sábado, 28 de janeiro de 2017

CAPÍTULO 66

CENA 1: Valéria fica pálida e Bernadete se preocupa.
-Querida, tá tudo bem com você? Você andou comendo direito? - pergunta Bernadete, aflita.
-Desculpem perguntar, mas a garota está doente? - preocupa-se Mauro.
-Não, seu Mauro... eu tou grávida, só. Devo ter tido uma baixa de pressão, alguma coisa do tipo. - fala Valéria.
-Tem certeza que tá se alimentando bem, Valéria? - pergunta Leopoldo.
-Tou fazendo tudo como manda o figurino. Acho que vou subir de novo... - fala Valéria.
-Negativo! Você fica aqui. Do jeito que cê ficou pálida e tonta, tive a nítida sensação que se eu não te segurasse, você caía no chão. Foi visível que você quase desmaiou. - fala Bernadete.
-Eu posso ajudar em alguma coisa? Talvez seja melhor eu ir embora... - fala Mauro.
-Não precisa ir embora, Mauro... você se abalou até aqui, espera um pouco ali no quintal que nós já te chamamos. Vamos cuidar da Valéria. - fala Leopoldo.
-Gente, não é pra tanto, gravidez não é doença! - fala Valéria.
Leopoldo acompanha Mauro ao quintal. Bernadete permanece preocupada com Valéria.
-Fala o que tá acontecendo, minha querida... de repente eu senti que você sentiu medo...
-Medo de perder o bebê? Isso eu tenho seguidamente, Bernadete... ainda mais depois daquela crise que eu tive...
-Por um momento eu pensei que você tivesse se assustado com o Mauro...
-Que isso, Bernadete... que ideia mais sem pé nem cabeça... mas me fala: vocês são amigos dele faz muito tempo?
-Nossa, quase uma vida! O William, filho dele, ainda era pequeno. Devia ter uns sete ou nove anos, algo assim. A mãe do menino morreu cedo e desde então o Mauro nunca mais casou, vê se pode...
-Que coisa... e esse filho dele, esse tal de William, tem que idade?
-Ah... eu sou meio perdida com essa coisa de tempo, pra ser sincera... mas deve estar na beira dos trinta, algo assim...
-É mesmo? E eles são daqui? Notei um sotaque familiar no Mauro...
-Nada, são mineiros, mesmo! O Mauro é um amigo querido, sim... mas raramente nos vê. Agora, só agora que ele foi se mudar pro Rio, acredita? Até outro dia tava morando em Belo Horizonte...
-Já tou me sentindo melhor. Vou subir, tá? Não se preocupa que eu vou ficar bem.
Valéria chega a seu quarto e liga para Flavinho.
-O que te deu pra me ligar, mulher?
-Flavinho, diz que ocê tá podendo me atender... aconteceu um trem bizarro aqui e eu tou apavorada!
-Primeiro respira.
-Tá.
-Agora me conta o que é que tá pegando...
-Eu acho que o senhor que tá aqui em casa é simplesmente, nada mais, nada menos que o pai do William.
-Que? Isso é sério? Como ocê pode afirmar isso?
-Flavinho, tou falando... o velho é praticamente o William inteiro, só que uns trinta anos mais velho.
-Será que ocê não tá sugestionada?
-Flavinho, pres'tenção! Ele tem um filho. E esse filho se chama William. E eles são de BH. Raciocinou agora, viado?
-Já parou pra pensar que tudo isso pode ser só uma coincidência e esse William ser outro?
-Flavinho... eu não tou com uma boa intuição a respeito disso. Antes de eu saber que o filho do velho se chama William, já tinha achado parecido.
-Mas ocê não me disse dia desses que tinha praticamente esquecido do rosto do William?
-Ai, viado... você às vezes entende as coisas de um jeito literal que fica difícil, viu? Seja menos taurino, pelo menos de vez em quando, por favor?
-Tá...
-Eu tou apavorada, Flavinho... se esse velho for mesmo pai do William e... se ele descobre quem eu sou, eu tou perdida. Cê tem noção disso?
-Fica calma, Valéria...
CORTA A CENA.

CENA 2: Mauro conversa com Bernadete e Leopoldo sobre sua mudança para o Rio de Janeiro e seus planos para o futuro.
-Então foi isso, queridos... resolvi me mudar aqui pro Rio definitivamente porque pretendo investir pesado na expansão das minhas empresas... - fala Mauro.
-É mesmo? Interessante, isso... - fala Bernadete.
-Nem preciso dizer que se você estiver precisando de algum investimento a mais, pode contar comigo... - fala Leopoldo.
-Não acho que seja necessário nesse momento, afinal de contas já são anos e anos de consolidação no mercado. - fala Mauro.
-Mas é justamente por isso, Mauro... eu sei do olho clínico que você tem pra essas coisas. Vai ser um prazer ajudar na expansão da sua empresa, sabendo que você é um dos maiores investidores da moda brasileira. - fala Leopoldo.
-Desculpa interromper o assunto de vocês, mas fiquei curiosa em saber como foram esses últimos anos, Mauro... - fala Bernadete.
-Ah, foram complicados e ao mesmo tempo repletos de trabalho. Desde que a mãe do William se foi, resolvi focar nos negócios. E lá se vão vinte anos desde que ela se foi. Às vezes paro e penso sobre tudo isso e fico besta quando percebo que já foi tanto tempo... - fala Mauro.
-Todos nós passamos por perdas difíceis de compreender. Como você sabe, a minha é bem mais recente. Tem poucos meses... - fala Bernadete.
-Aliás, a menina grávida... eu gostei dela. Ela é mulher do Hugo? - pergunta Mauro.
-Longa história, meu amigo... melhor deixar isso tudo quieto... - fala Leopoldo.
-Deixar quieto por que? Esse bebê é um verdadeiro milagre nas nossas vidas! A criança é filha de Leonardo. Valéria e bebê sobreviveram ao acidente. São um verdadeiro milagre, mesmo! - fala Bernadete.
-Que história! Emocionante e triste, ao mesmo tempo... a gente nunca espera que um filho se vá antes da gente. Não quero nem pensar como seria se o William morresse... - fala Mauro.
-Falando nele... por onde ele tem andado? - pergunta Bernadete.
-Tá no exterior, agora. Não sei se volta tão cedo pro Brasil. Passou por uma desilusão amorosa traumática lá em BH... acabou optando por seguir no exterior, depois do baque... - explica Mauro.
CORTA A CENA.

CENA 3: Maurício tenta conversar com Elisabete sobre sexualidade.
-Mãe... eu sei que esse assunto pode te desagradar, mas acho que cê tá perdendo um tempo desnecessário condenando a si mesma.
-Oi? Do que cê tá falando, Maurício? Eu condenando a mim mesma? A não ser que... de novo aquele papo que eu tou “encantada” demais com a Susi? Ai, filho... hoje não...
-E quando a gente vai falar sobre isso, então? Quando que cê vai encarar tudo isso de frente e parar de empurrar com a barriga? Hoje sim, mãe... hoje sim!
-Filho... não é fácil nem simples como parece ser.
-Posso saber por que não?
-Porque isso envolve tudo o que eu sempre soube da vida. Tudo o que eu aprendi desde que nasci. Tudo o que eu aprendi com seus avós... os planos que eu fiz nessa vida e que definitivamente não incluem uma extravagância dessas.
-Você chama amor de extravagância? Nossa, mãe... chocado com você... podia ser bem mais simples, sim.
-Podia ser mais simples pra você e pras pessoas da sua geração. Não pra mim... meu tempo é outro.
-Pra cima de mim com esse papo, dona Bete? Ah, me poupe, se poupe, nos poupe! Qual o grande abismo entre nós? Vinte e poucos anos? Mãe... se escuta falando. Ouve o seu coração... e para pra pensar nisso tudo, por favor.
-Mas vou parar pra pensar no que? E pra que? Digamos que eu tivesse algum afeto diferente pela Susi... quem garante que ela sentiria algo em retorno? E tem mais: pra que eu vou mexer em time que tá ganhando? Pra que eu vou correr o risco de perder uma amizade maravilhosa que mal começou por causa desse... desse negócio que cê inventou aí?
-Não fui eu quem inventei, mãe. Você só não quer admitir. Nem tudo o que a gente aprende com os mais velhos é certo. Reveja seus conceitos. Se liberte antes que as suas prisões te impeçam de ser feliz.
-Você fala isso porque ainda tá cheio de gás, de disposição. Tem tempo de não se prender a certas coisas.
-E quem disse que você não tem esse tempo, mãe?
-Já passei dos quarenta...
-Isso foi outro dia. Sério, repense tudo isso, mãe...
-Não sei se consigo. Mas prometo tentar, meu filho... prometo tentar.
-Faça isso a si mesma, não a mim.
CORTA A CENA.

CENA 4: Idina comunica a José sobre roteiro do dia.
-Amor... hoje nós vamos novamente à penitenciária.
-Acho ótimo. Essas experiências tem sido reveladoras pra mim.
-Você não sabe o quanto me alegra ver que você realmente se sente motivado por tudo isso, por conhecer toda essa realidade.
-Já tapei meus olhos por tempo demais... por mais de trinta e tantos anos... acho que é hora de melhorar.
-É isso que eu admiro em você, meu querido... essa sua capacidade de perceber que toda essa mudança parte de dentro.
-Nada disso seria possível sem você, Idina.
-Se engana, meu amor... sem a sua vontade, não importariam meus esforços. Você que aceitou tudo isso. E me enche de orgulho.
-Você que me enche de vida. De esperança... de amor, de tudo o que eu preciso pra ser alguém melhor na vida.
-Ai, para, Zé... desse jeito você vai me deixar emocionada e eu vou ter que refazer toda a maquiagem que eu fiz há menos de meia hora...
-Estamos prontos, então?
-Quase lá. Só preciso confirmar que não tenho nada pendente até abrir o pub mais tarde.
-Ótimo.
-Ah, tem mais uma coisa... José, hoje nós vamos conversar diretamente com vários presos. Você se sente tranquilo com isso?
-E por que não me sentiria?
-Até outro dia você tinha alguns preconceitos bem enraizados, sabe como é...
-Mas eu os reconheço. E sei controlar cada um deles.
-Bem, se você me garante que consegue, eu confio. Porque hoje é dia de ouvir com o coração a história de cada um. Você vai ficar abismado com a quantidade de gente que foi presa injustamente.
-Gente inocente presa, mesmo?
-Muito mais do que você imagina. Cadeia às vezes vira um depósito desumano de pretos e pobres. Quem é branco e rico não fica por ali. Se tem brancos, creia: são pobres.
-É tudo tão surreal e ainda há quem acredite na eficácia da lei nesse país... se eu pudesse, eu mudava isso.
-Já te falei que você leva jeito pra política, não falei?
-Vira essa boca pra lá, Idina!
CORTA A CENA.

CENA 5: Idalina visita Maria Susana e elogia comportamento de Miguel.
-Impressionante como o Miguel tem reagido bem a tudo, querida... que mãe maravilhosa você tem se mostrado...
-Faço o que posso, Idalina... depois, o Zé e a Idina tem sido maravilhosos com ele também. Tudo isso contribui demais.
-Você não percebe, Maria Susana... mas tem sido incrível nesses últimos tempos.
-Você que é incrível, Idalina... uma segunda mãe pra mim, de coração, desde que meus pais se foram desse mundo...
-Pois saiba que a recíproca é mais que verdadeira. Você é uma filha pra mim... de verdade. Sinto no meu coração como se fosse legítima, mesmo.
-Ai... dá um abraço...
As duas se abraçam.
-Mas querida... eu preciso falar sobre o que ando percebendo.
-Como assim, Idalina?
-Eu tenho uma intuição, uma percepção de mãe com você também... e sei que você tá fugindo de alguma coisa.
-Eu, fugindo? Mas que ideia... não tenho motivos pra fugir de nada...
-Será? Por um momento pensei que você pudesse estar fugindo de um grande amor que surgiu.
-Só pensou. Não tenho nenhum grande amor...
-Talvez tenha e não tenha percebido ainda... ou se recuse a perceber, por algum motivo.
-Esse papo tá ficando meio esquisito, não tá? Daqui a pouco o Miguel surge aqui pedindo pra gente consertar alguma coisa que ele quebrou e vai ficar estranho pra ele entender...
-Certo, filha... mas pensa no que eu te disse... cê sabe do que tou falando.
CORTA A CENA.

CENA 6: Patrícia encontra Gustavo quando ele deixa a clínica.
-Espero não ter atrapalhado seus planos.
-Não tenho planos pra esse resto de sábado, Patrícia...
-Bem, cê deve imaginar porque eu vim, não?
-Não imagino.
-A Dani esteve comigo e me contou sobre o que rolou.
-Sim, ocês são amigas. Mas não entendi isso...
-De eu te procurar?
-Exatamente.
-Porque eu sinto que preciso fazer algo por vocês, uai... pelo menos tentar consertar os estragos que eu fiz...
-Sabe como ocê pode ajudar? Não atrapalhando... ói, eu não quero ser grosso, mas não se mete nisso...
-Eu entendo que ocê tenha os seus motivos pra ficar com o pé atrás comigo.
-Não me faltam motivos pra isso. Nós bem sabemos.
-Mas acho que ocê tá sendo duro demais com a Dani. Ela também te ama, viu?
-Ama, mas não quer compromisso sério.
-E quem disse que o amor depende de uma convenção?
-Logo ocê dizendo isso... a Dani te faz bem mesmo, hein?
-Deixa ela fazer o bem que você merece, também...
-Não acredito num futuro entre eu e ela...
-Mas devia acreditar mais. Amor não acaba assim, do nada...
Gustavo fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 7: Cristina chega em casa e conversa com Nicole.
-Sabe, mãe... eu andei pensando em tudo o que conversei com o pai...
-Ah, nem vem. Cê sabe que o Sérgio às vezes tem umas ideias de jerico...
-Não, mãe... dessa vez ele foi acertadíssimo nas coisas que me disse. Fosse assim, eu não estaria considerando tudo o que foi dito.
-Sei... sou capaz de apostar que ele insistiu que o Fábio precisa saber do bebê.
-Não do jeito que cê pensa, mas basicamente sim.
-Tou falando... conheço esse cara... mas então, como foi essa conversa?
-Não é bem como foi que importa, mas sim o que eu concluí sobre tudo.
-E o que é, exatamente?
-Que o Fábio não vai passar tantos meses na Inglaterra. E quando ele voltar ao Brasil, vai ser meio que impossível me esconder dele até o bebê nascer. Ele vai acabar descobrindo minha gravidez cedo ou tarde. E qualquer exame de DNA prova que ele é o pai, entende?
-Mas filha... não seria melhor esperar ele chegar, então?
-Eu não sei. Ele pode me acusar de negar a ele o direito de ser pai.
-E ia adiantar você contar agora, com ele a um oceano de distância?
-Ai, mãe... eu realmente não sei. Essa coisa toda me deixa pensando... e fico indecisa sobre o que fazer.
-De qualquer forma não é nada pra ser resolvido hoje ou amanhã. Precisamos pensar numa solução...
CORTA A CENA.

CENA 8: Horas mais tarde, Sérgio nota expressão de cansaço de Mônica quando os dois se encontram no apartamento dele.
-Nossa, querida... esperava te encontrar mais animada em me ver...
-Ah, Sérgio... cê sabe que eu tou te curtindo, né? Mas tá foda...
-Muito trabalho pro seu lado?
-Muito é apelido. Não basta cuidar de tudo o que tenho que cuidar, ainda tive que segurar as pontas de um acidente causado pela sabotagem do Bruno...
-O Bruno é aquele rapaz que ficou me olhando com cara de deboche?
-Ele mesmo. Cê acredita que ele teve a capacidade de sabotar o box do banheiro pro colega se estatelar lá?
-Que horror...
-Só não botei pra fora porque a Geórgia, que tá namorando ele, garantiu que teve um papo reto com ele. Mas sabe, tou cansada. É treinar meus pupilos, é segurar as pontas dos problemas que rolam entre eles, é dar conta de ficar no lugar do Ricardo enquanto ele tá lá na Finlândia de férias... gente, eu fico a ponto de explodir!
-Tenta relaxar, amor... agora cê tá aqui comigo...
-Vou tentar. Você merece mais que uma namorada semimorta...
-Boba. Quer um vinho?
-Claro!
CORTA A CENA.

CENA 9: Bernadete conversa animadamente com Leopoldo enquanto prepara o jantar.
-Não precisa ficar na minha volta o tempo todo, querido! Eu não disse que essa noite quem faz o jantar sou eu?
-Sim, mas faz pouco tempo que...
-Nem continua! Agora eu tou curada e cheia de vontade e... até onde me consta, o médico não me proibiu de cozinhar. Então trate de parar de me cercar de cuidados que não vai me acontecer nada de mau...
-Cê tá tão animada, amor... dá gosto de ver.
-Ah, Leopoldo... eu tenho uma vida pela frente ainda. Não corro mais o risco de morrer tão cedo... vou ficar me retraindo? Nem sentido isso tem...
-Isso me deixa tão alegre... você não faz ideia do quanto! De onde nosso filho estiver, ele deve estar orgulhoso de você.
-Não tenho dúvidas disso. Mas não tou reagindo pensando no orgulho que o Leo possa ter de mim... tou reagindo porque percebi que eu ainda sou senhora do meu próprio nariz... e tou achando isso maravilhoso!
CORTA A CENA.

CENA 10: Hugo está conversando com Valéria quando seu celular toca.
-Não vai atender, amor?
-Não deve ser nada importante...
-Hugo, atende... eu posso esperar.
Hugo percebe que se trata de ligação internacional e resolve atender.
-Alô? Quem fala?
Giovanna responde do outro lado da linha.
-Não lembra mais de mim, Hugo?
-Ah, sim... como vão as coisas?
-Esperava uma coisa mais calorosa, vindo de você...
-Queria que eu respondesse como? Eu, hein...
Valéria percebe expressão de Hugo e constata que é Giovanna ao telefone.
-Hugo, é a Giovanna? - pergunta Valéria.
Hugo fica tenso. FIM DO CAPÍTULO 66.

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