sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

CAPÍTULO 89

CENA 1: Ainda surpreso, Mauro se emociona com a chegada inesperada do filho e, se afastando do abraço, resolve questioná-lo.
-William, meu filho... o que aconteceu?
-Uai, pai... não posso sentir saudade do meu velho, não?
-Pode, mas a gente se falou ontem e ocê não me falou nada de voltar pro Brasil...
-Decidi de última hora. Tive sorte de conseguir agilizar tudo.
-Por que veio assim, sem avisar? Ocê nunca foi fã de surpresas, filho... o que mudou?
-Uai, eu não posso querer fazer surpresa pro meu velho pai, não?
-Não sei porque, mas não acredito nisso. Essa sua volta pro Brasil tá muito da mal contada.
-Por que, pai?
-Ontem a gente tava se falando pelo vídeo, ok que ocê tava meio entediado, mas desde que você se entende por gente, amou a Inglaterra.
-Não tanto quanto o Brasil. Senti saudade.
-Assim, do nada?
-Não é tão do nada, né...
-Por que não? Tem alguma coisa que eu não sei? É aquela moça que você destratou e não consegue esquecer?
-Não, pai... nada a ver!
-E por que eu vejo a melancolia nesse seu olhar, filho?
-Ah, ocê sabe que não é fácil. Eu não consigo esquecer ela. Nem a dor que acabei causando.
-Melhor mudar de assunto, se isso te maltrata.
-Acho bom, mesmo... mas eu quis voltar, pai. Senti falta do clima daqui. Das pessoas... de tudo.
-Não quer passar um tempo lá em BH? Acho que ocê deve ter saudade de lá.
-Morro de saudade. Mas não acho que vou querer ir pra nossa terra agora.
-Por que?
-Ando com uns planos, pai.
-De que?
-Ainda são secretos. Aliás, nem isso... são ideias que estão surgindo na minha mente e que podem gerar frutos.
-Engraçado, William...
-Ih, pai... não gosto quando ocê me olha com essa cara de desconfiado...
-E você pare de achar que eu nasci ontem. Eu te conheço feito a palma da minha mão, filho.
-Não entendi onde ocê quer chegar.
-Filho... não subestime minha inteligência. Algum motivo forte te trouxe de volta ao Brasil. Não pense que não percebi que no meio da nossa conversa por vídeo ontem, você arregalou os olhos e se apressou pra desligar. Alguma coisa aconteceu. Eu só não sei ainda o que...
-Digamos que ocê tenha razão, pai... cê sabe que eu sou igualzinho a você, não sabe?
-Já vi tudo. Não abre a boca enquanto não quiser.
-Exatamente. Agora chega de bancar o Sherlock Holmes, por favor?
-Sabe o que eu tenho aqui?
-Não vai me dizer que é o que eu pensei...
-Se ocê pensou em vinho do porto, acertou em cheio.
-Sempre prevenido, esse meu pai.
-Eu que não vou ficar sem o melhor vinho que existe na face da Terra, ocê bem sabe disso.
-Eu preparo então aquela massa que casa perfeitamente com o vinho, pode ser?
-Pensei justamente nisso. Só ocê pra dar o ponto certo naquela massa, filho...
-Mas me conta, pai: como foi no final das contas fixar residência aqui pelo Rio?
-Muito mais fácil que imaginei. Nos primeiros dias, morri de saudade de BH, claro... mas deixei essa casa tão com a minha cara que logo eu esqueci dessa coisa de ficar com saudade.
-Que bom...
-Mas me conta, como foram esses meses todos lá em Londres?
-Ah, como sempre...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 2: Ao tomar café da manhã com Sérgio, Mônica decide conversar com ele.
-Amor... eu sei que a hora pode ser complicada, mas acho que a gente precisa de uma conversa séria... e definitiva, sobre nós dois.
-Eu concordo, Mônica... eu te adoro, a gente se dá super bem, mas... às vezes eu sinto falta de algo a mais.
-E faz questão de deixar isso bem claro. Não te julgo por isso... é a sua natureza, Sérgio... só que entra em rota de colisão com a minha. Tem gente que aceita cobranças. Não é meu caso. Não me sinto bem com elas e não admito ser pressionada. Muito menos levada a crer que devo me sentir culpada por supostamente não me doar o suficiente por um relacionamento. Você entende? Eu te amo, Sérgio... mas antes disso, amo a mim mesma. E a vida que eu levo. Não posso simplesmente abrir mão de quem eu sou. Do que é meu, das minhas conquistas pessoais e profissionais.
-É duro admitir isso, Mônica... mas cê tá coberta de razão em cada palavra dita aqui. Eu vim de uma outra realidade... ainda tou aprendendo a ser mais livre. Não aprendi completamente a libertar e talvez isso ainda me custe algum tempo.
-Acho então que nós estamos chegando a uma conclusão em comum, certo?
-Sobre a gente terminar?
-Exatamente.
-Não é o que eu queria... mas preciso aprender a respeitar a sua liberdade.
-Fico feliz que não tenha levado a mal, Sérgio. Eu te amo... mas amo ser eu mesma... e eu tava vendo a hora que eu ia acabar deixando de ser eu mesma em nome da manutenção desse relacionamento.
-Você é a mulher mais incrível que eu conhecei até hoje e eu espero que você saiba disso. Nesses meses todos eu aprendi demais ao seu lado. Muito mais do que você possa imaginar.
-Para que assim cê me faz chorar, Sérgio! Você é um grande homem. Nunca esqueça disso, viu? E um excelente pai...
-É uma pena que não tenhamos dado certo.
-Demos certo sim, Sérgio. A gente deu certo pelo tempo que ficou junto. É isso que conta, no final das contas.
-Você é incrível. Nunca vou cansar de dizer isso. Te amo pra sempre, mas como amigo.
-Fico muito grata por tudo o que a gente viveu, querido... tenho certeza que nós dois aprendemos muito.
-E ganhamos um ao outro. Isso é amizade pra vida toda... eu sei e sinto que é.
-Disso cê pode ter certeza!
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 3: Bernadete estranha quando vê Leopoldo em postura ameaçadora a Flavinho e acaba ouvindo parte da conversa entre eles. Leopoldo está com o dedo em riste na cara de Flavinho.
-Olha aqui, moleque, cê não tem direito de me exigir nada, tá me ouvindo bem?
-E por acaso ocê tinha o direito de fazer o que fez?
-Cê nunca vai entender mesmo, né? Tudo isso foi melhor pra todo mundo.
-Melhor pra quem? Pra sua imagem de cristão perfeito? Me poupe. Quem não te conhece, que te compre, seu Leopoldo! E tem mais uma coisa: é bom você começar a considerar a possibilidade de apressar as coisas. Porque mentira tem perna curta.
-Quem você pensa que é pra me falar sobre mentiras?
-Quem eu penso que sou? Deixa ver... alguém que sempre foi verdadeiro consigo mesmo, quem sabe? Diferentemente de uns e outros nessa casa...
-Você não me desrespeite desse jeito, senão...
-Vai fazer o que, me bater? Em primeiro lugar: eu tenho vinte e oito anos na cara e não sou nenhum moleque. Em segundo lugar: se você levantar a mão, pode ter certeza, que eu não penso duas vezes em colocar a boca no mundo. E nós sabemos quem tem muito a perder por aqui.
Bernadete resolve intervir.
-Ei, que palhaçada é essa aqui? Leopoldo, nunca mais coloque o dedo em riste na cara do Flavinho, tá me ouvindo? - fala Bernadete.
-Bernadete... não precisa me defender. O que eu tinha pra dizer pro seu marido, eu já disse. Aqui não tem moleque nenhum. - fala Flavinho.
-Não acredito que cê vai defender esse viadinho... - fala Leopoldo.
-Lave a boca antes de chamar ele de viadinho. Quem é você pra apontar o dedo pra ele, Leopoldo? Não quero saber se você aprova ou não o comportamento dele, mas exijo respeito! O Flavinho não te fez nada e, me deixa que eu vou te defender sim, meu querido! Isso não pode ser assim, Leopoldo. Não pode! Você não manda aqui dentro. Ou eu vou mesmo precisar lembrar quem é a dona dessa casa? - fala Bernadete.
-Nossa, desculpa, querida... - arrepende-se Leopoldo.
-Que não se repita. Quem dá as cartas aqui sou eu. E quero deixar isso bem claro! - fala Bernadete, firme.
Flavinho vibra. CORTA A CENA.

CENA 4: Nicole estranha desânimo de Cristina.
-O que te deu, filha?
-Ando meio sem vontade de fazer as coisas hoje...
-Pois eu notei... e olha que ainda falta um pouquinho pra reta final da gravidez.
-Não é bem a gravidez que tá me deixando exausta, mãe. É a pressão de tudo.
-Pressão do que, Cristina?
-Ah, difícil de explicar.
-Difícil mesmo, porque sua rotina tá bem tranquila, se comparada a meses atrás. Não vejo onde essa pressão possa estar.
-Tá... não é bem isso.
-Como suspeitei. Alguma coisa me diz que tem a ver mais uma vez com o homem da sua vida...
-Ai, lá vem você com essa merda de chamar o Fábio de homem da minha vida. A hora de parar mandou lembranças, viu?
-Só tou falando verdades.
-Verdades sob o seu ponto de vista. Nada é absoluto.
-Mas é ele o seu grande amor.
-E se for? Não importa mais. Eu nunca soube quem ele realmente é.
-Sabe sim. Só enfiou na cabeça que não sabe. Isso tudo é mais uma questão de orgulho besta, filha... no fundo eu sei que cê sabe disso.
-Ai, mãe... não sei de mais nada.
-Mas sabe que ele te ama. E fica arranjando essa desculpa barata de que a sombra da Arlete ainda existe pra não ter que assumir a bronca de entrar num relacionamento sério com um homem que é mais de quinze anos mais velho.
-Nossa, essa doeu...
-É pra doer. Melhor a verdade que dói na hora do que a mentira que te joga pro abismo.
-Mas você acha que eu tou fugindo, mãe?
-Tenho certeza. A Arlete deixou de ser uma sombra faz tempo. Você usa a memória dela como escudo. Como justificativa pra sua própria covardia, pra sua própria falta de coragem de encarar a vida real. A Arlete virou uma fuga pra você, minha filha... uma fuga segura. Um pretexto que você utiliza pra julgar e condenar o Fábio...
CORTA A CENA.

CENA 5: Flavinho se surpreende ao ver Gustavo chegar à clínica sorridente.
-Bom dia, Gustavo. Viu um ovni?
-Oi? Como assim? Bom dia, Flavinho...
-Com essa cara, parece que viu algo inédito, esse sorriso mal sai daí.
-Ah, é isso? É esperança.
-Uai. Esperança do que?
-Tou sentindo que falta pouco pra Dani voltar pra mim.
-Como assim? Aconteceu alguma coisa?
-Sim.
-O que?
-Ela me chamou pra mais uma happy hour depois daqui.
-Qual a novidade disso? Cês sempre fazem isso... e eu vou junto quase sempre.
-Sim, mas faz quanto tempo que não rola isso?
-Uns dois ou três meses...
-Percebeu?
-Não, não percebi nada... só acho que ocê tá se empolgando demais e antes da hora. Ela é sua amiga antes de mais nada. Talvez só esteja pensando em beber e falar besteira.
-Credo, desde quando ocê virou esse estraga prazeres, Flavinho?
-Estraga prazeres não, realista sim.
-É que eu guardo ainda a esperança de voltar pra ela.
-Percebe-se. Mas vai com calma. A vida pode ter outras coisas esperando por você...
-Impressão minha ou falar nisso te incomodou?
-Nada a ver! A gente tem que trabalhar, né? Então bora...
CORTA A CENA.

CENA 6: Mônica e Raphaela chamam Geórgia para uma conversa. Geórgia vai até as duas, assustada.
-Ai gente, não vai me dizer que o Bruno aprontou mais uma pro Alexandre... - preocupa-se Geórgia.
-Nada disso, boba... - fala Raphaela.
-A gente te chamou aqui pra te dar os parabéns, isso sim! - fala Mônica.
-Como assim? - espanta-se Geórgia.
-Bem, queridas... eu vou precisar dar uma saída, mas fiquem aí conversando que a Mônica explica direitinho... - fala Raphaela.
-Eu sei, Geórgia... você mesma não percebe o que tem feito de bom pelo seu namorado...
-Não percebi mesmo, porque tenho motivos pra ficar de olho vivo, desconfiada.
-Pois não devia. Hoje o Alexandre falou com ele que recusou um trabalho para deixar que ele fizesse. Sabe o que o Bruno respondeu?
-Ai Deus, o que?
-Que não podia aceitar, pois o mérito era do Alexandre. Só aceitou depois que o Alexandre insistiu e afirmou que não era justo alguém talentoso como o Bruno envelhecer sem oportunidades. Vou te dizer uma coisa, Geórgia... até eu que sou meio durona, fiquei comovida. E tenho certeza de que essa mudança dele tem toda a sua participação...
Geórgia fica emocionada. CORTA A CENA.

CENA 7: Elisabete desabafa suas aflições com Maria Susana.
-Eu tenho tentado, amor...
-Tentado o que, Bete? Foi algo que eu esqueci?
-Não, boba... tou falando do preconceito que a gente tem que encarar todo dia. Cansa, sabe?
-Eu queria que fosse menos... juro que queria.
-Sabe, é isso que mata...
-O que?
-Essa sensação de impotência diante de tudo...
-Mas tá valendo a pena, não tá?
-Por você, sempre vai valer a pena.
-Eu queria que fosse mais fácil. Mas a gente ainda tá vivendo sob a ameaça de um novo obscurantismo. Só nos resta resistir.
-E que seja pelo amor...
-Exatamente.
CORTA A CENA.

CENA 8: Mauro estranha quando, ao anoitecer, vê William se arrumando em seu quarto.
-Vai pra balada, filho?
-Não... não gosto da balada de sexta.
-Tá se arrumando todo pra que, então?
-Vou dar umas voltas.
-Isso é muito vago, filho.
-Preciso resolver umas pequenas pendências nada grande. Nem me pergunte o que é que eu não vou responder.
-Não gosto quando ocê fala assim... parece que tá tramando alguma coisa.
-Relaxa, pai. Tá tudo certo.
-Queria acreditar nisso.
-Então pode acreditar.
-Não consigo.
-Dá um voto de confiança no seu filho, faz favor?
-Tá certo... volte logo.
-Pode deixar...
CORTA A CENA.

CENA 9: Flavinho, ao chegar em casa, aproveita que Valéria está amamentando Leonardo e desabafa com a amiga.
-Tem um tempo pra ouvir seu amigo?
-Sempre, Flavinho... tá triste?
-Não é bem triste... mas tou inseguro. Confuso, eu diria...
-Sobre o que?
-Gustavo.
-Eu falei! Eu sabia! Cê tá começando a perceber o óbvio, não tá? Era só uma questão de tempo. Até a Maria Eugênia percebeu o lance entre vocês!
-Maria quem?
-A colega de teatro da Dani, bobo!
-Como que ocê sabe disso?
-Se esqueceu que eu sou amiga da Daniella? Eu hein...
-Valéria... eu não sei o que fazer. Não sei o que sinto. Seu irmão não colabora quando alimenta a esperança de voltar com a Daniella...
-Aaaah, então cê tá com ciúme, é?
-Quer parar?
-Uai, não quisesse que eu falasse, não viesse desabafar...
Flavinho segue aflito. CORTA A CENA.

CENA 10: Bernadete escuta a campainha tocar e, ao atender, se depara com William.
-Querido! Quanto tempo faz que eu não te via!
Bernadete abraça William.
-Nossa, dona Bernadete... a senhora não mudou praticamente nada!
-Ah, pode parar. Tem quase vinte anos que a gente não se vê. Você virou um belo homem, sabia?
-Bondade, a sua. Quando eu envelhecer, vou ficar a cara do meu pai.
-Não seja pessimista!
Os dois riem. De repente, Valéria desce as escadas.
-Bernadete, eu ouvi alguém chegar, quem é? - pergunta Valéria.
Antes mesmo que Bernadete responda, Valéria percebe se tratar de William assim que termina de descer as escadas. Apavorada, Valéria, não diz nada.
-Surpresa em me ver? - questiona William.
FIM DO CAPÍTULO 89.

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