sábado, 7 de janeiro de 2017

CAPÍTULO 48

CENA 1: Daniella se espanta com visível perturbação de Gustavo e o questiona.
-Que foi isso, amor? Precisa dessa cena toda? Eu, hein! Ela é minha amiga, poxa!
-Digamos que ela seja sua amiga... por que ela faz questão de se manter perto de mim?
-Quem sabe porque ela foi sua namorada lá em BH? Às vezes parece que cê nem pensa direito, Gustavo... francamente!
-Você não sabe da missa a metade. Não sabe o que ela já fez. Não sabe do que ela é capaz...
-Enquanto cê fica nessa coisinha de soltar meia informação sobre tudo o que se relaciona à Pati, eu fico sem saber o que pensar.
-Pois devia saber. Devia confiar em mim.
-E o que te leva a pensar que eu não confio em você, cara? Pelo amor de Deus! Acontece que você não pode controlar nada que se relacione com as minhas amizades.
-Quem te disse que quero controlar?
-Precisa dizer, Gustavo? Você tá agindo como um controlador dando piti porque eu corri com a Pati de novo. Tou mentindo?
-Não, não tá... mas daí a pensar que eu sou assim, controlador, já é demais...
-Demais? O que é que cê quer que eu pense quando você age como um perfeito controlador? Que você é hippie? Me poupe, se poupe, nos poupe!
-Tá... eu prometo não tentar me meter na sua amizade com a Patrícia... mas que fique o aviso que ela não é confiável.
-Você sempre aproveita a primeira oportunidade que tem pra me soltar essa coisa toda... de onde que você tirou que ela não é confiável, além dessas coisas que você se recusa a me contar?
-Eu sei muito bem do que eu tou falando.
-Pois adoraria que você provasse.
-Como é que é?
-Isso mesmo que cê tá ouvindo. Sabe, Gustavo, por mais que eu te ame, eu tou começando a ficar cansada dessa palhaçada. A gente já tá em 2017 e você fica nessa palhaçada de não se abrir totalmente comigo, que sou sua namorada, sabe? Porra, cara! Isso cansa! E digo mais: pode acabar estragando o que existe aqui entre a gente...
-Você não entenderia. Eu sei, eu sinto, eu tenho certeza: você me julgaria. Ficaria ao lado da Patrícia, sem questionar. Eu ia passar por mentiroso, se dissesse tudo o que ela já me fez.
-Como é que cê pode concluir tanta coisa a meu respeito, Gustavo? Pelo amor de Deus, cara! Chega, eu fico cansada desse seu excesso de desconfiança... precisava ser escorpiano desse jeito?
-Desculpa... é só meu jeito de me preservar.
-Preservar o que, amor? A única pessoa minando a confiança aqui entre nós é você. Será que você não percebe?
-Só preciso de mais um tempo pra tomar coragem de contar tudo...
-Quanto tempo? Amor... já vai pra dois meses essa situação toda. Tá, eu sei, parece pouco, mas não é... a nossa intenção não é aprofundar? Não foi você mesmo que fez eu vencer meus medos? Por sua insistência eu perdi o bloqueio de relacionamentos sérios... não joga isso fora, Gustavo... é só o que te peço.
-Eu vou tentar. Só não sei se consigo agora. Se ocê quiser ir embora, eu vou entender.
-Deixa de ser bobo, amor... eu não vou embora. Nossa noite não vai ser estragada por nada nesse mundo...
-Desculpa ser tão acuado, amor... eu sei que você não merece isso.
-A gente vai tentar encontrar um jeito. Só que você precisa me prometer que não vai mais implicar tanto com a Pati, pode ser? Ficamos combinados assim?
-Combinados...
-Então a gente vai fazer tudo isso aqui dar certo. Você precisa confiar em mim, não sou eu que preciso confiar em você. Isso eu já faço...
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 2: Cristina desabafa com Nicole antes de dormir.
-Sabe, mãe... eu fiquei o dia todo com umas coisas na cabeça...
-Sobre o que, exatamente?
-Sobre o que eu conversei com a Giovanna pela manhã, antes de ir pra clínica...
-Foi algo tão complicado assim?
-Pior que sim... não digo que complicado, mas no mínimo aterrador, chocante... as coisas que ela me sugeriu me deixaram, honestamente, de cabelo em pé...
-Nossa, mas o que ela pode ter falado? Ela é sua amiga, não é?
-Até onde eu sei, sim... mas bem, basicamente ela disse com todas as letras pra eu ser amante do Fábio... e foi mais longe ainda: disse que eu posso ter quantos amantes eu quiser. Pode uma coisa dessas? Às vésperas do meu casamento com o Hugo?
-Você pode até achar que eu tou sendo advogada do diabo, filha, mas... nada disso vindo da Giovanna me surpreende.
-Que? Como assim, mãe?
-De alguma forma, essa mulher nunca me desceu. Eu nunca quis te dizer nada porque você sabe como eu sou, respeito os amigos das minhas filhas. Mas acho que dessa vez eu posso dizer alguma coisa sem parecer que tou me metendo onde não sou chamada...
-Por favor, mãe... cê devia até ter falado antes. Se tem uma coisa que dificilmente erra, é essa sua intuição. Por que a Giovanna nunca te desceu muito?
-Pode parecer besteira da minha parte... até meio preconceituoso dizer, mas... uma mulher com praticamente quarenta anos na cara, vivendo de certa forma parada no tempo... entende? Não é pelo fato de ela ter escolhido não se envolver com ninguém nem constituir família, afinal cada pessoa tem suas necessidades e prioridades... é maior que isso: é algo na forma que ela encara as pessoas... entende? Não deu pra explicar muito...
-Eu acho que entendi onde cê quer chegar, mãe... mas acho que ainda assim isso pode ser uma implicância leve da sua parte. O fato é que eu fiquei perplexa, chocada com a naturalidade que ela me disse, na maior cara dura, pra eu trair o Hugo, como se isso não fosse nada, sabe?
-Presta atenção, Cristina... quem fala numa coisa dessas sem dimensionar do que se trata, pode ser capaz de tudo aquilo que diz de maneira supostamente inocente...
-Ué, mas a quem ela trairia?
-A qualquer um, não te parece óbvio?
-Me pareceria óbvio se ela tivesse alguém, mas não é esse o caso.
-Não que você saiba...
-Onde você quer chegar, mãe?
-Ora... se ela é capaz de soltar um petardo desses depois de anos, quem garante que ela não tem um caso em segredo?
-Mãe... cê não acha que já tá viajando?
-Honestamente? Não. Se eu fosse você, abria mais o olho... observava com mais atenção.
Cristina fica intrigada. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Fábio vai à casa de Elisabete e é recebido por Maurício.
-Eita, pai! Não avisou que vinha... já tou quase de saída...
-E a sua mãe, como vai?
-Melhor a cada dia. Achei que você soubesse que ela anda acordando cedo pra se exercitar, espairecer um pouco.
-Ela não tá?
-Não... mas não se faz problema. Você pode esperar... a casa também é sua.
-Mas também não quero ser incômodo... cê não tava de saída?
-Nada que eu não possa adiar. Tou de férias, afinal... vem cá: é impressão minha ou cê tá com uma cara de quem tá pensando na morte da bezerra?
-Não consigo esconder nada de você mesmo, né?
-Nem adianta tentar. Seu filho aqui percebe tudo.
-É sobre a Cristina...
-Engraçado que eu sabia que você ia dizer isso. O casamento dela deve estar perto... ei, pera... não é segunda-feira agora?
-Sim. Isso está quase me matando. Eu sei e sinto que a Cristina é o amor da minha vida, mas ela tomou a decisão dela de não arriscar tudo. Optou por casar com o Hugo... eu já não posso fazer mais nada.
-Talvez seja o momento de você considerar dar uma viajada... dessa vez, pra espairecer, desintoxicar dessa situação toda.
-Como, filho? Só me demitindo. Não posso abandonar meu trabalho desse jeito, ao meu bel prazer.
-E deixar todas as coisas se acumulando desse jeito? Daqui a pouco, quem surta é você, pai... primeiro a Arlete morre daquela maneira horrorosa, seus projetos de casamento e de refazer a vida ao lado dela acabam naquela fração de segundo que ela se foi, depois as córneas dela são doadas pra essa moça que você descobriu depois ser a Cristina... você se apaixona por ela. Não acha que é coisa demais em pouco tempo? Até final do ano passado nossas vidas eram completamente diferentes. Principalmente a sua.
-Eu sei disso, Maurício... só que as coisas não são simples dessa forma. Eu não posso chegar pros meus superiores e alegar estafa, sendo que mal voltei das últimas férias.
-Mas você não tem outras férias vencidas?
-Até tenho, mas vê se eu tenho vontade de cobrar isso dos meus superiores, sabendo que qualquer um deles pode tratar isso como insubodrinação? Conheço muito bem aquela gente...
-Não sou eu que vou te forçar a nada, mas...
-Conheço esse seu tom, filho...
-Você não acha que tá na hora de reavaliar suas prioridades na vida? Esse ano você completa quarenta e sete anos, sabe? Tem direito de fazer o que sente vontade, de vez em quando.
-É, mas vou deixar vocês como? Bem ou mal, ainda que minimamente, você e sua mãe dependem um pouco e mim.
-Mas nós conseguimos nos virar sem seu apoio financeiro. O que eu não posso aceitar é ver meu pai, tão jovem ainda, sendo conformista assim, permitindo que a tristeza acabe com tudo o que existe de pulsante aí...
-Eu vou pensar no que fazer, filho... mas não pra agora. Eu não posso fingir que a dor de perder a Cristina não existe. Negar seria pior... eu vou viver isso até o fim. E vou sobreviver...
CORTA A CENA.

CENA 4: Mônica chega com Alexandre à agência e percebe que ele está tenso.
-Ei... já disse pra ficar calmo! Você vai ver como essa sessão de fotos vai ser tranquila...
-Tu diz isso porque já passou várias vezes por isso. É a primeira vez que eu vou fazer um ensaio profissional.
-Fica calmo. O pessoal daqui é super acostumado com novatos e eu tenho certeza de que eles vão saber te deixar bem tranquilo pra fazer as fotos.
-Bem... eu sei que pode parecer infantil, mas bate um medo, sabe? É como aprender a andar.
-Sei como é, Alexandre. Às vezes o novo assusta a gente. Mas isso vai passar assim que você começar o ensaio, tenho certeza. A câmera gosta de você. E você gosta das câmeras fotográficas. Agora vai lá de uma vez que eu fico aqui do lado de fora esperando.
-Tu não vem junto?
-Agora não. Se precisar, tou por perto.
Alexandre vai ao estúdio fotográfico e Mônica acaba esbarrando em Ricardo ao andar pelo corredor.
-Nossa... que bela maneira de começar o dia...
-Não sei pra você, Mônica, mas pra mim é ótima sim. Desculpa o esbarrão. Bom dia pra você também. Você está especialmente linda hoje.
-E você não se cansa de ser insistente e inconveniente. Não sei se você percebeu, mas eu só venho aqui a trabalho e hoje vim acompanhar um dos meus novatos.
-Pensei que a gente podia pelo menos ser amigo...
-Pois pensou errado.
-Conversar, ao menos, a gente pode?
-Pra que? Se no momento que eu mais precisei de alguém nessa vida, você me deixou falando sozinha com a minha dor? Porque a sua dor parecia mais importante que a minha, aparentemente...
-Eu sei que fui egoísta...
-Tarde demais pra reconhecer, Ricardo. Já passou muito tempo. Melhor não meter o dedo nessas feridas...
CORTA A CENA.

CENA 5: Cristina, de sua sala na clínica, liga para Daniella.
-Fala, mana!
-Tá podendo falar, Dani?
-Claro que sim... tou morgando aqui em casa ainda, não tenho ensaio hoje.
-Mana, eu tava pensando que a gente podia aproveitar que esse é meu último fim de semana solteira.
-Que?
-Isso mesmo...
-Onde cê tá querendo chegar? Numa despedida de solteira?
-Exatamente.
-Posso saber onde a senhora anda tramando isso?
-Ah, pensei naquela boate babadérrima que tem na zona Sul.
-Menina, a senhora tá pelo crime mesmo, viu! Sabe que eu adorei a ideia? Se o negócio é beber até cair, então bora beber até cair.
-Cê topa ir comigo?
-Não perco um porre seu por nada nesse mundo, meu bem!
As duas riem. CORTA A CENA.

CENA 6: Giovanna questiona presença de Hugo na agência.
-Engraçado. Pensei que pelo menos hoje você ia aproveitar a folga pra não ter que olhar na minha cara.
-Não se atribua tanta importância, Giovanna... se eu vim, foi porque eu não queria deixar a agência às moscas, mesmo sabendo que nesse fim de semana eu tinha direito a folga.
-Que direto, você. Nem parece libriano, nossa...
-Pra você ver como as coisas mudam...
-Eu acho que você anda é muito tenso sobre tudo isso. Com a proximidade de seu casamento com a Cristina...
-Acha mesmo? Não entregou pro dono ainda por que?
-Nossa, precisa dessa grosseria, cara? Falei numa boa...
-Conheço esse seu “numa boa”. Você anda concluindo coisas demais.
-Eu posso provar que você tá enganado a meu respeito.
-Acho difícil que eu me engane sobre você, Giovanna.
-Mas eu te juro que posso provar. Duvida?
-De você, não duvido de mais nada... anda, fala o que cê quer.
-Na verdade pensei numa opção pra você relaxar. Afinal de contas, daqui dois dias você se casa oficialmente com a Cristina... eu pensei que você poderia dar uma relaxada, então...
-O que exatamente cê tá tramando?
-Uma despedida de solteiro, ué! Um momento só seu, pra você fazer o que quiser...
-Sinceramente? Não tou disposto a nada disso. Vou pra minha casa descansar, isso sim.
-Nem uma festinha comigo?
-Nem isso, Giovanna. Você sabe que a gente ainda tem chão... agora me dá licença, eu preciso ver como anda a sessão de fotos...
CORTA A CENA.
CENA 7: Anoitece. Daniella e Cristina chegam à entrada da boate escolhida para despedida de solteira de Cristina. Daniella nota expressão preocupada na irmã.
-Ih, vai dar pra trás agora, Cris?
-Não, de jeito nenhum... que ideia, mana...
-Sei... e essa sua cara de quem viu assombração é o que? Eu te conheço, Cristina... eu te conheço...
-Não vou mentir, Dani... dá um pouco de receio, sim.
-Posso saber do que? De surgir algum conhecido aqui? O pai ou a mãe de algum paciente da sua clínica? A quem você tá querendo enganar, Cris? Isso é puro e simples falso moralismo. Vai viver mais tempo preocupada com a reputação do que com a própria satisfação?
-Tecnicamente, eu vou. Não é a toa que vou casar com o Hugo...
-Nem vou entrar nesse mérito pra não dar treta. Tá, Cris... chega de gastar neurônio pensando nisso. A gente veio pra se divertir e encher a cara. Dá pra ser?
-Claro que sim!
-Então vamos de uma vez, porque tá ridículo nós duas paradas aqui feito sei lá o que...
CORTA A CENA.

CENA 8: Elisabete procura o filho para conversar.
-Maurício, meu filho... tá muito ocupado?
-Nada que eu não possa deixar pra depois. Tá querendo falar?
-Sim. Sobre o seu pai...
-Vish, mãe... pensei que essa coisa toda fosse página virada na sua vida...
-E é! Não é sobre isso que cê tá pensando que eu quero falar. Na verdade eu me preocupo com o rumo que seu pai tá dando à própria vida e aos sentimentos dele.
-Sei... mas acho que independente da gente se preocupar ou não, ele meio que precisou quebrar a cara com a Cristina.
-Você pensa que eu não sei disso? Foi difícil pra admitir, filho... mas o que o Fábio sente pela Cristina é forte. É sincero... é amor de verdade. Eu quis me iludir por um tempo pensando besteira, mas tenho que ser justa.
-Eu posso imaginar como você se sente, mãe... por um tempo eu também pensei que o pai estivesse transferindo o amor que tinha pela Arlete pra Cristina... mas realmente, são sentimentos diferentes.
-É exatamente isso, Maurício... eu quis acreditar no começo que ele estivesse confundindo as coisas. Mas se fosse confusão e só fosse uma paixão passageira, tudo isso já teria se resolvido com o que eles viveram. E não se resolveu. De certa forma, resiste... isso só acontece quando existe amor de verdade... mesmo que só de uma parte.
-O duro é ver o pai sofrendo desse jeito. Ainda mais com o casamento da Cristina sendo depois de amanhã...
-Nem me fala, filho... pelo menos acho que vai fazer bem ele sair pra espairecer hoje...
CORTA A CENA.

CENA 9: Fábio acaba descobrindo, ao entrar na boate, que está no mesmo local que Cristina e Daniella se divertem. Assustado, resolve tentar se esconder de Cristina andando no sentido oposto, mas acaba surpreendido por ela ao pedir uma bebida.
-Você aqui, Fábio? Nunca na vida eu pensei que um quarentão fosse dessas... - espanta-se Cristina.
-Bem... euzinha preciso correr no toalete, acabei bebendo demais já... dá licença, gente... - esquiva-se Daniella.
-É que eu... achei bom espairecer um pouco hoje pra esquecer umas coisas... pelo visto o destino foi maior que a minha vontade...
-Sinceramente nem sei o que te dizer... eu vim pra uma despedida de solteira e...
-Não fala nada...
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 10: Chega o dia do casamento de Cristina. Daniella percebe aflição da irmã ao se maquiar.
-Ei, não quer ajuda, mana?
-Nossa, sempre assim...
-O que foi, Cris?
-Você acha que eu não sei me maquiar?
-Não... nada disso! Mas é que notei que você anda meio demorada nisso...
-Ah, é o nervosismo...
-Eu podia jurar que tem mais que nervosismo aí.
-Pior que tem. Tem um tanto de arrependimento também...
-Você tá falando exatamente do que, posso saber?
-Sobre a noite de sábado.
-Ah, que é que tem? Dar uns beijinhos no Fábio não chega a ser um crime...
-Mas a gente transou.
Daniella fica perplexa. FIM DO CAPÍTULO 48.

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