CENA 1: Flavinho se desespera diante do que vê, mas tenta manter a calma e tranquilizar Valéria.
-Calma, Valéria... eu preciso que ocê se acalme... respira três vezes, com paciência... eu vou chamar a Bernadete, o Hugo e o seu Leopoldo...
Hugo, Bernadete e Leopoldo chegam antes que Flavinho os chame.
-Gente, o que aconteceu? Ouvi a Valéria gritando e... tá tudo bem? - pergunta Bernadete.
-Cê tá sangrando... a gente precisa correr pro hospital! - preocupa-se Hugo.
-Não há de ser nada. A Bernadete passou uns dias tendo sangramento quando tava grávida do Leo... - contemporiza Leopoldo.
-Você me desculpe, mas homem não dá pitaco nisso não! - revida Bernadete.
-Gente, não discutam por minha causa, por favor! Eu só quero saber se tá tudo certo com meu bebê... tou com medo, gente... - fala Valéria, chorando.
-Então colabora e ajuda a gente a te levar pro hospital... - insiste Hugo.
-Gente... calma. Cês querem sair um pouco de cima e deixar a Valéria se acalmar? - pede Flavinho.
-Eu já sei o que fazer. Vou ligar para doutor Cássio... ele foi meu obstetra quando eu estava grávida do Leo e sempre me atendia em casa. Vai ser melhor assim... - fala Bernadete.
-Tudo bem p'rocê, Valéria? - pergunta Flavinho.
-Melhor assim. Não tenho boas lembranças de hospital... - desabafa Valéria.
Minutos se passam. O médico chega para examinar Valéria.
-Pessoal... vou precisar que vocês deixem o quarto. A paciente precisa estar o mais relaxada possível e vocês podem atrapalhar nesse processo... - esclarece o médico.
-Bem que eu avisei pra Valéria que ela andou se incomodando demais ultimamente... - fala Flavinho.
-Mas se incomodando com o que? Não lembro de ver ela reclamando de alguma coisa... - fala Bernadete.
-Se o Flavinho tá dizendo, ele deve saber do que tá falando... - observa Hugo.
-Bernadete, cê tem certeza que esse médico não tá caduco? - questiona Leopoldo.
-Que absurdo você ter esse tipo de preconceito, Leopoldo... doutor Cássio nem idoso é ainda e, mesmo que fosse, é o melhor obstetra que já conheci. Ele salvou a vida do Leo, lembra? - relembra Bernadete.
-Eita... não tá mais aqui quem falou...
-Vocês dois querem parar que eu não tou com estrutura pra aguentar discussãozinha de casal agora? - explode Hugo.
-Hugo, quer fazer o favor de pegar leve com eles? Tá todo mundo com medo aqui, cara... - contemporiza Flavinho.
O médico sai do quarto e Bernadete, seguida de Flavinho, vai atrás dele.
-Então, doutor Cássio? Como estão mãe e bebê? - pergunta Bernadete.
-Diz que eles estão bem... - fala Flavinho.
Hugo se aproxima, aflito. O médico começa a falar.
-Vocês podem ficar tranquilos que mãe e bebê estão ótimos. Ocorre que Valéria parece ter sido submetida a muito estresse ultimamente, daí veio o sangramento, que nada mais foi que uma reação do corpo à carga de adrenalina que ele andou recebendo nos últimos tempos... - explica o médico.
-Mas... como a gente pode evitar que ela se estresse? Eu nem sabia que a pobrezinha andava passando por isso tudo... - espanta-se Bernadete.
-Bernadete, o fato dela ter tido essa crise nervosa não significa que ela tenha passado por algo traumático. A carga de estresse experimentado por ela pode ter partido de uma série de acontecimentos cotidianos que, durante a gravidez, podem ter se tornado essa, digamos... fonte de estresse, entende? Procurem cuidar isso... observar mais atentamente o que pode estar desencadeando essas reações nela... por ela e pelo bebê, que por enquanto tá ótimo, mas é melhor não arriscar... - prossegue o médico.
Todos ouvem atentamente às instruções. CORTA A CENA.
CENA 2: Na casa de Idina, José olha para a namorada, admirado, ainda deitado em sua cama.
-Sabe, Idina... quando eu paro pra pensar no tanto que minha vida mudou desde você... chego a me emocionar.
-Deixa de ser bobo, José... você só mudou e tem mudado dessa forma porque se permite mudar... porque desejou isso. Busca essa mudança por você mesmo...
-Eu sei. Mas sem a sua ajuda, sem o seu apoio e sem a sua parceria, eu não sei se conseguiria.
-Você não se cansa de ser encantador, não? José... eu só enxerguei seus potenciais. Nada além disso... tudo o que está surgindo depois isso é por esforço seu.
-Sem seu apoio, seria mais difícil de ver. Mais difícil de adquirir a consciência das coisas...
-Que coisas, especificamente?
-Consciência social.
-Bobo... isso não é mérito meu. Isso nasceu com você... você só não sabia disso.
-Idina... não seja modesta. É claro que a sua participação nisso é direta.
-Pode até ser que sim... mas que fique claro que você não daria um passo adiante se não desejasse isso.
-Eu sei disso... mas me surpreendo todo dia. Eu nunca pensei que seria capaz...
-Capaz de se melhorar? Todo mundo é, meu querido...
-Capaz de ter uma consciência social dessa forma.
-Normal. Uma vez que a gente começa a ter real dimensão dessas questões, nunca mais voltamos a ser os mesmos... e isso é maravilhoso. Nos tornamos mais humanos... e é disso que a gente precisa. É dessa força que os oprimidos precisam.
-Eu nunca vou me cansar de te dizer o quanto você é incrível. Se você não existisse, teria de ser inventada. E se ainda morasse na França, eu te traria pro Brasil...
-Nossa, deu pra ser exagerado agora, é?
-Inspirações do amor...
-Sei... mas vou te contar um segredo, viu? Vê se não fica muito chateado...
-Ué... pode falar, né...
-Como poeta, você é um ótimo amante.
-Deixa ver se entendi... isso quer dizer que fui mal?
-Sinceramente? Péssimo! Mas não dá pra gente querer tudo nessa vida, não é mesmo?
Os dois riem.
-Até isso em você me encanta, Idina... o seu senso de humor incrível...
-São só seus olhos generosos sobre mim, José.
-Não é só isso... você mudou a minha vida.
-E quem disse que você não mudou a minha? Sabia que antes de você eu nunca considerei me envolver com um branquelo azedo?
-Não brinca... sério?
-Tou falando...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 3: Hugo tenta tranquilizar Valéria.
-Valéria... procura descansar, foi só um susto...
-Você diz isso porque não foi você que teve uma cólica horrorosa e sangrou, né.
-Ei, quer se acalmar? Pra que essa defensiva toda?
-Porque o doutor Cássio tinha razão... eu que não percebi antes... ando me estressando além da medida, sim. Muito mais do que devia.
-Sim, mas onde que você acha que soltar as patas em mim vai resolver?
-Eu tou farta, Hugo.
-De mim?
-Sim, de você também. É muita coisa me rodeando... e eu no meio disso?
-Pera... cê quer terminar comigo? A gente mal começou...
-Hugo... eu te amo. Mas tá difícil segurar a barra. É muita coisa pra eu aguentar calada, poxa! Não bastasse o olho atento do seu pai, eu ainda tenho que me desdobrar em mil pra não deixar a sua mãe perceber que a gente se ama e que tá junto... e ainda morrer de preocupação no meio desse processo todo que alguma coisa vaze antes da minha gravidez acabe e eu fique sem teto. Se coloca no meu lugar, poxa!
-Mas eu sempre me coloco no seu lugar, amor! Só que, Valéria... você precisa compreender que nada disso é diretamente nossa culpa.
-Adianta não ser nossa culpa? Isso aplaca o peso de tudo isso nas nossas costas?
-Não...
-Tá vendo? Como é que a gente vai ter estrutura pra lidar com isso por mais, sei lá, cinco ou seis meses?
-A gente vai encontrar um jeito.
-Difícil, Hugo... difícil continuar me escondendo desse jeito sem me sentir clandestina, criminosa...
-Não é crime a gente se amar.
-Mas não é certo assumir esse nosso amor antes do meu filho nascer...
Bernadete escuta a conversa atrás da porta. CORTA A CENA.
CENA 4: Na manhã do dia seguinte, Maria Susana abre a porta para receber Idalina.
-Que bom que você veio, minha sogrinha...
-Fico feliz que você me considere assim, ainda...
-Deixa de besteira, dona Idalina... existe ex marido, mas não existe ex sogra. Não pra mim, não no meu coração que te vê como uma mãe...
-Ah, minha querida... você não faz ideia do quanto fico feliz... de certa forma até menos de luto...
-Não tá sendo fácil, eu imagino...
-Nunca pensei que ia enterrar uma filha... a Arlete era a minha caçulinha, a minha bonequinha, sabe?
-Claro que sei. O amor de vocês transbordava num simples olhar.
-Bem, mas vamos mudar de assunto... vamos falar dos que ficaram. E o meu neto?
-Dormindo feito uma pedra, acredita?
-Coisa boa isso, Miguel tem que aproveitar enquanto tem tempo de dormir até a hora que quiser...
-Ah, férias de criança é isso mesmo. Mas mudando de assunto, sabe que seu filho tá se tornando num belo de um ser humano?
-Ué... não entendi... ele não era bom quando tava casado com você, Maria Susana?
-Claro que era... mas tinha aqueles probleminhas de racismo que nós sabemos...
-Ah, sim... eu sinto muito.
-Não sinta. Ele tem se libertado lindamente disso. Sabe quem é a responsável por isso? A namorada dele.
-A Idina?
-A própria. Aquela francesa é porreta, minha sogra!
-Quanto mais cê fala dela, mais eu fico curiosa pra conhecer melhor minha nova nora.
-E posso garantir que você vai amar. Mal conheço a Idina, mas só de saber de todo o bem que ela tem feito ao Zé, nossa... tenho uma consideração imensa!
-Não era pra ser diferente, mesmo... principalmente por causa do Miguel...
-Quanto a isso nunca me preocupei. Sei que o Zé amaria o filho de qualquer forma... mas o racismo era um problema.
-Que poderia deteriorar a relação deles, como pai e filho, no futuro. Sabe, eu não sei onde meu filho aprendeu a ser racista assim...
-Não vale a pena pensar nisso agora... ele já tem deixado de ser e você fez o melhor... mas não tem como evitar que os filhos façam as próprias escolhas e os próprios amigos...
-Isso é bem verdade...
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.
CENA 5: Fábio chega no hotel que previamente reservou uma vaga, em Londres. Ao chegar lá, testa o sinal da internet.
-Perfeito! Pelo menos assim eu não perco contato com a família...
Fábio conecta seu laptop à internet e faz uma chamada de vídeo para Elisabete.
-Oi, Bete! Te acordei? Sei que ainda tá cedíssimo aí no Brasil...
-Nada, querido... foi até bom você ter chamado... cê sabe como eu sou.
-Eu? Magina... só via você quase ajoelhando agradecendo a Deus quando eu chegava atrasado, mas inteiro.
-Justamente... cê sabe que isso é meio parte de mim, né? Acho que sempre vou ser assim, meio pilhada, preocupada, extremada.
-É seu jeito de demonstrar que se preocupa e que se importa. Acho bonito... mas me diz, como tá o nosso filho?
-Ah, o Maurício vai maravilhosamente bem... só acho estranho que ele ainda não tenha definido uma carreira pra ele...
-Ai ai ai, dona Elisabete! Eu te conheço!
-Que?
-Sei que você só falou nisso porque quer sinal verde pra pressionar o Maurício...
-Não é pressionar, é que...
-Querida... deixa nosso filho ter o tempo dele. Ele vai se encontrar quando for o momento dele. Pressão só piora as coisas...
-Certo... e você, como chegou de viagem?
-Ah, tou ótimo... poderia estar melhor, mas é aquela coisa...
-Essa viagem teve um motivo forte pra você...
-Exatamente.
-Fábio... cê não acha que é hora de tentar esquecer um pouco dessa coisa toda? Da morte recente da Arlete, da Cristina? Não pra sempre... mas nesse momento.
-Sabe, eu sou obrigado a te dar razão... remoer não vai resolver nada. Não enquanto eu estiver aqui.
-Até que enfim você entendeu...
-Bem, só liguei pra avisar que tá tudo bem e que cheguei inteiro. Manda um beijo pro nosso filho!
CORTA A CENA.
CENA 6: Sérgio volta das compras que fez no mercado com sacolas na mão e tenta abrir a porta do apartamento que alugou, mas não consegue.
-Ah, não! Só o que me faltava... mal me mudo e essa fechadura emperra? Não pode ser...
Sérgio tenta novamente e não consegue.
-Calma, Sérgio... respira fundo e pensa bem... até dez minutos atrás tava tudo bem, Vamos... enfia essa chave com jeito que você consegue...
Novamente, Sérgio fracassa.
-Ah, mas que merda! É isso mesmo? Na minha primeira semana de casa nova eu vou ter que arrombar a porta? Vá tomar no...
Sérgio é interrompido por uma voz feminina.
-Posso ajudar? O senhor parece estar com problemas na fechadura...
A mulher é Mônica.
-Desculpe, você deve ter ouvido eu falando palavrão...
-Sem problemas. Aqui é todo mundo desbocado. Cê acha mesmo que eu não mando tudo pra puta que pariu de vez em quando?
-Você parece legal... qual seu nome?
-Mônica. E o seu?
-Sérgio...
-Prazer, Sérgio... posso dar uma olhada na sua fechadura? Eu acho que sei o que tá pegando aqui...
-Como assim, você sabe?
-Vish... sou moradora antiga do prédio. Esse apartamento que você alugou sempre teve problemas na porta... não na fechadura. Posso olhar?
-Sim...
Mônica se aproxima e puxa a porta pra dentro até ouvir um estalo.
-Tenta abrir agora...
Sérgio consegue abrir.
-Deu certo!
-Madeira velha. A porta dança e a fechadura emperra. É só puxar que tá resolvido...
Sérgio olha encantado para Mônica. CORTA A CENA.
CENA 7: Elisabete passa as compras para o filho passar no caixa do supermercado quando se distrai vendo a cena de uma mãe e seu filho pequeno se divertindo no shopping. Maurício nota distração da mãe...
-Mãe... volta! Onde a senhora tá?
-Desculpa, Maurício... achei tão bonito ver aquela mãe ali na frente, tão dedicada ao filho...
Ao saírem do supermercado e andarem no shopping, Elisabete se vê frente a frente com a mulher, que é Maria Susana.
-Olá, moça... desculpa incomodar, mas eu acho que te conheço... e preciso te dizer que é linda sua dedicação ao seu filho... - fala Elisabete.
-Acho que nos conhecemos, sim... você é ex do Fábio, que teve um caso com a minha falecida... desculpe, eu não devia... - fala Maria Susana.
-Deixa de bobeira... é verdade. Posso dar uma paparicada na lindeza que é seu filho?
-Elogia mais pra ver se ele não começa a fazer palhaçada pra você rir... você é a Elisabete, né? Eu sou a Maria Susana, mas pode me chamar de Susi...
Elisabete se diverte com Miguel. CORTA A CENA.
CENA 8: Daniella surpreende Patrícia em sua suíte na pensão.
-Dani? Você aqui? Faz tempo que veio?
-Nem quinze minutos... acho que a gente precisa conversar...
-Olha... se for pra dizer que eu fui uma idiota, eu sei...
-Não. É que, apesar de tudo, meu coração te perdoa. Eu gosto de você, Patrícia... vejo um imenso potencial em você...
-Potencial de que?
-De ser uma pessoa boa. Justa...
-Não sei se sou capaz.
-Se você der uma chance a si mesma, será capaz com certeza.
-Isso significa que ainda somos amigas?
-É por isso que vim, pra te dizer que nossa amizade continua. E que eu vou te ajudar no que for preciso. E se você pisar na bola, se prepara que eu dou bronca mesmo, viu?
As duas se abraçam, selando a reconciliação da amizade. CORTA A CENA.
CENA 9: Armênia nota Humberto cabisbaixo após um cliente sair do Ilha de Malta.
-O que foi, querido?
-O peso da vida. E das péssimas escolhas que fiz...
-Do que cê tá falando, Humberto?
-De ter me fechado...
-Oi?
-Sim... de ter me tornado esse ser quadrado...
-Você não tem culpa...
-Mas tenho responsabilidade. Não questionei nada... nunca me rebelei. Pra que? Pra hoje ter uma dificuldade imensa de amar incondicionalmente meu próprio filho? Que monstro sou eu?
-Você não é monstro nenhum, querido... só tá começando a cair em si.
-Precisa doer tanto?
-Ah, querido... quandon a gente não aprende pelo amor...
-Aprende pela dor, não é?
-Exatamente. Nosso filho ainda volta... você vai ver. Assim como você ainda supera esses preconceitos...
CORTA A CENA.
CENA 10: Bernadete questiona permanência de Hugo em casa.
-Filho, você não devia estar na agência?
-Devia... mas hoje não tou a fim...
-Mas nem tem Giovanna pra você encarar por esses dias...
-Fiquei preocupado, ué...
-Com a Valéria?
-Claro...
-Sabe, filho... essa sua preocupação... esse seu zelo... me acendeu uma luz aqui dentro.
-Do que cê tá falando?
-Que você e a Valéria estão juntos e eu sinceramente não entendo porque vocês continuam me escondendo isso. Não sou mais doente...
-Nada disso, mãe... você tá enganada.
Valéria surge, disposta a falar verdade.
-Chega. É verdade, sim. Eu e o Hugo nos apaixonamos!
Hugo fica tenso. FIM DO CAPÍTULO 59.
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