CENA 1: Leopoldo se impacienta com silêncio de Valéria e Hugo.
-Vão ficar me olhando com essas caras ou vão ter a decência de me responder? - fala Leopoldo.
-Seu Leopoldo... eu entendo você... mas não vejo sentido nisso. Vou fazer o que? Registrar meu filho como filho de pai morto? - questiona Valéria.
-Melhor do que pai desconhecido, não? - devolve Leopoldo.
Hugo se impacienta.
-O que é isso, pai? O que tá passando pela sua cabeça? - revolta-se Hugo.
-Tou falando alguma mentira? Até porque...
Leopoldo é interrompido por Hugo.
-Até porque o que? Você pode não saber quem é o pai biológico do bebê, mas a Valéria sabe e isso basta! - explode Hugo.
-Isso mesmo, seu Leopoldo. Não é porque eu tou debaixo do seu teto que eu vou aturar ser insultada e ofendida desse jeito, não! - fala Valéria.
-Valéria... melhor você sair daqui. Agora o papo é entre eu e meu pai, de homem pra homem! - afirma Hugo.
-Vai ficar tudo bem? - pergunta Valéria.
-Sim. Eu prometo que tudo vai ficar bem. Vai descansar, amor... a conversa que eu vou ter com meu pai pode te estressar e eu não quero que a sua gravidez saia prejudicada nisso... - fala Hugo.
Valéria sobe. Leopoldo se impacienta.
-Pra que essa cena toda? Pra que esse drama? Tá treinando artes cênicas?
-Chega, pai. Você tá passando dos limites.
-Olha aqui, fedelho, quem está passando do limite aqui é você! Ou você esqueceu, por um acaso, que esse bebê que a Valéria carrega não tem o sangue dos di Fiori?
-Nem tem como eu esquecer disso, pai. Afinal de contas, essa farsa foi você quem criou.
-Eu não criei farsa alguma. Só não desmenti o mal entendido.
-Ah, sim... pra que? Proibindo a Valéria de falar a verdade quando ela quis esclarecer o mal entendido?
-Você sabe que a saúde da sua mãe estava frágil. Ela podia até mesmo não resistir.
-Até quando você ia usar a mãe de desculpa pras farsas que você criou? Até quando ela ia servir de escudo pra justificar sua covardia?
-Não me chame de covarde, Hugo... eu ainda sou seu pai.
-Dói a verdade, não dói? Covarde, mil vezes covarde!
Leopoldo levanta a mão e Hugo segura seu braço.
-Nem pensa em me bater, pai. Não sou seu moleque há muito tempo. O papo é um só: a mãe abençoa minha união com a Valéria. Assim que esse bebê nascer, a gente vai pensar até em agilizar a papelada pra um possível casamento. Não há nada que você possa fazer pra impedir. Eu não tenho nada a esconder.
-Mas a Valéria tem.
-Por sua causa. Por sua culpa. Por culpa dessa rede de mentiras e omissões que você fez questão de, senão criar, de alimentar. E pode ter certeza que a única coisa que não me faz entregar toda a verdade é o último fio de consideração que ainda tenho por você.
-Isso é uma ameaça?
-Não. Quem está acostumado a ameaçar e a coagir as pessoas aqui é você. Não sou da sua laia.
-Pode me soltar, pelo menos?
-Posso. Mas você fique atento. Não quero saber de você tentando interferir na minha vida ou na vida da Valéria. Já chega o que você fez com meu irmão.
-O que cê tá querendo dizer?
-Exatamente o que eu disse. Não mando recado por entrelinhas. Você destruiu a vida do Leo. E sabe disso.
-Filho, também não é assim.
-Eu já devia estar dormindo. Vá dormir você também, pai. E vê se pensa um pouco melhor nessas suas atitudes, nas suas contradições. Você, que se diz tão cristão, deveria saber mais sobre o amor...
-Mas eu amo!
-De uma forma muita torta. Independente da farsa que você ajudou a alimentar, eu escolhi conscientemente ser pai desse bebê. Não há nada que você possa fazer pra impedir que eu assuma essa paternidade.
CORTA A CENA.
CENA 2: Antes de dormir, Nicole olha antigo álbum de fotografias e nesse álbum, encontra fotos da juventude, onde há fotos com Sérgio, Bernadete e Leopoldo. Nas fotos, fica evidente que algumas delas foram tiradas quando Leopoldo ainda era namorado de Nicole. Nicole suspira ao lembrar da época.
-Ah... parece que foi ontem... 1984 e veja só... hoje já estamos em 2017. Trinta e três anos passaram desde então... quem diria que o rumo das nossas vidas ia mudar tanto em tão pouco tempo... - murmura Nicole, consigo mesma.
Ao olhar para mais fotos, Nicole começa a chorar.
-Você foi o único e grande amor da minha vida, Leopoldo... acho que nunca vou te perdoar por ter desistido de mim tão fácil...
Nicole lembra de uma discussão de Leopoldo com seu pai, que ouviu por acidente.
-Se você soubesse que eu tava lá, teria sido diferente? Nunca vou saber disso...
Nicole sofre ao relembrar tudo.
-O seu pai te dominava. Você foi fraco, Leopoldo. Eu não podia te perdoar por isso... por toda essa fraqueza. Você dizia que me amava! Mas que amor é esse? Que obedece ao papai? Que aceita me jogar no lixo e ainda vem com a desculpa esfarrapada de que éramos melhores como amigos?
Nicole olha com ternura para outras fotos de Leopoldo.
-Apesar de tudo isso, apesar do tempo que passou... você continua sendo o único homem que eu amei de todo o coração. Fiz o meu melhor, por mais de trinta anos, pra chegar perto de amar o Sérgio como eu te amei. Não consegui, Leopoldo. Não sei se conseguiria.
Nicole fecha o álbum.
-Chega de remoer essas lembranças agora. Ah, Leopoldo... se você soubesse o quanto eu sofri! Você foi a melhor e a pior coisa que aconteceu na minha vida. Acho que nunca vou superar completamente a maneira estúpida como rompemos. Mas eu prefiro me convencer que fiz algo de bom pela Bernadete... minha amiga merecia alguém que fosse bom pra ela. E apesar de toda a mágoa, de toda a dor, eu sabia das suas qualidades, Leopoldo... pena que você mesmo tenha esquecido delas com o tempo. O que a vida fez de você, Leopoldo? Você não é nem mais a sombra do homem maravilhoso que soube ser um dia...
Nicole enxuga as lágrimas.
-Chega de lamúrias. Remoer o passado não vai resolver nada agora e nem depois...
CORTA A CENA.
CENA 3: Daniella conversa com Gustavo ao telefone, antes de dormir.
-Então... eu espero que não esteja te atrapalhando.
-Você nunca me atrapalha, Dani. Não sou de dormir tão cedo assim e você sabe muito bem disso.
-Sabe o que é? Eu compreendo que você não se sinta seguro pra gente voltar a namorar e nem vou insistir nisso, mas...
-Mas o que, Dani?
-É que eu sinto falta de nós dois.
-Mas nós somos amigos, uai.
-Eu sinto falta de nós dois daquele jeito... entende?
-Isso eu também sinto, mas fazer o que...
-Pois eu pensei numa solução pra esse impasse...
-Ih... lá vem. O que ocê pensou?
-Que a gente podia estreitar a nossa amizade, se é que você me entende.
-Uma amizade colorida, é isso mesmo que entendi?
-Isso, Gustavo... eu sinto a sua falta. Sinto falta do seu cheiro, do seu corpo. E sei que você sente falta de mim também...
-Sentir eu sinto, Dani... mas as coisas não são tão simples assim.
-Mas podem ser simples, se você quiser que as coisas sejam mais simples.
-Não é uma simples questão de querer.
-Como que não, Gustavo? A gente se deseja. Existe uma paixão entre a gente.
-Eu sei. É verdade. Mas você também sabe que não é só paixão.
-Esse resto é melhor ignorar por agora. Porque já nos magoamos o suficiente.
-Justamente por isso, Dani. Eu sei que cedo ou tarde, se topar essa amizade colorida, eu vou querer reatar com você.
-Eu não conto com isso, você tem liberdade de não querer reatar comigo, se não quiser. Nem é essa a minha intenção.
-Dani, independente da sua intenção, as vontades são minhas.
-Olhando por esse ponto de vista... realmente. Mas pensa com carinho, tá?
-Gosto muito de você, mas não tem o que pensar.
-Como que não? Eu proponho então que a gente faça um pacto de liberdade.
-E se eu não quiser essa liberdade? Não é sobre paixão. É sobre os sentimentos que existem aqui, entre a gente. São fortes demais pra ser ignorados.
-Sim, são fortes. Mas eu sou livre demais pra condicionar minha felicidade sexual e afetiva a estar ou não convencionada a um relacionamento.
-Você é assim. Eu não. Dani, eu te amo.
-Eu também te amo...
-Então respeite minha decisão. Seria difícil demais pra mim...
-Saiba que eu não vou me prender a você... não tenho vocação pra isso.
-Nem eu espero que você se prenda. Estamos livres, não? Dani, eu preciso desligar, senão perco o sono...
-Tá certo... durma bem. Fica bem.
CORTA A CENA.
CENA 4: Pela manhã, Bernadete nota que Leopoldo está com uma expressão distante e triste.
-Amor... o que cê tem?
-Nada, Dete...
-Tou sentindo que você não tá aqui. Tá bem longe... e triste, ainda por cima. Pode falar, amor...
-Não sei se você entenderia.
-O que foi que eu não entendi de seu nesses anos todos?
-Bem, olhando por esse lado...
-Vai te fazer bem falar um pouco sobre essa sombra que paira aí sobre a sua cabeça e seu coração...
-É que eu me sinto culpado pelo Leo...
-Que? Amor, isso nem faz sentido.
-Faz mais sentido do que você pensa.
-Como, Leopoldo? As coisas acontecem do jeito que tem de ser. Você não é católico? Deveria saber melhor que eu que os desígnios de Deus são insondáveis, não?
-Bernadete, eu errei demais. Falei onde não devia. Me calei demais.
-Mas você não pode mudar isso. Pra que se maltratar alimentando essas tristezas, querido?
-Porque eu faltei com ele.
-Você fez o que podia fazer. Ninguém é perfeito. A gente erra tentando acertar.
-Mas eu podia pelo menos ter chorado a morte dele. Nem isso eu consegui.
Leopoldo começa a chorar.
-Então aproveita agora. Não guarda essa dor aí dentro do seu peito. Coloca pra fora...
Bernadete oferece seu ombro e Leopoldo chora.
-Era o nosso caçula, Dete... e eu nem pude dizer pra ele pela última vez o quanto eu o amava...
-Fica calmo, querido... você ainda ama o Leonardo. E ele sabe disso. De onde ele estiver, ele vai sentir esse amor.
-Deus te ouça, minha querida... Deus te ouça.
CORTA A CENA.
CENA 5: Após o café da manhã, Érico procura Guilherme no quarto.
-Gui... queria conversar um pouco contigo, se puder...
-Você pode sempre... e a casa é sua, esqueceu?
-Ah, mas mesmo assim... você não deixa de ter direito a querer ficar quieto no seu canto.
-Não precisa desse excesso de escrúpulos comigo. Eu não mordo, viu?
-Então... é que eu nem sei por onde começar a te dizer o que eu preciso...
-Que tal pelo começo?
-Bem, é que...
Érico fica pálido e gagueja. Guilherme se preocupa.
-Tá tudo bem, Érico?
-Não... quer dizer, sim. Tá tudo certo. É que sou tímido e...
-Pode falar, querido. Eu tenho cara de quem vai te julgar ou debochar do que você for me dizer?
-Isso, não...
-Então relaxa, Érico.
-É que me sinto atraído por você. Acho até que tou começando a gostar de você.
Guilherme fica surpreso.
-Sério?
-Seríssimo.
-Érico... não leva a mal. Eu gosto de você... de verdade, pra valer. Mas tenho medo de estragar nossa amizade. Medo de acabar não sentindo do mesmo jeito que você sente, entende? E de acabar te machucando por isso...
-Olha, isso não é nem de perto o que eu esperava ouvir, mas é bom saber que cê tem essa consideração toda por mim. Obrigado por isso, de coração...
CORTA A CENA.
CENA 6: Armênia percebe que Humberto está desanimado ao atender clientes e o chama em um canto.
-Amor, se for pra atender os clientes do Ilha de Malta com essa cara de quem não dormiu nada e tá de mau humor, melhor subir de uma vez que eu coloco a Luciane pra atender no lugar.
-Eu aguento. Mas tou triste. E fica difícil de esconder isso.
-Amor, não me custa nada ligar pra menina e pedir pra ela descer.
-Então faça isso. Tou precisando desabafar, Armênia...
-E eu vou te ouvir de coração aberto. Fala o que tá te maltratando tanto, Humberto...
-De repente eu notei que tudo o que eu aprendi com os meus pais era mentira...
-Ah, meu querido... eu te avisei tanto! A gente conversou tanto sobre isso!
-Mas eu não te ouvia, Armênia... eu só ouvia o que eu queria ouvir.
-Eu sei disso. Você ficava todo perturbado, dizendo que não queria saber de doutrinação esquerdista comunista pra cima de você... deu no que deu.
-Afastei meu próprio filho de mim... tudo isso porque acreditei nas mentiras que eles me contaram. E perpetuei cada uma delas.
-Isso não é motivo de tristeza, mas sim de alívio. Cê tá passando por uma libertação, amor... normal que sinta o baque. Mas essa tristeza precisa passar.
-Essa tristeza só vai passar quando eu sentir que o Guilherme perdoou de coração.
-Você vai precisar correr atrás disso. E a sua mudança não vai ser provada do dia pra noite. Nem com palavras. Você, como bom geminiano, sempre falou mais que a boca...
-É... agora é hora de falar menos e agir mais. Provar cada palavra que eu disser.
-Exatamente. Conta comigo que eu tou sempre ao seu lado, viu?
CORTA A CENA.
CENA 7: José e Idina chegam à casa de Maria Susana, que os recebe calorosamente.
-Bom dia, queridos! Chegaram na hora certa! - fala Maria Susana.
-Só a Idina pra me fazer ser pontual... - fala José.
-Isso é verdade. Se dependesse de José, ele tava dormindo até agora... - brinca Idina.
-E eu não sei? Às vezes eu pensava até em bater panela pra ver se ele acordava logo! - segue Maria Susana.
-Nossa, credo! Bater panela lembrou aqueles reaças temerosos... - segue José, na brincadeira.
-Sentem-se, queridos... - convida Maria Susana.
-E Miguel? - pergunta Idina.
-Vou acordar ele, ainda. Tá chegando a hora dele começar a se organizar pro ano letivo outra vez... - fala Maria Susana.
-Cê tá com uma cara boa, Susi... um jeito animado. Parece renovada... - percebe José.
-Besteira. Só tenho andado mais por aí... ah, lembra da Elisabete? A ex mulher do Fábio? Gente, ela é ótima! Estamos descobrindo uma amizade maravilhosa! - fala Maria Susana.
Idina e José percebem um brilho no olhar de Maria Susana ao falar de Elisabete, mas nada dizem. CORTA A CENA.
CENA 8: Bruno observa Alexandre se levantar da cama e ir até a cozinha comer alguma coisa para o desjejum.
-Esse gauchinho de bosta... chegou outro dia aqui e já pegou três trabalhos a mais que eu... mas a festa desse colonozinho vai acabar... ah, se vai! Acidentes acontecem, fazer o que... - fala Bruno, consigo mesmo.
Bruno se certifica de que não há ninguém por perto o observando e entra no banheiro da suíte que divide com Alexandre, trancando a porta.
-Tonto... se acha tão melhor. Tão superior... pensa que tá por cima, coitado. Mal sabe que essa festinha tá pra acabar. E ele pensou que eu ia deixar barato. Se eu não tenho o que eu mereço, ele também não vai ter!
Bruno entra no box e observa o dispenser de shampoo e condicionador instalado na parede.
-Isso! Basta eu pegar uma toalha, não dá impressão digital minha, dou uma leve emperrada no dispenser, o shampoo escorre suave e lentamente e quando o babaca for tomar banho... cataploft! Se espatifa feito jaca podre no chão! Que peninha... que peninha... uma carreira tão promissora. Suspensa porque o modelo é um desastrado...
Bruno sabota o dispenser e ri. CORTA A CENA.
CENA 9: Patrícia procura Gustavo quando ele chega à clínica.
-Oi, Patrícia...
-Achei que ocê ia ficar surpreso de me ver.
-Eu já imaginava que ocê viria. Dani conversou muito comigo.
-Então, Gustavo... eu realmente queria ter a oportunidade de te pedir desculpa por tudo o que eu aprontei.
-Pedir desculpas não vai desfazer o estrago que foi feito. Mas eu te desculpo, sim.
-Isso significa que somos amigos?
-Calma, Pati... uma coisa de cada vez. As coisas não são mágicas desse jeito. Não se resolvem do dia pra noite.
-Eu sei... mas é que eu também sei que meus erros foram graves. E tudo o que eu quero nessa vida é uma chance de poder mudar. E pra isso eu vou precisar de apoio... não só da Dani, mas do seu apoio.
-Olha... eu sei que ocê quer mudar. Dá pra ver que a vontade é de coração. Mas todos estamos escaldados depois de tudo. Dê tempo ao tempo, Patrícia... vai ser melhor assim.
CORTA A CENA.
CENA 10: Instantes se passam e Alexandre se prepara para ir ao banho. Assim que termina de tirar sua roupa, ao abrir o box, percebe um leve vazamento no dispenser.
-Ah, não... eu devia ter prestado atenção nisso quando saí do banho ontem!
Alexandre tenta puxar o botão sem entrar no box, mas não consegue.
-Só me faltava mais essa. Que botãozinho mais filho da mãe! Vou avisar pra Mônica mandar trocar isso daqui...
Alexandre entra no box e acaba escorregando.
Raphaela, que estava caminhando no corredor, escuta um estouro e se assusta.
-Gente... o que foi isso? Um estouro vindo da suíte dos meninos? Ai...
Raphaela percebe que a porta do banheiro está trancada.
-Ai, meu Deus... pensa rápido, Raphaela... rápido...
Raphaela vê a chave de Bruno na escrivaninha dele.
-Até que o inútil do Bruno serve de alguma coisa, hein? - fala Raphaela, pegando a chave e abrindo o banheiro.
Ao abrir o banheiro, se depara com o box aberto e com Alexandre desmaiado.
-Socorro! Alguém acuda! Eu acho que o Alexandre bateu a cabeça no box! Alguém ajuda!
Raphaela se desespera. FIM DO CAPÍTULO 64.
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