quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

CAPÍTULO 69

CENA 1: Maria Susana e Elisabete ficam se beijando por mais alguns instantes, até que Maria Susana recua, assustada.
-O que foi que acabou de acontecer aqui? Eu nunca pensei que...
-Eu também nunca pensei. Mas, sabe... foi tão bom, Susi...
-Foi. E é isso que me assusta. Não ter pensado muito nisso antes e achar tão bom...
-Eu não pensava nisso até um tempo atrás...
-Como assim? Cê disse que nunca pensou ainda agora...
-Mas meu filho começou a abrir meus olhos. E quer saber de uma coisa? O Maurício tava certo... que realmente existe algo maior que amizade aqui, entre nós...
-Seu filho realmente viu isso? Gente...
-Tou falando...
-Sabe... eu adorei esse nosso beijo. Mas fico com tanto medo! Medo do que o José possa pensar...
Idina escuta a conversa das duas e se junta à conversa.
-Queridas... desculpem a indiscrição, mas eu ouvi a conversa de vocês... e posso dizer uma coisa? Do jeito que o José anda se desconstruindo, duvido muito que ele vá se importar com a ex dele seguindo adiante e vivendo a vida como tem que ser... - fala Idina.
-Eu fico com medo, ainda assim... medo de que ele possa querer tirar o Miguel de mim, entende? - fala Maria Susana.
-Acho meio infundado esse seu medo. Estamos falando do mesmo José? Acho que não, hein... - fala Idina.
-Eu só sei que, independente de tudo isso ser algo completamente novo e inesperado pra mim, euzinha que não vou me privar de viver nada do que eu sentir que preciso. Se você quiser embarcar nessa aventura comigo, Susi, melhor ainda... a gente não sabe onde isso vai parar... mas temos um começo de alguma coisa aqui. E eu não quero abrir mão disso. - fala Elisabete.
-Taí, Elisabete... tou virando sua fã! - fala Idina.
-Ai, meninas... eu fico com medo. Mas se a gente não tem um pouco de medo, as coisas até perdem a graça. O bom disso é enfrentar, de cabeça erguida... e o que for pra ser depois, vai ser de qualquer jeito! - fala Maria Susana.
-Nossa, até que enfim! Posso deixar as duas sozinhas sem que role crise existencial? Porque eu tenho vários clientes pra atender e não vou ficar aqui a noite toda segurando as pontas de crise existencial por causa do amor, viu? Se cuidem, queridas! - fala Idina, se retirando.
-Gente, essa atual do seu ex é um barato! Que ser humano é esse? Não é desse país, mas parece mesmo é que não é desse mundo!
-Não é, Bete? Baita negócio que o Zé fez de encontrar ela na vida... ainda nos deu de brinde esse lugar maravilhoso pra conhecer...
As duas se beijam novamente, mais a vontade. CORTA A CENA.

CENA 2: Na tarde do dia seguinte, Fábio surpreende Maurício chegando em casa.
-Nossa, pai! Eu sabia que você tava pra voltar, mas assim tão rápido, me pegou realmente de surpresa!
-Peguei o primeiro voo da manhã, filho. Como você sabe, existe aquela pequena diferença no fuso horário...
-Cê tá com uma cara meio cansada...
-E tou mesmo, filho. Não dormi antes de entrar no avião e qualquer coisinha me acordava quando eu tava no voo... mas me fala, cadê sua mãe?
-Ah... então... não demorou muito depois que vocês se falaram ontem e ela saiu.
-Nossa, que progresso! Fico feliz de saber que ela tá saindo, começando a aproveitar a vida. Quem operou esse milagre?
-Foi a Maria Susana, lembra dela?
-Lembro sim... não tem como não lembrar. Ela é ex do José...
-O irmão da Arlete... mas enfim, melhor nem falar nisso, né pai?
-Tá tudo certo, filho... já superei a morte da Arlete. E é por isso mesmo que eu voltei.
-Cê tem certeza de que o seu amor pela Cristina é pra valer agora, né?
-Sim, Maurício... esse tempo serviu pra eu colocar tudo na balança. Analisar com calma... e a Cristina é um amor como nunca aconteceu antes na minha vida. Não posso deixar de dizer isso a ela.
-Quando cê pretende procurar ela?
-Quando eu criar coragem...
-Podia ser logo, não?
-Sim... mas eu preciso ainda me refazer da vergonha que sinto...
-Pai... larga disso, sério. Você não mentiu. Apenas omitiu. Tá, eu sei que não era algo simples, mas de mentiroso ela não pode te acusar.
-Nisso cê tem razão... mas não sei como ela vai reagir ao me ver de novo.
-Se eu fosse você, acabava com essa dúvida de uma vez em vez de ficar alimentando isso...
CORTA A CENA.

CENA 3: Na agência, Glória procura Mônica.
-Mônica, tá muito ocupada?
-Agora até que não. Tá até tranquilo hoje, comparado aos outros dias.
-Que bom... é que eu queria conversar um pouco.
-Sou toda ouvidos, Glória... pode falar do que quiser.
-É que eu não sei bem como começar esse assunto... ainda mais depois da fama de fofoqueira que eu ganhei por aqui por conta da Giovanna...
-Relaxa, boba... eu sei que você não é fofoqueira. Pode falar do que quiser que eu realmente não vou levar a mal.
-Mesmo que eu queira entender esse climão que fica no ar quando se fala no Ricardo ou quando vocês se esbarram quando ele tá por aqui?
-Ah, Glória... é complicado, viu? Nada é tão simples quanto parece ser. Tenho meus motivos... mas ao mesmo tempo, não me sinto em condições de julgar o Ricardo.
-Isso parece meio doloroso pra você... se não quiser falar, eu vou entender.
-Vai ser até melhor eu dividir isso com alguém. Mas me promete que não vai julgar o Ricardo? Eu sei que vocês tiveram um lance no passado... anterior a mim, inclusive.
-Taí uma coisa que eu nunca vou entender, Mônica... cês tinham tudo pra dar certo e de repente ele te larga. Agora fica babando pelos cantos pela Giovanna...
-Sabe o que é? Ele não reagiu bem quando eu descobri e contei pra ele que não posso ter filhos. A gente tentou fazer dar certo, mas a coisa foi se perdendo. O encanto morreu. Se criou uma barreira forte entre nós... algo difícil de transpor.
-Deve ter sido sofrido pra você...
-Pra ele também. Você sabe o tanto que ele sempre quis ser pai... e até hoje, não deu jeito de conseguir...
-Uma pena... mas quem sabe um dia ele encontre alguém e consiga realizar esse sonho...
CORTA A CENA.

CENA 4: Nicole aproveita que Daniella está em casa para conversar com a filha.
-Dani... tudo bem se você tirar uns minutinhos pra ouvir a sua velha mãe?
-E precisa pedir? Tou sempre aqui, mãe... tem alguma coisa te deixando triste?
-Não é bem triste... mas decepcionada.
-Com o que?
-Comigo mesma.
-Por que isso agora, mãe? Não vejo motivo pra você se decepcionar consigo mesma...
-Mas eu vejo. Eu me olho no espelho todos os dias... e me pergunto quem é essa pessoa. Quem é a Nicole? Quem é Marilu? Que espécie de simulacro de ser humano que eu me tornei que tem vergonha do próprio nome?
-Mas você nunca fez problema com essa decisão de preferir ser chamada de Nicole...
-Não, filha... esse não é o cerne da questão. É uma coisa meramente ilustrativa... os anos foram passando e eu fui me perdendo de quem eu fui. Ficou só a capa. Mas por dentro, nada restou.
-Acho que tou começando a entender... cê tá sentindo falta da ousadia?
-Também. Mas sentindo uma tremenda saudade da Nicole que eu fui um dia. Cheia de planos, de esperança, de vida. Eu aprendi a fingir muito bem, filha... mas tem muito tempo que não sou feliz de verdade. E isso me maltrata, acredite.
-Mãe... você não tá se sentindo por baixo demais? Olha pra você! Toda bonitona ainda, toda jovem, sabe?
-Jovem onde, Daniella? Eu já tenho quase cinquenta anos!
-E quem falou que a juventude se conta no calendário? Ai, mãe... francamente! Nunca é tarde pra gente lutar pelo que deseja. E eu sei que a força da mulher vive aí dentro de você. Que tal colocar isso pra fora? Que tal buscar viver o que precisa?
-Se você soubesse o que eu desejo... ia ficar de cabelo em pé!
-E quem sou eu pra julgar? Se te faz feliz, se joga, mulher!
CORTA A CENA.

CENA 5: Gustavo vai à mesa de Flavinho na pausa para lanchar.
-Muita correria hoje, né?
-Aham.
-Tá tudo bem, Flavinho?
-Sim.
-Nunca vi ocê ser tão direto assim nas respostas... parece que tá sendo seco comigo. Como se eu tivesse feito algo p'rocê.
-Gustavo... eu só tou comendo. Não gosto de falar mastigando.
-Pra cima de mim? Isso tá estranho... e eu não entendo o motivo.
-Eu só quero ficar quieto, na minha...
-Tem a ver com algo que eu tenha falado ou feito?
-Examine a sua consciência, uai. Me deixa.
-Eu não tou entendendo nada, Flavinho... não sei o que aconteceu, mas tenho certeza que não é culpa minha.
-Pois eu não teria essa certeza. Me dá um tempo pra eu refletir sobre tudo o que ocê disse, pode ser?
-Mas o que eu disse, caramba? Poxa vida, Flavinho! Sou eu, sabe? Não entendo essa sua postura.
-Me deixa quieto, Gustavo. Só me deixa.
-Seja feita a vossa vontade, então.
CORTA A CENA.

CENA 6: Ainda chocado, Gustavo decide ligar para Daniella.
-Tá podendo falar, Dani?
-Acho que sim, se você for rápido... eu tava no meio de uma conversa com minha mãe, mas fala...
-Sabe o que é? O Flavinho anda muito estranho comigo...
-E você faz alguma ideia da razão disso?
-Acho que suspeito... mas se for isso, eu sinceramente vou me decepcionar com ele...
-Você deve ter mencionado sua bissexualidade, né?
-Sim, mas... como ocê sabe?
-Tenho vários amigos gays, esqueceu? E eu sei muito bem que gays podem ser preconceituosos e até mesmo muito machistas...
-Mas logo o Flavinho, com esse tipo de preconceito? Nunca pensei...
-Gustavo... junta as coisas! Você não é burro. Se ele ficou abalado, isso pode ser mais que um simples preconceito.
-Não faço ideia do que possa ser então...
-Pra cima de mim, escorpiano? Pare, pense e analise. Eu preciso desligar agora. Mas observe...
CORTA A CENA.

CENA 7: Ao chegar para almoçar com os pais, Guilherme escuta uma discussão de Humberto e Armênia.
-Humberto, não consigo te entender. Tem dias que cê tá todo arrependido, disposto a aprender, a desconstruir seus preconceitos e tem dias que baixa o reacionário em você. Porra, sabe? Que merda é essa? Se decide!
-Quem precisa se decidir é o nosso filho! Eu não tenho problema com gay, lésbica, o caralho a quatro! Mas esse lance de bissexualidade não existe! Ele tem que sair do muro de uma vez! Decidir se gosta de homem ou de mulher. Pra mim tanto faz, desde que ele se decida!
Guilherme invade a sala, perplexo.
-É isso mesmo que eu ouvi, pai? Eu não posso acreditar...
Humberto se arrepende do que disse.
-Não, meu filho... você não entendeu o que eu quis dizer.
-É sempre assim, né? Eu nunca entendo as coisas direito. Devo ser meio retardado, pelo visto... sempre distorço as coisas, ao que parece. Desculpa, mãe... mas a ideia de que eu podia voltar pra casa vai ter que ser adiada por um bom tempo. E talvez eu nem volte mais. Cê me ajuda com as malas e com as coisas que ainda faltam pra eu pegar?
Armênia vai com Guilherme ao quarto. Humberto vai atrás deles. Armênia, sem paciência, impede que ele entre no quarto.
-Já não basta todo o estrago que cê fez, Humberto? Aprende a calar essa boca! Por sua causa o nosso filho está saindo definitivamente de casa e... quer saber? Eu apoio a decisão dele! Chega da gente aguentar esses absurdos que você fala e achar que é normal...
-Mas é só opinião...
-Não é só opinião! É discurso de ódio, discriminatório! Por mais que não seja a sua intenção. Sai daqui e deixa eu ajudar o meu filho.
CORTA A CENA.

CENA 8: Margarida se surpreende com a presença de Guilherme, trazendo malas nas mãos.
-Mas você não tinha ido almoçar com seus pais?
-Dona Margarida... foi um desastre completo. Escutei meu pai falando mais merdas a meu respeito e a respeito dos bissexuais, acredita?
-Eu sinto muito... você decidiu sair de vez de lá, né?
-Não teve outra maneira.
-Você pode ficar aqui o tempo que precisar... sem pressa. Eu sei que as coisas vão se ajeitar um dia com o seu pai... confia nisso.
-Eu queria ter essa sua certeza, dona Margarida... mas fica difícil quando a realidade soterra a gente desse jeito, sabe?
-Eu sei que é difícil ver algo bom no horizonte agora. Mas tem o lado bom, o Érico vai adorar saber que você veio pra ficar...
-Só você mesmo pra me fazer sorrir num momento desses, dona Margarida... muito obrigado, por tudo...
CORTA A CENA.

CENA 9: Flavinho é surpreendido por uma ligação de Daniella.
-Daniella? Não ligou pro número errado, não?
-Não, Flavinho... é com você mesmo que eu quero falar. Porra, viado... que vacilo feio esse seu, hein?
-Que? Dani, eu adoro você, mas posso saber onde e por que eu vacilei?
-Com o Gustavo. E você sabe muito bem o motivo. Larga de ser preconceituoso que chega a ser feio um viado ser preconceituoso, sabia?
-Não é preconceito. É que eu me senti enganado.
-Enganado por que, criatura? Ele te devia satisfação ou prestação de contas, por acaso?
-Não... mas é que ocê não entende.
-Pode apostar que eu não entendo mesmo. Você foi duro com o Gustavo... e injustamente.
-E pelo visto ele foi correndo se queixar, né? Tá vendo? Eu devo estar muito errado nisso tudo, mesmo...
-E está, mesmo. Não pense que vou te dar razão. Eu gosto de você, Flavinho... mas você tá bem errado, sim.
-Eu sou gay... não posso ser preconceituoso.
-Ah, pode sim... e tá sendo muito...
CORTA A CENA.

CENA 10: Já de noite, na saída da clínica, Flavinho alcança Gustavo antes de ele subir em sua moto.
-Ei, Gustavo! Espera!
-Fala, Flavinho...
-Cê me desculpa?
-Mas que besteira, cara... não tenho o que desculpar. Você só não tava num momento bom...
-Mas eu fui injusto com você.
-Deixa isso pra lá...
-Não posso deixar, Gustavo... eu te julguei... e não podia ter feito isso. Ainda mais sendo você, um amigo de tanto tempo. Eu pensei que tava livre de passar por essas coisas, mas... eu fiz um juízo muito errado de você. Me perdoa?
Gustavo encara Flavinho, surpreso.
FIM DO CAPÍTULO 69.

Nenhum comentário:

Postar um comentário