sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

CAPÍTULO 83

CENA 1: Ricardo, ainda assustado, questiona Giovanna.
-O que foi isso, Giovanna? Espatifou o prato no chão...
Giovanna, aos poucos, volta a si.
-Eu tive uma ausência, Ricardo. Não quis te assustar.
-Você tem isso com frequência?
-Não tanta... mas às vezes me acontece.
-Você sabe o motivo?
-Não. Eu sei que fico alguns instantes fora. Mas nunca nenhum médico soube explicar o motivo. Nunca tive nada diagnosticado.
-Cê tá com fome ainda?
-Tou...
-Então faz assim: vai pra sala que eu limpo o chão aqui e cato os cacos de vidro. Eu sirvo sua comida, pode ser?
-Pode ser...
-Vai pra sala. Toma uma água, um vinho... qualquer coisa que te relaxe. Eu venho logo com a sua comida...
Giovanna vai à sala e fica preocupada.
-Eu não posso fraquejar desse jeito. Não agora. Não depois de casar com Ricardo. Ele não merece isso...
Ricardo escuta murmuros de Giovanna.
-Tá precisando de alguma coisa, amor?
-Não. Fica sossegado aí arrumando tudo, Ricardo. Tou só pensando alto...
-Tudo bem...
Giovanna segue atormentada pela cena de Hugo e Valéria juntos, a se repetir em sua mente.
-Se pelo menos eu pudesse apagar da minha memória essa cena horrível! Se eu pudesse esquecer da traição daqueles falsos! Mas não... essa merda tá aqui, martelando, insistindo, me atormentando...
Giovanna toma um gole de vinho, respira fundo e se acalma.
-Chega, Giovanna... você pode controlar esse pensamento. Aqueles salafrários ainda vão ter o retorno justo.
Ricardo chega com o prato de Giovanna.
-Ó, amor... espero que eu não tenha exagerado na quantidade.
-Nada disso, Ricardo... tá ótimo, assim! Bem do jeito que eu costumo me servir. Você é bom observador, viu?
-É o mínimo que posso fazer por você...
Instantes depois, Giovanna afasta o prato.
-Desculpa, Ricardo... perdi o apetite. Acho que fiquei impressionada com a ausência que eu tive.
-Sem problema. Não quer um pouco mais de vinho?
-Eu quero dormir, amor... desculpa. Mas tou quebrada, essa ausência que eu tive me destruiu. Preciso descansar...
-Quer que eu fique com você?
-Não... nem se preocupe. Termina o seu jantar, assiste seu seriado... eu preciso só dormir.
-Fica bem, amor...
-Eu vou ficar. Mas só depois que me acordar...
Giovanna vai ao quarto e se deita. Novamente, em sua mente, vem a imagem de Hugo e Valéria juntos.
-Esses dois... devem estar juntos há muito tempo... antes mesmo da Cristina dar um pé na bunda do Hugo... mas se for isso... e eu descobrir... ah, esses infelizes me pagam! Se for isso, eu nunca mais dou paz pra eles. E eles vão se arrepender do dia que resolveram me passar a perna. Ah, se vão!
Giovanna treme de raiva. CORTA A CENA.

CENA 2: Guilherme procura Érico.
-Tá podendo conversar?
-Sempre!
-Então... sabe o que é? Eu andei pensando em muita coisa. No que você sente por mim... em nós dois.
-Como?
-Érico... eu não quero te iludir, mas... eu me sinto atraído por você.
-Pelo menos sente alguma coisa, né... isso me faz feliz.
-Só que isso pode dar problema.
-Por que? Cê acha que eu posso criar expectativas?
-Tenho quase certeza disso. Você tem um sentimento mais profundo por mim. Um sentimento que eu não sou capaz de corresponder agora.
-Mas você me deseja, não me deseja?
-Sim! Mais do que eu imaginei, inclusive.
-Então qual é o problema da gente tentar?
-O problema é que você pode sair machucado disso. E isso eu não quero causar.
-Gui... eu quero tentar.
-Cê tá ciente que eu não te amo, certo?
-Tou.
-A gente pode ficar. Mas eu não quero que isso dê espaço pra você criar expectativas que possam te machucar de alguma forma.
-Machucado eu vou estar se não permitir quebrar meus próprios paradigmas.
-Como assim, Érico?
-Preciso vencer minhas limitações. Encarar meus fantasmas de frente, em vez de fingir que eles não existem.
-Sei não... eu fico com medo por você.
-O arrependimento vai ser maior se eu não permitir essa tentativa.
-Cê tem certeza disso?
-Eu ando seco por um beijo seu há tanto tempo que só de saber que vou ter a oportunidade de te tocar, de te ter junto a mim, já vale qualquer abismo que eu encontre pela frente.
-Eu fico com medo de ser culpado por alguma dor que você venha a sentir.
-Guilherme... presta atenção... se eu me machucar, a responsabilidade é minha. E vai valer a pena. Melhor que não tentar.
-Érico... eu te adoro. Você é realmente incrível, atraente e tudo mais...
-Relaxa, Gui. Não precisa justificar.
-É pra ter certeza de que estamos jogando limpo.
-Já ficou bem claro, isso.
-Fico tranquilo, porque...
-Cala a boca, Guilherme.
Érico beija Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, Hugo se espanta ao ver Giovanna na agência.
-Ué... pensei que cê tava de férias. E o seu marido, não veio?
-Nada. Ricardo teve que resolver umas coisas. Tou de férias, sim... mas vim aqui ver umas coisas. Surpresa fiquei eu... você não disse que tava se desligando daqui?
-E estou. Mas esse é um desligamento gradual. Vai levar algum tempo.
-Ainda bem, né?
-Bom pra quem?
-Pra toda a Natural High, ué... ou você acha que essa agência vai ser a mesma coisa sem você?
-Vai ser diferente, mas isso não significa que não vá melhorar.
-E quem é que vai ficar com as suas ações? Você é o majoritário aqui.
-Isso ainda é cedo pra dizer. Nem eu decidi ainda. Esse é um dos motivos pelo qual não me desligo imediatamente.
-Quem sabe ainda dê tempo.
-De que?
-De você desistir dessa ideia de deixar a agência.
-Giovanna... eu trabalho aqui desde antes dos meus vinte anos. É tempo demais. Eu preciso respirar novos ares.
-Engraçado. Parece que tem alguém fazendo a sua cabeça.
-Não, Giovanna... quem fazia isso era você. Mas agora cê tá casada, né? Então deve estar tranquila.
-Claro que eu tou tranquila. Mas a Natural High só é o que é porque você ajudou na construção do que ela é hoje, desde o começo, na construção da imagem e da reputação da nossa agência.
-Mas as coisas mudam, cedo ou tarde.
-Não precisava ser tão cedo, você não acha?
-Você acha cedo? Eu não acho.
-Bem, olhando por esse lado... mas Hugo, eu queria te pedir pra reconsiderar. Essa agência precisa de você.
-Tenho feito o possível para que não precise mais. Pra poder me desligar com tranquilidade.
-Então não tem chance de voltar atrás, mesmo?
-Isso é fora de cogitação, Giovanna. Estou deixando a agência.
CORTA A CENA.

CENA 4: Horas depois, Giovanna chega em casa e Ricardo a recebe.
-Oi, amor!
-Não sabia que cê tava em casa já, Ricardo...
-Demorou pouco o que eu tinha a fazer. Quer um café? Acabei de passar.
-Por favor, querido... estou seca por um pouco de cafeína com gosto de cafeína.
-Eita. Impressão minha ou não te fez bem ir à agência?
-Nem um pouco. Cê acredita que o Hugo tá mesmo disposto a se desligar?
-Ué... mas é um direito dele, não?
-Ricardo... e quem vai ser acionista majoritário no lugar dele, posso saber?
-Bem, isso é da conta dele.
-Seria se não fosse impactar em todos nós, como equipe.
-Olhando por esse lado... realmente.
-Tá percebendo como isso pode ser negativo pra todos nós?
-Mas Giovanna... faz mais de dez anos que o staff da Natural High é praticamente o mesmo. Não seria a hora da gente experimentar pra ver como vai ser com uma mudança nesse quadro?
-E você acha que a hora é agora?
-Por que não?
-Ainda somos uma empresa jovem no ramo.
-Mas a mais conceituada. Preciso mencionar quantas vezes fomos top of mind nos últimos anos?
-E quem é que contratou a agência de publicidade responsável por tudo isso, mesmo?
-O Hugo... touché.
-Tá percebendo que ele é fundamental pra continuidade do nosso sucesso?
-Talvez se a gente conversar com ele...
-Cê acha que não tentei falar com ele hoje?
-Mas amor, uma coisa é só você falar. Outra coisa é a gente parar e conversar com ele. Pode ser que ele reconsidere e desista de se desligar da Natural High, entendeu?
-Entendi... cê tem razão, querido. Vamos fazer isso quando pudermos...
CORTA A CENA.

CENA 5: Margarida percebe que Carla está bem disposta.
-Coisa boa te ver assim, filha! Por um momento confesso que tive medo de como ia ser depois da sua conversa com o Gustavo...
-Sabe que até eu tou surpresa com o tanto que tenho me sentido bem, mãe?
-Por que, filha?
-Desde que ele conversou comigo e explicou com delicadeza que não podia corresponder ao meu sentimento... eu me senti bem.
-Se sentiu bem? Essa é nova. Cansei de ver o tanto que você sofreu com rejeição...
-É aí que tá, mãe... não foi rejeição. E eu não entendi como rejeição.
-Tou passada, Carla... nunca esperei essa reação de você, filha.
-Acho que a gente amadurece emocionalmente com o tempo. Mesmo quando se é canceriana na vida. Eu resolvi encarar de frente tudo isso... me libertar. Eu decidi me sentir assim, liberta de tudo. E é assim que eu gosto de estar: livre. Livre de mim mesma, das minhas próprias armadilhas. Livre pra ser, estar, amar, querer sem exigir nada além do que eu posso conceder a mim mesma.
-Que lindo, filha! Fico orgulhosa por você ter alcançado essa compreensão das coisas...
-Não vejo razão pra orgulho, mãe... cedo ou tarde eu acordaria pra essa realidade. Pior seria viver na dúvida e estagnar, parar no tempo...
CORTA A CENA.

CENA 6: Sérgio conversa com Mônica, em seu apartamento.
-Amor... eu tava pensando numa coisa.
-No que, querido?
-Cê tem direito a algumas folgas lá na Natural High, certo?
-Sempre que quiser... por que?
-Porque eu tava pensando que a gente podia fazer algo juntos. Só nós dois.
-Algo? Mas o que seria esse algo? Muito genérico... pode significar milhares de coisas...
-Você tem mais tempo agora que não tá cobrindo o Ricardo, certo?
-Sim.
-A gente podia viajar, só nós dois.
-Pra onde?
-Qualquer lugar. Até Angra tá valendo.
-Ai, Sérgio... eu não sei.
-Ah, Mônica... pelo amor de Deus!
-Tá, eu sei... eu tenho mais tempo agora, mas as coisas também não são assim.
-E são como, posso saber?
-Tem meus pupilos.
-Que se viram maravilhosamente, orientados pela Raphaela. Ou tou mentindo?
-Não. A Raphaela é ótima. Minha sucessora natural com certeza...
-Então qual é o drama?
-Eu preciso me certificar constantemente que tá tudo em ordem com eles.
-Mônica... você não é mãe deles.
-Mas sinto como se fosse. É meu jeito de compensar não ter podido ser mãe de verdade nessa vida.
-Tenta pelo menos se desligar deles?
-Não sei se consigo, Sérgio. Eu realmente não sei.
-Eu pensei que você se esforçaria mais por mim.
-Sérgio... não faz assim, amor... cê sabia muito bem onde tava se metendo quando se envolveu comigo. Vamos aproveitar o aqui, o agora. A gente tá junto, não é o que importa?
-É...
CORTA A CENA.

CENA 7: Maria Susana se preocupa com Miguel quando ele não termina sua refeição.
-Termina de comer, filho...
-Não consigo, mãe...
-O que tá acontecendo, Miguel? Desde que chegou do colégio, tá com essa cara amarrada...
-O ridículo do Rudi.
-De novo esse seu coleguinha implicante? O que foi agora? Ele encrencou com seu cabelo de novo?
-Não. Dessa vez ele falou besteira de você e da sua amiga, mãe.
-De mim e da Bete?
-É.
-O que esse fedelho falou, filho?
-Chamou vocês duas de aberração.
-Como é que é? E o que você fez?
-Bati nele.
-Filho! Não é com violência que se resolve essas coisas. Ninguém te mandou pra direção?
-Não, mãe. Nenhuma professora viu...
-Menos mal, Miguel. Mas vê se entende que não é com violência que se revida a violência dos outros, tá?
Maria Susana tenta consolar o filho, mas fica preocupada. CORTA A CENA.

CENA 8: Instantes depois, Maria Susana conversa com Elisabete.
-Desculpa ter chamado você de última hora, amor...
-Que isso, querida... bastou você chamar, eu venho.
-Bem, cê deve imaginar a urgência disso tudo...
-Tenta ficar tranquila, Susi...
-Não sei se consigo. Miguel foi insultado por um coleguinha. Se chegou a acontecer isso, os pais desse menino estão ensinando ele a ser preconceituoso, entende?
-Justamente. A culpa não é nem do menino, mas dos responsáveis por ele.
-Você fala de um jeito, amor... parece que já esperava por isso.
-E já esperava, mesmo.
-Cuma?
-Isso mesmo. Eu imaginei que cedo ou tarde, a gente ia acabar sentindo na pele o preconceito...
-É... ainda mais nesses tempos sombrios, quase obscurantistas.
-Ei, vira essa boca pra lá que nem tudo tá perdido, viu?
-Ai, só você pra me animar...
-A gente vai encontrar um jeito de contornar isso. Cê vai ver.
CORTA A CENA.

CENA 9: Horas mais tarde, Ricardo e Giovanna batem na mansão dos di Fiori. Bernadete abre a porta e se surpreende ao ver Giovanna.
-Você aqui? - espanta-se Bernadete.
-Sim, por que a surpresa? - pergunta Giovanna.
-Achei estranho. Não avisou que vinha... - fala Bernadete.
-Eu falei pra Giovanna que a gente devia ter avisado... - fala Ricardo.
-Relaxa, Ricardo... você é bem vindo aqui. Entrem, por favor... - fala Bernadete.
Assim que Giovanna e Ricardo entram, Bernadete fala com Giovanna.
-Você podia me dar um momento, Ricardo? Preciso falar a sós com Giovanna... - fala Bernadete.
Giovanna chega com Bernadete até o quintal.
-Não entendi o que você precisa falar comigo, Bernadete...
-Só vim te dizer que eu já sei de tudo.
-Tudo? Tudo o que, querida? Não entendi...
-Mas vai entender logo.
-Tou mesmo doida pra entender isso...
-Eu sei de tudo o que você fez com o Hugo nos últimos anos. Sei do caso de vocês. Eu sei de tudo, absolutamente tudo! E só não meto a mão na sua cara agora porque, ao contrário de você, eu sou fina!
Giovanna se assusta. FIM DO CAPÍTULO 83.

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