sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

CAPÍTULO 53

CENA 1: Fábio espera por resposta de Cristina, que permanece sem reação diante dele.
-Tá me deixando nervoso, Cristina... será que eu entendi errado? Olha, me desculpa se...
-Você não entendeu nada errado, Fábio. Foi sim o meu amor por você que pesou pra eu decidir não casar com o Hugo.
Fábio se emociona. Cristina o afaga.
-Ei... não precisa se emocionar desse jeito, viu?
-Você não faz ideia do quanto eu te amo, Cristina.
-Acho que faço sim, alguma ideia... sabe por que?
-Por que?
-Porque nunca nessa vida eu cheguei perto de sentir algo parecido com o que eu sinto por você. Se isso não for amor, então eu não sei mais o que é...
-Isso significa que nós estamos juntos?
-Ainda não, Fábio.
-Como assim? Eu venho aqui, você diz que me ama...
-E eu te amo. Amo como eu nunca pensei que podia ser capaz de amar alguém nessa vida. Mas se coloca no meu lugar, Fábio: você surgiu num momento completamente inesperado, pra não dizer errado, da minha vida... eu tava me recuperando de um transplante que eu nem sabia se ia salvar minha visão. Aliás... mesmo hoje eu corro algum risco, ainda que mínimo, de ficar cega, se a doença voltar... depois, a gente entrou nesse nosso caso clandestino. Fomos amantes. Eu traí... tudo isso mexeu com as estruturas do meu mundo, das minhas crenças e convicções, entende?
-Claro que eu entendo. Só que eu preciso te dizer também que o que eu sinto por você é diferente do que senti por qualquer mulher nessa vida.
-Eu acredito em você, Fábio. Eu sei que é verdade. Mas esse sentimento que nos une, nesse momento, não basta por si só.
-Por que você diz isso?
-Porque não foi só a minha vida que saiu dos eixos. A sua também andou fora do prumo... por mais que você não admita.
-Eu admito, sim... faz muito pouco tempo que minha ex tentou suicídio e isso deixou a mim e ao meu filho preocupados, não só com ela, mas com tudo...
-Tá vendo? Você precisa se organizar também. Não sou só eu...
-Mas a gente podia ficar junto mesmo assim, não podia?
-Agora não. Eu espero que logo a gente consiga. Mas eu, mais que ninguém, preciso colocar minha vida nos eixos. Reequilibrar tudo no trilho certo. E eu nem sei mais qual é o trilho certo, depois de tanta coisa... eu preciso que você entenda.
-Eu não sei se entendo... mas vou tentar.
-Se não consegue entender, que pelo menos respeite minha decisão. Eu juro que queria estar inteira pra você agora mesmo... mas ainda não consigo. Foi muita coisa acontecendo em pouco tempo...
-Eu respeito sua decisão sempre.
-Você vai esperar por mim? Não precisa, se não quiser.
-Deixa de ser boba. Por você eu espero o tempo que for preciso. Pode ter certeza disso. Eu te amo... aliás... posso te pedir só uma coisa agora?
-O que você quiser.
-Eu quero um beijo seu. Pra guardar comigo... e ter a certeza de que você também me ama como eu te amo.
Cristina beija apaixonadamente Fábio.
-Bem... eu acho que você prefere que eu vá embora agora.
-Prefiro sim... minha mãe não pode nem sonhar que você esteve aqui. Não agora... até outra hora, Fábio...
-Eu te espero, meu amor. Eu te espero sempre.
CORTA A CENA.

CENA 2: Dias depois. Hugo e Valéria estão cada vez mais próximos e Valéria recebe Hugo alegremente quando ele retorna.
-Que bom te ver aqui tão cedo...
-Não tenho visto a hora de deixar a agência pra vir ficar aqui pertinho de você, Valéria...
-Pera... mas isso não vai te prejudicar, não? Depois tem outra coisa: a Giovanna é qualquer coisa, menos burra. Vai que ela descobre porque ocê anda indo embora mais cedo todos os dias?
-Ah, não tem jeito dela desconfiar.
-Será? Até hoje não engoli aquele trem dela ter me ameaçado nas entrelinhas quando eu tentei alertar a Cristina... e bem, no final das contas eu tinha razão, né?
-Sim, você tinha. Mas eu não acredito que a Giovanna vá desconfiar que meu amor é você...
-Ói... se eu fosse ocê, não duvidava nadica disso... aquela ali pra juntar as coisas, não precisa de muito...
-Bem... um dia a gente vai precisar assumir que tá junto publicamente, não vai?
-Eu sei, Hugo... mas não dá procê esperar o bebê nascer, não? Imagina como ia ficar a sua mãe diante desse troço todo?
-Eu sei que a gente precisa esperar. Mas me dá uma inquietação só de pensar no tanto de tempo que isso ainda vai levar.
-Você fica fofo imitando meu jeito de falar...
-Oi? Não imitei nada...
-É que ocê falou que nem mineiro agora... nem parecia carioca.
-Deve ser convivência, não foi proposital.
-Tá... Hugo, eu sei que vai ser difícil. Mas ocê é um cara maduro, não é? Afinal de contas, trinta e um anos não é tão jovem assim...
-Muito menos maduro o suficiente pra aguentar uma espera torturante.
-Relaxa... falta pouco mais de cinco meses pro meu filho nascer. Vai passar rápido, ocê vai ver... o que eu não quero causar é problemas, nem procê nem pra mim, porque se eu sou expulsa dessa casa eu nem tenho mais onde ficar...
-Sabe, eu andei pensando...
-Vish... não gosto quando ocê faz essa cara.
-A gente podia ir pra sua terra passar uns dias, não podia?
-Que? Ir pra BH? Mas como? Só se eu avisasse o Flavinho pra ele me emprestar a casa... que é dele, né.
-Claro! A primeira pessoa a nos apoiar seria o Flavinho, tenho certeza.
-Mas eu não tenho certeza se isso seria uma boa ideia. Hugo, eu quero muito passar um tempo com você... de verdade... mas não assim, não sendo clandestina.
-A gente pode pensar nisso por um tempinho ainda, o que cê acha?
-Não sei, amor... não tenho certeza. Ói pra isso, gente... acabei de te chamar de amor, vai que eu deixo um negócio desses escapar na frente dos seus pais? Tou perdida!
-Mas eu gostei de ouvir... pensa em tudo com carinho, tá?
CORTA A CENA.

CENA 3: Gustavo vai à sala de Daniella na clínica.
-E aí, amor... muito ocupada ainda com tudo?
-Nem me fala. Não vejo a hora da Cris reassumir tudo isso aqui, eu tou quebrada.
-Imagino... nem deve ser tanto pelo trabalho, né?
-Claro que não. Isso aqui eu tiro de letra. O que me consome as energias é estar longe dos palcos, sabe? Fico triste, parece que qualquer coisa me deixa cansada, sabe? Perco muito da motivação...
-Bem, pelo menos você podia pensar em alternativas, né.
-Mas eu tenho alternativas. Estar com você me revigora as energias barbaramente.
-Mas não tou falando só de mim. A Pati não é sua amiga? Chama ela mais pra dar uma volta com a gente, uai.
-Que? Eu tou ouvindo isso a sério? Você mesmo, Gustavo Varela, falando uma coisa dessas? Gente... tou passada...
-Sabe, eu cansei de desconfiar dela o tempo todo.
-Nossa, graças aos deuses que eu tou ouvindo você dizer isso! Que coisa boa, amor! Você vai ver como sempre vale a pena dar uma nova chance pras pessoas... ninguém é só coisa boa ou só coisa ruim...
-Eu sei disso, Dani... não pense que eu engulo ela ainda, mas...
-Tá se esforçando, Gustavo... isso é louvável, de verdade. Fico orgulhosa desse seu esforço.
-É... um dia ela foi minha namorada. E antes disso, minha amiga.
-Ainda bem que você percebeu isso, amor... tive medo que você não reconhecesse essas coisas.
-Reconhecer eu reconheço. Não vou te dizer que me sinto super à vontade com ela, também...
-Nem eu exigiria tanto da sua parte. Só de aceitar a presença dela entre nós, sem causar problema, já é um progresso. Ela é minha amiga... eu gosto dela. E fico feliz que você perceba que isso é maior que o passado conturbado de vocês.
-Eu sei que isso é maior. Ela pode ter os problemas dela comigo e eu os meus com ela. Mas de alguma forma eu comecei a acreditar que ela realmente é sua amiga.
-Fico tranquila. Então tá tudo bem se eu chamar a Pati pra dar uma volta com a gente hoje mesmo, pra recarregar as energias?
-Por mim, tudo ótimo! Ah, fala pra ela trazer algumas bebidas, já que ela costuma esquecer do dinheiro...
-Tá certo...
CORTA A CENA.

CENA 4: Giovanna vai à mesa de Ricardo quando Glória se afasta.
-Você não vai mesmo com a cara da Glória, né?
-Ela que não vai com a minha cara. Você sabe muito bem disso...
-Se sei! Tá precisando conversar?
-Na realidade eu queria saber se falta alguma coisa ainda pra acertar com nossos passaportes, essas coisas... pra não dar erro nem problema na hora de partir pra Finlândia...
-Ah, isso é fácil de olhar aqui mesmo pelo PC.
-Pode olhar pra mim? O Hugo anda restringindo o meu acesso ao meu próprio computador...
-Com alguma razão, né? Porque naquele dia, você destruiu um monitor numa explosão de raiva...
-Enfim, que seja... eu sei que você se preocupa, mas não tou precisando de sermão agora, viu?
-Desculpa. Eu vou olhar as coisas aqui pra gente...
Ricardo verifica as informações e faz um gesto para Giovanna se aproximar da tela.
-Aqui, ó... já tá tudo encaminhado.
-Você sabe o que isso significa, né?
-Férias?
-Exatamente. Já contatei o pessoal do RH. Nós saímos de férias hoje ainda. Sabe quem vai ficar no seu lugar?
-Quem?
-A Mônica!
-Não brinca...
-Tou falando sério. Ela é muito competente e sabe se desdobrar.
-E no seu lugar?
-Meu querido, Giovanna Salgado não tem substituição possível... sou única e insubstituível!
Os dois riem. CORTA A CENA.

CENA 5: Valéria procura Hugo na agência e deixa Hugo apreensivo.
-Que susto, Valéria! Não faz nem cinco minutos que a Giovanna saiu daqui!
-Ai, não me assusta você! Do jeito que ocê fala, faz parecer que ela é um monstro cheio de tentáculos...
-Boba... sabia que cê fica linda com medo?
-Eu vim aqui dizer que eu aceito que a gente dê uma fugida pra BH. Mas com uma condição!
-A condição que você quiser!
-Você cozinha todos os dias, porque detesto esquentar a barriga no fogão, ainda mais grávida!
-Combinado! Bem... acho que a gente precisa falar com o Flavinho...
-Agora?
-Sim. A gente vai na clínica e avisa de tudo.
-Cê tem certeza? Fico com medo que ele acabe se empolgando e...
-Valéria, você conhece o Flavinho a tanto tempo e ainda não entendeu que ele não abre a boca pra essas coisas?
-Xeque mate. Dessa vez você realmente me pegou desprevenida. Tá, a gente vai avisar ele, então. Mas ói... acho que a gente não vai poder ficar muito tempo por lá...
-Ué, por que?
-Porque o amigo que ficou cuidando da casa do Flavinho tá meio que morando lá, entende?
-Sim, mas ele tem o próprio cafofo, não tem?
-Ai, Hugo... ocê me quebra as pernas, meu Deus do céu... tá certo. A gente dá um jeito do Flavinho mexer os pauzinhos dele...
-Vai ser rápido?
-Mais que a gente imagina, inclusive...
CORTA A CENA.

CENA 6: Poucas horas depois, Gustavo conversa com Flavinho, ainda perplexo.
-Flavinho... eu confesso que a última coisa que eu esperava na vida é que minha irmã estivesse com o Hugo...
-Vish, Gustavo... eu não sei em que planeta que ocê tava, mas não era na Terra, não... esse amor deles vem desde que eles se conheceram, praticamente...
-Tomara que essa viagem deles dê certo. O meu apoio eles tem...
-E o meu também. Duro vai ser eles esconderem isso dos pais do Hugo até o bebê nascer...
-Nem fala... me dá um arrepio só de pensar no que pode acontecer...
CORTA A CENA.

CENA 7: Humberto tenta disfarçar incômodo ao receber em sua casa Guilherme, acompanhado de Érico. Armênia percebe desconforto do marido e o chama.
-Humberto, cê pode vir me ajudar com as batatas?
Humberto vai até a cozinha.
-Então, Armênia... falta muitas pra descascar?
-Usei as batatas de pretexto. Dá pra você disafarçar um pouco melhor a sua cara de estranheza diante do Érico?
-Mas ele é... diferente, entende?
-E daí? Ele ainda é o filho da Margarida. E amigo do nosso filho.
-Amigo? Sei bem que tipo de amigo...
-Será que eu vou ter que refrescar sua memória e te lembrar dos motivos que levaram o nosso filho a sair da nossa casa?
-Eu sei... erro meu. Mas não peça pra eu achar tudo isso normal.
-Você não tem que achar nada, Humberto.
Guilherme surpreende os dois. Humberto recua.
-Vish, o que foi, pai? Vai recuar? Fingir que não falou o que acabou de falar? Seja homem, seu Humberto...
-Meu filho...
Armênia deixa os dois conversando a sós.
-Pai... eu sei que você tem dificuldade. Mas não pense que vou passar a mão na sua cabeça, porque eu não vou. Você sabe muito bem porque saí dessa casa. E espero que saiba que eu não vou admitir que você destrate Érico ou a qualquer amigo meu dentro dessa casa. Eu posso não estar morando aqui agora, mas essa casa também é minha! Tá me ouvindo bem?
-Eu sei... desculpa, filho.
-Então trate de baixar essa bola. Daí eu aceito suas desculpas.
CORTA A CENA.

CENA 8: Geórgia escuta um barulho vindo do banheiro e estranha.
-Ai... só o que falta ser um gambá que subiu o encanamento do prédio outra vez...
Geórgia vai ao banheiro e flagra Bruno abrindo um pacote cheio de pó para colocar no shampoo de Alexandre.
-Larga isso daí agora, Bruno! Tá achando que eu não sei que isso daí é pra causar alergia? Esse shampoo é do Alexandre!
-Você não tá entendendo... é só uma brincadeira.
-Uma brincadeira que pode lesionar o couro cabeludo de uma pessoa? Bruno, ou você para com isso de uma vez, ou você esquece que eu existo!
Geórgia sai intempestiva e Bruno desiste de sabotar o shampoo de Alexandre. Raphaela vê Bruno saindo do banheiro e o aborda.
-Que papelão, Bruno...
-Você nem sabe o que aconteceu.
-Claro que sei. Gente da sua laia foi o que mais encontrei na minha carreira. Cara, desiste disso enquanto dá tempo! Você tem talento! Não precisa derrubar ninguém pra se destacar, poxa!
-Agradeço pelo conselho, mas você não sabe o que é lutar anos pelo sucesso.
-Você acha que eu não sei? Bonitinho, já são mais de dez anos que eu tenho de carreira, esqueceu? Não se deixe enganar pela minha idade... eu sei o que é batalhar por um lugar ao sol. E posso garantir que o crime não compensa. Você nunca vai a lugar algum tentando puxar o tapete das pessoas...
CORTA A CENA.

CENA 9: No dia seguinte, no começo da tarde, Bernadete se sente indisposta após o almoço e Leopoldo percebe.
-Comeu demais, querida?
-Não... acho que tou ficando sem ar...
-Não me assusta, amor... faz quanto tempo que você tá sentindo isso?
-Antes do almoço eu já tava sentindo dificuldade de respirar...
-Você precisa descansar. Vem comigo que eu te ajudo a subir, tá?
Ao se levantar, Bernadete sente uma forte tontura e desmaia nos braços de Leopoldo, que percebe que a coisa é grave e chama uma ambulância por mensagem.
-Calma, Leopoldo... pensa. Você já chamou a emergência... agora é preciso ligar pro... Flavinho.
Leopoldo disca para Flavinho, que atende.
-Alô, seu Leopoldo? Aconteceu alguma coisa?
-Flávio, eu preciso que você peça para ser dispensado por hoje. Bernadete está passando muito mal e eu tou levando ela ao hospital. Ela precisa de você.
Flavinho se desespera. CORTA A CENA.

CENA 10: Giovanna está se acomodando num assento de primeira classe no avião que a levará para a Finlândia quando Ricardo chega e senta-se ao seu lado.
-Então, Giovanna... preparada pra conhecer a Finlândia?
-Preparada eu não sei... diz que faz um frio danado por lá...
-Mas eu garanto: é um lugar fascinante como poucos nesse mundo. Inclusive tem uns bazares de produtos usados maravilhosos por lá. A gente encontra de tudo, acredita?
-Nossa, mas isso não é meio... esquisito?
-Quando eu digo de tudo, eu falo de tudo mesmo: desde a coisa mais chinfrim até artigos luxuosíssimos, por preços bem camaradas
Giovanna se empolga com conversa. O avião decola. CORTA A CENA.

CENA 11: Valéria e Hugo estão na fila do check in do aeroporto.
-Ainda acho que a gente podia ter pego um ônibus numa rodoviária...
-E perder tempo, Valéria? De jeito nenhum...
-Por esse lado... acho justo a gente aproveitar melhor nosso tempo juntos sem ninguém incomodando...
-Exatamente.
Os dois se beijam. De repente, Flavinho chega correndo, ofegante, até encontrá-los.
-Flavinho? - falam Hugo e Valéria ao mesmo tempo.
-Gente, cês me desculpem, mas deu problema. - fala Flavinho.
-Que problema? - preocupa-se Valéria.
-Vocês não vão poder viajar agora. - fala Flavinho.
-Por que? - intriga-se Hugo.
-Porque a sua mãe acabou de ser internada com insuficiência cardíaca e corre o risco de não resistir! - dispara Flavinho.
Valéria e Hugo ficam sem reação. FIM DO CAPÍTULO 53.

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