CENA 1: Valéria se apavora e tem o impulso de se colocar na frente do carrinho de Leonardo.
-Sai de perto de mim e do meu filho, Giovanna!
-Ei... o que é isso, Valéria? Não posso conhecer essa gracinha, não?
-Não pode, não.
-Que animosidade é essa, Valéria? Não tou entendendo...
-Ocê sabe muito bem porque eu não quero ocê perto de mim, do meu filho ou do Hugo...
-Que besteira, boba... tudo isso faz parte do passado, sabe? Agora eu sou uma mulher casada... muito bem casada, por sinal.
-Se é tão bem casada, por que não está ao lado do seu marido agora?
-Porque não nasci grudada com ele. Eu esperava mais de você, Valéria... só queria paparicar um pouco o seu filho...
-Não vejo sentido nisso. Não é você que sempre diz que nunca quis ter filhos? Não entendo porque quer conhecer meu bebê... sai daqui, Giovanna. Agora.
-E se eu não sair?
-Eu grito. Faço um escândalo, até o Hugo aparecer. Ele só saiu pra buscar algodão doce. Logo logo ele tá aqui. E acho bom ocê sair daqui antes disso.
-Por que? Ele pode me atacar? Faça-me o favor, Valéria. Tenho mais o que fazer da vida. E seu maridinho também.
-Sai daqui, Giovanna. Eu tou mandando.
Nesse momento, Hugo chega e estranha a presença de Giovanna, percebendo que Valéria está nervosa.
-Giovanna? Não era pra você estar na agência numa hora dessas? - espanta-se Hugo.
-Ah... resolvi dar uma volta hoje. De vez em quando faço isso. Acabei esbarrando nessa lindeza que é o filho de vocês. Fiquei curiosa e quis conhecer... - fala Giovanna.
-Achei curioso ocê ter esbarrado na gente justamente quando resolveu dar uma voltinha... - revida Valéria.
Hugo percebe tensão no ar e tenta contemporizar.
-Então... todo mundo se encontra cedo ou tarde em Copacabana, não é? - fala Hugo, entregando o algodão doce a Valéria.
-Bem, queridos... eu vou indo nessa. Parabéns pelo pimpolho! - fala Giovanna, indo embora.
Valéria suspira, aliviada. Hugo a questiona.
-Amor, tava visível que cê queria ver a Giovanna pelas costas... precisava disso?
-Precisava sim.
-Por que?
-Não seja ingênuo. Tenho medo dessa louca... não é porque ela casou que ela ficou inofensiva. O jeito que ela me olha me assusta.
-Achei que esse seu medo ia passar quando nosso filho nascesse.
-Pois ficou maior ainda. Fico com uma sensação sinistra quando olho pra essa mulher. O jeito que ela olha pra gente não é normal...
-Tenta esquecer um pouco disso, amor... nosso filho está seguro.
-Espero que ocê tenha razão... porque se essa maluca fizer alguma coisa com o Leozinho... eu juro que mato.
CORTA A CENA.
CENA 2: Valéria e Hugo chegam em casa e Hugo estranha cara fechada dela.
-Credo, parece que tem uma nuvem escura na sua cabeça desde que a gente saiu da praia, eu hein!
-Como se ocê não soubesse porque...
-Não tou sabendo, não...
-Cê tinha que ser tão simpático com a Giovanna?
-Menos, Valéria... apesar de tudo, eu trabalhei com ela esses anos todos.
-Mas não trabalha mais. Não é obrigado a manter nenhum tipo de cordialidade com ela.
-Amor... cê não acha que tá exagerando?
-Sempre essa mesma coisa. A exagerada sempre sou eu.
-Tenta entender, amor... só quero deixar as coisas mais fáceis.
-E pra deixar as coisas mais fáceis, precisa desconsiderar completamente o que percebo a respeito da Giovanna?
-Não é desconsiderar, só acho que você pega pesado.
-Já esqueceu que ela te dominou por quase treze anos? Que durante esses anos todos, ela te manipulou e fez o que bem queria com você?
-Eu sei disso. Já passou. E ela é casada agora.
-Ocê não percebe mesmo... como ela ainda tenta manipular tudo e todos, o tempo todo...
-Do que cê tá falando, Valéria?
-De como ela sempre arranja um jeito de estar presente em quase tudo. Se não pessoalmente, de outras formas.
-Ah, ela sempre foi assim, cheia de coisas.
-E ocê acha isso normal? Não tem nem um pouco de desconfiança com ela?
-Acho melhor a gente encerrar esse assunto por aqui. Quanto menos a gente falar na Giovanna, melhor.
-Também acho.
CORTA A CENA.
CENA 3: José desabafa com Idina sobre situação enfrentada pelo filho.
-Não é justo, amor...
-Eu sei que não é justo, mas a gente já podia esperar por uma coisa dessas.
-Precisava ser desse jeito? Será que nem em pleno dois mil e dezessete a sociedade evolui?
-Amor... se você acha que aqui tá ruim, não sabe como já foi na França e ainda é em alguns países da Europa... inclusive nos dias de hoje.
-É triste e revoltante tudo isso... eu queria fazer alguma coisa.
-Mas você pode, amor... basta que saiba exatamente quais atitudes tomar.
-Eu quero tornar esse caso da escola do Miguel público. Denunciar o descaso e a omissão da direção com a homofobia da qual meu filho tem sido vítima.
-O que te impede?
-Medo que isso respingue mais ainda no rendimento e no psicológico dele. Que isso acabe abalando o namoro da Susi com a Bete, entende? Não ia ser justo.
-Mas também não é justo permanecer de braços cruzados e não fazer nada no sentido de que alguma providência seja tomada para que a lei possa ser aplicada.
-Bem, olhando por esse lado... é uma questão de justiça, não é?
-Exatamente, Zé... é melhor sempre dar a cara pra bater do que se arrepender no futuro pela omissão. Ou então, se tudo fosse sempre assim, já teríamos mergulhado em outro 1964, pode apostar...
-Nossa, que ideia, essa sua...
-A vida foi feita pra ser encarada de frente, meu amor. Viver é um ato político. Viver requer coragem...
CORTA A CENA.
CENA 4: Maurício fala com Elisabete sobre seus planos.
-Mãe... eu andei pensando em tudo... sobre esses últimos meses e as nossas próprias necessidades.
-Necessidades? Mas a presença da Susi não tá incomodando, tá?
-Claro que não, mãe! Vocês se amam e ela é ótima. Só que eu tou na idade de alçar meus próprios voos, entende?
-Cê tá falando em morar sozinho, filho?
-Sim... eu já passei da idade de buscar meu canto. Condições pra isso eu tenho.
-Mas Maurício... como vai ser?
-Não sei. Vou vendo.
-Quando você pretende ver isso tudo?
-O quanto antes, mãe...
-Ainda dá tempo de você mudar de ideia, não dá?
-Até quando, mãe? Daqui a pouco eu vejo a vida passar sem independência e me arrependo disso...
-Eu entendo, meu filho... mas eu, como fico? Você é meu único filho, vai que acontece alguma coisa com você? Como que eu vou dormir à noite?
-Você acostuma, mãe... até vinte e poucos anos atrás, eu não existia na sua vida. Eu nem mesmo existia.
-Só resta entender que o meu bebê cresceu, não é?
Elisabete abraça o filho. CORTA A CENA.
CENA 5: Flavinho questiona Gustavo por sua proximidade com Patrícia.
-Ói, me desculpa se tou sendo intrometido...
-Só pelo seu tom, já sei que vai falar da Pati...
-E vou mesmo! Gente, essa menina é completamente descompensada! Ocê não lembra dos escândalos que ela aprontava lá em BH? Tudo por causa disso que ela chama de excesso de amor.
-Flavinho... tenta ser mais compreensivo com ela, poxa! Ela tá se tratando! E tá indo muito bem nesse tratamento, pro seu governo.
-Sei.
-Flavinho, confia em mim...
-N'ocê eu confio! Eu não confio é nem um pouco nela...
-Por que?
-Ocê acha mesmo que é útil pro tratamento dela ficar mais próxima d'ocê?
-E por que não haveria de ser? É fazer as pazes com o passado, uai...
-Não sei porque, Gustavo... mas essa garota me passa uma coisa sinistra.
-Deixa de falar besteira, Flavinho...
-Não é besteira. Mais de uma vez, quando ela passou por mim, eu senti um calafrio gelado... uma sensação de morte.
-Ai credo! Bate na madeira, Flavinho... que horror! Nem brincando fala um trem desses!
-Melhor mudar de assunto, mesmo... gosto nem de pensar nessa sensação horrorosa, sabe?
CORTA A CENA.
CENA 6: Cristina liga para Daniella, assustada.
-Eita, mana. Deu sorte de eu estar livre agora.
-Dani, aconteceu algo que me apavorou.
-O que?
-A minha visão... ela deu uma falhada tensa. Eu tou com medo.
-Como é que foi essa falhada, Cris?
-Foi diferente de quando eu não sabia que tinha a doença.
-Diferente como? Mais forte, mais fraco? Tenta me explicar detalhadamente como é que foi...
-Mais fraco, eu acho. Eu senti primeiro um clarão esquisito e depois a visão ficou levemente turva.
-Isso pode ser sinal de cansaço ou mesmo de pressão baixa, esqueceu?
-Ai, Dani... me assustei igual.
-E por que não catou na internet? Uma pesquisa rápida poderia resolver.
-Ah, sim, as maravilhosas pesquisas rápidas tão acuradas que apontam câncer e morte iminente pra tudo? Não, valeu...
-Cris... vai se catar, faz favor? Isso não há de ser nada. Não se esquece que sua gravidez tá caminhando pra reta final e você já devia ter diminuído o ritmo há algum tempo.
-Ah é? E você fica no meu lugar, queridíssima?
-De quem é a responsabilidade de arranjar alguém da sua confiança pra ocupar a direção, mesmo?
-Ai, precisava disso?
-Precisava sim, Cris... eu te amo, mana, mas larga de ser passiva assim, sério...
CORTA A CENA.
CENA 7: Valéria flagra Bernadete arrumando quarto de Flavinho e se assusta.
-Ai meu Deus! Ela não pode ver aquele álbum ainda, imagina o choque? - fala Valéria, consigo mesma.
Valéria decide entrar no quarto e agir.
-Ei, sogrinha... não quer deixar pra eu arrumar as coisas aqui no quarto do Flavinho? É que eu sei exatamente como ele prefere as coisas organizadas...
-E do jeito que ele é possessivo com as coisas dele... tá certo, querida. Mas você ainda tá no puerpério... não é esforço demais?
-Nada, Bernadete... depois, sabemos como o nosso taurino fica contrariado se alguma coisa tá fora do lugar, né? Vai ser tranquilo arrumar, pode sossegar...
-Tá bem. Se precisar de ajuda, é só me chamar que eu volto, ok?
-Pode deixar...
Bernadete deixa o quarto e Valéria respira aliviada.
-Deus do céu... dessa vez foi por pouco...
Valéria se certifica que o álbum permanece na mesma gaveta do roupeiro.
-Menos mal... ela realmente não chegou a mexer onde não devia...
CORTA A CENA.
CENA 8: Leopoldo conversa com Mauro sobre sua delicada situação financeira.
-Mauro, a situação tá ficando cada vez mais preocupante. Já nem sei mais pra onde correr... ou a quem recorrer.
-Você sabe que sempre pode recorrer a mim, não sabe?
-Mais do que já recorri, Mauro? Tudo tem limite. Depois, eu sei bem como funciona seu sistema de juros...
-Sabe como é, né? Amigos amigos, negócios a parte...
-Eu sei disso. É exatamente isso que deixa a situação ainda mais desesperadora.
-Peraí que eu não tenho culpa ou responsabilidade pelo que vem acontecendo com seu patrimônio, eu hein...
-Nem eu disse isso. Só que as coisas se acumulam. E eu preciso ter esses lucros logo, Mauro... porque além de não conseguir saldar minha dívida com você, eu posso acabar tendo que vender essa casa. E isso a Dete jamais perdoaria.
-Caramba, Leopoldo... eu realmente não sabia que a dimensão da gravidade fosse essa.
-Mas é. Agora você entende meu desespero?
-Claro que entendo. A casa é da sua esposa. E pode acabar sendo vendida porque você não soube administrar o dinheiro da família.
-Exatamente. Isso pode ser o fim pra eu e ela. E eu nem sei como seguir adiante desse jeito...
-Nós vamos encontrar uma maneira. Confie nisso.
CORTA A CENA.
CENA 9: Ao final do expediente, Gustavo aborda Flavinho antes de ele alcançar a saída da clínica.
-Ei, Flavinho!
-Fala, Gustavo.
-Eu tava pensando que a gente podia beber umas hoje, né? Depois ocê vai pra minha casa numa boa, sem se preocupar...
-Agradeço, Gustavo. Em qualquer outro dia eu adoraria, mas hoje tou especialmente quebrado.
-Justamente por isso. Notei que o dia foi cansativo p'rocê, acho justo relaxar.
-Só consigo pensar em relaxar esticado na minha cama e dormindo. Tou exausto hoje, Gustavo. Desculpa mesmo, tá? Não tou desfazendo do seu convite, é que realmente tou sem condições... acho que quando eu chegar em casa, não vou conseguir nem jantar, vou me atirar na cama direto, isso sim...
-Tudo bem, meu querido...
-Desculpa, tá?
-Tá tudo certo... vai descansar.
CORTA A CENA.
CENA 10: Horas depois, já adormecido, Flavinho tem um sonho estranho que aos poucos vai se tornando pesadelo.
Nas imagens, Flavinho anda pela mansão e, ao abrir uma porta secreta, acaba se vendo transportado para sua casa de Belo Horizonte. Porém, o ambiente é mais escuro do que o normal. Flavinho chega à sala e encontra Bernadete ali, agarrada a Leonardo.
-Bernadete? Que bom te ver aqui! Como é que ocê trouxe o Leo de volta? - fala Flavinho, emocionado e assustado ao mesmo tempo.
Nenhum dos dois responde coisa alguma. Flavinho segue tentando se aproximar, mas algo parece impedir que ele se aproxime. Quando Flavinho finalmente vence a barreira, todos aparecem. Ao se aproximar deles, todos viram as costas.
-Ei! Vocês não estão me vendo, não? - grita Flavinho.
Um horizonte escuro se abre diante de seus olhos e todos desaparecem. Flavinho se desespera e acaba despertando do pesadelo.
-Voltem aqui! Por favor! Eu juro que sou um cara bom! Não me abandonem! Eu não fiz nada! - berra Flavinho, chorando.
FIM DO CAPÍTULO 87.
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