sábado, 18 de fevereiro de 2017

CAPÍTULO 84

CENA 1: Giovanna fica perplexa, mas procura manter a calma diante de Bernadete.
-Eu posso explicar tudo isso. Quem foi que te contou tudo, o Hugo? Bernadete, eu preciso que você entenda que eu sempre amei seu filho...
-Amou? Que amor é esse que impõe tantas condições? Que se esconde? Que gosta de viver na clandestinidade?
-Eu juro que tudo isso tem um porque...
-Só se for na sua cabeça doentia, Giovanna. Tudo isso é abjeto demais!
-Abjeto? Eu só queria ser livre.
-É isso que você entende como liberdade? Mandando nos relacionamentos do meu filho?
-Isso que ele te contou é distorcido, não é verdade.
-Olha bem pra minha cara e vê se eu sou trouxa, Giovanna... cê acha que eu vou acreditar no meu filho ou em você?
-Mas, Bernadete...
-Mas o que?
-Eu nunca quis causar problemas.
-Será? E por que queria o Hugo sempre no seu domínio?
-Porque eu sei das coisas da vida. E sabia o que era melhor pra ele. Eu não sei pra que falar nisso tudo agora, sabe? Não percebe que eu tou casada com o Ricardo? Eu encontrei um amor que me fez ter vontade de casar. Você devia ter percebido que isso mudou minha vida.
-Não me interessa nem um pouco saber se você mudou ou não. Me interessa saber o que você fez, porque isso não tem volta.
-Pensei que você tivesse voltado melhor da cirurgia.
-Esperava o que, que eu virasse santa?
-Não, mas que fosse mais compreensiva.
-Isso eu sempre fui. Mas não sou obrigada a ser conivente com gente que não tem caráter.
-Você tá insinuando que não tenho caráter?
-Não insinuo nada, querida, eu afirmo: você é mau caráter.
-Mais direta que um tapa na cara...
-Tá vendo por que eu não preciso bater? É por isso.
-Posso voltar pra sala, pelo menos?
-Não antes de eu dizer tudo o que tá preso aqui na minha garganta.
-Pois fale, você não é a dona dessa casa?
-Mais uma ironia dessas e eu te expulso da minha casa. Aliás, só não fiz isso até agora por respeito ao seu marido, que é um bom homem e não tem culpa das merdas que você fez com o meu filho e com as mulheres com quem ele se relacionou.
-Mas ele te contou tudo?
-Tudinho.
-Ele não podia ter feito isso...
-Vai fazer o que, Giovanna? Se vingar?
-Não... longe de mim. Só me senti traída...
-Nada mais justo que uma traidora ser traída, não é mesmo? Agora as coisas pelo menos estão mais justas. Você não é mais bem vinda nessa casa. Depois que a sua visita com o Ricardo acabar, não volte mais aqui, tá me ouvindo? Nunca mais!
-Pode deixar. Eu não vou me humilhar pra uma dona da verdade feito você.
Bernadete deixa o pátio e Giovanna treme de raiva.
-Aposto que isso é coisa daquela vagabunda mineirinha... aposto! Mas a Valéria me paga... ah, se me paga!
CORTA A CENA.

CENA 2: Meses depois. Valéria sente as dores do parto e Hugo a acode.
-Amor... eu acho que chegou a hora do nosso bebê nascer.
-De novo isso, Valéria? Faz duas semanas que a gente tá nessa de nasce, não nasce. Tem certeza que não é alarme falso?
-Hugo, pres'tenção no que tá acontecendo aqui, faz favor? A bolsa acabou de romper, olha pra baixo caramba!
-Ai, meu Deus! O que é que eu faço agora?
-Pega o carro, tira da garagem e me leva pro hospital, né! O bebê vai nascer e é hoje!
-Mas não dá pra gente avisar a mãe e o pai antes?
-Ocê acha dá tempo? Eles devem estar ocupados cuidando do jardim, não vão ver nem a gente passando. Avisa eles quando a gente estiver a caminho ou já no hospital. Anda de uma vez que as contrações estão me matando, por favor?
-Ai... isso é normal?
-Deve ser, uai! Para de ficar nervoso que eu fico nervosa também, Hugo!
-Tá... eu vou buscar o carro. Não acha melhor vir comigo? Pra gente poupar tempo.
-Eu vou. Mas ocê trate de não bambear essas pernas porque senão eu te parto a cara se eu cair!
-Tá, tá... eu vou segurar bem. Agora vem comigo!
CORTA A CENA.

CENA 3: Flavinho chega até onde está Gustavo, correndo.
-Nossa, Flavinho! Quer assustar as crianças?
-Gustavo, vem cá no corredor rapidão que eu preciso falar com você.
-Fala, Flavinho... tá me assustando!
-Calma, não é pra se assustar, uai!
-Então por que você chegou aqui correndo e sem fôlego?
-Gustavo, faz as contas... que dia é hoje?
-Vish... é a mana?
-Sim. Seu sobrinho vai nascer!
-Ai meu Deus...
-Eita. Não esperava que ocê fosse ficar tenso.
-Quando é a irmã da gente que vai ter filho a coisa muda de figura, né...
-Acho que a gente podia pedir pra Cris liberar a gente, né?
-Eu tenho certeza. A gente vai agora falar com ela.
Gustavo e Flavinho chegam à sala de Cristina.
-Nossa, gente... pra vocês entrarem sem bater e eu quase colocar minha filha pela boca, deve ser algo urgente... tá tudo certo com as crianças? - espanta-se Cristina.
-Desculpa, Cris. Mas a minha irmã acabou de entrar em trabalho de parto... - fala Gustavo.
-E a gente queria obviamente uma liberação sua, pra poder acompanhar tudo lá no hospital. - fala Flavinho.
-Claro, queridos. Sem dúvida que esse momento é importante pra vocês. Deixem seus cartões ponto comigo que eu refaço os horários no sistema, tudo bem? - fala Cristina.
-Ótimo. Obrigado por tudo, Cris... - fala Gustavo.
-Não tem o que agradecer. Tratem de se mandar daqui e depois me contem tudo! - finaliza Cristina.
CORTA A CENA.

CENA 4: No trabalho, Giovanna se diverte com piadas de Ricardo.
-Inacreditável...
-O que, Giovanna?
-Que eu tenha perdido tanto tempo da vida sem perceber a joia rara que você é, Ricardo... me sinto honrada em ser sua esposa.
-Nada a ver, Giovanna... eu que tenho a maior sorte do mundo de ter te encontrado.
-Você teve paciência comigo, Ricardo. Uma paciência que ninguém mais teria.
-Sabe o que é? Eu sempre vi seus potenciais. Antes mesmo de você.
-Eu aprendi a te amar com os meses. E te amo demais, agora... mas você sabe que sou sincera, não sabe?
-Claro que sei, Giovanna... e admiro isso em você.
-Então você sabe que quando a gente se envolveu e se casou, eu ainda não te amava. Esse sentimento foi sendo construído... e hoje eu nem consigo imaginar minha vida sem você, sem seu senso de humor, sem suas piadas sem noção que de tão idiotas, me matam de rir... acho que você é, no fim das contas, o homem da minha vida...
-Isso me dá algumas ideias, sabe?
-Que ideias?
-A gente podia tentar engravidar... o que cê acha?
-Ah, Ricardo... eu nunca pensei em ter filhos. Eu realmente não sei se eu quero... não me sinto preparada pra ser mãe... desculpa.
CORTA A CENA.

CENA 5: Daniella, que está auxiliando Cristina na clínica para cobrir a ausência de Gustavo e Flavinho, é surpreendida pela chegada de Madame Marie.
-Eita! Quanto tempo, Madame Marie... querendo falar com a Cris?
-Não, querida... hoje minha conversa é com você. Não se preocupe: eu sei que cê tá com pressa. Nosso papo não demora tanto assim.
-Ai... desse jeito, chega a me assustar.
-Você me conhece desde criança, Daniella... sabe que só procuro vocês quando preciso comunicar algo. Mas nunca é motivo pra haver medo e você sabe muito bem disso.
-Racionalmente, eu sei...
-Então é o que importa. Eu vim te confirmar que sua história com Gustavo ainda não acabou.
-Mas é claro que não acabou, Madame... ele é meu amigo pra toda vida...
-Não é só nesse sentido que tou falando e você sabe disso.
-Não vejo como. Ele está se envolvendo cada vez mais com Flavinho, só os dois turrões que ainda não admitiram isso a si mesmos.
-Tudo isso tá em aberto ainda, Daniella... e Gustavo vai precisar demais do seu apoio, ainda. Disso você pode ter certeza.
-Mas em que sentido?
-Logo você vai saber, querida... muito em breve.
-Bem, se você disse isso... já sei que não devo questionar nada além do que já foi dito.
-Exatamente. Querida, eu preciso ir agora...
-Tudo bem... ainda tenho que segurar as pontas dos meninos, por aqui.
-Fica com Deus, pimentinha...
Madame Marie vai embora e Daniella fica pensativa a respeito do que foi conversado. CORTA A CENA.

CENA 6: Gustavo fica tenso com a demora em receber notícias de Valéria e Flavinho percebe.
-Quer fazer o favor de sacudir menos essa perna que eu tou ficando nervoso igual. Gustavo?
-Tá tão na cara assim?
-Só tá faltando ocê arrancar a mandíbula com as próprias mãos.
-Sabe o que que é?
-O que?
-Tá demorado demais esse trem...
-Relaxa, Gustavo. Cê tá cansado de saber que parto é um troço que não tem tempo certo de duração...
Nesse instante, Hugo chega, preocupado. Gustavo percebe.
-Hugo... tá tudo certo? - pergunta Gustavo.
-Deu complicação no parto, gente. Eles estão fazendo o possível pra manter tudo estabilizado, mas a Valéria teve uma alta de pressão de última hora... - explica Hugo.
-E ocê fala isso nessa calma? - espanta-se Flavinho.
-Isso é grave! - exclama Gustavo.
-Cês dois querem fazer favor de se acalmar? Não tem nada que a gente possa fazer a não ser esperar que tudo dê certo e que os médicos saibam reverter a situação, salvando a Valéria e nosso filho. Então tratem de colaborar e se acalmarem, porque eu mesmo tou morto de aflição, mas preciso me manter firme, então conto com a colaboração de vocês. - sentencia Hugo.
CORTA A CENA.

CENA 7: Durante parto, Valéria, ainda consciente, porém em estado de choque, vê uma imagem se formar em sua frente. Aos poucos, percebe se tratar de Leonardo.
-Leonardo? Como é que ocê veio parar aqui? Eu tou partindo?
-Não, sua boba... eu vim pra te dizer o contrário disso.
-Uai, agora é que não tou entendendo. Só quero que meu bebê se salve... só isso.
-E ele vai se salvar. Pode acreditar.
-Mas então por que eu tou passando por tudo isso? Se eu não tou partindo, nem ele... o que é que há?
-O que há é simples. Não nos despedimos.
-E como é que ocê sabe que eu senti falta disso?
-Eu sei das coisas, de onde eu estou. Eu aproveitei esse momento, já que eu tive a permissão de vir aqui te tranquilizar e dizer que tudo vai ficar bem, pra poder me despedir de verdade de você, minha amiga.
Valéria se emociona.
-Se tudo isso for verdade e eu me salvar junto com meu filho, pode ter certeza que eu vou dar o seu nome a ele. É o mínimo que posso fazer, em gratidão a esse momento...
-Faça o que seu coração sentir que deve. Agora trate de se tranquilizar e confiar na proteção que você tem.
CORTA A CENA.

CENA 8: Hugo tenta manter Gustavo e Flavinho tranquilos. Bernadete e Leopoldo estão concentrados, de olhos fechados, em oração.
-Gustavo... vê se colabora, cara... - fala Hugo.
-Tou tentando, Hugo... mas é a minha irmã. Dá medo, sim. - fala Gustavo.
-Um medo que eu como amigo também sinto... ainda mais depois de tudo o que a gente já passou, das tragédias que viveu... - fala Flavinho, preocupado.
-Nem fala. Eu tou tremendo feito vara verde só de pensar na possibilidade de acontecer alguma coisa com a Valéria e com o bebê... você é forte, Flavinho... e quero que você saiba disso... - fala Hugo.
-Todos nós somos fortes à nossa maneira... eu não me sinto forte. Não tive outra opção a não ser encarar tudo... - fala Flavinho.
-Acho que a gente nunca se vê como realmente é... quem olha de fora às vezes tem uma dimensão do que somos ou do que representamos... - divaga Gustavo.
O médico se aproxima.
-Familiares de Valéria Varela de Andrade, por favor? - fala o médico.
Hugo, Bernadete e Leopoldo ficam tensos. Flavinho apoia Gustavo. Hugo é o primeiro a falar.
-E então, doutor? Como foi tudo? Já acabou? - pergunta Hugo.
-Foi difícil, tanto para mãe quanto pro bebê... mas está tudo certo, agora. O menino nasceu e é um bebê muito forte. A mãe passa bem, depois que a pressão arterial foi devidamente estabilizada. - fala o médico.
Todos se abraçam, aliviados. CORTA A CENA.

CENA 9: Fábio surpreende Cristina entrando sem se anunciar em sua sala.
-Quantas vezes eu vou ter de dizer que cê tem que avisar antes de aparecer aqui? Bater na porta também é de ótimo tom, viu seu libriano de araque?
-Só queria saber como você tá. E nossa filha também...
-Eu vou ótima. Nossa filha, melhor ainda. Mas precisava vir aqui me ver? Essas perguntas podiam ter sido por telefone, mensagem de voz, chamada de vídeo... meios não faltam.
-Eu pensei que você estivese mais tranquila em conviver comigo.
-Não se trata disso, Fábio. Se trata de querer paz e sossego no final da gravidez, se for possível. Em pouco tempo eu entro de licença. Eu só quero garantir que nossa filha nasça saudável, que tudo corra na maior tranquilidade possível. Querendo ou não, a sua presença ainda me inquieta.
-Não é minha intenção... desculpa.
-Sei que não é. Você não me deve desculpas. A responsabilidade disso é minha e eu sei disso... mas por favor... pense duas vezes antes de vir sem avisar. É só isso que peço. Tudo o que não quero agora é me sentir sufocada...
CORTA A CENA.

CENA 10: Horas depois, Bernadete, Leopoldo, Hugo, Gustavo e Flavinho vão ao quarto visitar Valéria, que amamenta seu filho pela primeira vez.
-Que susto você nos deu, amor... tive medo que alguma coisa acontecesse com vocês... - fala Hugo.
-É ruim de acontecer alguma coisa. Sou vaso ruim, não sabia? - fala Valéria.
-Deus é perfeito, mesmo... - fala Leopoldo.
-É, mas não foi Deus que salvou, foram os médicos... - fala Bernadete.
-Ei, gente... foi um conjunto dos dois, pode ser? Assim fica tudo certo. Gente... aconteceu algo lindo comigo. Um trem que eu nem sei explicar direito. Eu tava meio fora do corpo, quando me deu a complicação... mesmo sem perder a consciência eu sei que eu falei com o Leo... e aquilo foi real. Eu sei que foi. Eu sinto. E é justamente por causa dessa certeza que eu tenho que eu decidi que meu filho vai se chamar Leonardo. É esse que precisa ser o nome dele. - fala Valéria.
Bernadete se emociona fortemente. FIM DO CAPÍTULO 84.

Nenhum comentário:

Postar um comentário