terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

CAPÍTULO 74

CENA 1: Cristina se surpreende ao constatar que Fábio já sabe da verdade.
-Quem te contou isso? Foi a Bete, não foi? Poxa vida! Eu confiei nela! Achei que ela fosse minha amiga!
-Ninguém me contou, Cristina. A Bete é sua amiga de verdade, se você quer saber.
-Então cê me jogou um verde? Canalha! E eu caí...
-Não, Cristina! Presta atenção, por favor... eu escutei acidentalmente uma conversa da Bete com nosso filho. Eles não sabiam que eu tava ali ouvindo.
-Meu Deus... e agora? Eu tou perdida...
-E agora pergunto eu. Até quando você pretendia esconder de mim que eu vou ser pai mais uma vez?
-Não foi uma decisão fácil...
-Decisão? Você chama isso de decisão? Que espécie de monstro você se tornou, Cristina? Me esconder um filho! É demais pra mim... eu realmente não esperei que você fosse ser capaz disso.
-Tenta me entender, caramba! Cê tinha ido pra Inglaterra, cacete! Eu nem sabia quando você voltava. Nem se voltaria. Como é que eu ia interferir nos seus planos por causa de um bebê? Sem falar que a gente já tava separado.
-Mas eu voltaria pra você assim que soubesse!
-Fábio... é por isso que não dá pra gente conversar direito. O fato de eu estar esperando um filho seu não implica que tenhamos que reatar.
-Mas eu tenho direito de ser pai dessa criança.
-E eu estou dizendo o contrário, por acaso?
-O que você quer que eu pense?
-Tá... eu sei. Não facilitei nem um pouco. Mas você precisa entender...
-Entender o que?
-Que eu tava planejando assumir essa criança sozinha.
-Até quando cê pretendia esconder essa gravidez de mim?
-Você quer a verdade ou uma mentira bonitinha?
-A verdade, por mais que doa.
-Eu não ia te contar. Ia dar um jeito de esconder. Mentiria se fosse preciso, que a criança não era sua...
-Sério?
-Seríssimo. Mas no final das contas, foi melhor assim. Sempre fui uma péssima mentirosa.
-Você não tinha esse direito...
-Ei, baixa a sua bola aí! Você não descobriu tudo? Eu tou grávida. O bebê é seu. Satisfeito?
-Você acha que isso é suficiente?
-Sei que não. Mas é o que tem pro momento.
-Quando foi que você se tornou essa pessoa dura e cruel, que eu não percebi?
-Quando precisei me defender de tudo que tava se opondo a mim nessa vida, Fábio. Não tive escolha.
-Só que... quando isso envolve uma criança, não é uma simples questão de escolha.
-Aonde você quer chegar exatamente quando me diz todas essas coisas, Fábio?
-Na parte que eu sou pai desse bebê.
-E eu tou negando isso? Não tou entendendo você, sério...
-Isso significa que eu tenho direito de ser pai dele.
-E eu tou negando a você o direito de ser pai dessa criança? Ora, faz favor! Essa criança ainda é um embrião dentro de mim e você já tá olhando lá pra longe? Me poupe...
-Lá pra longe é daqui no máximo sete ou oito meses, Cristina. Você sabe disso. Eu tenho direito de registrar esse bebê como meu filho.
-E se eu não quiser?
-Daí a gente vai ter de recorrer à justiça. E algo me diz que você não vai querer isso.
-Eu preciso de um tempo.
-Quanto tempo?
-Eu não sei,
-É bom que saiba. Porque eu não abro mão de ser pai outra vez. E vou lutar por isso.
-Eu sei... é seu direito. Logo eu te dou uma resposta definitiva sobre isso, tá?
-Vou embora... mas eu volto pra gente conversar sobre isso.
CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, durante café da manhã, Nicole critica postura de Cristina diante de Fábio.
-Francamente, minha filha, francamente!
-Ué, eu pensei que você ia ficar do meu lado depois que eu contei tudo.
-Eu ficaria se soubesse que cê tava fazendo o certo, mas não... tá tudo errado, Cristina... tudo errado, minha filha... o Fábio é pai do bebê. Tá mais que certo de exigir os direitos dele.
Daniella desce e escuta a conversa.
-Bom dia, mãe, bom dia Cris... olha, eu escutei um pouco da conversa. Vou ter que defender a Cris... - fala Daniella.
-Sempre assim. Vocês sempre se defendendo. - lamenta Nicole.
-Mãe... para e pensa com calma... a mãe da criança é e sempre vai ser a Cris. Quem é que decide o que faz ou deixa de fazer em relação a ela? - pergunta Daniella.
-A Dani tem razão, mãe... eu sei que tudo deu errado e saiu de um jeito torto. O Fábio acabou descobrindo por acaso da minha gravidez. Não era pra ele saber agora. - fala Cristina.
-E ele ia saber quando, filha? Em trinta e um de fevereiro, o famoso dia de são nunca? Presta bem atenção, Cristina... ele tem direito de ser pai. Isso não pode ser negado. - fala Nicole.
-Mãe... eu sei que você também tem razão. Mas eu não tenho nada com ele, entende? Nenhuma relação estável, nada que nos prenda. É óbvio que ele vai acabar registrando a criança porque é dele. Mas meu medo é que ele queira participar demais da vida dela. Ou mesmo que queira tomar meu bebê de mim. - divaga Cristina.
-Nossa, mana... agora até eu acho que você pegou bem pesado na paranoia. Não é pra tanto, Cris! O Fábio é um bom homem. Você sabe disso melhor que eu! - fala Daniella.
-Aí, tá vendo, filha? Até sua irmã, que sempre te defende, percebe que você pode ter agido errado... - fala Nicole.
-Também não é por aí. Esse bebê é filho da Cristina, antes de mais nada. Espero que isso tenha ficado suficientemente claro, mãe... - fala Daniella.
-Não... isso é evidente que pra mim sempre foi claro. O que não acho justo é impedir o Fábio de exercer o ofício de pai dessa criança... - fala Nicole.
-Então eu espero que você saiba entender, mãe... não tem sido fácil pra mim. E vou dizer que conhecer um pouco mais da família e da história da Arlete me fez um bem danado que eu nem pensei que pudesse fazer. Só que a sombra dela é algo muito presente ainda, entre mim e o Fábio. Isso não pode ser ignorado. Não enquanto essa sombra me atrapalhar da maneira que me atrapalha. Eu preciso de tempo... a minha gravidez tá só no começo e eu nem sei se ela chega ao fim, sabe? Esse era um dos motivos que me impediam de falar pro Fábio, porque não era pra ele saber agora. Não até eu chegar ao quarto mês da gestação e ter mais certeza de que não vou perder o bebê... - fala Cristina.
-Sou obrigada a concordar, filha... olhando por esse lado, nem tenho como discordar... - fala Nicole.
As três seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Bernadete conversa com Leopoldo no quarto, antes de descerem para o café da manhã.
-Querido... acho que a gente tá precisando esclarecer algumas coisas. E não é de hoje...
-Como assim, Bernadete? Foi algo de errado que eu fiz ou disse?
-Não, Leopoldo... não necessariamente. O que talvez esteja errado é a situação.
-Ainda não entendi.
-Nós nos acomodamos, querido... e não é algo que vem de hoje. É uma acomodação que veio se espalhando na nossa relação já faz alguns anos.
-Onde exatamente você pretende chegar com isso?
-No óbvio, Leopoldo... no fato de que nós não estamos funcionando como casal há um bom tempo. E você sabe muito bem disso.
-Não entendo o motivo disso tudo.
-Como que não entende, Leopoldo? Tá na cara que nós não funcionamos como casal. Há quanto tempo a gente não transa?
-Mas eu pensei que você não tivesse mais vontade disso...
-O problema é esse. Você, sempre católico demais, pensou que depois de um certo tempo eu tinha virado sagrada. Mas eu ainda sou mulher. E sinto falta de certas coisas, sabe?
-Mas Dete... você já está com quase cinquenta anos!
-E deixei de ser mulher por causa disso?
-Não, mas é que...
-Leopoldo, olha pra gente. O que existe de concreto, além de uma grande amizade e um grande companheirismo entre nós?
-Mas isso não é suficiente?
-Não pra mim. Eu preciso de mais que isso. Eu ainda sou jovem... e ainda tenho uma vida inteira pela frente, sabe? Sinto essa necessidade depois que me salvei da morte.
-Só que eu fui ensinado que um casamento nunca deve ser desfeito.
-E você acha isso justo comigo? Acha justo com você? Não acredito que você esteja feliz assim...
-Talvez eu não precise tanto da felicidade.
-Precisa sim. Só se desacostumou a ter na sua vida...
CORTA A CENA.

CENA 4: Humberto vai atrás de Guilherme quando ele está na parada de ônibus.
-Ah, não... olha, pai... eu não quero ter uma conversa difícil agora. Daqui uns quinze minutos chega minha condução pra universidade.
-Eu só queria saber se a gente podia levar um papo hoje... eu vim desarmado. Já passou alguns dias... eu respeitei isso.
-Tá certo, pai. Eu já nem tou de cabeça quente.
-Isso significa que você pode voltar pra casa?
-Ainda não...
-Ué, mas você disse que...
-Entende uma coisa, pai... enquanto você for duas caras do jeito que se acostumou a ser na vida, fica realmente difícil.
-É duro ouvir de você que sou isso daí.
-É mentira, por acaso? Foi jogo duplo o que você fez, durante anos.
-Mas não foi minha intenção, filho...
-De bem intencionado, o inferno tá com superlotação, pai...
-Eu pensei que você estivesse menos magoado.
-Menos magoado eu até tou... mas ainda tou magoado. E é humanamente impossível não estar, diante de tudo.
-Será que um dia dá pra gente voltar a ser o que era?
-Só o tempo vai dizer, pai. Já estamos dando um grande passo hoje de estarmos nos falando sem nos agredir. É melhor que nada.
-Eu queria que você voltasse pra casa...
-Também quero. Mas não agora.
-Então quando?
-Eu não sei, pai. Eu preciso desse tempo fora. É um tempo necessário pra colocar tudo no lugar. Saber a real importância que nós temos um pro outro.
-Tudo bem, eu entendo... seu ônibus não é aquele?
-Ih, é sim! Tchau, pai!
Guilherme pega o ônibus e Humberto observa o filho. CORTA A CENA.

CENA 5: Geórgia percebe que Bruno está triste.
-Tenho te notado meio desanimado com tudo nesses dias...
-Desanimado não é bem a palavra, amor...
-O que é, então?
-Tristeza.
-Se for pelo motivo que eu tou pensando, não vejo razão nem motivo pra sentir tristeza. No máximo, arrependimento.
-Eu sei que fiz muita merda. Claro que me arrependo. Mas bate uma tristeza... em ver o que eu me tornei.
-Deixa disso, amor... você se tornou alguém complicado. Mas já deixou de ser essa pessoa. Eu sei disso. Eu sinto.
-Será mesmo que deixei de ser?
-Pare de se subestimar. Você tá passando por essa fase de transição porque tem caráter.
-Todo mundo tem caráter. Não significa que seja bom.
-Você entendeu o que eu quis dizer. Você tem um bom caráter. Mas andava endurecido pela vida. Agora tá fazendo o caminho de volta.
-Precisava doer tanto esse arrependimento?
-Ah, Bruno... foi você mesmo que buscou isso pra si, as consequências viriam... cedo ou tarde.
-Queria um jeito de fazer essa dor passar.
-Já pensou em conversar com o Alexandre?
-Ficou doida?
-Eu acho que ele entenderia. Ele é um bom rapaz...
CORTA A CENA.

CENA 6: Valéria e Hugo conversam com Bernadete durante café da manhã.
-Mãe... eu e a Valéria andamos pensando numas coisas aqui. Decidindo outras... - fala Hugo.
-Sim, Bernadete... eu espero que tanto ocê quanto o seu Leopoldo fiquem de boas com a decisão que a gente tomou... - fala Valéria.
-Falem, queridos. Tenho certeza que pelo menos da minha parte, vou entender. - fala Bernadete.
-Então, Bernadete... o Hugo e eu decidimos passar uns dias, quem sabe até um mês, lá em BH, assim que o bebê nascer e a gente puder viajar. Sabe, é pra gente aproveitar esse momento juntos, tudo mais... - fala Valéria.
-Eu sei que você pode pensar que é uma loucura a gente sair numa espécie de lua-de-mel antes mesmo de casar e tudo mais... mas não vejo motivo pra não ir... - fala Hugo.
-Quer saber? Acho justo com vocês. Aqui no Rio vocês não tem muita chance de andar juntos. - fala Bernadete.,
-Tá vendo, Hugo? Eu sabia que sua mãe ia ser supertranquila! - fala Valéria.
-E tinha razão! Agora o duro vai ser falar com o pai sobre isso... - fala Hugo.
-Com o Leopoldo, me entendo eu. Ele pensa que manda, coitado, mas deixa eu contar um segredinho pra vocês: quem dá a palavra final, sempre sou eu... - responde Bernadete, marotamente.
CORTA A CENA.

CENA 7: Gustavo percebe Flavinho distante no trabalho.
-Ei, tá tudo bem, Flavinho?
-Tou tentando me convencer que sim.
-O que tá pegando? Pode falar...
-Preocupações, Gustavo... muitas preocupações.
-Não quer preparar alguma coisa pra distrair os pequenos?
-Hoje não, Gustavo... hoje eu realmente não tenho condições.
-Então pelo menos desabafa comigo! Me corta o coração te ver assim...
-Eu não consigo tirar aquela conversa com a Madame Marie da minha cabeça. E eu fico com uma sensação ruim com tudo isso.
-Será que essa sensação ruim não vem da sua decisão de não contar à Bernadete sobre seu passado com o filho dela?
-Pode ser que seja. Mas tem uma coisa maior que isso me deixando tenso.
-E o que é?
-Medo do que o futuro me reserva.
-Por que?
-Eu penso que conheço as pessoas. Mas já me decepcionei antes. Nada impede que eu me decepcione outra vez.
-Do que cê tá falando?
-Fico com medo de perder tudo.
-Como assim?
-De ficar sem teto. De ter que voltar pra BH e encarar memórias que não sou capaz de encarar ainda...
-Tira isso da cabeça, Flavinho... sem teto, você não fica. Confia em mim...
CORTA A CENA.

CENA 8: Daniella está com Cristina na sala da clínica, conversando com a irmã.
-Mas mana, se você tá conseguindo repensar as coisas, o que te impede de dar mais abertura pro Fábio?
-Sério, Dani... eu não acredito que cê tá me perguntando isso. Cê sabe muito bem qual é a resposta.
-Mas a Arlete está morta, caramba!
-Não totalmente. Eu não fiquei cega por causa dela, esqueceu?
-Isso é um detalhe...
-Seria um detalhe. Se o Fábio não tivesse tido um relacionamento com ela.
-E por acaso ele não tinha o direito de se apaixonar por você só porque você foi quem recebeu as córneas e retinas? Ah, me poupe!
-Não é isso.
-Então é o que?
-Ah, você não entenderia...
-Corta essa. Eu tenho vinte e dois anos, não sou uma criança que não entende as coisas.
-Ai, Dani... eu não sei.
-Pelo menos você admite que não sabe.
-E nem sei o que fazer.
-Que tal ligar pra ele? Marcar um encontro?
-Não sei. Ele pode entender errado.
-Será que é ele que entenderia errado?
-Quer parar, Daniella?
CORTA A CENA.

CENA 9: Horas depois, Flavinho procura Gustavo.
-Eu queria te agradecer por tudo...
-Que bobeira, Flavinho. Agradecer pelo que?
-Por me apoiar. Por estar sempre ao meu lado.
-Não faço mais que minha obrigação como seu amigo.
-Você faz muito mais que sua obrigação, Gustavo. Você está me tirando de um lugar escuro e nem sabe disso.
-Ei, quer fazer o favor de parar por aí? Daqui a pouco eu me emociono...
-Eu que me emociono, por todo o bem que você me faz, mas enfim...
-Tá tudo certo. Não precisa de tanta melosidade.
-Eu tava pensando que você podia vir comigo até a mansão hoje.
-Será? Mas a gente sai tarde daqui...
-Fica pra dormir, uai! A casa é gigante, esqueceu? Depois, vai ser bom p'rocê matar saudade da Valéria, não?
-Ah, isso é verdade. Minha maninha faz uma falta danada!
-Então, como é que vai ser?
-Tá... eu vou. Mas ocê vai ter que me emprestar o jaleco...
-Sem problema. Amigos são pra isso, não é mesmo?
CORTA A CENA.

CENA 10: Fábio volta ao apartamento e olha tudo, nostálgico.
-Como pode um apartamento como esse guardar tanta história? Já passou tanta alegria e tanta dor por aqui... impossível não lembrar de tudo... - divaga Fábio, consigo mesmo.
Fábio encontra o diário de Arlete.
-Ah, o diário... o diário que mudou tudo entre mim e Cristina...
Fábio fecha o diário. De repente, a campainha toca. Ao abrir a porta, se depara com Cristina.
-Você aqui? Como sabia que eu ia estar aqui?
-Eu falei com a Bete. Ela me avisou.
-Entra, por favor...
-Bem... acho que chegou a hora da gente ter uma conversa definitiva sobre o bebê, né?
FIM DO CAPÍTULO 74.

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