antes de dormir.
-Então basicamente é isso, amigo... o que ocê diz dessa coisa toda?
-Ói... sinceramente... não acho justo o Hugo e você se esconderem pra sempre.
-Tá... justo eu também não acho, mas tem o fator que a Bernadete ainda tá se recuperando...
-Mas não tá mais doente, uai. O coração dela tá curado...
-Mesmo assim, Flavinho... a reação dela é algo imprevisível. Do seu Leopoldo, a gente sabe o que esperar...
-Verdade... mas enfim... vamos mudar de assunto? Acho que a gente pode falar de coisas mais leves antes de dormir.
-Também acho. Mas me diz uma coisa: como andam as coisas lá na clínica?
-Não podem estar melhores pra mim... só fico com o coração apertado pelo seu irmão...
-Nem fala... eu gosto da Daniella, de verdade. Mas preciso reconhecer que ela foi realmente injusta.
-O Gustavo tá sofrendo... mas sabe o mais incrível?
-O que?
-Que apesar disso tudo ele redobrou os esforços pra fazer as crianças sorrirem.
-Não me surpreende, vindo dele... desde que a gente era pequeno ele tem dessas... quando o bicho pegava pra gente, ele sempre dava um jeito de me fazer esquecer dos problemas.
-Valéria... seu irmão é incrível. Muito mais do que ele mesmo possa perceber...
-E aparentemente mais incrível do que você mesmo esteja percebendo, Flavinho...
-Uai, que papo é esse? Não entendi nem um pouco direito...
-Se eu não estou enganada... você fica com um brilho todo especial no olhar quando fala no meu irmão...
-Nossa, Valéria, que ideia mais sem pé nem cabeça.
-Posso saber por que? Você tá vivo, livre e desimpedido... e agora, ele também tá livre e desimpedido.
-Que alcoviteira, você...
-Flavinho, logo você se defendendo desse jeito?
-Não se trata de defesa. Mas eu não considero me interessar por ninguém. Muito menos pelo Gustavo.
-Posso saber pelo menos um motivo concreto pra isso?
-Leonardo.
-Flavinho... o Leonardo está morto. Você não.
-Mas mesmo assim, Valéria... a memória dele ainda é viva demais dentro de mim.
-Isso não muda nada. Cuidado, viu? Cê fica aí arranjando desculpas e quando perceber, o trem da vida vai ter passado na sua estação e você esqueceu de pegar...
CORTA A CENA.
CENA 3: No dia seguinte, Daniella liga para Gustavo.
-Atrapalho alguma coisa?
-Não, Daniella... ainda tou me preparando com folga pro trabalho.
-É que eu precisava ter uma conversa com você. Queria saber se a gente pode se ver no seu intervalo.
-Sinceramente? Acho que não é o momento pra gente se ver.
-Você tá com raiva de mim? Eu sei que te dei motivos...
-Nada disso, Dani... não é raiva. Só que tou decepcionado.
-Eu sei... e sinto tanto por não ter confiado e você antes...
-De qualquer forma, já foi... foi assim que erramos.
-Você fala como se tivesse errado também. Se você errou, seus erros foram mínimos perto dos meus.
-Dani... não adianta se culpar agora. Você não confiou em mim e esse é um fato. Lide com isso.
-Eu tou aprendendo a lidar com isso... mas nem sempre é fácil. Na teoria, é fácil assumir responsabilidade... na prática, a coisa muda de tom.
-Faz parte da vida, Dani...
-Não quero perder a sua amizade.
-Nem eu quero perder a sua.
-Isso significa que ainda somos amigos?
-Sim. Mas você precisa respeitar meu tempo.
-Acho que posso compreender. No final das contas, você não esperava que eu te virasse as costas naquele momento...
-O baque foi grande, não vou mentir. Isso abalou minhas estruturas pra valer...
-Não foi minha intenção. Mas pelo menos a gente tá tendo clareza e sinceridade suficientes pra aprender a lidar com isso.
-Uma pena que você tenha se perdido em julgamentos superficiais...
-Logo eu, que achava que tava completamente livre de qualquer senso comum...
-Não se culpe, Dani... todos nós erramos querendo acertar. Agora vou precisar desligar.
-A gente se vê logo?
-Quando der... beijo.
CORTA A CENA.
CENA 4: Bruno vai até onde Raphaela está.
-Mandou me chamar?
-Sim, Bruno... nós precisamos ter uma conversa séria sobre a sua conduta.
-Engraçado... eu pensei que a dona desse apartamento fosse a Mônica...
-Você deixe de gracinha e baixe bem essa sua bola, ok? Não dificulte as coisas. Você e eu sabemos que a Mônica tá se desdobrando entre nos orientar e ficar no lugar do Ricardo na agência... e no lugar dela, fiquei eu.
-Com esse nariz empinado, nem tinha notado.
-A única pessoa que tem andado com o nariz empinado e sem motivo é você. Bruno... se você ainda quer dar certo na carreira de modelo, precisa aprender a não ser invejoso.
-Que absurdo! Quem disse que sou invejoso?
-Precisa alguém dizer, cara? Analise suas próprias atitudes com autocrítica...
-Ah, que bonitinha, ela... fez curso de psicologia à distância, Raphaela?
-Dispenso suas ironias. Bruno, enquanto você perde tempo sendo competitivo com todo mundo que você pensa que ameaça sua carreira, sabe o que acontece?
-O que?
-A sua carreira passa. Diante dos seus olhos. O tempo corre. E não espera por você.
-Do jeito que cê fala, parece que eu tou velho.
-Mas já não é nenhum menino. Você já tem vinte e dois anos. Até quando você acha que uma oportunidade de ouro vai cair milagrosamente do céu se você não colaborar? Você e eu sabemos das restrições de idade que existem nesse mundo da moda... então faz favor de prestar atenção: foca no seu trabalho, no seus esforços. Você só prejudica a si mesmo quando tenta prejudicar os outros.
-Acabou o sermão?
-Sim, Bruno... era só isso.
-Que bom. Pelo menos eu tou liberado de ouvir esse monte de baboseira.
-Espero que pelo menos essas baboseiras tenham te feito pensar.
-Tou é aliviado de ter acabado essa sessão de bronca.
-Você que sabe. Precisando conversar, tou sempre à sua disposição.
-Melhor catar o que fazer, garota. Se depender de esperar por mim...
-Não se superestime, Bruno. Quando a Mônica voltar, eu não vou nem olhar na sua cara...
CORTA A CENA.
CENA 5: Fábio faz o check in e lembra de ligar para Cristina antes de partir. Cristina, em sua sala na clínica, atende.
-Não esperava que você fosse me atender, Cristina...
-Eu nem devia. Mas confesso que bateu uma curiosidade pra saber o que você tem a me dizer.
-Liguei pra me despedir.
-Que? Mas a gente nem tá junto...
-Você não entendeu, Cristina.
-Realmente... não entendi nada disso...
-Tou indo embora.
-Pra onde? Não que isso me interesse, mas já que cê me ligou pra me comunicar, né...
-Tou indo pra Inglaterra. Acabei de fazer o check in.
-Que bom pra você. Vai ficar por lá, vai morar? Se for ficar, que tenha uma boa vida e seja feliz.
-Eu não acredito que você esteja tão indiferente a mim.
-Você acredita no que quiser, Fábio.
-O seu tom de voz diz outra coisa... diferente das suas palavras.
-Acho melhor nem começar esse assunto. Você não me ligou pra avisar que tá indo embora? Então boa viagem, vai com Deus, seja feliz e me deixa em paz...
-Nossa, Cristina... eu só liguei porque pensei que devia a você uma despedida. Eu não tou indo pra ficar na Inglaterra.
-Bom pra você.
-Posso continuar?
-Tá... prossiga e seja objetivo.
-Vou passar um tempo longe de tudo... pra entender tudo o que aconteceu. Estou me dando um tempo. Estou te dando um tempo pra reavaliar tudo.
-O tempo é seu. Não me envolva nisso. Se era só isso que você tinha a me dizer, vai com Deus e chegue inteiro na Inglaterra. Adeus, Fábio.
Cristina desliga e começa a chorar. CORTA A CENA.
CENA 6: Dias depois. Nicole percebe que Cristina está desmotivada.
-Engraçado, filha... pensei que você estaria mais animada... é o trabalho que tá te cansando?
-Antes fosse, mãe... na verdade, é a memória de tudo o que eu e o Fábio vivemos...
-Tá difícil esquecer, né? Olha... de repente é o momento de não ser tão dura com ele.
-De que adiantaria? Ele não tá mais no país... nem no continente. Já tá feito...
-Isso não é necessariamente um impedimento em tempos de internet...
-Não, mãe... a gente deixou muita coisa mal resolvida, muita coisa pendente. Coisas que a gente só teria como resolver pessoalmente.
-Filha... e se ele demorar pra voltar? O que você faz?
-Nada, ué... o peso de viver na dúvida já me deixa suficientemente aflita.
-Dúvida? Não vai me dizer que tem a ver com a sua doadora.
-É claro que tem a ver com a Arlete. Eu não sei a quem o Fábio ama...
-Que besteira, filha... até pra mim ficou claro que ele te ama.
-Será, dona Nicole, será mesmo? Talvez ele ame a memória da Arlete. Talvez ele ame a ideia de que eu carrego pedaços dela no meu corpo, pra sempre.
-Chega a ser mórbido você dizer isso...
-Que seja. Mas preciso encarar os fatos.
-E se isso não for um fato? E se ele te ama pelo que você é na vida dele?
-Não importa... não agora. Ele tá longe daqui. E eu não posso aceitar viver com um homem tendo essa dúvida me maltratando. Pior que ter uma sombra de alguém vivo entre nós, é ter a sombra de alguém que já morreu...
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, já pela noite, Sérgio espera Daniella e Cristina para fazer um comunicado.
-Bem, agora que a nossa pimentinha chegou, penso que é a hora de fazer um comunicado oficial... - fala Sérgio.
-Ih... quando começa essa pompa toda, já sei que pouca coisa não é... - fala Daniella.
-Queridas... não é nada que vocês já não saibam previamente. Eu e o pai de vocês já nos separamos... só faltava separarmos os corpos... - esclarece Nicole.
-Bem... é isso, queridas... eu aluguei um apartamento na zona sul... e estou me mudando amanhã. - fala Sérgio.
-Tá... eu sei que vocês estavam separados e super apoiei isso... mas precisava sair de casa, pai? - questiona Cristina.
-Considero que precisava. Eu quero poder ter liberdade pra fazer o que quiser sem sentir que devo alguma satisfação à mãe de vocês... - esclarece Sérgio.
-Não que eu fosse cobrar alguma coisa, porque vocês sabem que não sou dessas... a questão é que eu e ele merecemos essa liberdade. E por mais que saibamos que já somos separados, convivemos juntos nos últimos trinta e dois anos... acabamos criando vícios naturais, com essa convivência... - complementa Nicole.
-Eu apoio a ideia... mas quero o endereço pra ir te incomodar toda semana! - fala Daniella.
-Ah, disso eu também não abro mão! - segue Cristina.
CORTA A CENA.
CENA 8: Antes de dormir, Bernadete fala sobre Flavinho com Leopoldo.
-Sabe, amor... eu ando cada vez mais encantada com o Flavinho.
-Realmente, Bernadete. Ele é um bom rapaz...
-É muito mais que um bom rapaz... ele é tão cuidadoso, tem tanto zelo por mim e pelas pessoas que gosta, sabe?
-Nisso eu confesso que não reparei tanto assim...
-Pois deveria, viu? Você tá perdendo de conhecer um ser humano raro...
-Bernadete... eu entendo que você goste dele, mas não adianta tentar me empurrar isso goela abaixo.
-Ué... não tou te entendendo, Leopoldo... que reação foi essa? Não posso falar que gosto dele, não?
-Claro que pode... é que por um momento pensei que você tava querendo que eu fosse amiguinho dele.
-Pois deveria, sabia? Tá perdendo de ter amizade com uma pessoa que só ia te fazer bem.
-Não espero nada de pessoas do tipo dele.
-Vou fingir que não ouvi esse absurdo. Ele é como um filho pra mim, sabia?
-Você que tá tentando tapar o buraco do Leo...
-Se engana. Eu amo o Flavinho por tudo o que ele é. Tudo, viu?
Leopoldo se vira, contrariado. CORTA A CENA.
CENA 9: Cristina ouve a campainha tocar.
-Dani... atende a porta pra mim?
-Eu não, sua folgada. Se alguém veio aqui, não foi procurando a mim. Vai você, ué...
-Nossa, que irmã colaborativa...
Cristina abre a porta e se depara com Hugo.
-Hugo! Entra, por favor... pra ter vindo aqui uma hora dessas eu imagino que...
-Sim, Cris... preciso conversar. A verdade é que eu tenho um amor... um grande amor.
-Finalmente confessou, cara... pensei que não ia dizer nunca.
-Oi? Como assim?
-É a Valéria, não é?
-É, mas... como você sabia?
-Senti... e quer saber? Apoio demais esse namoro de vocês. Você vai dar um bom padrasto, sabia disso?
-Tou besta... mas fico com medo da reação da minha mãe, cê sabe...
-Essa daí ainda enterra muita gente, seu bobo... tenta relaxar um pouco sobre isso...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 10: Valéria se prepara para dormir quando sente uma pontada no estômago...
-Eita... será que comi demais? Só o que me falta uma intoxicação agora...
Ao ir ao banheiro, Valéria sente uma pontada forte e se contorce de dor.
-Isso não é normal... ai, meu Deus...
Valéria percebe que está escorrendo sangue pelas suas pernas e se desespera.
-Não pode ser... meu bebê não! Eu não posso perder meu filho... não agora... não depois de tudo!
Valéria treme de medo e começa a gritar.
-Flavinho! Flavinho, me acuda! Flavinho!
Flavinho ouve o chamado de Valéria e a encontra chorando no banheiro.
-O que foi, amiga?
-Me ajuda, Flavinho... eu tou com dor e sangrando.
-Que?
-Eu acho que tou perdendo o meu filho...
FIM DO CAPÍTULO 58.
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