CENA 1: Hugo percebe o sobressalto de Valéria e se acorda.
-Tá tudo bem, amor?
-Ai, Hugo... me abraça!
Valéria começa a chorar e Hugo se preocupa.
-O que é isso? Foi pesadelo, Valéria?
-Foi. E foi dos horríveis!
-Se não quiser falar...
-Não, pelo contrário... eu preciso colocar pra fora pra ver se expurgo esse fantasma logo!
-Tem certeza? Não vai ser pior?
-Vai ser melhor... acredita em mim...
-Então conta como foi...
-A gente tava em BH. Eu, você, o nosso filho e o Flavinho. De repente a campainha tocava e quando eu abria a porta, era a Giovanna. Ela tava completamente fora de si!
-Nossa... isso realmente te abalou. O que mais aconteceu?
-Ela dizia que era dona de tudo.
-Que?
-Sim! Que era sua dona, dona da minha casa, de tudo, de todos!
-Gente, que pesadelo bem horroroso! Ainda bem que foi só sonho.
-Nem fala, Hugo... a sensação foi horrível. Não consigo parar de pensar na cara de louca dela, em vocês sumindo, como num passe de mágica... tudo muito horrível!
-Ei, calma... passou! Não precisa chorar. Tá tudo certo.
-Não sei, Hugo... não sei se realmente tá tudo certo.
-Por que, amor?
-Tou com um pressentimento em relação a tudo isso.
-Por que, exatamente?
-Porque eu sinto que a gente deveria ter aberto completamente o jogo com a sua mãe em relação à Giovanna. Nós falamos meias verdades. Mas não foi tudo sobre ela.
-Eu tive medo, Valéria. De que a mãe não resistisse.
-Só que agora ela tá curada, não tá? Então eu não vejo sentido em a gente proteger alguém que provavelmente só nos ferraria.
-Será que a Giovanna representa realmente todo esse risco?
-Hugo... ocê conhece ela melhor que eu.
-Mas eu não sei se ela faria alguma loucura.
-Quer pagar pra ver, mesmo? Não basta a palhaçada que ela aprontou dando ataque com a Cristina quando ela desistiu de casar contigo? Sinceramente... o que falta mais acontecer?
-Mas talvez ela tenha mudado, sabe? Essa temporada lá em Helsinki... pode ter operado milagres.
-Queria ter seu otimismo, mas sou filha de saturno. Feliz e infelizmente, eu vejo as coisas com mais realismo. E não consigo ser otimista do seu jeito.
-Amor... eu quero que a gente viva em paz. Acredita em mim.
-Então faz o que tem que ser feito, amor! Até quando esperar?
-Eu não sei. Quem sabe não esperamos pra ver se a Giovanna volta mudada ou não?
-Tá... acho justo. Mas e depois disso, se você ainda não achar que é a hora, qual vai ser a desculpa?
-Valéria... tenta entender. Não é desculpa, é cuidado.
-Não vai dizer que ocê tem medo que dê um treco na sua mãe...
-É óbvio que eu tenho medo que isso aconteça! Ela ainda não está cem por cento depois da cirurgia.
-Mas tá curada da doença.
-Só mais um tempo.
-Quanto tempo, Hugo? A gente precisa falar toda a verdade...
-É só o médico garantir que ela tá cem por cento.
-Você promete?
-Prometo.
-Obrigada, Hugo... vai ser melhor pra todos nós...
-Agora vamos dormir...
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Flavinho e Valéria estão sozinhos na mesa do café da manhã.
-Estranho o Hugo não estar aqui.
-Teve de sair mais cedo. Parece que tinha um trem complicado qualquer pra resolver com o booker.
-É impressão minha ou tem uma preocupação rondando a sua cabeça?
-Acho que é impressão, Flavinho... só tou meio me acordando ainda, só isso.
-Valéria... a mim você não engana nem esconde nada. Tá evidente que ocê tá com medo de falar alguma coisa, escondendo algo...
-Ai, larga de ser adivinho, viado! Não tou escondendo nada, não. E por falar em evidente... mais evidente tá a queda monstruosa que ocê tá tendo pelo meu irmão. E digo mais: é capaz de ser correspondido!
-Ai garota, como ocê é desagradável, viu? Para de enfiar essa história na minha cabeça, uai!
-Então ocê pare com essa mania de achar que eu tou sempre escondendo alguma coisa, eu hein...
-Mas dá pra ver sua preocupação, Valéria.
-Tá... eu acho que tou com um pouco de preocupação. E medo, talvez...
-Medo do que?
-Da Giovanna. Ela tá pra voltar de férias.
-E daí?
-E daí que eu não tou com um pressentimento bom em relação a isso, Flavinho. Mas não sei nem se vale a pena falar sobre isso.
-Faz um esforço, pelo menos.
-Pra que? Vai que a urucubaca dessa maluca é forte?
-Só você, Valéria... ainda faz graça com a situação.
-Vou fazer o que? Ficar morta de medo? Sim, tenho medo da Giovanna. Mas também sei enfrentar gente maluca.
-Melhor mudar de assunto, não é?
-Ai, sim... me fala de você...
-Mas nem tem o que dizer.
-Claro que tem. Sempre tem. Como o seu crush, por exemplo.
-Já disse que não tem crush nenhum.
-Tem sim.
-Ai, para Valéria...
-Tem sim e é o meu irmão.
-Aí... na boa? Não tá dando pra conversar desse jeito. Eu vou me arrumar pro trabalho antes que me atrase nesse papo furado, eu hein...
Flavinho parte e Valéria ri, marota. CORTA A CENA.
CENA 3: Cristina está circulando pela clínica quando sente uma forte tontura e se encosta numa parede. Gustavo e Flavinho, que estão de passagem, percebem que Cristina não está se sentindo bem. Flavinho é o primeiro a se aproximar.
-Cris... tá tudo bem contigo?
-Não, Flavinho... de repente me baixou a Leila Lopes aqui e começou tudo a girar, girar, girar...
-Não acredito que até numa hora dessas essa sagitariana faz piada. Cristina, ocê nem tinha que estar andando se não tá bem. Segura aí que eu vou pegar uma cadeira. - fala Gustavo.
Assim que Gustavo se afasta para buscar a cadeira, Flavinho grita.
-Não vai, Gustavo! Ela vai desmaiar!
Gustavo retorna.
-Cristina, Cristina! Você anda se alimentando direito? - pergunta Gustavo.
-Deixa pra perguntar pra ela quando a gente sentar ela numa cadeira, faz favor? - retruca Flavinho.
Os dois levam Cristina até sua sala. Cristina se sente menos tonta.
-Desculpem, meninos. Acho que não ando me cuidando como deveria... - fala Cristina, se recuperando.
-Essas tonturas tem sido frequentes? Você tem se alimentado corretamente? - pergunta Gustavo.
-Minha alimentação tá indo bem. Sempre fui bem disciplinada com isso. Mas andei me incomodando demais... - explica Cristina.
-Ai, meu Deus... você é médica! Sabe muito bem que durante a gravidez, ainda mais no começo dela, a mulher deve evitar situações de grande tensão e estresse... - recrimina Flavinho.
-Queridos... eu vou precisar me ausentar porque tenho que ir no trezentos e sete. - fala Gustavo, se retirando.
Flavinho encara Cristina.
-Cris... talvez seja hora de você diminuir a marcha.
-E deixar mais coisa pra coitada da Dani resolver?
-Talvez seja momento de procurar mais opções. O que ocê não pode fazer é brincar com a vida do seu filho crescendo aí dentro...
-Ai, Flavinho... desculpa o desabafo, mas é um misto de estresse, tristeza, tudo... é difícil, sabe?
-Eu posso imaginar. Mas pensa nessa criança que não tem culpa de nada, tá?
-É o que tenho tentado fazer...
CORTA A CENA.
CENA 4: Horas depois, Elisabete encontra Fábio em um restaurante.
-Estranhei quando você ligou. Pensei que nosso filho vinha junto.
-Nem... tá quebrando a cabeça de tanto estudar, o coitado. TCC chegando, sabe como é...
-Você só me chama pra comer fora quando precisa levar papo sério comigo.
-E não é diferente dessa vez. Mas não é nada sobre você dessa vez, pode ficar sossegado... é sobre mim.
-Você? Não entendi... cê tá parecendo tão leve, tão plena, segura, cheia de si... completa.
-É exatamente sobre essa completude que eu quero falar. E sobre quem tá me proporcionando tudo isso...
-Tá namorando?
-Sim. Não é incrível?
-Quem é o felizardo?
-Bem... nesse caso, não é felizardo. É felizarda...
-Não brinca...
-Mais pura verdade. É a Maria Susana, dá pra acreditar numa coisa dessas?
-Que? A ex do irmão da Arlete?
-A própria. A gente foi se encantando uma pela outra... quando a gente seu por si... era amor.
-Que coisa... fiquei realmente surpreso. Mas feliz por você.
-Sério?
-E por que eu não ficaria feliz, boba?
-Ah, cê sabe como é. Como as pessoas são. Eu tive medo de te contar e você reagir mal...
-Se eu reagisse mal, a responsabilidade seria de quem? Minha.
-Me esqueci por um momento desse seu senso de justiça sempre aguçado...
-Eu fico feliz por você... de verdade. Depois de tanta mágoa, tanta dor... tanta teimosia sua, dia após dia, durante anos... isso é uma grande vitória.
-Eu fico emocionada desse jeito, Fábio... eu sei que você é um cara bom e justo. Mas confesso que ainda me surpreendo com a sua generosidade...
Fábio abraça Elisabete. CORTA A CENA.
CENA 5: Daniella chega à sala de Cristina na clínica e recrimina sua irmã.
-Francamente, Cristina. Quantas vezes eu falei pra você ser menos irredutível com o Fábio? O maior mal que você fáz é a você mesma.
-Tá... eu sei, Mas que outra opção eu tenho?
-Dar uma chance a ele, quem sabe?
-Nem pensar! Não consigo, mana...
-Você que sabe. Mas deixa eu perguntar uma coisa...
-Pergunte...
-Você ama o seu filho?
-Claro que amo! Mas que pergunta...
-Então trate de diminuir a marcha. Cê sabe que mesmo reclamando, eu te ajudo, não sabe?
-Claro que sei. Seu esporte preferido é reclamar.
-Ainda bem que você sabe. Agora eu preciso sair, mas posso voltar mais tarde se você precisar que eu dê uma mão.
-A Pati te chamou de novo?
-Sim. Quer dar uma corrida na orla.
-Abre o olho com essa garota, Dani. Algo nela não me desce...
-Já te expliquei as questões dela. Ela tem melhorado...
-Se você diz... bem, vai lá, mana. Qualquer coisa eu grito.
CORTA A CENA.
CENA 6: Após almoço com Maria Susana, José aproveita para conversar com a ex esposa enquanto Idina brinca com Miguel.
-Você parece que quer falar alguma coisa pra mim... desde que a gente chegou pra almoçar com vocês hoje...
-E quero mesmo, José... eu tenho uma coisa muito importante pra falar pra você. Uma não... duas coisas pra te falar...
-Pois fale sem medo, cê sabe que sou seu amigo, não sabe?
-Confesso que ainda dá um pouco de medo, mas preciso respirar fundo e tomar coragem.
-Coragem, Susi...
-Sabe o que é? Eu me apaixonei outra vez.
-Todo esse drama pra isso? Que maravilha!
-Mas... bem, Zé... isso não é tudo. Eu me apaixonei por outra mulher. E essa outra mulher é a Bete.
-E o que tem demais isso? Eu já esperava que vocês fossem se apaixonar. Quer dizer, assumir isso.
-Como?
-Tava na cara de vocês.
-Quer dizer que você tava percebendo tudo antes mesmo da gente?
-Sem dúvida. A maneira como vocês se descobriram depois de tanto tempo... tudo indicava pro surgimento de um amor. E eu fico feliz demais por vocês, de coração.
-Nossa, Zé... eu fico tão aliviada de saber que você apoia! Sabe, por um momento eu tive medo que, em você sabendo disso, fosse querer disputar a guarda do Miguel comigo na justiça...
-Mas que besteira... cê acha mesmo que se eu quisesse uma coisa dessas, a Idina permitiria que chegasse às vias de fato? Jamais, minha querida... jamais!
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas mais tarde, Fábio, na casa de Elisabete, conversa com ela e com Maurício.
-E no final das contas, fico assim... em suspenso na vida da Cristina. Sem saber se vou embora de vez ou se fico... - fala Fábio.
-É, pai... só que é importante lembrar que agora vocês tem esse filho de vínculo eterno. Quer queira a Cristina ou não, isso é um elo. - pontua Maurício.
-Maurício tem razão, Fábio... depois, cê tem que levantar as mãos pro céu que a Cristina foi tranquila com permitir que você assumisse a criança. Se ela quisesse assumir a criança sozinha, como mãe, ela teria esse direito. - fala Elisabete.
-Só que é duro, gente... é duro saber que ela é o amor da minha vida e suportar essa distância, esse gelo... - fala Fábio.
-Pai... ela é o amor da sua vida. Mas talvez você não seja o amor da vida dela... é preciso lidar com isso... - fala Maurício.
-Ai, filho, precisa pegar pesado desse jeito com seu pai? - recrimina Elisabete.
-Não, Bete... nosso filho tá coberto de razão. Eu não tenho mais idade nem disposição pra alimentar qualquer ilusão. Dói demais ficar longe da Cris... mas respeito a decisão dela. Ainda mais porque tou feliz, apesar de tudo, por ser pai pela segunda vez na vida...
CORTA A CENA.
CENA 8: Daniella conversa com Patrícia no quarto da pensão. Patrícia reafirma posicionamentos homofóbicos.
-Eu sei que é meio bosta pensar isso, Dani, mas não consigo nem imaginar.
-Imaginar o que, Pati?
-O Gustavo...
-De novo ele? Miga... vamos tentar falar menos dele, né? É importante pra você ir superando...
-Só que eu não aguento imaginar ele com...
-Pati... desiste de falar merda enquanto há tempo...
-Ai, não me aguento, Dani, desculpa. Imaginar ele com outro homem me deixa morta de nojo, de raiva, de sei lá mais o que...
-Pena, Patrícia... achei que você soubesse que amor é amor em qualquer circunstância.
-Que seja. Mas precisa ele gostar de outros caras também?
-Pati... volta a si: o que é que cê tem a ver com isso?
-Bem... mas é que... pera, ocê tá sabendo de alguma coisa?
-Que coisa, sua loka?
-Se o Gustavo pode estar se apaixonando por outro cara... ocê sabe, já teve o Júlio...
-Nem começa, Pati...
-Tem ou não tem essa possibilidade?
-Não sei...
-Mesmo?
-Já disse que não sei. E se soubesse, a julgar pela sua reação diante da ideia de imaginar ele com outro cara, não sei se te diria.
Patrícia fica intrigada. CORTA A CENA.
CENA 9: Valéria, ao andar perto da piscina no pátio da mansão, percebe que Bernadete está melancólica e senta-se ao seu lado.
-Impressão minha ou uma onda de saudosismo bateu forte aí, Bernadete?
-Bateu mesmo, querida... de repente eu me peguei pensando em tudo. No Leo... na maneira como a gente quase não se viu antes dele morrer...
-Será que vale a pena pensar nessas coisas?
-É impossível não pensar. Ele era meu filho. Tenho saudades eternas...
-Eu sei... o que eu quis dizer é que isso tudo pode ser sem dor, não pode?
-E tem sido sem dor, acredite...
-Fico tranquila.
-O Flavinho tem preenchido essa lacuna. E acho que de alguma forma ele sabe disso... não é uma substituição, mas meu coração se sente preenchido com Flavinho. De uma maneira muito próxima ao que eu me sentia preenchida quando o Leo era vivo...
Valéria se emociona ao ouvir Bernadete falar sobre Flavinho.
-Ah, querida... ficou emocionada? Que fofa...
-Isso é lindo... ocê nem sabe o quanto...
As duas se abraçam. CORTA A CENA.
CENA 10: Horas mais tarde, Gustavo chega em casa e escuta a campainha tocar assim que entra. Ao abrir a porta, depara-se com Daniella.
-Dani? Não avisou que vinha...
-Atrapalho?
-Nunca. Entra, por favor.
-Gustavo... se eu fosse você, eu pensava duas vezes antes de me envolver com outro cara...
-Já falei que isso não vai acontecer, mas por que ocê tá me dizendo isso?
-Nem sei por onde começar.
-Que tal pelo começo?
-Gustavo... a Patrícia. Ela tá fazendo um esforço grande pra melhorar, mas o que eu vi hoje me assustou de verdade: ela quase virou bicho só de pensar em você se envolvendo com um cara. Temo pela sua integridade física.
Gustavo gela. FIM DO CAPÍTULO 77.
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