CENA 1: Firmino estranha reação de Giovanna.
-Desculpe, dona Luísa...
-Já falei que dá pra me chamar de Luísa...
-Que seja, mas... você riu?
-Não é risada, Firmino. É que quando eu fico nervosa com alguma coisa, até com lembrança às vezes, eu dou esses risinhos. Mas é puro nervoso, tá?
-Ah, certo... conheço bastante gente que é assim. Só não entendi ocê ficar nervosa com essa história, afinal de contas não é novidade... ou é?
-Não, de jeito nenhum... é que eu lembro do jeito que a Valéria ficou por meses, sabe?
-Entendo.
-Mas agora ela tá ótima, sabia?
-Ah, não me diz... quer dizer que ela superou?
-Não apenas superou como tá com o Hugo. Sabe o irmão do Leonardo?
-Gente, que maravilha! Aliás, como vai o Flavinho? Imagino que não deve estar sendo fácil pra ele...
-Nem um pouco. Já tem quase oito meses desde a tragédia, mas ele não conseguiu se refazer completamente do luto.
-É totalmente compreensível, Luísa. Flavinho e Leonardo iam se casar, depois de três anos juntos. Tava tudo certo. Daí acontece essa tragédia toda.
-Horrível, mesmo... toda essa situação, né... a forma como a Valéria teve de ir embora daqui... depois veio o Flavinho...
-Os dois ficaram sem perspectiva por aqui depois de tudo. A Valéria, antes mesmo da tragédia, tava querendo fugir de tudo. O Flavinho fatalmente encararia todas as lembranças que se acumularam pela casa ao longo dos anos... não ia ser fácil.
-E a casa, ele colocou pra alugar?
-Nada, boba. Ficou comigo.
-Sério? Isso Flavinho não me contou...
-Pois ficou. Eu tenho a minha casa, é claro, mas tenho ficado na casa dele pra cuidar de tudo, entendeu?
-Entendi...
-Sabe o que é? Ele não quer se desfazer das lembranças, ainda... não tem força pra colocar a casa pra alugar ou pra vender. Foi aí que ele resolveu confiar a mim, pois ele sabe que eu mantenho tudo exatamente do jeito que ele deixou.
-É bom saber que existem pessoas como você, Firmino.
-Sempre fui assim. Não sou apenas chefe, mas sempre fui amigo de meus funcionários.
-O que eu não engoli ainda foi a capacidade que esse William teve de abandonar a Valéria grávida.
-Então... não foi bem assim.
-Não brinca...
-Essa talvez seja a parte que ocê não sabe, Luísa... a Valéria tava tão magoada antes de se mandar daqui que inventou que tinha sido um alarme falso a gravidez. Ela ficou ofendida demais depois das acusações que ele fez. Logo depois ela foi embora. Na sequência foi ele que também se mandou.
-Gente... eu não sabia mesmo disso. E pra onde que ele foi?
-Só sei que foi pro exterior. Não me pergunte onde.
-Bem, sendo ele filho de quem é, não dá pra ele se esconder, né?
-Exatamente. Nem que ele queira. Só que tem uma coisa: ele não faz a mínima ideia de que já é pai.
-E o pai dele, será que não sabe de nada?
-Ah, isso eu já não sei dizer. Só conheço o seu Mauro de nome. Nunca vi pessoalmente na vida...
-Certo, entendi...
-Então... gostou da hidratação?
-Rapaz, ficou divina! Quando eu aparecer aqui por BH outra vez, já sei em que salão eu vou. Quanto te devo?
-Trinta e seis reais.
-Gente, que barato!
-Ocê não viu isso aqui aos sábados. Enche de gente, justamente por causa do preço camarada...
-Vou indo nessa. Obigada!
Giovanna parte, vitoriosa.
-Tenho nas minhas mãos tudo o que eu precisava saber! - vibra.
CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte, Mauro visita Leopoldo e Bernadete e pede para ver o filho de Valéria.
-Ocês me desculpem a intromissão, mas será que eu posso ver o netinho de vocês? Uma criança é sempre um sopro de esperança na vida da gente, né não? - fala Mauro.
Valéria percebe que Mauro se aproxima dela e avisa a Hugo.
-Amor, eu não vou conseguir.
-Como? Valéria, ele não sabe de nada. E tá vindo aí. Só age naturalmente.
-Eu prefiro sair, ir ao banheiro, qualquer coisa. Não quero dar na cara que fiquei tensa com ele aqui, entendeu?
-Tá... vai ali que eu explico pra eles...
Valéria se retira e vai ao banheiro. Hugo permanece cuidando de Leonardo e recebe Mauro.
-Bom dia, Mauro! Veio conhecer meu filho? - pergunta Hugo.
-Sim. É lindo esse seu gesto de assumir o filho que é de seu irmão... - fala Mauro.
Valéria segue tensa escutando tudo atrás da porta.
-Não vi outra alternativa. Foi o certo. E depois... esse filho é meu. É assim que meu coração sente. Não é lindo, Mauro? - derrete-se Hugo.
-Um encanto de criança. Grande, né? Mal parece recém-nascido. Parece meu filho... - prossegue Mauro.
Hugo fica tenso, porém busca disfarçar.
-Ah, bebês se parecem todos, não? - desconversa Hugo.
-Não. O seu filho tem a cara do meu filho quando era recém-nascido. Sem exagero. Tudo é tão parecido que parece que tou olhando pro William recém-nascido outra vez. É como se eu tivesse voltado no tempo, pra trinta anos atrás... - prossegue Mauro.
-Bem... se você não se incomoda... eu e a Valéria ainda estamos aprendendo a lidar com nosso filho... inclusive ela foi ao banheiro cuidar da própria higiene, pra você ter uma ideia de como estamos nos dedicando ao nosso bebê... então eu gostaria de pedir, se o senhor não levar a mal, pra paparicar nosso filho em outro momento, tudo bem? - fala Hugo, disfarçando a tensão.
-Tudo bem. Sei bem como ocê tá se sentindo, Hugo. William é meu filho único e demorei a me acostumar... mas posso tirar uma foto dele antes? - pergunta Mauro.
-Claro que pode.
Mauro tira a foto e se retira. Valéria sai do banheiro brava com Hugo.
-Eu não acredito, amor. Como é que ocê deixa ele tirar foto do Leozinho?
-O que é que tem, amor?
-Olha pra trás. A foto que você tirou de nós dois ali, emoldurada num quadro. Vai que eu apareci na foto que o Mauro tirou? Pior... vai que ele mostra isso pro William? Tem noção do que isso pode significar?
-Ai, amor... não viaja. Não vai dar nada... cê vai ver...
CORTA A CENA.
CENA 3: Patrícia visita Daniella na clínica.
-Já decorou direitinho o dia que eu fico no lugar da Cris, né?
-Claro. Afinal de contas, eu sei que ocê detesta ficar nessa sala sozinha.
-Detesto. Mas às vezes não tem alternativa. Mas me conta: como você tá?
-Vou indo, Dani... com os medos de sempre. Torcendo pra não ser vencida pelos meus fantasmas.
-Seu tratamento tá indo maravilhosamente bem, Pati... você que alimenta suas inseguranças, ainda.
-Acho que parte disso é pelo peso na consciência pelas merdas que fiz com o Gustavo, com você e com tanta gente...
-Já não te disseram que não adianta de nada alimentar sentimento de culpa?
-Sei que não adianta. Mas é mais forte que eu.
-Pois não precisa ser.
-Como? Se nem o tratamento anda adiantando...
-Simples... tem uma pessoa que pode ser útil.
-Quem?
-O Gustavo, ué... vocês não andam se tratando cordialmente nos últimos meses?
-Sim, mas... como que ele pode me ajudar?
-Convivendo mais com você...
-Como?
-Claro que cê vai precisar colaborar pra isso acontecer, né Pati... aparecendo mais, falando mais com ele... saindo mais com ele.
-Será que é isso que pode me ajudar ainda mais a melhorar no tratamento?
-Não custa tentar, né? Se não ajudar, duvido que atrapalhe.
-Bem... olhando por esse lado...
-Cê tá precisando fazer as pazes com o passado, não tá?
-Claro que tou...
-Então essa pode ser uma excelente oportunidade.
-Verdade... obrigada, viu? Eu vou ver o que posso fazer...
-Não pense muito... aja.
CORTA A CENA.
CENA 4: Valéria desabafa com Hugo sobre seu medo de que William descubra que tem um filho.
-Ocê não entendeu ainda o tamanho do meu pavor, né amor?
-Olha, Valéria... eu tento... mas ainda não entendi.
-O problema não é o seu Mauro descobrir que tem um neto. O problema é o William descobrir que tem um filho. Tá começando a entender?
-Cê tem medo que ele queira tomar o Leozinho da gente?
-Claro, né? Ou ocê acha que um sujeito que surta feito ele surtou comigo quando contei que tava grávida e... pior ainda, escondia antes de mim que sempre foi rico, ia agir como?
-Bem... ética não parece ser o forte dele.
-Até que enfim... o meu medo não é do seu Mauro. É do filho dele. Eu menti pra ele que a gravidez tinha sido alarme falso antes de me mandar de BH, lembra?
-Então ele realmente não faz ideia da existência do Leozinho.
-Da existência do Leozinho ele pode até saber. Só não pode saber de quem ele é filho. Se ele me reconhece, ele junta as coisas. E descobre que eu menti sobre o alarme falso.
-Vamos pensar positivo?
-Como?
-Eu registrei o Leozinho como meu filho, não registrei?
-Sim, legalmente. Mas e se ele resolve pedir exame de DNA? Como é que a gente fica?
-Valéria, meu amor... não vale a pena pensar nisso agora. A gente tem que estar bem e otimista. Nosso filho precisa de paz, cê não acha?
-Acho... e também acho que seu pai tá perdendo a hora de começar a contar toda a verdade pra sua mãe...
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Patrícia se junta a Flavinho e Gustavo na cantina da clínica. Flavinho fica constrangido pela presença de Patrícia e resolve se retirar.
-Bem, ocês me dão licença, mas eu vou ali na máquina do café... - fala Flavinho, se retirando.
Gustavo fica sem graça.
-Desculpa o Flavinho...
-Esse sempre foi o jeito dele comigo. Não sou capaz de julgar. Dei motivos durante anos, não foi?
-Relaxa, Patrícia... ocê tem melhorado muito nos últimos meses.
-É justamente sobre isso que eu queria falar, Gustavo...
-Oi? Não compreendi...
-Eu conversei muito com a Dani mais cedo.
-Como sempre nesse dia da semana, não? Ocê sempre aparece pra fazer companhia no dia dela...
-Só que a gente conversou sobre o meu tratamento. Sobre as coisas que podem ajudar a eu melhorar ainda mais.
-Sei. E onde que eu entro nessa conversa?
-Na parte que convivendo mais comigo, saindo, se divertindo, essas coisas pequenas, talvez ajude a eu fazer as pazes com o meu passado tenso... entende?
-Claro que entendi. E acho que vai ser ótimo pra gente. Afinal de contas, somos amigos e eu quero te ajudar como puder...
-Sério?
-Seríssimo!
-Obrigada, querido... eu pensei que ocê pudesse achar arriscado.
-Tudo na vida é arriscado, boba... dá cá um abraço.
CORTA A CENA.
CENA 6: Cristina chega na clínica para dividir tarefas com Daniella.
-Que milagre! Chegando aqui ainda cedo no dia de revezamento, tou passada.
-Não se faz de sonsa que cê sabe que nunca encarei essa gravidez como doença. Parada que eu não gosto de ficar.
-Ah tá, Cris... quem não te conhece, que te compre.
-Ué... não entendi. Eu sempre fui de me manter em movimento, até parece que você bebe...
-Não, besta. Não é sobre isso.
-É sobre o que, então?
-Sobre você estar fugindo a todo custo de qualquer contato mais direto com o Fábio.
-E daí, pimentinha? Quero um final de gravidez com paz. Olha quem tá me apontando o dedo, logo você...
-O que tem eu, Cris?
-Desistiu do Gustavo de primeira. É assim que você ama. Daniella? Abrindo mão do cara que pode ser seu grande amor no primeiro conflito?
-Mana... cê não tá em condição de apontar o dedo pras minhas atitudes em relação ao amor. Olha pro que você fez com o Fábio desde antes de descobrir a gravidez!
-Quer saber? Esse papo tá ficando meio tenso e eu não quero que a gente brigue.
-Nem eu. Mas você precisa compreender que tá sendo cruel demais com o Fábio e não é de hoje.
-Como se você estivesse sendo maravihosa com o Gustavo, né?
-Nunca fechei a porta pra ele. Sempre fui amiga. Estou sempre presente... são coisas completamente diferentes. Não existe uma comparação possível. Acho melhor acabar com esse assunto por aqui.
CORTA A CENA.
CENA 7: José conversa com Idina sobre seus planos.
-Amor, já aceitei que é inevitável eu me lançar na vida pública e até ando curtindo a ideia, mas acho que tem uma coisa que eu preciso realizar antes.
-Tipo um sonho, Zé?
-Não, Idina... é mais pra uma missão a cumprir.
-Por acaso isso tem a ver com a sua paixão pelo audiovisual? Vira e mexe cê entra nesse assunto e me mostra orgulhosos as suas produções amadoras de quando era mais novo...
-É justamente isso, querida.
-Tem a ver com o que eu tou pensando, Zé?
-Se for em documentário, sim.
-Sobre o que, exatamente?
-Denunciando o racismo estrtural que ocorre na nossa sociedade e impacta diretamente no nosso atual sistema prisional.
-Amor, eu simplesmente adorei essa ideia! Será que eu vou poder contribuir pra isso?
-Tenho certeza. Você, melhor que ninguém, pode apresentar um ponto de vista mais inserido na realidade a ser explorada.
-Sim... vamos fazer esse documentário acontecer. Juntos! Ah, Zé... bendito foi o dia que te encontrei, viu? Eu sabia que existia um ser humano fantástico por trás das suas barreiras...
CORTA A CENA.
CENA 8: Maria Susana, acompanhada de Elisabete, vai à direção da escola de Miguel conversar com a diretora.
-Bom dia, dona Marta. Acho que precisamos ter uma conversa bem séria. - fala Maria Susana.
-Você deve imaginar que a minha presença aqui não é por acaso. Eu sou a companheira de Maria Susana. E vim aqui pra deixar isso bem claro. - fala Elisabete.
-Desculpem, mas eu ainda não entendi a razão disso. Eu concordei em receber vocês, mas não entendi ainda essa mobilização. - fala a diretora.
-Dona Marta, meu filho tem sido constangido por coleguinhas. Tem sofrido violência verbal e às vezes física. - esclarece Maria Susana.
-Eu não estou sabendo de nada. Vocês tem certeza de que Miguel não está inventando ou aumentando essas histórias? - questiona a diretora.
Elisabete perde a paciência.
-Não acredito! Cê tá querendo questionar o caráter de uma criança de sete anos? Uma coisa é a criança ser imaginativa, outra coisa é ela descrever com riqueza de detalhes os incidentes constantes com os coleguinhas que ficam chamando a mãe dele de aberração! - explode Elisabete.
-Bem, não é minha responsabilidade... - esquiva-se Marta.
-E é de quem, então? Meu filho vai ficar vulnerável e sem proteção durante o período que vem para aprender? Então não me custa nada levar isso à justiça... - ameaça Maria Susana.
-Espera... a gente pode conversar melhor sobre isso... - assusta-se Marta.
A conversa segue. CORTA A CENA.
CENA 9: No dia seguinte, Ricardo desabafa com Glória.
-Sabe, Glória... às vezes eu sinto que cê pode ter razão. E te peço desculpa se te chamei de invejosa...
-Tá desculpado. Mas razão em relação a que?
-Cê não viu o comportamento da Giovanna hoje? Ela tá assim desde ontem. Parece que tá em outro mundo...
-Tou entendendo... cê tá se sentindo deixado pra escanteio.
-Exatamente. Eu nunca vi ela agir dessa forma.
-Mas eu já. Não quero te assustar, mas da última vez que eu vi a Giovanna assim, ela tava tramando algo.
-Tramando o que?
-Desculpa, Ricardo... eu que não vou falar. Você não acreditaria. Colocaríamos tudo a perder outra vez e você me chamaria de fofoqueira.
-Não, Glória... eu prometo que não vai ser assim.
-Mas eu não acredito. Ela é sua esposa. Sua tendência natural é ficar ao lado dela...
-Tudo bem. Mas se mudar de ideia, é só me dizer.
-Pode deixar.
CORTA A CENA.
CENA 10: Valéria e Hugo andam pela orla de Copacabana levando Leonardo no carrinho.
-Ocê vai achar graça se eu disser que tou morta de vontade de comer algodão doce?
-Eu também tava pensando nisso, Valéria... quer que eu vá atrás do vendedor?
-Se não for pedir muito... eu fico paradinha aqui, tá?
-Tá bem, amor...
Hugo vai em direção ao vendedor de algodão doce. Valéria paparica o filho e se distrai fazendo ele rir.
-Tão amado, esse meu filho! Tão pequeno e tão alegre! Não paga imposto pra rir, esse menino...
De repente, Valéria é surpreendida por Giovanna, que se anuncia.
-É mesmo uma graça esse seu filho, não é, Valéria?
Valéria paralisa. FIM DO CAPÍTULO 86.
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