CENA 1: Elisabete insiste no tema enquanto Cristina fica sem palavras.
-Desculpa incomodar, mas eu precisava te dizer isso, de verdade. Nunca errei quando senti isso com minhas conhecidas... então... cê tá grávida?
-Calma, Bete... eu tou me sentindo pressionada por você...
-Não foi minha intenção. Se quiser, eu ligo outra hora...
-Pera... não precisa desligar. Mesmo. Eu só preciso respirar fundo... recuperar o fôlego. E pensar bem no que vou te dizer...
-Tudo bem...
-Eu tou grávida sim, Bete... e é do Fábio. Só que eu tou apavorada diante disso.
-Apavorada por que, Cristina? Cê não tá pensando em tirar, tá?
-Não, não tem nada a ver com aborto, nada mesmo! É que eu nunca imaginei na minha vida que ia ficar grávida na beira dos trinta anos e ainda por cima estando solteira.
-Você sabe que só tá solteira porque quer, né?
-Não é tão simples quanto parece.
-Como que não? Minha amiga, para e pensa! Você vai cometer o mesmo erro que eu cometi? Mais de quarenta anos na cara e boa parte dos últimos anos lutando pra manter um casamento que nem existia mais na prática? Eu, melhor que ninguém, sei o quanto machuca negar a realidade. Mas não importa o tanto que a gente negue a realidade, Cristina... uma hora ela nos soterra. Você pode escolher entre ser soterrada pelos fatos ou estar em paz com eles.
-Elisabete... eu não posso simplesmente fazer tudo o que eu quero. Não enquanto a Arlete for uma sombra real. Mesmo que essa realidade seja só na minha cabeça, não deixa de ser realidade.
-Você tá tensa... eu sinto muito se de alguma forma provoquei isso.
-Não, Bete... você não tem culpa. Ninguém tem culpa nessa história toda. As coisas simplesmente aconteceram e fugiram de qualquer ilusão que eu tenha criado de controle ou domínio nessa vida...
-Eu acho que tou começando a entender o que você quer dizer...
-Tou tão confusa, Elisabete... não sei nem como lidar com essa gravidez. Eu sempre quis ser mãe, mas não desse jeito...
-Você não quer que o Fábio saiba, acertei?
-Pelo menos por enquanto, prefiro que não.
-Bem... você pode contar comigo nisso. Não digo nada ele até segunda ordem.
-Como assim, até segunda ordem? Cê chegou a pensar em falar pra ele que tou esperando um bebê dele?
-Claro que pensei, não vou mentir. Eu sou amiga dele. Sei o quanto ele tá sofrendo com essa distância.
-Distância que ele fez questão de acentuar, Bete... não se esqueça disso.
-Foi a maneira que ele encontrou de suportar tudo...
-No fundo eu sei disso. Mas você concorda comigo que ele saber agora não adiantaria, certo?
-Bem, pensando por esse lado... nós aqui no Brasil, ele lá na Inglaterra, sabendo que a mulher que ele ama, mas que não quer mais nada com ele, tá esperando um filho... pode ser tenso.
-E alimentar expectativas e esperanças que ele não pode alimentar.
-Será que não pode? Ou será que é você quem tem medo de se sensibilizar caso ele se manifeste de alguma maneira que te toque o coração?
-Então. Bete... não quero ser indelicada, mas acho que essa conversa tá tomando um rumo que não tou gostando e nem me sentindo confortável. Prefiro não entrar em certos temas.
-Não, tá tudo certo... de verdade. Conta comigo pro que precisar, viu?
-Eu te agradeço. De coração... eu sei que não é justo. Mas é o que eu tenho pro momento... e por enquanto, é melhor que as coisas sejam assim. Você me entende, né?
-Não entendo completamente. Mas apoio. No que depender de mim, o Fábio só vai saber quando vocês conversarem.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Glória vai atrás de Hugo após reunião na agência.
-Desculpa incomodar, Hugo... mas queria saber se você tem uns minutinhos pra conversar antes de começar tudo aí...
-Que isso, Glória... eu sempre vou ter um tempo. Pode falar.
-Olha, eu sei que não devia me meter, que depois eu passo como fofoqueira, mas...
-Só por essa defensiva, já sei que tem a ver com a Giovanna.
-Acertou em cheio, Hugo. Você não acha esquisito esse silêncio todo dela, durante tanto tempo?
-Ué, que é que tem? Nada demais pra quem tá de férias lá na Finlândia...
-Ainda assim... esse silêncio dela é no mínimo suspeito demais. Você sabe o juízo que eu faço dela, não sabe?
-Sei... e honestamente, não sou capaz de discordar.
-E mesmo assim não acha esquisito esse silêncio todo?
-Acho. Mas não acho ao mesmo tempo.
-Como assim, Hugo? Fiquei confusa, agora...
-Simples... ela pode ter escolhido espairecer completamente. Esquecer de tudo por um tempo, pelo menos enquanto estiver por... Helsinki, é onde ela tá, não é?
-Sim, é exatamente onde ela tá. Pelo menos, é pra onde ela disse que ia. Se é verdade ou não, não sou euzinha mello que vou questionar. Mas, se eu fosse você, não baixaria a guarda.
-E por que você diz isso, exatamente?
-Porque tenho pra mim que ela nutre uma estranha obsessão por você.
-Que ela tem traços possessivos, isso é certo... mas obsessão?
-Você não acredita nisso, né?
-Sinceramente não.
-Pois deveria prestar mais atenção, Hugo... a Giovanna não brinca em serviço. E se você parar pra observar o que ela fez com você nos últimos anos, vai perceber que ela sempre se sentiu sua dona.
-Sim, mas isso tem a ver com a possessividade, não?
-Verdade. Mas você acha que é só isso? Cuidado com esse otimismo, Hugo...
-Não acho que seja otimismo. Só não acho que seja pra tanto.
-E por que você não se sente confortável pra falar pra ela que se apaixonou por outra, por exemplo?
-Mas Glória, isso é uma questão de preservar não só a mim, mas principalmente à Valéria, que tá grávida do meu falecido irmão.
-Engraçado... fico com a sensação de que não é só isso. Você não esconde de ninguém aqui seu relacionamento com a Valéria... mas aposto que a partir do momento que a Giovanna colocar os pés aqui outra vez, vai se instaurar a lei do silêncio.
-É só precaução, Glória.
-Que tem uma razão de ser. Você só se recusa a ver...
CORTA A CENA.
CENA 3: Mônica se despede de Sérgio, que retorna ao seu apartamento. Bruno tenta conter o riso, mas solta uma gargalhada, causando impaciência em Mônica.
-Posso saber o motivo da graça, Bruno? Alguém soltou um pum e eu perdi, foi?
-Nossa, Mônica... pra quem tá namorando, até que você anda bem ácida, hein?
-Não entendi essa sua ironia, Bruno...
-Ironia? Não, Mônica... eu falo na lata mesmo...
-Então fala, ué. Tá esperando o que?
-Cê acha mesmo que esse coroa tá gamadão em você, não acha?
-E por que não haveria de achar, Bruno? Aliás, me surpreende que você esteja se metendo numa história que não tem nada a ver com você...
-Eu, me metendo? Mas que calúnia, professorinha... é que as pessoas falam...
-É mesmo? O que é que as pessoas falam que eu não ando sabendo?
-Ah, o de sempre.
-De sempre? Bruno, não ando com paciência pra nenhuma das suas charadas.
-Tá certo... eu falo então o que dizem por aí.
-Acho bom, mesmo...
-Andam falando que você é uma mina de ouro.
-Que patético, você. Não é segredo pra ninguém que eu sou rica. Mas que conversa sem sentido...
-Sem sentido é um sujeito ficar com você só por amor... cuidado com o rombo no bolso, viu?
Mônica se impacienta.
-Eu só não viro a mão na sua cara agora porque eu sou fina. Mas se você continuar fazendo esse tipo de insinuação tosca, eu te expulso do meu apartamento e você nunca mais vai ser treinado e orientado por mim. Tá me ouvindo bem? E antes que eu me esqueça: suma da minha frente agora. Vai pro quarto, pra cozinha, pra qualquer lugar que eu não tenha que olhar pra essa sua cara lavada!
Bruno se retira e Alexandre vibra.
-Finalmente alguém colocando esse babaca no seu devido lugar! Pensei que o Bruno ia passar o resto da vida pisando em todo mundo. Adorei, Mônica! Tu tem todo meu apoio! Se precisar de reforço pra mandar esse imbecil pra longe daqui, conta comigo! - fala Alexandre.
Raphaela segura o riso.
-Se contenha, Alexandre... é melhor não se rebaixar ao nível do argentino que pensa que é carioca... - fala Raphaela.
CORTA A CENA.
CENA 4: Maurício tenta conversar com sua mãe.
-Mãe... eu fiquei pensando numa coisa e não queria que você me levasse a mal.
-Ué, eu não tenho motivo pra te levar a mal. Ou tenho?
-É que andei reparando numa coisa.
-Que coisa? Tem a ver com algo que a gente tenha conversado nesses dias?
-Tem. Mais precisamente a ver com você.
-Eu? Não entendi, filho... se for preocupação, achando que eu posso fazer aquela loucura de tentar me matar de novo, pode esquecer que eu ando é apaixonada pela vida.
-Então, mãe... é justamente por isso.
-Oi? Justamente pelo fato de eu estar bem? Não entendi...
-É. Dá a impressão de que cê tá gostando de alguém.
-Oi? Filho, eu sei que cê torce pra que eu encontre alguém, mas... sinceramente? Não vejo sentido nessa conversa.
-Não vê ou prefere mentir pra si mesma que não vê, mãe?
-Dá pra ser mais claro? Porque ao que me consta, eu tou apaixonada pela vida, não por qualquer pessoa.
-E o que você anda sentindo pela Maria Susana, é o que?
-Maurício, você me respeite que eu sou sua mãe! Só não te dou uns tapas porque não acho isso certo...
-Tá vendo? Ficou incomodada...
-Claro que me incomodei. Essa sua afirmação chega a ser absurda.
-Será que é tão absurda assim, mãe? Olha como você ficou...
-Fiquei indignada, isso sim! Como pode um filho empurrar a mãe pra...
-Pra uma pessoa que pode ser o seu amor?
-Chega dessa conversa, Maurício... eu não conhecia esse seu lado...
-Que entende que amor não tem gênero? Mãe... talvez você seja bissexual.
-Que ideia, Maurício. Vai ler um livro, fazer alguma coisa, em vez de levantar essas hipóteses absurdas...
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas mais tarde, Daniella conversa com Cristina.
-Mana... cê acha certo mesmo não falar pro Fábio que cê tá grávida dele?
-De que isso ia me adiantar agora, Dani, me diz?
-Ele pelo menos ia saber que vai ser pai mais uma vez. Talvez considerasse voltar da Inglaterra.
-Ah, claro. E eu ia me sentir responsável pro resto da vida por ele fazer escolhas por minha causa.
-Cristina... agora a coisa não é mais só sobre você. É sobre essa criança também.
-E você acha que não penso nela também?
-Não é o que parece. Me parece mais que cê tá negando a ela o direito de ter um pai.
-Nossa, mana... é esse o juízo que cê tá fazendo de mim, a sério?
-Você quer que eu pense o que, Cristina? Olha bem o que cê anda fazendo! Cedo ou tarde o Fábio vai precisar saber que vai ser pai outra vez.
-Não se eu não quiser...
-E cê acha que vai conseguir se esconder por quanto tempo?
-Sei lá... não parei pra pensar nisso ainda...
-E se ele voltar ao Brasil antes da criança nascer?
-Eu minto que não é dele, simples...
-Você não seria capaz disso, Cris... não seria capaz.
-Seria. Essa criança é minha. Só minha. É produção independente.
-Impossível discutir com você agora. Só espero que você repense tudo isso, mana... de coração.
CORTA A CENA.
CENA 6: Ao passar a noite com Sérgio, Mônica nota preocupação no namorado.
-Impressão minha ou cê tá preocupado com alguma coisa, Sérgio?
-Não quero te incomodar com minhas questões, Mônica...
-Suas questões também são minhas, querido. Estamos ou não estamos juntos?
-É que é uma situação delicada. Que envolve a minha filha.
-Qual das duas?
-A Cristina.
-Pode falar, Sérgio... não vou julgar. Aliás, quem sou eu pra julgar, não é mesmo?
-Tá certo... é que ela tá grávida.
-Mas isso é um problema? Você disse que ela tem vinte e nove anos...
-Não é por isso. É que o pai da criança tá no exterior.
-Ainda não entendi o motivo pra toda essa preocupação...
-É que ela não quer que o pai da criança saiba. Eles romperam e esse foi um dos motivos que fizeram ele ir embora.
-Bem... então, nesse caso, qual é o motivo real da sua preocupação?
-Que meu netinho ou netinha vá ficar sem pai...
-E daí? Quem é que está gestando?
-A Cristina...
-Exatamente! Mãe sempre vai ser mãe. Amanhã ou depois ela pode conhecer um cara e os dois podem entrar num acordo de registrarem a criança, ou coisa parecida. Ou... sei lá, vai que isso nem aconteça: pode ficar como uma produção independente, não pode?
-Mas é que eu nunca pensei que...
-Reveja seus conceitos, querido... não existe motivo pra tanta preocupação...
CORTA A CENA.
CENA 7: Bernadete, ao dormir, sonha novamente com Leonardo e o vê sorridente, sentado ao seu lado.
-Tão bom te ver sorrindo, meu filho...
-Melhor ainda é ver que você tá superando minha partida, mãe... tou orgulhoso por você abrir o coração como tem conseguido abrir...
-Ah, filho... eu percebi que seu irmão e a Valéria se amam de verdade.
-Não existe força maior nessa vida do que o amor. Aliás, em todas as vidas.
-Acho que é esse amor que me manteve firme. Sabe, filho... quando eu estive perto de morrer eu desejei que tudo acabasse no hospital... pra que eu ficasse junto de você. Mas hoje percebo que não era hora disso...
-E não era mesmo. Além do mais, seria egoísta da sua parte, mãe. A saudade machuca daí e machuca daqui. Mas precisamos compreender que cada um de nós tem o próprio tempo. Aliás... falando em tempo... é bom você se preparar pra viver bastante ainda.
-Nossa, vou viver tanto ainda?
-E vai precisar abrir mais ainda seu coração. Há coisas que você não sabe, sobre pessoas queridas. Sobre a vida. E vai chegar o tempo de saber, pois somos todos aprendizes. Um dia, cê vai lembrar dessa nossa conversa. E seu coração vai guiar seus passos...
CORTA A CENA.
CENA 8: Leopoldo chama Valéria e Hugo para conversar.
-Não entendi porque chamou a gente, pai... - fala Hugo.
-Ói, se for pra falar sobre a Giovanna, fica tranquilo que a gente não vai assumir publicamente ainda... - fala Valéria.
-Não é sobre isso. Na verdade nem sei como começar a dizer isso pra vocês, mas... eu sei que o Hugo pretende registrar o seu bebê como filho dele... e vim aqui dizer pra vocês dois que isso não é certo. - fala Leopoldo.
-Como não é certo, pai? - questiona Hugo.
-Seu Leopoldo, o meu filho precisa de um pai! - espanta-se Valéria.
-Precisa de um registro. As coisas não podem ser do jeito que vocês querem e vocês sabem muito bem por que! - fala Leopoldo.
Hugo e Valéria se encaram, tensos. FIM DO CAPÍTULO 63.
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